domingo, 28 de abril de 2013
a flor do maracujá
A FLOR DO MARACUJÁ
Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!
Pelo jasmim, pelo goivo,
Pelo agreste manacá,
Pelas gotas de sereno
Nas folhas do gravatá,
Pela coroa de espinhos
Da flor do maracujá!
Pelas tranças de mãe-d’água
Que junto da fonte está,
Pelos colibris que brincam
Nas alvas plumas do ubá,
Pelos cravos desenhados
Na flor do maracujá!
Pelas azuis borboletas
Que descem do Panamá,
Pelos tesouros ocultos
Nas minas do Sincorá,
Pelas chagas roxeadas
Da flor do maracujá!
Pelo mar, pelo deserto,
Pelas montanhas, sinhá!
Pelas florestas imensas,
Que falam de Jeová!
Pela lança ensangüentada
Da flor do maracujá!
Por tudo o que o céu revela,
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está!…
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!
Não se enojem teus ouvidos
De tantas rimas em – á -
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos, ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
Fagundes Varela.
Flor do Maracujá: porque é conhecida como "flor-da-paixão"
O maracujá é uma planta tipicamente brasileira, muito apreciada pelo sabor de seus frutos e pelo perfume de suas flores. Estas flores, conhecidas como "Flores da Paixão", foram antigamente muito apreciadas e celebradas como "as graças dos prados, brincos da natureza e devoção da piedade cristã".
Dizem que em princípio do século XVII, chegou a primeira planta da América a Roma que foi oferecida a Paulo V. Parece que também foi aqui que a piedosa fantasia se apoderou desta bela flor e descobriu-lhe as relações religiosas, com tanto entusiasmo expostas por Vasconcelos.
Atribuem ao padre Ferrari a paternidade do nome, "flor da paixão ou passiflora", o qual a classificou na sua obra "De florum cultura", publicada em 1833. Esta elegante trepadeira no Brasil é conhecida pelo nome indígena "maracujá".
É crença geral que o maracujá foi criado por Deus para perpetuar a lembrança do sacrifício do calvário. Esta flor de extraordinária beleza tem a singularidade de apresentar num simbolismo caprichoso da natureza, os principais instrumentos da Paixão de Cristo: coroa, açoites, cravos, chagas, etc. Sua aludida descrição de bela flor americana é célebre! Lozano adaptou-a quase palavra por palavra na sua história da conquista e outros historiadores a reproduziram. É esta:
"A flor é o mistério único das flores. Tem o tamanho de uma grande rosa e, neste belo campo, formou a natureza como um teatro dos mistérios da redenção do mundo. Lançou por fundamento cinco folhas mais grossas, ao exterior verdes, no interior rosadas; sobre estas, postas em cruz, outras cinco púrpuras, todas a uma e outra parte. E logo deste como tono sangüíneo, vai armando um quase pavilhão feito de uns semelhantes a fios de roxo, com mistura de branco.
Outros lhe chamavam coroa, outros molhos de açoites aberto, e tudo vem a ser. No meio deste pavilhão, ou coroa, ou molho, se vê levantada uma coluna branca, como de mármore, redonda, quase feita ao torno e rematada por uma preciosa maçã ou bola, que tira o ovalado. Do remate desta coluna nascem cinco quase expressas chagas, distintas todas e penduradas cada qual do seu fio, tão perfeitas que parece as não poderia pintar noutra forma o mais destro pintor: se não que, em lugar de sangue, tem por cima um como pó subtil, ao qual se aplicais o dedo, fica nele pintada a mesma chaga, formada de pó, como com tinta se poderia formar.
Sobre a bola ovada do remate, se vêem três cravos perfeitíssimos, as pontas na bola, os corpos e cabeças no ar; mais cuidareis que foram ali pregados de indústria, se a experiência vos não mostrara o contrário. A esta flor por isso chamam da paixão, porque mostra aos homens os principais instrumentos dela, que são: coroa, coluna, açoite, cravos, chagas. É flor que vive com sol e morre com ele; o mesmo é sepultar-se o sol, que fazê-lo sepulcro daquele pavilhão ou coroa, já então cor de luto e sepultar nele os instrumentos da Paixão sobreditos, que, nascido o sol, torna a ostentar ao mundo."
Complementamos a esta, outra descrição com belos versos do poema épico do Caramuru:
"Nem tu me esquecerás, flor admirada
Em quem não sei se a graça, se a natura
Fez da Paixão do Redentor Sagrada
Uma formosa e natural pintura
Pende com pomos mil sobre a latada
Áureos na cor, redondos na figura
O âmago fresco, doce rubicundo
Que o sangue indica que salvaria o mundo
Com densa cópia se derrama,
Que muito a vulgar hera é parecida,
Entre sachando pela verde rama
Mil quadros da Paixão do Autor da vida;
Milagre natural que a mente chama
Com impulsos da graça, que a convida,
A pintar sobre a flor aos nossos olhos
A cruz de Cristo, as chagas e os abrolhos.
É na forma redonda, qual diadema,
De pontas, com espinhos, rodeada,
A coluna no meio, e um claro emblema
Das chagas santas e da cruz sagrada;
Vêm-se os três cravos e na parte extrema
Com arte a cruel lança figurada;
A cor é branca, mas de um roxo exangue
Salpicada, recorda o pio sangue.
Prodígio raro, estranha maravilha,
Com que tanto mistério se retrata!
Onde em meio das trevas a fé brilha
Que tanto desconhece a gente ingrata!
Assim, do lado seu nascendo filha
A humana espécie, Deus piedoso trata,
E faz que, quando a graça em si despreza,
Lhe pregue com esta flor a natureza"
Segundo folclore popular nordestino, quando Jesus estava na cruz, seu sangue escorreu pela madeira e molhou o solo. No pé da cruz havia uma planta que nunca deu flor e não tinha nenhuma virtude. Quando o sangue molhou a planta, ela soltou um botão, o botão virou flor e a flor trazia todos os sinais da crucificação. - "E havia junto da cruis, Um pé de maracujá, Carregadinho de frô, Aos pé de nosso sinhô. I o sangue de Jesus Cristo, Sangui pisado de dô, Nus pé du maracujá, Tingia todas as frô."
Não é provável que os feiticeiros ou pajés, conhecessem estas relações que os cristãos puseram no maracujá. O que se sabe, porém, é que certos pajés de algumas tribos, ao serem iniciados nas superstições, abstinham-se dos frutos do maracujá.
Maracujá, na língua tupi, quer dizer "alimento dentro da cuia". É mesmo na cuia, isto é, na própria casca, que o maracujá recebe total apreciação de norte a sul do país. Tanto que o Brasil conhece o recorde de mais de 150 variedades da fruta. Das quais são deliciosamente comestíveis o maracujá-amarelo, o maracujá-roxo e o avermelhado, bastante comuns nas regiões Sudeste e Sul.
Devido as suas propriedades terapêuticas, o maracujá possui grande valor medicinal: as folhas e o suco contêm passiflorina, um sedativo natural e o chá preparado com as folhas tem efeito diurético. Seu uso principal, no entanto, está na alimentação humana, na forma de sucos, doces, geléias, sorvetes e licores. É rico em vitamina C, cálcio e fósforo.
texto de rosane volpatto.
sábado, 13 de abril de 2013
NÁYADES E ONDINAS
Do ponto de vista etimológico "náyade" vem da palavra latina "naias-adis", que a sua vez provêm da palavra grega "vaia-adós", nome com que se designava na mitologia grega as ninfas da água e que encarnavam a divindade do manancial em que habitam. Em cada fonte poderia viver uma só ninfa, chamada ninfa da fonte, ou várias, todas iguais entre si e consideradas irmãs. Nas fontes era freqüente vê-las banharem-se e brincarem.
Mortais, porém de grande longevidade, dizia Homero que eram filhas de Zeus com o Céu. Jovens e atrativas, tinham o dom de curar, porém podiam também ser perigosas por sua beleza.
As náyades são primas das ondinas e compartem entre si muitas peculiaridades. No entanto, as náyades, contrárias as ondinas, preferem viver em lugares bem tranqüilos, tais como o fundo dos rios e os lagos. Algo que as aborrece é os humanos entrarem em suas águas sem permissão. Quando alguém comete esse sacrilégio, corria perigo mortal, independentemente de quem fosse. As náyades podiam castigar-lhe com uma doença incurável ou a loucura. Contam que nem Nero se livrou de sua ira, estando em Roma, se banhou na fonte de Marcia. Durante vários anos uma estranha parlisia e uma febre alta o manteve na cama.
ONDINAS (NIXIE).
Espírito elemental da água, as ondinas ou nixies, podem ser vistas no mundo todo com seus rostos ovais, longos cabelos verdes ou dourados e grandes olhos que podem ser verdes ou amarelos. São altas e esbeltas e possuem uma pele que varia de uma cor cinza até um branco com intenso brilho prateado. Suas asas são tão finas como teias de aranha, mas também são imensamente fortes. Carregam pequenas bolsinhas com encaixes feitas de mágicos pedregulhos de cor pálida e, se você encontrar uma dessas pedrinhas, lhe proporcionará uma sorte incomparável. Suas vestes (quando as usam) são transparentes e também com encaixes para carregar as bolsinhas. Gostam de colocar babados esvoaçantes em torno dos decotes, nas mangas e em torno da bainha do vestido, os quais, creio eu, refletem o seu amor pelas águas espumantes.
As ondinas adoram cantar e pentear seus cabelos e buscam os humanos para conversar dentro da água. Por causa de uma antiga promessa, as ondinas têm que salvar uma vez ao ano uma alma humana que tenha se afogado na água. Guardam essas pequenas almas em pequenos recipientes de louça em forma de respingos que enterram no leito do rio, de modo que a alma humana pode voltar à Terra de visita uma vez ao ano em Samhain (Holtaalloween). Uma de suas brincadeiras preferidas é perseguir canoas e barcos.
Seu lar se encontra geralmente se encontra embaixo das cascatas ou outras formações naturais nas quais a água flui com velocidade. Apesar disso, a tradição popular germânica nos conta que elas possuíam a capacidade de transformarem-se em mulheres maiores que iam andando sobre a terra aos mercados locais, maravilhando-se diante a diversidade de frutas e a variedade das verduras.
LENDAS E APARIÇÕES DE ONDINAS.
O LAGO CARUCEDO.
O lago de Carucedo, na província de Léon (Espanha), com 30 metros de profundidade e quatro quilômetros de perímetro, o qual encerra várias lendas. Um de seus mistérios refere-se à sua origem. Dizem que se formou pela abundância das lágrimas vertidas pela ondina Carissia, que apaixonada pelo general romano Tito Carissio, que dominou o Bierzo no ano 19 a.C. e tomou Castro Bérgidum ou Castro Ventosa, que encontra-se perto de Cacabelos (declarado monumento nacional em 1931) e ali estabeleceu suas tropas de romanos para vigiar a exploração aurífera de Las Médulas.
Carissia, segundo as lendas, vivia na mítica cidade de Lucerna e quando se apaixonou pelo general romano, esse mentiu para ela e a depreciou ao descobrir que tratava-se de uma ninfa, que naquela época era um povo inimigo. A ondina chorou tanto e durante anos que alagou a cidade de Lucerna e formou o lago.
Todos os anos, ao amanhecer do dia de São João, se vislumbra no fundo do lago Carucedo o reflexo de Lucerna e nessa noite é quando sai nossa ondina a buscar um belo moço que peça seu amor.
AGRILLA E A FONTE ENCANTADA.
Conta uma lenda que há muito tempo, quando todavia os árabes ocupavam o reino de Granada, perto das areias do rio Darro, se escondia em uma gruta uma fonte de águas cristalinas. Essa fonte era conhecida por todos da região, que só a bebiam quando a sede era insuportável, temerosos pelos estranhos poderes que tinha a água. Contam que em alguns dias a água era doce como um torrão de açúcar e quem a bebia se sentia o mais afortunado da terra, porém em outros a água era tão amarga que despertava o ódio e a raiva de quem bebia. Inclusive diziam que foi culpada de muitas brigas entre os habitantes do povoado. Tantas foram as vezes que falavam do poder dessas águas, que o administrador da justiça de Granada, cansado de tantas disputas, ordenou aos soldados que fossem até lá para descobrir o que ocorria com ela. Passados alguns meses, não conseguiram descobrir nada, pois a cada noite, quando chegava as doze horas, esquisito sono os abatia e não conseguiam despertar até que chegasse o primeiro raio de sol.
Cansados dessa situação,os soldados tentaram achar uma solução para o problema. Um deles ficaria, à noite, fora da gruta escondido atrás de uma árvore, sem tocar na fonte e dali ficaria espionando para descobrir seu mistério. Chegou a noite todos caíram adormecidos às doze horas, menos um, o valente que guardava a árvore. Pouco depois, uma linda jovem saía da água e se sentava na borda da fonte a cantar, enquanto penteava seus cabelos e os raios da lua a iluminavam. O jovem soldado se aproximou:
-"Que fazes aqui..."
-"Queria descobrir o mistério dessas águas.
-"Não te aproximes, pois não quero causar-te mal. Meu nome é Agrilla e sou a fada dessa fonte. Vivo aqui desde muito tempo, antes que tu nasceste, por isso as vezes me sinto só e minhas lágrimas amargam essa água. Amanhã quando amanhecer desperte teus companheiros, diz que já sabes a verdade e tratem de partir, para nunca mais voltar. Se cumprires meus desejos, prometo não lhe causar dano nunca, nem a ti, nem aos teus."
O soldado, cujo único encargo era descobrir o milagre dessas águas, que faria como ela lhe havia pedido. Acordou seus companheiros e todos se foram. Durante muitos anos as águas seguiam tal como o soldado as deixou, doce quando a fada sorria e amarga quando chorava. Um dia, ante a surpresa dos mouros, os cristãos tomaram Granada. Contam, que desde então, ninguém voltou a ver a fada, que abandonou a fonte. E contam também, que para sempre suas águas se tornaram agridoces: doce pela ternura do espírito que habitou suas águas e amarga pelas lágrimas que derramou quando teve que abandonar Granada.
A ONDINA LUCÍA BOSÉ.
Lucía Bosé é uma artista italiana que no ano de 1994, estava hospedada em uma localidade nos sul da França, em Aix-en-Provence, quando estava nos arredores da casa de André Malby. Esse local é uma dessas zonas mágicas que existem no mundo, onde inclusive a pessoa menos dotada sente presenças invisíveis que os estão rodeando-la, e esta é a impressão de quase todas as pessoas que freqüentam essas paragens. Ali existe um rio,com pequenos afluentes que confluem em um só e um bosque cheio dólmenes. Lucia estava sentada em uma rocha, perto de uma cascata, contemplando o rio em um processo de meditação. Fechou os olhos, se concentrou, abriu seus canais de percepção e quando voltou à abri-los viu no rio uma figura feminina que identificou como uma ondina ou uma sereia.
Estava de pé,olhando-a sorridente. Media aproximadamente um metro de altura e toda ela era verde, desde sua longa cabeleira até seu pé escamoso, assim como seus profundos olhos...Suas pernas eram muito juntas que parecia uma só submergida do rio. A visão durou só uns segundos, porém foi o suficiente para que Lúcia não ficasse sem dúvida alguma sobre sua veracidade, experimentando também um intenso sentimento de paz e harmonia.
AS ONDINAS SEGUNDO GEOFFREY HODSON (CLARIVIDENTE).
EM WHITENDALE, ABRIL DE1922.
"Sentado num quiosque recoberto de urze, ao lado de uma cachoeira que jorra de duas enormes pedras antes de cair de uma altura de um metro e meio a dois metros sobre os rochedos cobertos de musgos,faço uma tentativa para estudar as fadas da água, com as quais não é fácil entrar em conato imediatamente depois de a consciência ter estado sintonizada com os espíritos da terra. Sem dúvida, seus movimentos são mais rápidos e sutis. Sua figura, também modifica-se com desconcertante rapidez. Ao observá-las, elas se me afiguram pequenas mulheres, inteiramente nuas, com cerca de dez a quinze centímetros de altura; seus cabelos são longos e caem para trás e usam alguns enfeites, semelhantes a pequenas grinaldas e em volta da cabeça. Elas brincam no meio ou em volta da cachoeira, cruzando-a velozmente em muitas direções e emitindo sem parar um som frenético, que por vezes chega a configurar um som agudo. Tais chamados são infinitamente remotos,, mal chegando a mim, feito o chamado de um pastor que ecoa por um vale alpino. Trata-se de um som vogal, embora não me tenha sido possível identificar até agora as séries de vogais de que se compõe.
Elas podem subir a cachoeira contra a corrente ou nela permanecer imóveis, mas geralmente são vistas a brincar à sua volta ou a cruzá-la velozmente. Quando uma nuvem passa no céu e a cachoeira volta a brilhar ensolarada, elas parecem experimentar uma alegria redobrada; então, incrementam o ritmo de seus movimentos e de sua cantoria. Posso representar aproximadamente o som desta última pelas vogais "e", "o", 'u", "a', "i', combinadas numa palavra, cuja emissão termina com uma cadência suplicante e queixosa.
São entre oito a doze ondinas a brincar na cachoeira; algumas são bem maiores do que as outras, tendo a mais alta cerca de vinte centímetros de altura. Dentre as mais altas, uma acaba de expandir o seu tamanho em cerca de sessenta centímetros, para agora se arremeter velozmente cachoeira acima. Algumas possuem auras róseas, outras verde-claras, e um contato mais direto, que consigo agora estabelecer, mostra-me quão belas e ao mesmo tempo infinitamente distantes, em relação ao homem, são tais criaturas. Elas atravessam de um lado para o outro as grandes rochas que ladeiam a cachoeira sem encontrar qualquer tipo de obstáculo. Sinto-me inteiramente incapaz de atrair a sua atenção ou exercer sobre elas qualquer tipo de influência. Algumas mergulham na poça situada ao pé da cascata, reaparecendo, eventualmente, em meio ao turbilhão de espuma.
A grinalda anteriormente mencionada é luminosa e aparentemente faz parte de suas auras."
THIRLMERE. AO LADO DE DAB GHYLL. NOVEMBRO DE 1921.
"Existem duas variedades distintas de espíritos da Natureza nesta cachoeira. Uma delas, aparentemente, está associada a todo o vale, e foi vista pela primeira vez ao galgar velozmente a montanha de onde se origina o curso da água. Pertence inequivocamente à variedade da ondina e, embora um tanto maior do que as outras antes observadas, assemelha-se a elas por suas demais características.
É uma figura feminina, que brilha como se estivesse molhada, nua e desprovida de asas, insinuando-se os seus estranhos membros em meio à irradiação branca de sua aura. Os braços, invulgarmente longos e belos, são por ela graciosamente agitados ao voar. Possui cerca de dez centímetros de altura e uma cor predominante prateada-clara, com estrelas douradas em torno da cabeça.
Ela sobe a cachoeira por meio de uma série de movimentos bruscos de estonteante rapidez, desaparecendo de vista como se tivesse sumido dentro da rocha, para de novo reaparecer e desaparecer. Ao acompanhar seus rápidos deslocamentos, ela parece subitamente torna-se lânguida; sua figura desvanece lentamente e sua consciência baixa à terra, como para repousar. No lugar exato em que ela desapareceu, uma grande escarpa rochosa recoberta de urze e de samambaias, posso sentir ainda, eu diria quase ver, a ondina, a uma profundidade de dois ou três metros sob o chão.
Ela torna a reaparecer e, pelo visto, experimenta uma grande alegria, exprimindo deleite e prazer com a cachoeira, pairando de um modo a sugerir uma emoção próxima à ternura contemplativa. Ela mostra uma certa seriedade espontânea; nada tem daquela insensível negligência que caracteriza tantos espíritos da Natureza menos evoluídos. Em sua mente, há um senso de responsabilidade em relação a certos aspectos e processos de evolução que têm lugar aqui e que dizem respeito principalmente à água e à vegetação. Na rocha em que ela sumiu, persiste uma nítida influência magnética, sem dúvida devida à longa permanência ali, o que confere ao lugar uma aura marcante e uma atmosfera própria.
Existem algumas ondinas menos evoluídas nessas mesmas cachoeiras que parecem constituir o seu reduto permanente. Também elas são capazes de atravessar as rochas ao bel-prazer. Diferenciam-se das que acabamos de descrever, principalmente pelo tamanho; possuem menos de trinta centímetros de altura e parecem emitir sons vocais com uma alegria mais desenfreada e sua conduta bem mais irrefletida. Chegam a somar cinco ou seis. Seus corpos são nus, esbeltos e graciosos, são extremamente maleáveis e elas assumem constantemente poses de grande efeito, enquanto flutuam em meio à torrente ou pairam acima da névoa líquida. Uma de suas poses características é com o corpo ereto e mais ou menos rijo, as pernas esticadas, os braços junto ao corpo, a cabeça ligeiramente reclinada para trás, os olhos mirando as alturas. Mantendo essa pose, elas se deslocam lentamente até o topo da cachoeira, feito bolha de água se inflando; lá chegando, elas lançam ao espaço aberto, liberando energia concentrada que parecem ter absorvido, proporcionando um esplêndido espetáculo de luzes e cores e irradiando graça e felicidade em todas as direções.
Elas estão cantando com um timbre agudo, porém melodioso, que chega a mim como uma série de sons vogais abertos, geralmente em escala ascendente, terminando em uma nota incrivelmente alta. O sol, agora, bate em cheio na cachoeira, e elas aproveitam ao máximo a vitalidade magnética que daí resulta. Elas desprendem um grande esforço pata comprimir e conter o máximo possível essa energia vital, até que, incapazes de resistir por mais tempo, ela irrompe, tal como descrevemos, afetando sensivelmente as rochas, as samambaias e as árvores das proximidades. Tal processo enche de alegria a ondina; ela chega a palpitar durante o processo de absorção e compressão, e, chegada a hora da descarga, sente uma satisfação delirante. Perdem a cabeça, por assim dizer; a sua figura real torna-se indefinida por alguns instantes, durante os quais ela se dá a ver sob a forma de radiações luminosas intermitentes. Na verdade, foram estes clarões de intenso brilho que primeiramente atraíram a minha atenção e fizeram com que eu me dispusesse a estudá-las.
Indubitavelmente, tudo isso representa um estímulo para o seu crescimento, como para o meio representa um estímulo para o seu crescimento, como para o meio ambiente em que habitam. Suponho que os exemplares menores estão, de certa forma, sob o controle dos espíritos da Natureza mais evoluídos que descrevemos anteriormente; certamente, foi ao divisá-los, durante o seu passeio pela cachoeira, que uma ondina se deteve no ar, proporcionando-me a oportunidade de observá-la pela primeira vez."
CAPTURAR UMA ONDINA OU NIXIE.
Só a capture se você tiver um local adequado para ela em sua casa como um lago ou uma fonte artificial. Em primeiro lugar, deve-se levar-lhe de presente uns nenúfares e deixá-los em um lugar aquoso onde você imagine que possa estar. Se os nenúfares afundarem ou desaparecerem, é sinal que foi aceito seu presente. Sente-se à margem da água e cante qualquer canção para atraí-la. Sussurra-lhe por que deseja que se mude para sua casa. e explique-lhe que será livre para fazer o que quiser (as ondinas são um tipo de fadas mais independentes que existem).
Se sentir que houve aceitação do convite, é hora de voltar para casa e esperar sua chegada. Ao ser muito independente, a ondina chegará sozinha à sua casa. Não tenha medo quando perceber que a ondina decidiu viver com você e a partir de agora prestará atenção à tudo que fizer com a água. Entretanto, talvez se dê conta que haverá mais líquidos se derramando do que o normal. Os lugares que sofrem constantes inundações estão geralmente habitados por coleções de ondinas. Se desejar que a ondina vá embora, simplesmente livre-se de qualquer traço de água e ela irá em busca de locais mais úmidos.
MENSAGEM DAS ANÁYDES E ONDINAS.
As maioria das correntes de água são habitadas por fadas que se esforçam ao máximo para purificá-las e procuram manter seus próprios espíritos alegres para adicionar poder as águas. Mas as águas feéricas refletem o estado emocional dos seres humanos, de modo que quando chegam ao nosso mundo têm menos pureza e poder naqueles lugares onde vivem pessoas mais "civilizadas" e estressadas.
Existem ainda no mundo inúmeros mananciais de água curativas, habitat dessas fadas, mas há também fontes e poços que elas habitam que outorgam sabedoria e habilidades, como a famosa fonte Hipocrena do monte Helicón, que outorga inspiração poética. Se tomares um gole, adquirirá certa destreza poética; o segundo gole incrementa tua habilidade e o terceiro leva ao pleno florescimento lírico. A razão pela qual o mundo não esteja cheio de poetas é porque é muito difícil encontrar o manancial. Há também fontes da juventude, como a Dun I, a colina mais alta de Iona, uma ilha mágica das ilhas Hébridas, na costa oeste da Escócia. Também é bem difícil de encontrá-la, mas em minha próxima viagem irei buscá-la com fervor, pois hoje já estou necessitando muito dela.
As fadas da água nos falam de um tipo de troca em particular: uma troca emocional e uma troca também de nossa saúde. Temos de adotar decisões importantes a respeito de como enfrentar essas trocas e até onde elas podem nos levar: até a pureza calma e fluente das águas feéricas ou até um caldeirão fervente de temperamento irritante. Porém, as fadas da água nos recordam que podemos eleger sabiamente ou não, e nossa decisão determinará nosso futuro.
As coisas que necessitamos na vida sempre são as mesmas, independentemente do que ocorra e de intensos que sejam as trocas e pressões que suportemos. Necessitamos cuidados e amor, e proporcioná-los depende em última instância de nós mesmos. As fadas nos ajudariam se fossem solicitadas.
ROSANE VOLPATTO.
sábado, 6 de abril de 2013
Amazing Grace.
Amazing Grace.
"Amazing Grace" é um conhecido hino tradicional protestante com a letra escrita pelo inglês John Newton e foi impresso pela primeira vez no Newton's Olney Hymns (1779). Quando “Amazing Grace” foi publicado pela primeira vez no “Newton’s Olney Hymns” somente a letra fora impressa sem partitura musical alguma. Acredita-se também que o texto era recitado na época e não cantado.
Letra e História.
"Amazing Grace"
Amazing grace, how sweet the sound
That sav’d a wretch like me!
I once was lost, but now am found,
Was blind, but now I see.
’Twas grace that taught my heart to fear,
And grace my fears reliev’d;
How precious did that grace appear,
The hour I first believ’d!
Thro’ many dangers, toils and snares,
I have already come;
’Tis grace has brought me safe thus far,
And grace will lead me home.
The Lord has promis’d good to me,
His word my hope secures;
He will my shield and portion be,
As long as life endures.
Yes, when this flesh and heart shall fail,
And mortal life shall cease;
I shall possess, within the veil,
A life of joy and peace.
The earth shall soon dissolve like snow,
The sun forbear to shine;
But God, who call’d me here below,
Will be forever mine.
Graça Maravilhosa
Graça maravilhosa! Quão doce é o som
Que salvou um miserável como eu
Eu estava perdido, mas fui encontrado
Estava cego, mas agora eu vejo
Foi a graça que ensinou ao meu coração a ter medo
E a graça aliviou meus medos
Quão preciosa essa graça apareceu
Na hora em que eu acreditei
Por muitos perigos, trabalhos pesados e armadilhas
Eu já passei
Essa graça que me trouxe em segurança de tão longe
E graça vai me levar pra o lar
O Senhor prometeu boas coisas para mim
Sua palavra segura minha esperança
Ele será meu escudo e quinhão
Enquanto a vida durar
E quando essa carne
E coração passarem
E a vida mortal cessar
Eu terei
No vale
Uma vida de alegria e paz
Quando estivermos estado lá dez mil anos
Claro e brilhante como o sol
Não teremos menos dias para cantar e louvar a Deus
Que nos dias quando começamos
Graça maravilhosa! Quão doce é o som
Que salvou um miserável como eu
Eu estava perdido, mas fui encontrado
Estava cego, mas agora eu vejo
John Newton, Olney Hymns (London: W. Oliver, 1779)
Depois de um curto tempo na Marinha Real, John Newton iniciou sua carreira como traficante de escravos. Certo dia, durante uma de suas viagens, o navio de Newton foi fortemente afetado por uma tempestade. Momentos depois de ele deixar o convés, o marinheiro que tomou o seu lugar foi jogado ao mar, por isso ele próprio guiou a embarcação pela tempestade. Mais tarde ele comentou que durante a tempestade ele sentiu que estavam tão frágeis e desamparados e concluiu que somente a Graça de Deus poderia salvá-los naquele momento. Incentivado por esse acontecimento e pelo que havia lido no livro, Imitação de Cristo de Tomás de Kempis, ele resolveu abandonar o tráfico de escravos e tornou-se cristão, o que o levou a compor a canção Amazing Grace (em português: "Graça Maravilhosa").
[editar] História do autor do hino Amazing Grace
Em torno de 1750, John Newton era o comandante de um navio negreiro inglês. Os navios fariam o primeiro percurso de sua viagem da Inglaterra, quase vazios, até que chegassem na costa africana. Lá os chefes tribais entregariam aos europeus as "cargas" compostas de homens e mulheres, capturados nas invasões e nas guerras entre as tribos. Os compradores selecionariam os espécimes mais finos, e os comprariam em troca de armas, munição, licor, e tecidos. Os cativos seriam trazidos, então, à bordo e preparados para o "transporte". Eram acorrentados abaixo das plataformas para impedir suicídios. Eram colocados de lado a lado, para conservar o espaço, em fileira após a fileira, uma após outra, até que a embarcação estivesse "carregada", normalmente com até 600 "unidades" de carga humana.
