quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Pentagrama Flamejante
Chegamos à explicação e à consagração do santo e misterioso pentagrama.
Que o ignorante e o supersticioso fechem o livro aqui: pois só verão nele trevas ou ficarão escandalizados.
O pentagrama, que é chamado, nas escolas gnósticas, a estrela flamejante, é o sinal da onipotência e da autocracia intelectuais.
É a estrela dos magos; é o sinal do Verbo feito carne; e, conforme a direção dos seus raios, este símbolo absoluto em magia representa o bem ou o mal, a ordem ou a desordem, o cordeiro de Ormuz e de São João, ou o bode maldito de Mendes.
É a iniciação ou a profanação; é Lúcifer ou Vésper, a estrela da manhã ou da tarde.
É Maria ou Lilith; é a vitória ou a morte, é a luz ou à noite.
O pentagrama elevando ao ar duas das suas pontas representa Satã ou o bode do Sabbat , e representa o Salvador quando eleva ao ar um só dos seus raios.
O pentagrama é a figura do corpo humano com quatro membros e uma ponta única que deve representar a cabeça.
Uma figura humana com a cabeça para baixo representa naturalmente um demônio, isto é,a subversão intelectual, a desordem ou a loucura.
Ora, se a magia é uma realidade, se esta ciência oculta é a lei verdadeira dos três mundos, este signo absoluto, este signo tão antigo como a história e até mais que a história, deve exercer, com efeito, uma influência incalculável sobre os espíritos desembaraçados dos seus envoltórios materiais.
O signo do pentagrama chama - se também o signo do microcosmo, e representa o que os cabalistas do livro de Zohar chamam o microprósopo.
A interpretação completa do pentagrama é a chave dos dois mundos. É a filosofia e a ciência natural absolutas.
O signo do pentagrama deve ser composto dos sete metais ou, ao menos, ser traçado em ouro puro no mármore branco.
Pode- se também desenhá - lo, com vermelhão, numa pele de cordeiro sem defeitos e sem manchas, símbolo de integridade e luz.
O mármore deve ser virgem, isto é, nunca ter servido a outro uso; a pele de carneiro deve ser preparada sob os auspícios do sol.
O carneiro deve ter sido degolado no tempo da Páscoa, com uma faca nova, e a pele deve ter sido salgada com o sal consagrado pelas operações mágicas.
A negligência de uma única destas cerimônias difíceis e, em aparência, arbitrárias, faz abortar todo o sucesso das grandes obras da ciência.
Consagramos o pentagrama com os quatro elementos; sopramos cinco vezes sobre a figura mágica; e aspergimo - lo com a água consagrada; secamo - lo com a fumaça dos cinco perfumes, que são o incenso, a mirra, os aloés, o enxofre e a cânfora, aos quais podemos ajuntar um pouco de resina branca e âmbar- pardo; sopramos cinco vezes, pronunciando o nome dos cinco gênios, que são: Gabriel, Rafael, Anael, Samael e Orifiel; depois pomos o pantáculo no chão, alternativamente ao norte, ao sul, ao oriente, ao ocidente e no centro a cruz astronômica e pronunciamos, uma após outra, as letras do tetragrama sagrado; depois dizemos, em voz baixa, os nomes de Aleph e do Thau misterioso, reunidos no nome cabalístico de Azoth .
O pentagrama deve ser colocado no altar dos perfumes e sobre a trípode das evocações. O operador deve também trazer consigo a figura com a do macrocosmo, isto é, a da estrela de seus raios, composta de dois triângulos cruzados e superpostos.
Quando evocamos um espírito de luz, é preciso virar a cabeça da estrela, isto é, uma das suas pontas para a trípode da evocação, e as duas pontas inferiores do lado do altar dos perfumes. É o contrário se se tratar de um espírito das trevas; mas então é preciso que o operador tenha o cuidado de conservar a ponta da baqueta ou da espada sobre a cabeça do pentagrama.
Dissemos que os signos são o verbo ativo da vontade. Ora, a vontade deve dar seu verbo completo para transformá - lo em ação; e uma única negligência, representando uma palavra ociosa ou uma dúvida, imprime em toda a operação o cunho da mentira e da importância, e volta contra o operador todas as forças gastas em vão.
