segunda-feira, 28 de setembro de 2009
CRENÇAS.
A crença é um sentimento inerente exclusivamente da raça humana, nenhum outro animal é capaz de cultivar ou transmitir tamanha subjetividade. De acordo com a epistemologia, a crença é a parte subjetiva do conhecimento, ou seja, aquilo que se acredita ser verdade mesmo que não haja nenhuma prova que confirme o fato.
Curiosamente, crença tem a mesma raiz etimológica da palavra opinião (do grego, doxa), o que leva a crer que mesmo os pensadores que elaboraram tal termo e seu significado entendiam crença como algo muito pessoal.
O interessante sobre a crença, no entanto, é que nela não cabe a dúvida ou incerteza, crer é tomar algo por verdade certa, independente de comprovações sociais ou científicas. Crer é confiar, acreditar, apostar em algo apenas pela convicção de que ali está a verdade, pode-se dizer que é a crença nos move a agir, sem a crença de que será bem sucedido, o homem não tomaria atitude alguma.
Vendo sob essa perspectiva, a crença também pode ser muito perigosa, uma vez que acreditar cegamente pode funcionar tanto para o bem quanto para o mal, ou seja, ao passo que Gandhi pregou a paz, Hitler pregou a guerra e o racismo, ambos criam verdadeiramente em sua concepção e lutaram por ela por toda sua vida. A crença pode criar tanto quanto destruir, o que define isso é o objeto da crença.
Frequentemente se confunde crença e fé com religiosidade, o que certamente é um equívoco, eles se confrontam, mas não são sinônimos. A religião é apenas uma forma de crença, tanto quanto a filosofia, a ciência em muitos aspectos, a teoria da relatividade, vida em outros planetas, Deus, enfim, toda e qualquer teoria sem comprovação.
A crença é a contraparte do agir e sentir, ela não pode ser ensinada ou aprendida por meio da ação ou percepção, senão desenvolvida em um momento de reflexão próprio e livre de influência externa e, porque não dizer, através de insights acidentais em ocasiões excepcionais. A teoria sobre a crença pode ser exposta, tal como seu objeto, é a chamada “crença de re” ou crença sobre algo, no entanto a crença enquanto processo cognitivo jamais poderá ser mesurada, posto que não há regra ou barreiras capaz de fazê-la universal.
Ora, como poderíamos fazer da crença uma regra? A regra é o que aceitamos de imediato, verdades que permitem a interação com o mundo exterior e, por isso, possuem aceitação espontânea de nossa parte, a crença, por sua vez, é a conclusão tirada depois da reflexão livre sobre a regra. Eu poderia dizer que a crença é uma evolução da regra ou mesmo um questionamento a veracidade da mesma após análise interna, a crença jamais pode ser aceita de forma espontânea e imediata porque não possui provas em sua defesa.
A crença por si só é especialmente árdua de conceituar, processos cognitivos tão peculiares como tal podem de certa maneira ser traduzidos em esquemas gerais e símbolos lingüísticos para elucidar determinada vivência ou ponto de vista, mas o importante é que, no fim, processos cognitivos são subjetivos demais e símbolos são apenas símbolos, como saberemos que crença eles evocam em cada um de nós?
F. Gouki Shinryu Heihou.
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