terça-feira, 15 de setembro de 2009

Lilith é a mulher.



Livre, independente, soberba em curvas sensuais e provocantes, é a dançarina do ventre, logo seduz o homem por dominar a fraqueza deste com seu poder maléfico de sedução. Lilith é o vaso, o homem é a semente!
Ela aparece em uma outra obra judaíca, o “Talmude”, e novamente é reforçado o caráter notívago deste demônio alado, deste súccubus a enfeitiçar os homens para uma cúpula noturna bastante calorosa.
A vitória de Satã é exatamente a sua obra prima, este ser indestrutível, que seduziu o próprio “todo poderoso”, pois há relatos que Lilith tenha sido amante do próprio Jeová! E dentro de toda esta mitologia, com absoluta certeza reina “o eterno feminino” que até deuses seduzem.
É o caso também da Vênus Afrodite greco-romana, onde todo o olimpo curvou-se em completo arrebatamento ao pousar os olhos na mais bela das belas, a “Vênus Citaréia”, que encantou todos os deuses, provocando intrigas, ciúmes e paixões cegas e desenfreadas, devido seu alto poder de sedução e beleza.
A presença simbólica e inconsciente do demônio Lilith pode ser identificada na obra de Sheridan Le Fanu, nascido em 1814 em Dublin, Irlanda, e falecido em 1873. “Carmilla” justifica essa afirmação.
Esta obra completamente voltada para o vampirismo descreve um ser malígno feminil que se alimenta de sangue, mas não é só a presença de uma vampira que caracteriza a obra, e sim o forte potencial erótico lésbico que completa os quadrantes mais significativos do livro.
Carmilla é uma espécie de Lilith moderna dentro da literatura gótica, onde a luxúria inebriante multiplica o potencial de sedução. Afinal, o lesbianismo simbólico ou real é para o inconsciente do homem, a mais alta expressão do prazer! Isto é fato e a psicanálise pode explicar, afinal a incessante busca de prazer nos seres humanos atinge o seu ponto máximo e somente a espécie humana tem esta capacidade de multiplicar o prazer e a fantasia como um meio de arrebatamento da realidade que se manifesta de forma tão estressante.
Parece que “Eva” e “Lilith” são uma só mulher, mas ao mesmo tempo são duas, dois prazeres diferentes e dois mistérios opostos de uma mesma essência que é contrária às forças da masculinidade do homem.
Dois perfumes de aromas orientais, duas musas representando um desafio à virilidade e apetite do homem, que hora subjulga ambas para em seguida ser cativo desta força sobrenatural impressionante, onde a energia masculina é sugada e consumida num ritual primitivo que é uma relação sexual!
Nos oráculos, encantamentos, e feitiços para o amor decritos nas obras de ocultismo da idade média, o nome de Lilith está presente. Observem esta evocação de feitiçaria:

“Faça-se a luz para o grande bode com suas ajudantes Sadrak, Abimelec e Cafmoot. Faça-se a luz para Astaroth com suas ajudantes Nebirus, Kobol e Dísjin. Faça-se a luz para Belzebuth, com suas ajudantes Baalarith, Sacheva e Lilith.”
Este fragmento extraído do breviário de Nostradamos, é bastante significativo onde Lilith aparece em companhia de uma legião infernal de espíritos malígnos para realizar um fluído de ligação amorosa. Este tipo de prática era coisa abominável para o cristianismo, a igreja que detinha o poder absoluto na idade média, torturava e mandava à fogueira todo indivíduo suspeito de ser mago, bruxo ou feiticeiro, e usasse de tais práticas. E foi neste período onde a inquisição reinou com toda a sua abominável bestialidade irracional oriunda do dogma cristão, que o maior número de mulheres foram para a fogueira!
A bruxa (mulher sábia e independente), uma espécie de manifestação de Lilith, foi durante muito tempo o alvo dos hipócritas supersticiosos da idade média e uma quantidade significativa de gente acabou numa pira humana. Que horror!
Este dito “dia do perdão”, recentemente noticiado no dia 13 de março de 2000 a todo o mundo, o papa (“porco do diabo”, na expressão de Nietzsche), pediu desculpas pelos erros do passado, lançando um documento oficial onde reconhecia os gravíssimos erros cometidos pela igreja. Quanta hipocrisia novamente!
Não há perdão para tais crimes! E a igreja é a maior culpada por todo o atraso cultural e científico do ocidente. Os orientais neste ponto foram fortes, o suficiente para não se deixarem dominar pela doutrina do cristianismo que pouco significado tem para eles...
Mas, voltando à Lilith e ao vampirismo, que é o assunto central de nosso estudo e reflexão, mergulhemos no vácuo da solidão de uma noite fria de inverno, e em poucos minutos a nossa imaginação enxergará o sepulcro de Lilith entalhado em mármore desgastado pelo tempo, como alguns dos antigos túmulos do cemitério da Consolação, na cidade de São Paulo.
Ao soar meia noite em ponto, onde provavelmente todas as criaturas da noite estejam despertas entre morcegos, corujas, pássaros agoureiros, répteis, insetos venenosos e peçonhentos, seres pertencentes à escuridão, veremos a filha de Satã levantar de seu túmulo, com suas roupas e véus esvoaçantes ao vento, seus cabelos negros exalando perfumes de flores, principalmente a “dama da noite”, aquela essência doce que enche a noite de magia e mistério, sentimento que temos ante o aroma desta planta em alguma rua deserta...
Como um louco que vê a morte e não teme o seu poder de aniquilamento, Lilith caminha à nossa direção, voa como uma coruja até nossa morada, invade nossa vida privada, seduz nossa alma pagã de solitário!
Suga o nosso sangue mas nos dá prazer, e o prazer segundo Oscar Wilde, é “a única coisa na vida que vale a pena!”.
Deixemo-nos seduzir por esta força oculta, mas um lembrete que pode entoar como advertência:

“Cuidado homens inocentes, com Lilith. Ela é um símbolo, uma força inconsciente oculta dentro da mulher, onde o seu poder pode ser de prazer ou dor, amor ou ódio.”

O homem a cada dia perde um pouco do seu espaço e papel dentro da sociedade, porque a força de Lilith multiplicou o seu potencial. Cabe agora haver um equilíbrio para que homem e mulher convivam sem maiores atritos!
Como Adão, o primeiro homem, o homem moderno ainda está mergulhado e embaraçado num conflito com sua companheira talvez porque não compreenda que Lilith e Eva são duas, mas ao mesmo tempo são uma só...
Não posso esquecer de citar a genial Barbara Black Koltuv, com sua obra “O livro de Lilith”, do qual estudei para elaboração desse artigo. Lembrando que o interessante para nós é o histórico do vampirismo e o horror que possui, o fascínio do fantástico, o resto cada um interpretará a seu modo.

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