É , pois, preciso abster- se absolutamente das cerimônias mágicas, ou realizar escrupulosa e exatamente todas!
O pentagrama traçado, em linhas luminosas, no vidro, por meio da máquina elétrica, exerce também uma grande influência sobre os espíritos e aterroriza os fantasmas.
Os antigos magos traçavam o signo do pentagrama no batente da sua porta, para impedir aos maus espíritos de entrar e aos bons de sair. Este constrangimento resulta da direção dos raios da estrela. Duas pontas para fora, afastavam os maus espíritos; duas pontas para dentro, os retinha prisioneiros; uma só ponta para dentro, cativava os bons espíritos.
Todas estas teorias mágicas, baseadas no dogma único de Hermes e nas induções analógicas da ciência, sempre foram confirmadas pelas visões dos extáticos e pelas convulsões dos catalépticos, ditos possessos dos espíritos.
O G no qual os franco - maçons colocam no meio da estrela flamejante significa Gnosis e Geração , duas palavras sagradas da antiga Cabala. Quer dizer também Grande Arquiteto, porque o pentagrama, de qualquer lado que o olhemos, representa um A .
Dispondo - o de modo que duas das suas pontas estejam em cima e uma só ponta embaixo, podemos ver nele os chifres, as orelhas e a barba do bode hierático de Mendes e torna - se o signo das evocações infernais.
A estrela alegórica dos magos não é outra coisa senão o misterioso pentagrama; e estes três reis, filhos de Zoroastro, guiados pela estrela flamejante ao berço do Deus microcósmico, seriam suficientes para provar as origens inteiramente cabalísticas e verdadeiramente mágicas do dogma cristão. Um destes reis é branco, outro é preto e o terceiro é moreno. O branco oferece ouro, símbolo da vida e da luz; o preto oferece mirra, imagem da morte e da noite; o moreno apresenta o incenso, emblema da divindade do dogma conciliador dos dois princípios; depois, voltam a seu país por um outro caminho, para mostrar que um culto novo é simplesmente um novo caminho, para levar a humanidade à religião única. A do ternário sagrado e do irradiante pentagrama, o único catolicismo eterno.
No Apocalipse , São João vê esta mesma estrela cair do céu na terra. Ela se chama, então, absíntio ou amargura, e todas as águas ficam amargas. É uma imagem clara da materialização do dogma que produz fanatismo e as amarguras das controvérsias. É ao próprio cristianismo que podemos, então, dirigir estas palavras de Isaías: “Como caíste do céu, estrela brilhante, que eras tão esplêndida em tua manhã? ”
Mas o pentagrama, profanado pelos homens, brilha sempre sem sombra na mão direita do Verbo de verdade, e a voz inspiradora promete àquele que vencer dar- lhe a posse da estrela da manhã; reabilitação solene prometida ao astro de Lúcifer.
Como vemos, todos os mistérios da magia, todos os símbolos da Gnosis, todas as figuras do ocultismo, todas as chaves cabalísticas da profecia, se resumem no signo do pentagrama, que Paracelso proclama o maior e mais poderoso de todos os signos.
Será para se admirar, depois disso, da confiança dos magistas e da influência real exercida por este signo sobre os espíritos de todas as hierarquias? Os que desprezam o sinal da cruz tremem ao aspecto da estrela do microcosmo. O mago, pelo contrário, quando sente enfraquecer- se a sua vontade, leva os olhos para o símbolo, toma - o na mão direita e sente - se armado da onipotência intelectual, contanto que seja verdadeiramente um rei digno de ser guiado pela estrela ao berço da realização divina; contanto que saiba , que ouse , que queira , e que se cale ; contanto que conheça o emprego do pantáculo, do copo, da baqueta e da espada; enfim, contanto que os olhares intrépidos de sua alma correspondam a este dois olhos que a ponta superior do nosso pentagrama lhe apresenta sempre abertos.
Eliphas Levi - Dogma e Ritual da Alta Magia.
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