Os capitães procuravam fazer uma viagem rápida, esperando preservar ao máximo a sua carga; contudo, a taxa de mortalidade era alta, normalmente 20% ou mais. Quando um surto de disenteria ou qualquer outra doença ocorria, os doentes eram jogados ao mar. Uma vez que chegavam ao Novo Mundo, os negros eram negociados por açúcar e o melaço, para manufaturar o rum, que os navios carregariam à Inglaterra para o pé final de seu "comércio triangular."
John Newton transportou muitas cargas de escravos africanos trazidos à América no século 18. No mar, em uma de suas viagens, o navio enfrentou uma enorme tempestade e afundou. Newton ofereceu sua vida à Cristo, achando que iria morrer. Após ter sobrevivido, ele se converteu e começou a estudar para ser pastor. Nos últimos 43 anos de sua vida ele pregou o evangelho em Olney e em Londres. Em 82, Newton disse: "Minha memória já quase se foi, mas eu recordo duas coisas: que eu sou um grande pecador, e que Cristo é meu grande salvador!"
No túmulo de Newton, lê-se: "John Newton, uma vez um infiel e um libertino, um mercador de escravos na África, foi, pela misericórdia de nosso senhor e salvador Jesus Cristo, perdoado e inspirado a pregar a mesma fé que ele tinha se esforçado muito por destruir."
O seu mais famoso testemunho continua vivo, no mais famoso das centenas de hinos que escreveu: Amazing Grace!
Mas há versões diferentes, como a de Niall Ferguson, autor do livro "Império - Como os britânicos fizeram o mundo moderno". Nesse livro, em que descreve a formação e desenvolvimento do império britânico, Ferguson afirma haver provas históricas de que John Newton continuou a comerciar escravos mesmo depois de se tornar pastor e de haver composto "Amazing Grace".
quinta-feira, 4 de abril de 2013
DEUSA ÍSIS.
Eu concebi
carreguei
e dei à luz a toda vida
Depois de dar-lhe todo meu amor
Dei-lhe também meu amado Osíris
Senhor da vegetação
Deus dos cereais
para ser ceifado
e nascer outra vez
Cuidei de você na doença
fiz suas roupas
observei seus primeiros passos
Estive com você até mesmo no final
segurando sua mão
para guiá-lo para a imortalidade
Você para mim é TUDO
E eu lhe dei TUDO
E para você eu fui TUDO
Eu sou sua Grande-Mãe, ÍSIS
Nossa amada Deusa Ísis foi cultuada e adorada em inúmeros lugares, no Egito, no Império Romano, na Grécia e na Alemanha. Quando seu amado Osíris foi assassinado e desmembrado pelo seu irmão Seth que espalhou seus pedaçospor todo o Egito, Ísis procurou-os e os juntou novamente. Ela achou todos eles, menos seu órgãos sexual, que substitui por um membro de ouro. Através de magia e das artes de cura, Osíris volta à vida. Em seguida, ela concebe seu filho solar Hórus.
Os egípcios ainda mantêm um festival conhecido como a Noite da Lágrima. Tal festival tem sido preservado pelos árabes como o festival junino de Lelat-al-Nuktah.
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ÍSIS, DO MITO À HISTÓRIA
No começo só existia o grande, imóvel e infinito mar universal, sem vida e em absoluto silêncio. Não havia nem alturas, nem abismos, nem princípio, nem fim, nem leste, nem oeste, nem norte e nem sul. Das primeiras sombras se desprenderam as trevas e apareceu o caos. Desse ilimitado e sombrio universo surgiu a vida e, com ela, a estirpe dos Deuses.
Conta a mitologia solar que o criador de tudo foi Atum, o Pai dos Pais. A partir do momento que Atum toma consciência de si mesmo, ele tornou-se Rá.
Em sua infinita sabedoria, o Deus consciente, desejou e materializou uma separação entre si mesmo e as águas primordiais, desejando emergir a primeira terra seca em forma de colina a que os egípcios chamaram a "colina benben".
Então Atum criou os outros Deuses. Recolheu seu próprio sêmen na mão, e engolindo-o se fecundou a si mesmo. Vomitou, dando vida a Shu e Tefnut, o ar seco e o ar úmido.
Shu e Tefnut se unem e dão a luz ao Deus Geb, a terra, e a Deusa Nut, o céu, que, por sua vez, quando se uniram fisicamente tiveram quatro filhos: Osíris (Deus da Ordem), Seth (Deus da Desordem) e suas irmãs Ísis e Neftis, nascidos nessa ordem. A nova geração completa o número de nove divindades, a Enéada, que começa com o Deus criador primordial. Na escrita egípcia o três era utilizado para representar o número plural, enquanto que o nove proporciona um meio simbólico de indicar o "todo". A Enéada do Deus Sol é conhecida entre os egiptólogos como a Enéada Heliopolitana.
Osíris, o primogênito, havia herdado de seu pai Geb a terra para governá-la. Já a Deusa Ísis, cujo nome significa "o trono", "a sede" (capital), se uniu a seu irmão Osíris, para sustentar todo o seu poder, estabelecendo-se assim, o primeiro casal real do Egito. Se ele era o rei, soberano da terra, ela ia ser seu trono, a sede eternamente estável, de onde era exercida toda a realeza sobre o Egito.
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ÍSIS E O NOME SECRETO DE RÁ
O Deus Sol Rá tinha tantos nomes que inclusive os Deuses não conheciam todos. Um dia, a Deusa Ísis, Senhora da Magia, se pôs a aprender o nome de todas as coisas, para tornar-se tão importante como o Deus Rá.
Depois de muitos anos, o único nome que Ísis não sabia era o nome secreto de Rá, assim decidiu enganá-lo para descobrir.
A cada dia, enquanto voava pelo céu, Rá envelhecia e até já começava a babar. Ísis recolheu sua baba e modelando-a com terra, deu forma a uma serpente, que depois colocou no caminho de Rá. Esse foi mordido e caiu ao solo agonizante. Ísis disse ao Deus que poderia curá-lo, desde que ele lhe revelasse seu nome secreto. Ele se negou, porém ao notar que o veneno da cobra era potente suficientemente para matá-lo, não teve outra opção a não ser revelá-lo. Com esse conhecimento secreto, Ísis pode apropriar-se de parte do poder de Rá.
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ÍSIS E OSÍRIS (segundo Plutarco)
No Egito, assim como na Babilônia, o culto da lua precedeu o do sol. Osíris, Deus da lua, e Ísis, a Deusa da lua, irmã e esposa de Osíris, a mãe de Hórus, o jovem Deus da lua, aparecem nos textos religiosos antes da quinta dinastia (cerca de 3.000 a. C.).
É difícil fazer um estudo conciso sobre o significado do culto de Ísis e Osíris, pois, durante muitos séculos nos quais esta religião floresceu, aconteceram mudanças na compreensão dos homens em relação a ele.
