contos sol e lua

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sábado, 4 de abril de 2015

O tempo da Serpente.

Escolhemos habitar um tempo de transição para o qual julgamos não estar preparados. A mudança traz múltiplas transformações dentro e fora de nós que, pela sua rapidez, nos convocam a responder de forma igualmente rápida e decidida. No entanto, escolher num período caracterizado pela dispersão, pela mudança, pela incerteza, pelas dificuldades torna-se um desafio às nossas capacidades, ensonadas por alguns anos de facilitismo e alguma apatia. De todas as faculdades há uma que, neste tempo, precisamos de desenvolver: o poder de regeneração aos níveis interior e exterior. Somos, assim, semelhantes à serpente que despe a pele velha e cujo o próprio corpo tem a capacidade de se regenerar. Empurrados pelo instinto de sobrevivência, não podemos ser levados pela emoção numa corrente desabrida. É preciso parar, renascer, equilibrando o lado mental e afectivo, seguir uma orientação, ter um objectivo a cumprir de cada vez; saber também visualizar o resultado esperado. Para que aflore em nós o novo, há uma casca velha e pesada que precisamos de abandonar: a lamentação, a autocomiseração, a vitimização que faz de nós presas fáceis da indolência e da insegurança. No entanto, antes de renascer muitas questões necessitam de ser equacionadas: faremos nós aquilo de que realmente gostamos?Gostamos do que fazemos, mas necessitamos de renovar o modo como o fazemos? Deitamo-nos agradavelmente cansados ou frustrados por não termos feito aquilo de que gostaríamos? Gerimos bem o nosso tempo? Somos suficientemente disciplinados para cumprirmos o que estipulámos? Fomos generosos connosco e com os outros? Sentimo-nos conectados conscientemente com o nosso interior e com o divino? Estas e outras perguntas podem ser aclaradas durante o processo de regeneração que acontece muitas vezes durante a vida e se processa por ciclos mais ou menos lentos. Vagarosamente, umas vezes por nossa iniciativa, outras por imposição da vida, vamos abandonando as cascas grossas que pesam, magoam e atrasam o nosso processo evolutivo. Se escolhemos viver na transição entre dois tempos, devemos consciencializarmo-nos de que chegou o tempo de arrumar o quarto interior e de participar também na reorganização exterior em marcha, numa grande parte dos países. Chegámos ao final de uma estação; é tempo de colocar de lado o que nos faz dispender energia desnecessária, abandonar hábitos nocivos, deixar para trás padrões de pensamentos negativos, revitalizar a fé, reencontrar quem somos; observar se quem somos coincide ou não com quem nos tornámos. As fissuras que abundam no exterior quer sejam em forma de guerras, divisões entre famílias, atritos entre países, entre outros, espelham a divisão existente em cada um de nós. Renascer é um exercício semelhante ao arrumar o roupeiro em fim de estação; pomos de lado o que está desadequado ao tempo presente, usamos apenas o necessário e adequado ao novo tempo. É preciso ter coragem e sentido prático para deitar fora o que já não serve o nosso momento evolutivo. Do poder de regenerar não só faz parte aprender a reutilizar, reciclar mas também aprender a lidar com o corte, com as separações, com as fissuras. Regenerar é sinónimo de mudança, delineando com segurança o que já não queremos voltar a viver e a ser. Regenerar é sinónimo de transformação criativa; renascer deverá ser um acto con(sentido). Maria Coriel

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