sábado, 16 de junho de 2012

A ética e o místico.


"Somos todos iguais, sejam quais forem nossas diferenças na cor da pele, na nossa aparência exterior e na nossa constituição física."

Tenzin Gyatso, o 14° Dalai Lama, é um dos mais respeitados líderes religiosos do mundo. Há muitos anos prega a necessidade de uma revolução espiritual no planeta, que está cheio de sofrimento e dor. Nascido no nordeste do Tibete em 6 de julho de 1935, foi reconhecido aos dois anos como a reencarnação de seu predecessor - o 13° Dalai Lama - e, portanto, a encarnação de Avalokiteshvara ou Chenrezig, o Bodhisattva da Compaixão. Os Bodhisattvas são seres iluminados que postergaram seu próprio nirvana, preferindo renascer para servir a humanidade.

Em 1950, quando tinha 15 anos, o exército chinês invadiu o Tibete, que foi obrigado a aceitar aquele poder político. Durante nove anos, tentou negociar a paz com Mao Tse-tung e outros líderes até que um levante no Tibete resultou na ameaça chinesa de bombardear seu palácio de verão. Para salvar o edifício tradicional e seus habitantes, foi forçado a fugir atravessando o Himalaia e indo para a índia, onde lhe foi garantido asilo político.

Estabelecendo seu quartel-general em Dharamsala, no estado de Himachal Pradesh, ao norte da índia, procurou lá, por meio de ensinamentos e instruções, preservar as tradições e a cultura do Tibete. Membros de seu governo no exílio continuaram a trabalhar de uma forma não violenta pelo futuro de sua terra natal.

"Seus ensinamentos são de interesse dos rosacruzes,
pois refletem muitos dos princípios que estes incorporam no seu dia-a-dia."

As atitudes positivas e negativas
Treinado como monge budista, seus ensinamentos, baseados no amor, na compaixão e na consideração pelos outros, são do interesse dos rosacruzes, pois refletem muitos dos princípios que estes incorporam no seu dia-a-dia. Inspirando uma revolução espiritual, o Dalai Lama tenta persuadir os povos do mundo a abandonarem os pensamentos negativos que causam infelicidade e dor e tentar treinar suas mentes a pensar positivamente.

Reconhece que muitos dos males presentes no mundo são produzidos pelo homem. Diariamente em nossas tevês ou em nossos jornais podemos ver exemplos deles nas guerras e conflitos. O Dalai Lama defende que problemas deveriam ser solucionados através do diálogo e da discussão e não pela violência e pela destruição. Deplora a existência de fronteiras nacionais e do nacionalismo, pois criam divisões entre "eles" e "nós". Em vez do uso da força, acredita que os problemas devem ser analisados e discutidos de todos os ângulos de tal forma que, através de diálogo e de um comprometimento com a não-violência, alguma forma de acordo possa ser alcançada.

De forma semelhante, assassinatos, violência, estupros e a dissolução de casamentos e a vida familiar também são causa­dos por atitudes negativas. O resultado é medo, desconfiança, sensação de abandono e auto-rejeição. Se dedicássemos nossas vidas a desenvolver pensamentos positivos, conseguiríamos expandir virtudes éticas como o amor, a compaixão, a tolerância e a prática da não-violência. Não deveríamos apenas acabar com os danos produzidos pelas atitudes negativas, mas deveríamos também tentar difundir valores éticos.

Apenas focalizar pensamentos positivos não basta; deveríamos também assumir a responsabilidade por nossas ações. Se redirecionássemos nossos pensamentos e emoções, não só seríamos capazes de lidar mais facilmente com o sofrimento, mas talvez pudéssemos evitar, antes de tudo, que este manifestasse. Já se sabe que, geralmente, aqueles que têm uma conduta eticamente positiva são mais felizes e mais satisfeitos à que aqueles que ignoram a ética.

A ética
Em que consiste a ética? Em sua essência, baseia-se no respeito pelos outros. Nossas vidas estão tão entrelaçadas que nossa própria existência depende dos outros e de sua cooperação, assim como daqueles muitos milhares que provêm tudo o que precisamos em nossa vida diária. De fato, quando nossos pensamentos e atos não prejudicam os outros, eles são éticos; quando prejudicam os outros, são anti-éticos.

Num certo sentido, nossas vidas são sustentadas pela grande busca da felicidade, pela esperança e no aguardo de que certos atos nos vão trazê-la. Não existem limites para o desejo de ser feliz e de evitar o sofrimento. Psicologicamente e emocionalmente, somos todos iguais, sejam quais forem nossas diferenças na cor da pele, na nossa aparência exterior e na nossa constituição física. Podemos todos partilhar essas emoções positivas que nos trazem paz, tranqüilidade, assim como as incômodas emoções negativas.