Nos primeiros registros, Osíris, parece ser um espírito da natureza, concebido como o Nilo ou como a lua, o qual, pensava-se, controlava as enchentes periódicas do rio. Era o Deus da umidade, da fertilidade e da agricultura. Durante o período da lua minguante, Seth, seu irmão e inimigo, um demônio de um vermelho fulvo incandescente, devorava-o. Dizia-se que Seth tinha se unido a uma rainha etíope negra para ajudá-lo na sua revolta contra Osíris, provavelmente uma alusão à seca e ao calor, que periodicamente vinham do Sudão, assolavam e destruíam as colheitas da região do Nilo.
Seth era o Senhor do Submundo, no sentido de Tártaro e não de Hades, usando-se termos gregos. Hades era o lugar onde as sombras dos mortos aguardavam a ressureição, correspondendo, talvez, à idéia católica do purgatório. Osíris era o Deus do Submundo neste sentido, Tártaro é o inferno dos condenados, e era deste mundo que Seth era o Senhor.
Nas primeiras formas do mito, Osíris era a lua e Ísis a natureza, Urikitu, a Verde da história caldéia. Mas, posteriormente, ela tornou-se a lua-irmã, mãe e esposa do Deus da lua. É neste ciclo que este mito primitivo da natureza começou a tomar um significado religioso mais profundo. Os homens começaram a ver na história de Osíris, que morreu e foi para o submundo, sendo depois restituído à vida pelo poder de Ísis, uma parábola da vida interior do homem que iria transcender a vida do corpo na terra.
Os egípcios eram um povo de mente muito concreta, e concebiam que a imortalidade poderia ser atingida através do poder de Osíris de maneira completamente materialista. Era por essa razão que conservavam os corpos daqueles que tinham sido levados para Osíris, através da iniciação, como conta o "Livro dos Mortos"; com efeito, acreditavam que, enquanto o corpo físico persistisse, a alma, ou Ka, também teria um corpo no qual poderia viver na Terra-dos-bem-aventurados, como Osíris que, no texto de uma pirâmide da quinta dinastia, é chamado de "Chefe daqueles que estão no Oeste", isto é, no outro mundo.
Ísis e Osíris eram irmãos gêmeos, que mantinham relações sexuais ainda no ventre da mãe e desta união nasceu o Hórus-mais-velho. No Egito, nesta época, era hábito entre os faraós e as divindades a celebração de núpcias entre irmãos, para não contaminar o sangue.
A história continua contando que quando Osíris tornou-se rei, livrou os egípcios de uma existência muito primitiva. Ensinou-lhes a agricultura e a feitura do vinho, formulou leis e instruiu como honrar seus deuses. Depois partiu para uma viagem por todo o país, educando o povo e encantando-o com sua persuasão e razão, com a música, e "toda a arte que as mesas oferecem".
Enquanto ele estava longe sua esposa Ísis governou, e tudo correu bem, mas tão logo ele retornou, Seth, que simbolizava o calor do deserto e da luxúria desenfreada, forjou um plano para apanhar Osíris e afastá-lo. Confeccionou um barril do tamanho de Osíris. Então convidou todos os Deuses para uma grande festa, tendo escondido seus setenta e dois seguidores por perto. Durante a festividade, mostrou seu barril que foi admirado por todos. Prometeu dá-lo de presente àquele que coubesse nele. Então todos entraram nele por sua vez, mas ele se ajustou somente a Osíris. Neste momento, os homens escondidos apareceram e, rapidamente lacraram a tampa do barril. Levaram-o e jogaram no rio Nilo. Ele boiou para longe e alcançou o mar pela "passagem que é conhecida por um nome abominável".
Este evento ocorreu no décimo sétimo dia de Hator, isto é, novembro, no décimo oitavo ano de reinado de Osíris. Ele viveu e reinou por um ciclo de vinte e oito períodos ou dias, porque ele era a lua, cujo ciclo completa-se a cada vinte e oito dias.
Quando Ísis foi sabedora dos acontecimentos fatídicos, cortou uma mecha de seu cabelo e vestiu roupas de luto e vagou por todos os lugares, chorando e procurando pelo barril. Foi seu cachorro Anúbis, que era filho de Néftis e Osíris, que levou-a até o lugar onde o caixão tinha parado na praia, no país de Biblos. Ele havia ficado perto de uma moita de urzes, que cresceram tanto com sua presença, que tornou-se uma árvore que envolveu o barril. O rei daquele país mandou cortar a tal árvore e de seu tronco fez uma viga para a cumeeira de seu palácio, sem sequer imaginar que o mesmo continha o barril.
Ísis para reaver seu marido, fez amizade com as damas de companhia da rainha daquele país e acabou como enfermeira do príncipe. Ísis criou o menino dando-lhe o dedo ao invés de seu peito para mamar.
Os nomes do rei e da rainha são: Malec e Astarte, ou Istar. Bem sugestivo, pois nos faz ver que Ísis teve que recuperar o corpo de Osíris de sua predecessora da Arábia.
Acabou tendo que revelar-se para a rainha e implorou pelo tronco da árvore que continha o corpo de Osíris. Ísis retirou o barril da árvore e levou-o consigo em sua barcaça de volta para casa. Ao chegar, escondeu o caixão e foi procurar seu filho Hórus, para ajudá-la a trazer Osíris de volta à vida.
Seth que havia saído para caçar com seus cachorros, encontra o barril. Abriu-o e cortou o corpo de Osíris em catorze pedaços espalhando-os. Aqui temos a fragmentação, os catorze pedaços que óbviamente referem-se aos catorze dias da lua.
Ísis soube do ocorrido e saiu à procura das partes do corpo. Viajou para longe em sua barcaça e onde quer que acahasse uma das partes fazia um santuário naquele lugar. Conseguiu reunir treze das peças unindo-as por mágica, mas faltava o falo. Então fez uma imagem desta parte e "consagrou o falo, em honra do qual os egípcios ainda hoje conservam uma festa chamada de "Faloforia", que significa "carregar o falo".
Ísis concebeu por meio dessa imagem e gerou uma criança, o Hórus-mais-jovem.
Osíris sugiu do submundo e apareceu para o Hórus-mais-velho. Treinou-o então para vingar-se de Seth. A luta foi longa, mas finalmente Hórus trouxe Seth amarrado para sua mãe.
Este é o resumo do mito.
Os cerimoniais do Egito eram relacionados com esses acontecimentos. A morte de Osíris, interpretada todos os anos, bem como as perambulações de Ísis e suas lamentações, tinham um papel conspícuo. O mistério final de sua ressureição e a demonstração pública, em procissão, do emblema de seu poder, a imagem do falo, completavam o ritual. Era uma religião na qual a participação emocional da tristeza e alegria de Ísis tinha lugar proeminente. Posteriormente, tornou-se de fato uma das religiões nas quais a redenção era atingida através do êxtase emocional pelo qual o adorador sentia-se um com Deus.
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ARQUÉTIPO DA PROVEDORA DA VIDA
É pelo poder de Ísis, através de seu amor, que o homem afogado na luxúria e na paixão, eleva-se a uma vida espiritual. Ísis, antes de tudo, é provedora da vida. Comumente é representada amamentando seu filho Hórus, pois ela é a mãe que nutri e alimenta tudo que gera. Ísis com seu bebê no colo, acabou transformada na Virgem Maria com o menino Jesus.
Embora Isis fosse considerada como mãe universal ela era venerada como protetora das mulheres em particular. Sendo aquela que dá a vida, que presidia sobre vida e morte, ela era protetora das mulheres durante o parto e confortava aquelas que perdiam seus entes queridos. Em Ísis, as mulheres encontravam o apoio e a inspiração para prosseguirem com suas vidas. Ísis proclamava ser, em hinos antigos, a deusa das mulheres e dotava suas seguidoras de poderes iguais aos do homem.
