Se eu desistir, se eu disser
a mim mesmo que não posso;
se eu não tentar ir mais longe,
ousar mais ou ir mais alto;
se eu só, parado, comigo
me contentar, me bastar
e não pedir ao destino
e não rezar a algum deus,
mas em minha própria casa,
mas em meu próprio castelo
(que não é castelo algum);
se eu não me deixar levar
pela ideia sedutora,
pela ilusão sedutora
do mais amplo e do mais vasto,
pela visão do mais rico;
se eu, mesmo que insatisfeito
e falho de asa e valor,
e neutro de ouro e ambição,
a mim mesmo me disser
que basta não ter chegado,
que basta não ter ousado,
que não ter chegado foi
o mais longe que pude ir,
que não havia mais longe,
que não havia horizonte
e que por isso bastou
ter ido até onde fui
(que sei eu?); se eu me disser
que estar em casa é o bastante,
que me convém não ousar
e que é melhor não ousar,
não ir tão longe, não ser
o que tentou ir tão longe,
que basta apenas ficar,
permanecer, demorar,
que a mim me basta ficar;
se eu me disser a mim mesmo,
se eu não tentar ir mais longe,
se eu não fizer a besteira
de tentar me ultrapassar,
de ir aonde não posso ir,
de ser quem tenta ir mais longe,
de ser quem tenta ir mais alto.
Renato Suttana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário