sábado, 22 de maio de 2010

Altar de Aisling.


Suave música de flauta,
cheirando a jasmim e ylang-ylang,
que vem de lugar nenhum,
de um canto adormecido,
trazendo incensários de
um momento sereno.

Estou sem saber, em transe,
próximo a um altar de pedra,
no meio do círculo azul, bem ao Sul,
invocando antigos amigos elementais,
pedindo ajuda para o Povo Pequeno...

Talvez o meu único eterno conforto
esteja guardado agora na clareira
da mais radiosa floresta,
na imantação da Lua Cheia,
no banhar dos raios prateados,
serpenteados pela dança das fadas,
decorado na oferenda das maçãs
com canelas e no mesmo correr
as eternas águas...

E na Lua Esquecida do Amor,
no percurso de tantas vezes,
passam conjunções de Platão a Saturno.
Quieto, calado, taciturno,
estou isolado entre adequações e
reestruturações.

Mas posso rever, distante, você,
doce e graciosa Aisling.
Peço licença ao sentimento.
Em movimento lento muito lento,
faço referências medievais para a
Deusa Fada dos perdidos acalantos.

E lamento, ah, como lamento,
tê-la guardado apenas
no frívolo pensamento,
feito voz esquálida
que fenece ao vento...

Aisling, Deusa da Esperança...
leva-me para dentro do círculo.
Pede a Aine, Senhora das Fadas,
o remoer das águas...
e por um milimétrico segundo,
talvez o retroceder do tempo.

Rainha do Povo Pequeno,
toma conta de todas
as minhas mágoas...

Aisling,
conta-me no descerrar da floral cantiga,
ao sopro da brisa primaveril,
que eu, tolo menino, preciso fazer
para que ela retorne à minha vida???

Dá-me guarida, Doce Aine,
consciência do meu corpo adormecido,
para que eu possa rever,
mesmo que seja pela última vez,
as fadas que eu tanto amo e venero,
dançando nesta noite de clarão azul.
Por que, por desconhecido motivo,
preferi cegar imagens do coração.
Não consigo perceber mais...

Aisling,
sinto falta do elixir,
da poção encantada de um olhar,
magia celta de íris verde na relva macia,
ongos cabelos negros, esvoaçantes,
incessantes a me guardar por inteiro.
Aisling e Aine,
Rainhas do Povo Pequeno,
como posso voltar a ter paz???
Queria tanto acabar com este nevoeiro,
transformá-lo em círculo azul, bem ao Sul,
queria ver as fadas dançarem
nesta noite sem fim.
E ao exalar do jasmim,
Aisling e Aine,
na pedra solar,
poder calar toda a minha dor.

Queria muito, doces rainhas das Fadas,
retornar, mesmo em sonho,
em instante de névoa,
no fundo perdido da clareira,
para os braços do meu único amor...
Soraya Souza.

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