Esta Deusa é também freqüentemente representada como uma Deusa negra. Este fato está diretamente associado ao período de luto de Ísis (morte de Osíris), quando ela vestia-se de preto ou ela própria era preta.
As estátuas pretas de Ísis tinham também um outro sentido. Plutarco declara que "suas estátuas com chifres são representações da Lua Crescente, enquanto que as estátuas com roupa preta significavam as ocultações e as obscuridades nas quais ela segue o Sol (Osíris), almejando por ele. Conseqüentemente, invocam a Lua para casos de amor e Eudoxo diz que Ísis é quem os decide".
No Solstício de Inverno, a Deusa, na forma de vaca dourada, coberta por um traje negro, era carregada sete vezes em torno do Santuário de Osíris morto, representando as perambulações de Ísis, que viajou através do mundo pranteando sua morte e procurando pelas partes espalhadas de seu corpo. Este ritual, era um procedimento mágico, que tencionava prevenir que a seca invadisse as regiões férteis do Nilo, pois a ressurreição de Osíris era, naquela época, um símbolo da enchente anual do Nilo, da qual a fertilidade da terra dependia.
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ÍSIS E HÓRUS
Muita conhecida de todos os nós é a história de Hórus, o filho de Ísis, a Deusa do Egito, tanto quanto os também tão estimados e conhecidos Maria e o menino Jesus no cristianismo. Entretanto, existem algumas diferenças entre os dois: a Ísis é adorada como uma divindade maternal muito antiga. Algumas vezes é representada com um disco do sol (ou lua) na cabeça, flanqueada à direita e à esquerda por dois chifres de vaca. A vaca era e é por seu úbere dispensador de leite o animal-mãe, usado em muitas culturas como símbolo materno. Outra diferença fundamental entre Ísis e Maria é também o fato de Ísis ter sido venerada como a grande amada. Ainda no ventre materno ela se casou com seu irmão gêmeo Osíris, que ela amava acima de tudo.
Nos rituais antigos egípcios, executados para obter a ressurreição, o olho de Hórus tinha papel muito importante e era usado para animar o corpo do morto cujos membros tinham sido reunidos. Hórus, filho e herdeiro por excelência, é invocado também, para que impeça a ação do réptéis que estão no céu, na terra e na água, os leões do deserto, os crocodilos do rio.
Protetor da realeza, Hórus desempenha ainda, o papel capital do Deus da cura. A magia de Hórus desvia as flechas do arco, apazigua a cólera do coração do ser angustiado.
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ARQUÉTIPO DE CURA
Ísis era invocada nas antigas escrituras como a senhora da cura, restauradora da vida e fonte de ervas curativas. ela era venerada como a senhora das palavras de poder, cujos encantamentos faziam desaparecer as doenças.
À noção de magia liga-se também, imediatamente ao nome de Ísis, que conhece o nome secreto do Deus supremo. Ísis dipõe do poder mágico que Geb, o Deus da Terra, lhe ofereceu para poder proteger o filho Hórus. Ela pode fechar a boca de cada serpente, afastar do filho qualquer leão do deserto, todos os crocodilos do rio, qualquer réptil que morda. Ela pode desviar o efeito do veneno, pode fazer recuar o seu fogo destruidor por meio da palavra, fornecer ar a quem dele necessite. Os humores malignos que perturbam o corpo humano obedecem a Ísis. Qualquer pessoa picada, mordida, agredida, apela a ísis, a da boca hábil, identificiando-se com Hórus, que chama a mãe em seu socorro. Ela virá, fará gestos mágicos, mostrar-se-á tranqüilizadora ao cuidar do filho. Nada de grave irá lesar o filho da grande Deusa.
Ísis aparece em na nossa vida para dizer que é hora de meditar. Você tem desperdiçado sua energia maternal sem guardar um pouco para si mesma? Sua mãe lhe deu todo o amor que você precisou? Pois agora é tempo de você se dar "um colo" para curar as mágoas do passado. Todos nós precisamos de cuidados maternos, independente de sermos donzela, mãe ou mulher madura.
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ARQUÉTIPO DA MÃE-NATUREZA
Ísis, Deusa da lua, também é Mãe da Natureza. Ela nos diz que para este mundo continuar a existir tudo que é criado um dia precisa ser destruído. Ísis determina que não deve haver harmonia perpétua, com o bem sempre no ascendente. Ao contrário, deseja que sempre exista o conflito entre os poderes do crescimento e da destruição. O processa da vida, caminha sobre estes opostos. O que chamamos de "processo da vida", não é idêntico ao bem-estar da forma na qual a vida está neste momento manifesta, mas pertence ao reino espiritual no qual se baseia a manifestação material.
Com certeza, se a morte e a decadência não tivessem dotados de poderes tão grandes quanto as forças da criação, nosso mundo inteiro já teria alcançado o estado de estagnação. Se tudo permanecesse para sempre como foi primeiramente feito, todas as capacidades de "fazer" teriam sido esgotadas há séculos. A vida hoje estaria hoje totalmente paralisada. E, assim, inesperadamente, o excesso de bem, acabaria em seu oposto e tornar-se-ia excesso de mal.
Ísis, tanto na forma da natureza, como na forma de Lua, tinha dois aspectos. Era criadora, mãe, enfermeira de todos e também destruidora.
O nome Ísis, significa "Antiga" e era também chamada de "Maat", a sabedoria antiga. Isto corresponde a sabedoria das coisas como são e como foram, a capacidade inata inerente, de seguir a natureza das coisas, tanto na forma presente como em seu desenvolvimento inevitável, uma relação à outra.
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O VÉU DE ÍSIS
O traje de Ísis só era obtido através da iniciação, era multicolorido e usado em muitos cerimoniais religiosos.
O véu multicolorido de Ísis é o mesmo véu de Maias, que nos é familiar no pensamento hindu. Ele representa a forma sempre mutante da natureza, cuja beleza e tragédia ocultam o espírito aos nosso olhos. A idéia é a de que o Espírito Criativo vestia-se de formas materiais de grande divindade e que todo o universo que conhecemos era feito daquela maneira, como a manifestação do Espírito do Criador.
Plutarco expressa essa idéia quando diz:"Pois Ísis é o princípio feminino da natureza e aquela que é capaz de receber a inteireza da gênese; em virtude disso ela tem sido chamada de enfermeira e a que tudo recebe por Platão e, pelo multidão, a dos dez mil nomes, por ser transformada pela Razão e receber todas as formas e idéias".
Um hino dirigido a Ísis-Net exprime essa mesma idéia de véu da natureza que esconde a verdade do mistério dos olhos humanos. Net era uma forma de Ísis, e era considerada como Mãe-de-todos, sendo de natureza tanto masculina como feminina. O texto em que esse hino está registrado data de cerca de 550 a.C., mas é provavelmente muito mais antigo.
Salve, grande mãe, não foi descoberto teu nascimento!
Salve, grande deusa, dentro do submundo que é duplamente escondido, tu, a desconhecida!
Salve, grande divina, não foste aberta!
Ó, abre teu traje.
Salve, coberta, nada nos é dado como acesso a ela.
Venha receber a alma de Osíris, protege-adentro de tuas duas mãos.
