sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

A Ocasião.

Quem és tu? Se és mulher, não pareces mortal, Tanto o céu te adornou de graça original. Por que razão jamais descansas? Por que trazes Asas nos pés? Por que só em fugir te aprazes? Sou a Ocasião. Bem raro é conhecer-me alguém Pois sempre em movimento estou. Nada detém Meu passo. Um de meus pés sobre uma roda pisa. Mais veloz do que o meu, − vôo nenhum desliza Ou me iguala sequer. Tonteia quem fitar Das asas de meus pés a rapidez sem par. Puxo por sobre a testa a esparsa cabeleira Toda a face e o pescoço a encobrir, de maneira Que não se me conheça, em eu chegando. Atrás Meu crânio é frio e nu; sem um cabelo jaz. Quem me deixou passar, ou esse em cuja frente Voltei-me, − esse fará esforço inutilmente Para apanhar-me ... Em vão! ... Breve se cansa e cai... − Mas, dize-me: Quem é que os teus passos vai Como sombra seguindo? − É o Arrependimento. Pega-o quem me pegar não pôde: ele é mais lento. Mas tu que, a me falar, perdendo tempo estás, Não percebes, não vês, ó, mísero incapaz Que enquanto frases vãs ouves e pronuncias, Eu já me escapuli das tuas mãos tardias? Affonso Celso.

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