terça-feira, 15 de setembro de 2009

A ORIGEM DO VAMPIRISMO NA MITOLOGIA JUDAICA.


"Lilith, rainha dos súcubos, coorte, alfim, ilha de Tule, flor de espuma! Em tua taça bebo o ouro da morte e entro nos passos reais do silêncio da bruma...” – Dário Velloso
A mulher sempre foi um enigma para o homem, mas é exatamente este mistério que o atrai, que desperta nele uma vontade de investigar de perto o desconhecido...
O “eterno feminino” é um tema sempre atual, apesar dele surgir como fonte de inspiração desde os tempos primevos da pré-história onde um anônimo ancestral da raça humana esculpiu em uma pedra as formas opulentas de um corpo feminino, uma espécie de “Vênus” que foi encontrada em Laussel (Dordonha) com 43 cm aproximadamente, e que remonta à era paleolítica da humanidade.
Este escultor realçou as formas dando bastante volume às ancas e seios, mas a imagem parece meio disforme, talvez por se tratar de uma mulher adulta, conhecendo a mesma os processos de transformação no corpo devido à maternidade. Nota-se que a “mulher” é um tema arcaico e atual!
O mistério da alma feminina encontrou nas mitologias das primeiras civilizações da Terra o tema ideal para que através do mito fosse possível tentar compreender o enigma.
Cerca de mais de 2500 anos antes de Cristo, já se ouvia falar em “Lil”, uma espécie de espírito errante, que já vinha sobrevoando como um vento maligno, as crenças das civilizações Suméria, Assíria, Persa, Árabe, Teutônica, Babilônia, Cananéia, e por fim a Hebraica.
A Mesopotâmia foi o berço das primeiras civilizações e foi no seio desses povos antigos que surgiu “Lilith”, o primeiro vampiro feminino, que obteve como maior missão ser a primeira esposa de Adão antes de Eva!
Foram os judeus quem melhor adaptaram o mito, incorporando-o em sua própria cultura. Mas as origens deste demônio remontam a era do caos.
Antes porém desta interpretação, Lilith poderia equivaler à “Astarte”, ishtar alada com pés de coruja em formas de garras afiadas sobre animais mamíferos, com os braços abertos exibindo os seios e o ventre completamente nu, enormes asas e um enfeitado diadema de ouro sobre a cabeça, que davam a esta deusa o poder absoluto afirmando sua volúpia de luxúria e prazer sobre os homens, como se fosse o instinto sexual um poder sobrenatural!
Lilith é uma força oculta, pertencente às trevas da noite. É um demônio voador, uma vampira que bebe sangue fresco e jovem, uma bruxa, uma renegada, uma maldita, uma prostituta, uma promíscua, uma serpente, uma coruja, a própria lua, a escuridão do inconsciente... Lilith é o monstro da noite que estrangula criancinhas e fornica com os jovens que dormem sozinhos, provocando nestes, ereções noturnas, desencadeadas de sonhos orgíacos. Lilith foi temida pelos judeus e excluída da bíblia...
Satã ou Satanás foi o criador de Lilith, este ser rebelde, que significa “o contestador” ou “o anjo mais sábio”, foi o responsável por sua aparição no paraíso recém formado. Segundo o poeta John Milton, autor do livro “O paraíso perdido”, Satã fora expluso dos céus num momento de grande levante onde combateram todos os anjos numa guerra descomunal para tomar o trono de Jeová, o “todo poderoso”.
'Deus, co’a mão cheia de fulmíneos dardos, o arrojou de cabeça ao fundo do abismo. Lá vem descendo em tortuosos giros, até que o cume do ninfate pousa. Então Satã, que pela primeira vez soube o que é dor, torceu-se, recurvou-se. Tal bramido então ruge e tal estrondo, como jamais se ouviu dos céus no espaço...”
Nestes fragmentos significativos, Milton descreve como um profeta visionário, o episódio da expulsão de Satã dos céus! Satã rancoroso para vingar-se de Deus, resolve ferir o Homem, a criação da imagem e semelhança do todo poderoso. Num momento de inspiração, ele sopra a vida em uma escultura feminil lapidada por ele mesmo. Assim Lilith, a obra prima de Satã, passa a fornicar com Adão sem que Deus saiba de toda a trama diabólica...
Adão, que segundo a bíblia foi o primeiro Homem, encontrou em Lilith a forma ideal para descarregar todo seu impulso sexual, e Lilith tornou-se a companheira e esposa fiel de Adão satisfazendo-lhe todas as suas fantasias...
Meses e anos se arrastaram e o tempo passou, mas um dia Deus descobriu a trama de Satã e imediatamente criou a Mulher!
Lilith, que era um ser independente e arrogante, já vivia em desavença com o Homem e num momento de discussão e desentendimento, Lilith abandonou Adão e voou até as margens do mar vermelho. Adão angustiado, caiu em profundo sono e foi neste momento que Deus tirou de suas costelas a matéria prima para fazer Eva, a verdadeira companheira de Adão...
