segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

A Espada - Katana


De todas as armas produzidas pelo homem, nenhuma supera a espada japonesa quando são analisados critérios artísticos, espirituais e práticos. Suas rivais européias de Toledo e Damasco não possuem todas suas virtudes, apesar de terem sido confeccionadas pelos melhores mestres existentes no Ocidente.
No Japão medieval existiram muitos tipos de armas. No início do século XI até o final do século XVI com as batalhas realizadas entre exércitos de senhores feudais rivais, o principal armamento era o utilizado em campo aberto ( lanças, flechas, naguinatas, etc.. ). Após a unificação do Japão por Tokugawa Ieyasu ( início do século XVII ) as batalhas campais acabaram e começou o período de duelos entre Samurais, neste momento a espada foi a arma mais usada, tamanha importância foi dada a ela que ocorreram dois fatos importantes em sua história: em 1588 o mais poderoso senhor feudal do Japão, Toyotomi Hideyoshi declara que somente os Samurais podiam portá-la, assim ele subtraiu-a do alcance dos comuns, reservando-a como privilégio único e exclusivo da classe guerreira, já a frase mais famosa relacionada a ela veio do Shogun Tokugawa Ieyasu, que disse " a espada é a alma do Samurai".
A espada sempre teve um valor importante na sociedade japonesa, seja como a arma de um samurai e o seu símbolo de poder e status até o fato de se acreditar que o espírito do samurai vivia nela. Outro fato importante é a representação do poder do imperador pela espada que ele recebe quando é empossado, segundo a lenda a espada foi dada pelo deus do sol, Amaterasu Omikarni ao seu neto, Ninigi-no Mikoto, quando este foi enviado para reinar na terra.
A espada japonesa mais conhecida é a katana, quando pensa-se em Samurais sempre é ela a lembrada, suas principais características são relacionadas principalmente à forma de sua lâmina, com curvatura ( mais ou menos acentuada ), de seção transversal cônica, com têmpera característica na região de corte, especificamente destinada a golpes de ceifa desfechados com insuperável velocidade. Os guerreiros também carregavam uma outra espada ( Wakizashi ), de tamanho menor que a katana, que era mais utilizada em combates em ambientes fechados ( castelos, florestas, etc. ). O conjunto katana mais Wakizashi, quando juntas formavam o par chamado de Daishô, que era usado na cintura e representava o status máximo da Classe Samurai.
A manufatura da espada japonesa, não era um simples ato de fabricar um objeto para uma batalha ou utilização específica, o mestre-espadeiro colocava seu espírito em todas as fases de sua fabricação, chegando ao ponto de abster-se de sexo, bebidas, carne e da presença das pessoas comuns durante todo o processo. Seu ateliê era um santuário sagrado, o aço dobrado sobre si próprio em operações de forjamento sucessivo, o sentimento colocado em cada martelada, nas imersões na água, nas passadas na pedra de afiar, era um ato religioso que conferia um espírito à sua lâmina e a deixava viva com a energia de seu criador. Existe uma história que é relacionada ao espírito do artesão que era colocado nas fibras do aço: O mais famoso armeiro japonês foi Massamuné, conhecido pelo seu espírito bom, sempre que podia ajudava as pessoas de seu vilarejo, via suas obras como um objeto artístico e instrumento para a busca da paz, seu melhor discípulo foi Muramasa, que apesar de aprender toda a técnica da arte possuía um espírito ruim, devido a isso foi excluído. Conta-se que ao colocar duas espadas, uma de Massamuné e outra de Muramasa em um regato, quando folhas são jogadas na água, elas são atraídas para a lâmina da segunda e repelidas pela da primeira, isto é relacionado pelos estudiosos ao sentimento ruim que Muramasa colocava em suas lâminas.
A simbologia existente na katana é que a bainha representa o corpo físico, templo protetor, enquanto a lâmina, o espírito poderoso que quando utilizado com sabedoria realiza atos incríveis. Em mãos hábeis de um perito a espada japonesa pode cortar qualquer parte do corpo humano, um cano de metralhadora , ou uma folha de árvore caindo ao solo.