Para atingirmos esses objetivos unificadores, precisamos estabelecer um código de padrões éticos que seja aceito internacionalmente. Para isso, deveríamos tentar desenvolver um sentimento de empatia com relação aos outros, tentando compreender suas tristezas e partilhar seu sofrimento. Apreciar o bem-estar dos outros nos traz felicidade interior e paz mental e, desde que nossas mentes estejam suficientemente fortes, podemos nos manter calmos e serenos, mesmo quando envolvidos em circunstâncias difíceis.

"Tanto os problemas grandes quanto os pequenos precisam
ser solucionados por meio de diálogo e discussão."

No nosso mundo existem países pobres e países ricos. Mas o que é estranho é que muitas vezes aqueles que vivem em nações materialmente desenvolvidas, apesar da indústria e da ciência avançadas que têm, sofrem mais, pois muitas vezes não estão tão satisfeitos e felizes quanto aqueles que vivem em países menos desenvolvidos, onde as expectativas não são tão elevadas. Uma abundância de bens materiais significa que seus possuidores continuam a exigir cada vez mais, gerando as emoções destrutivas da ganância, da inveja e da maldade.

Quando a satisfação depende de questões materiais em vez da felicidade, há sempre a prevalência da ansiedade, do estresse, da confusão, da incerteza e da depressão, muitas vezes exigindo o uso diário de tranqüilizantes, de medicamentos e de comprimidos para dormir, na tentativa de remediar tudo isso.

A influência das religiões
Religiões como o Budismo, o Cristianismo, o Islamismo, o Hinduísmo, o judaísmo, o Siquismo e o Zoroastrismo estão alicerçadas no amor, na compaixão e no perdão; a maioria das religiões tem essas características. Com tanta variedade de países e comunidades que existem pelo mundo, existe uma diversidade inevitável de confissões religiosas, algumas das quais servem para determinadas pessoas e não para outras, dependendo em grande parte da cultura na qual o indivíduo foi criado. Nessa multiplicidade de confissões, no entanto, todos devem aprender a viver juntos em harmonia e tolerar as crenças dos outros.

À medida que a influência da religião declina há um aumento de confusão com relação a como conduzir nossas vidas de forma mais efetiva. Antigamente, a religião e a ética estavam fortemente entrelaçadas. Atualmente muitos acreditam que a ciência já provou que a religião estava errada. Quando não existe qualquer evidência final apresentada por qualquer autoridade espiritual, a própria moralidade se torna assunto de preferência pessoal. No passado, cientistas e filósofos sentiam uma forte necessidade de alicerces sólidos nos quais pudessem estabelecer leis imutáveis e verdades absolutas. Atualmente, esse tipo de pesquisa é considerado fútil. Quando, enfim, nada mais existe e a própria realidade é questionada, o resultado é o caos.

A revolução espiritual
Dada a ausência de base essencial da fé que tem levado a muita ansiedade, estresse, confusão, incerteza e depressão, o Dalai Lama, por meio de seus ensinamentos, enfatiza a necessidade de uma revolução espiritual. Defende que ela deva se basear em princípios éticos universalmente aceitos, em que pensamentos e atos estejam orientados para o bem dos outros através do desen­volvimento de compreensão e empatia.

Precisamos transformar nossos hábitos para nos tornamos compassivos e criarmos uma ética a partir da virtude. Precisamos praticar a não-violência com tolerância e firmeza. A tolerância paciente inibe o pensamento negativo. O desenvolvimento da paciência é um antídoto para a raiva, que é a maior ameaça para a paz interior e, conseqüentemente, para a felicidade. Com a disciplina ética aprendemos a compaixão, que quer dizer: preocupar-se com os outros e partilhar do sofrimento deles.

E, acima de tudo, devemos trabalhar no sentido de salvaguardar nosso meio ambiente. Até agora a Terra é nosso único lar. Os astronautas, em suas viagens à Lua e à estação espacial internacional, conseguem ver nosso planeta azul e percebê-lo como algo belo e frágil. Somos culpados pela poluição que o está destruindo e a incidência de inundações, terremotos, erupções vulcânicas e outros fenômenos naturais que temos atualmente por todo o mundo; são sinais de que á Terra está protestando contra a forma como a tratamos.