Novamente o Homem ganhou para si uma esposa, esta feita por Deus. Dessa forma Adão esqueceu Lilith, sua primeira mulher, para sempre, e agora Eva era o seu conforto, ela era mais dócil, meiga, submissa, espirituosa, mulher ideal em todos os aspectos. Eles viviam felizes no paraíso até o dia em que Lilith voltou do seu exílio às margens do mar vermelho onde havia co-habitado com dezenas de demônios pertencentes ao exército de Satã...
Eva, que passeava descontraída à beira de um lago, avistou Lilith, mulher alta, morena de olhos verdes e cabelos pretos e longos, com um belo corpo, seios e ancas volumosas, que despertaram em Eva uma curiosidade. Quem era aquela mulher felina, selvagem, que perambulava pela floresta como se fosse a rainha de todos os animais? Lilith também avistou Eva e ficou surpresa com sua beleza tão delicada... Lilith, demônio súcubo de corpo sensual conversando com Eva, mulher ingênua e submissa, conseguiu convencê-la de provar o fruto do pecado, aquele no qual Deus havia proibido. Era chamado de “o fruto da árvore da ciência”. Eva, num momento de fraqueza e curiosidade, enganada por Lilith, provou o fruto e convenceu Adão também a prová-lo. Então ambos, homem e mulher, caíram em maldição pois o preço do pecado é a morte!
Escureceu os céus, a terra tremeu, soprou sinistro Haraverus, e o todo poderoso amaldiçoou Lilith por Ter sido a culpada do engano do gênero humano. Lilith seria daquele dia em diante, uma vampira condenada a beber sangue e reinar somente à noite, quando a lua brilhasse no firmamento.
Nascia a primeira vampira no seio do folclore judaíco, e deste dia em diante a humanidade futura que iria nascer de Adão e Eva estavam condenados a sofrer os ataques de Lilith...
O primeiro filho de Adão e Eva, Caim, foi por muito tempo amante de Lilith, mas a sua malignidade influenciou tanto o jovem Caim que este foi induzido a matar seu próprio irmão Abel. Depois, Caim comete incesto com sua mãe Eva e tenta também matar seu pai, Adão.
Percebe-se claramente que a humanidade se origina debaixo da maldição e do erro, da discórdia, do crime e do incesto..
O livro de “Gênesis”, da bíblia comum, em nenhum momento cita Lilith, ao passo que não é Lilith quem tenta Eva, mas Satã em forma de serpente. Aqui a metamorfose do espírito de Lilith em serpente é fato decisivo para que o pecado manche a vida!
Os primeiros hebreus, os rabinos mais radicais e letrados, estes ao descreverem o livro da criação do mundo, excluíram o nome de Lilith por questões de fé, temor, moral e preconceitos, afinal nas sociedades primitivas hebréias, era o patriarca o chefe absoluto da família e da tribo. E o poder da mulher sobre o homem era ignorado e mantido como coisa secundária.
Mas Lilith é muito mais que uma renegada e amaldiçoada vampira, ela tornou-se um símbolo de toda mulher independente ao passo que Eva é o símbolo da mulher subjugada pelo homem!
A lenda e o horror passou a povoar a mente de todos os homens e as primeiras aldeias e acampamentos eram alvos frequentes de Lilith. Ela surgia sempre à meia noite, batendo suas asas de coruja ou morcego, e seus caninos afiados buscavam um pescoço onde a veia jugular estivesse com mais facilidade em evidência.
A morte de crianças e os abortos eram obras malignas de Lilith, que deleitava-se com sangue de recém-nascidos!
Jovens, homens ou mulheres que dormissem sozinhos, estavam condenados a tormentos e pesadelos sexuais onde através de masturbação chegavam ao orgasmo. O líquido expelido era também alimento para Lilith.
Como citei em um outro artigo, “Sexo e sangue são os dois ingredientes básicos do culto do vampirismo”. Aqui, estes dois elementos são constantes de modo a tornarem-se uma espécie de vício no seio da primeira mocidade.
Lilith prefere os jovens, mas não desdenha os velhos, porém na juventude a doçura dos prazeres é mais ardente. Por isso o poder de Lilith é mais forte neste período da vida humana.
A mãe comum de todos os vampiros, fruto do talento minucioso de Satã, a senhora das bestas e répteis peçonhentos, tornou-se o maior perigo para os hebreus que oravam à Deus e à três anjos para que protegessem toda a família da visita noturna da vampira sugadora de sangue e assassina de crianças.
Sanvi, Sansanvi e Semangelaf eram os três anjos, que segundo a lenda assassinaram todos os filhos que Lilith gerou com Adão. Os anjos eram invocados para proteger os filhos de Eva, isto é, a humanidade, da qual Lilith tinha agora rancor e vingança de assassinar como uma espécie de revanche, pelo mal que ela sofreu no passado.
Existe uma complexidade enorme quanto à verdadeira origem deste vampiro chamado Lilith, afinal ela é fruto de outras culturas ainda mais primitivas que a dos hebreus. Seu nome foi mudando de tempos em tempos e o aspecto lúgubre foi se reafirmando na medida em que a evolução urbana povoou toda a região da antiga Mesopotâmia.
Lilith é uma espécie de súccubus perversa e sedutora.por M. T. R. Almeida

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