Em um tratado escrito no século XVIII sobre a arte da esgrima ( Tengu-geijutsu-ron ), que relatava principalmente os aspectos espirituais da arte, existe a orientação que o praticante deve conhecer tanto o lado técnico como o espiritual, e que a busca dos valores mais nobres deve ser feita procurando-se os sentimentos que brotam do fundo do coração. Quem pratica a arte das espadas deve corresponder, espontaneamente, à uma eventual situação, sem se irritar de modo algum por qualquer intenção externa. A reação deve ocorrer de imediato, como o espelho reflete a imagem. Através de inúmeros textos, principalmente Zen-Budistas, a consciência dos praticantes foi sendo moldada e a utilização do katana mudou de um fim quase sempre trágico de um duelo, para uma reflexão mais espiritual e certamente benéfica para a sociedade.
Com a mudança de alguns conceitos, principalmente relacionados a finalidade da prática da espada, mestres da esgrima começaram a colocar em suas escolas a importância da busca espiritual, não como meio próprio de iluminação, mas como um caminho da melhoria de vida de todas as pessoas. Nesta época surge a fase mais bonita da simbologia relacionada à katana, ela existiria para dar a vida e não para tirá-la, com o treino os alunos estariam buscando o que de melhor possuem, e assim poderiam contribuir melhor para seu aprendizado como pessoas que vivem em sociedade. Surge o Kendô ( O caminho da espada ) e as diversas artes marciais relacionadas à sua prática.
Infelizmente devido à alguns, a espada japonesa teve sua nobre simbologia denegrida pela sua utilização na Segunda Grande Guerra, quando oficiais japoneses decapitavam prisioneiros americanos ou britânicos, que eram amarrados e colocados de cócoras. Mesmo estas espadas não serem katanas autênticas, seus donos achavam que estavam praticando a arte dos Samurais, agindo cegamente por ignorância ou crueldade, eles esqueciam que pelo espírito do Bushidô ( Código de Honra Samurai ), um adversário devia ser enfrentado de frente, e pela frase do Shogun Tokugawa Ieyasu: " o inimigo deve ser enfrentado à distância da espada, de frente e com respeito ". Esta fase terrível é lembrada com tristeza pelos praticantes e conhecedores da arte da esgrima, mas não sujou o espírito existente que foi moldado por séculos de tradição, uma mostra disto é a crescente busca de informações sobre sua história e técnica existente hoje no Ocidente.
O Ressurgimento.
Há apenas quarenta anos, acreditava-se que o oficio da criação de espadas japonesas estava fadado ao fim. Durante a ocupação americana no Japão do pós-guerra, os japoneses foram proibidos de fabricar ou de portar qualquer tipo de arma, inclusive espadas. Suas espadas foram confiscadas e destruídas em sua maioria, e outras foram levadas pelos americanos como souvenires. Os cuteleiros foram obrigados a procurar novos ofícios e com isso privaram gerações de absorver conhecimento sobre este oficio e pela primeira vez no Japão cessou a fabricação das espadas, exceto por algumas espadas feitas exclusivamente para rituais e ocasiões publicas.
O ofício sobreviveu a este período negro. Em 1953 depois que os americanos deixaram o Japão a proibição da fabricação das espadas foi retirada. Alguns cuteleiros da chamada "geração perdida" retornaram ao trabalho e com eles uma nova geração de aprendizes começou a surgir. Graças aos seus esforços o oficio emergiu novamente e na década de 80 ele está possivelmente mais ativo do que jamais esteve ao longo de vários séculos.
Todo este ressurgimento é fantástico, ainda mais para uma arte que é controlada pelo governo, aonde o número de espadas fabricadas por cada cuteleiro é limitada e aonde os aprendizes devem ter um número mínimo de anos de aprendizado com um professor licenciado para poder exercer o oficio.Wikepédia.

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