O Dalai Lama tem viajado por muitos lugares, se encontrado com os líderes mundiais: presidentes, papas, líderes políticos e religiosos, assim como pessoas pobres e humildes, com as quais partilha sua vida. Já falou em parlamentos, assembléias e encontros de todos os tipos, promovendo a paz através de sua doutrina de não-violência e enfatizando que tanto os problemas grandes quanto os pequenos precisam ser solucionados por meio de diálogo e discussão. Para ele, a guerra é uma modalidade antiquada de atividade humana.

O anseio pela paz
Nos últimos 40 anos tem havido uma mudança na opinião pública e um aumento no anseio por uma paz genuína. Com o firme entrelaçamento das economias nacionais, tem havido o surgimento de grupos de segurança, de tal forma que nos acostumamos a ver as tropas das Nações Unidas prontas para agirem como mantenedoras da paz em países distantes.

É um objetivo do Dalai Lama que, um dia, o mundo testemunhe o estabelecimento de um Conselho Mundial de Povos que transcenda em muito as atividades das atuais Nações Unidas. Tal instituição consistiria em grupos de indivíduos vindos de uma grande variedade de mundos: acadêmicos, artistas, bancários, ambientalistas, advogados, poetas, pensadores religiosos e escritores, assim como homens e mulheres comuns. Todos terão sua reputação baseada em sua integridade e dedicação a valores éticos e humanos fundamentais. Pelo fato de não ser investido de poder político, os pronunciamentos desse Conselho não teriam força legal, independência, suas deliberações simbolizariam a consciência do mundo. Esse Conselho representaria, portanto, uma autoridade moral suprema.

Muitos podem dizer que isso é impossível. No entanto, enquanto as pessoas mantiverem a tendência de criticarem e de culparem os outros por tudo o que acontece de errado, é claro que vale a pena apresentar idéias construtivas como esta. Dado o respeito que os seres humanos geralmente têm pela verdade, pela justiça, pela paz e pela liberdade, existe uma genuína possibilidade de se criar um mundo melhor e mais compassivo. O potencial existe.

Se, através do uso adequado da educação e da mídia, fosse possível implementar algumas sugestões apresentadas pelo Dalai Lama, poder-se-iam estabelecer condições para ajudar a promover seu sonho de paz duradoura no mundo.

"Com a disciplina ética, aprendemos a compaixão, que quer dizer.­
preocupar-se com os outros e partilhar do sofrimento deles ".

Dalai Lama citações

"Precisamos manter a nossa mente sob controle para mais tarde não nos
arrependermos de nossos erros, mesmo que os outros nada saibam a respeito".

"Quando morremos nada pode ser levado conosco, com exceção das sementes
lançadas por nosso trabalho e nosso conhecimento espiritual".

"As lições ensinadas por um professor com uma motivação positiva, cujas palavras
correspondem ao seu modo de agir, penetram mais fundo na alma do aluno".

"Quanto mais nos importamos com a felicidade de nossos semelhantes,
maior será o nosso próprio bem-estar".

"Eu tento tratar qualquer pessoa que conheço como um velho amigo.
Isto me traz uma experiência genuína de felicidade. É a pratica da compaixão".

"Uma conduta verdadeiramente misericordiosa para com os outros não se altera nem mesmo quando os outros se comportam mal. É praticando a compaixão sem limites que uma pessoa desenvolve o sentimento de responsabilidade pelos semelhantes, o desejo de ajudá-los a superar de forma eficaz seus sofrimentos".

"Se o seu coração é aberto e sincero, você naturalmente se sente satisfeito e confiante,
e não tem nenhuma razão para sentir medo dos outros".

"Quando somos capazes de reconhecer e perdoar atitudes impensadas que tivemos em nosso passado, nós nos fortalecemos e ficamos mais preparados para dar soluções construtivas aos problemas do presente".
"A preguiça interrompe o progresso de nossa prática espiritual. Podemos ser ludibriados por três formas de preguiça: a indolência, o desejo de adiar e a que se manifesta como sentimento de inferioridade, que é duvidar de nossa própria capacidade...".

"Fale de sua verdade, seja ela qual for, clara e objetivamente,
usando um tom de voz tranqüilo e agradável, liberto de qualquer preconceito ou hostilidade".

"Quer estejamos vivenciando um grande sofrimento, ou já o tenhamos experimentado,
não há razão para alimentarmos o sentimento de infelicidade".

"É quando padecemos os piores infortúnios que surgem as grandes oportunidades
de se fazer o bem a si e aos outros".
Autor: Dalai Lama.
Revista – Rosacruz, 4º trimestre 2007.

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