O véu de Ísis, tem também significados derivados. Se diz que o ser vivo é pego na teia ou véu de Ísis, significando que no nascimento o espírito, a centelha divina, que está em todos nós, é preso ou incorporado na carne. Significa dizer, que todos nós ficamos emaranhados ou presos na teia da natureza. Essa teia é a trama do destino ou circunstâncias. É inevitável que devamos ser presos pelo destino, mas freqüentemente consideramos este enredamento como infortúnio e queremos nos libertar dele. Se aceitarmos esta situação de o ser vivo estar preso a teia de Ísis, acabaremos encarando a trama de nossa vida de maneira diferente, pois é somente deste modo que o espírito divino pode ser resgatado. Se não fosse aprisionado desta forma, vagaria livremente e nunca teria oportunidade de transformar-se. Portanto, o espírito do homem precisa estar preso à rede de Ísis, caso contrário, não poderá ser levado em seu barco para a próxima fase de experiência.
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DANÇA SAGRADA DOS SETE VÉUS
"Vê-la dançar é participar da força criadora que vibra no Cosmos; massa negra e pulsante explícita nos olhos e cabelos de Jhade. (...) Mãos se elevam em serpente e cortantes transformam em som o poder telúrico de seu ventre. Que os sons, manifestos em seu corpo, subam de encontro com o Eterno e sejam ouvidos além do tempo." (por W. Hassan)
A Dança dos Sete Véus tem sua origem em tempos remotos, onde as sacerdotisas dançavam no templo de Isis. É uma dança forte, bela e enigmática. Ela também reverencia à vida, os elementos da natureza, imita os passos dos animais e das divindades numa total integração com o universo. O coração da bailarina é tão leve quanto a pluma da Deusa Maat e é exatamente por isso que os véus são necessários, pois é deles que os deuses se servem para sutilizar o corpo da mulher. Os véus de Ísis, ao serem retirados, nos transmitem ensinamentos. Quando a bailarina usa dois véus, ao retirá-los nos diz que o corpo e espírito devem estar harmonizados. A Dança do Templo, que é usado três véus, homenageia a Trindade dos deuses do Antigo Egito: Ísis, Osíris e Hórus. A Dança do Palácio, com quatro véus, representa a busca da segurança e estabilidade e ao retirá-los a bailarina nos demonstra o quanto nos é benéfico o desapego das coisas materiais. Na Dança dos Sete Véus, cada véu corresponde a um grau de iniciação.
Os sete véus representam os sete chakras em equilíbrio e harmonia, sete cores e sete planetas.Cada planeta possui qualidades e defeitos que influenciam no temperamento das pessoas e a retirada de cada véu representa a dissolução dos aspectos mais nefastos e a exaltação de suas qualidades.
Significado das cores:
Vermelho: libertação das paixões e vitória do amor
Laranja: libertação da raiva e dos sentimentos de ira
Amarelo: libertação da ambição e do materialismo
Verde: saúde e equilíbrio do corpo físico
Azul : encontro da serenidade
Lilás: transmutação da alma, libertação da negatividade
Branco: pureza, encontro da Luz.
Toda mulher deixa transbordar seu essência através da dança. Todas aquelas emoções reprimidas, sentimentos esquecidos, afloram. Toda e qualquer mulher que consegue penetrar nos mistérios e ensinamentos dessa prática, se revelará de forma pura e sublime e alcançará o êxtase ao dançar.
Dançar é minha prece mais pura
Momento em que meu corpo vislumbra o divino,
Em que meus pés tocam o real
Religiosidade despida de exageros,
Desejo lascivo, bordado de plenitude
Através de meus movimentos posso chegar ao inatingível
Posso sentir por todos os corpos,
abraçar com todo
o coração,
E amar com os olhos
Cada gesto significativo desenha no espaço o infinito,
Pairando no ar, compreensão e admiração
Iniciar uma prece é como abrir uma porta
Um convite a você, para entrar em meu universo
O mágico contorna minha silhueta, ao mesmo tempo
Que lhe toco sem tocar
Nada a observar, só a participar
Esta prece ausente de palavras
É codificada pela alma
E faz-nos interagir, de maneira sublime e hipnótica
Quando eu terminar esta dança,
Estarei certa de que não seremos os mesmos.
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RITUAL DE ÍSIS PARA A LEALDADE
Você pode usar esse ritual para pedir à Ísis que reforce sua lealdade se se sentir tentada (o) a trair a confiança de alguém, ou para pedir que outra pessoa lhe seja leal.
Deve sempre ser realizado pela manhã e se possível imediatamente ao levantar-se da cama. Necessitará de uma granada, a pedra preciosa que simboliza a lealdade. A pedra pode estar solta ou presa em alguma jóia.
Acenda uma vela branca e coloque à sua frente. Suspenda a vela em frente a vela, de maneira que brilhe à luz da chama. Enquanto observa a luz brilhando através da granada, pense em tudo que necessitas fortalecer no sentido da lealdade.
Imagine você, ou a pessoa que a(o) preocupa, em uma situação que possa trair a confiança. Pense que você, ou essa pessoa, resistem ao impulso. Por exemplo, pode visualizar uma situação em que um amigo pede para revelar um segredo, porém você resiste, dizendo:
"Não, não posso lhe dizer".
Agora coloque a granada em seu bolso e use-a como jóia até que sinta que a ameaça da deslealdade tenha passado.
TEXTO PESQUISADO E DESENVOLVIDO POR
Rosane Valpato.
ARIADNE, SENHORA DOS LABIRINTOS.
Ariadne era filha do rei Minos de Creta, que apaixonou-se a primeira vista pelo herói Teseu. Este, era filho de Egeu, rei de Atenas e de Etra, que havia nascido em Trezendo e desde muito cedo revelou grande valor e coragem. A estória é mais ou menos assim:
Houve uma época, que os atenienses eram obrigados a pagar um tributo ao rei Minos. Tal fato deveu-se ao assassinato de Androgeu, filho de Minos, que ocorreu depois de ter vencidos os jogos. O rei, indignado com o fato, impôs aos atenienses severo castigo. Eles deveriam, a cada ano, enviar sete rapazes e sete moças, escolhidos mediante sorteio, para alimentarem o Minotauro, furioso animal, metade homem, metade touro, que vivia encerrado no labirinto.
Esse labirinto, um capricho do rei Minos, era um estranho palácio repleto de corredores, curvas, caminhos e encruzilhadas, onde uma pessoa se perdia, jamais conseguindo encontrar a saída depois de transpor a sua entrada. Era aí que ficava encerrado o terrível Minotauro, que espumava e bramia, jamais se fartando de carne humana.
Havia três anos que Atenas pagava o pesado tributo e suas melhores famílias choravam a perda de seus filhos. Teseu resolveu preparar-se para enfrentar o monstro, oferecendo sacrifícios aos deuses e indo consultar o oráculo de Delfos. Invocado o deus, a pitonisa informou a Teseu que ele resolveria o caso desde que fosse amparado pelo amor.
Encorajado, Teseu fez-se incluir entre os jovens que deveriam partir na próxima leva de "carne para o Minotauro". Ao chegar a Creta adquiriu a certeza de que sairia vitorioso, pois a profecia do oráculo começou a realizar-se.
Com efeito, a linda Ariadne, filha de Minos, apaixonou-se por Teseu e combinou com ele um meio de encontrar a saída do terrível Labirinto. Um meio bastante simples: apenas um novelo de lã.
Ariadne ficaria à entrada do palácio, segurando o novelo que Teseu iria desenrolando à medida que fosse avançando pelo labirinto. Para voltar ao ponto de partida, teria, apenas, que ir seguindo o fio que Ariadne seguraria firmemente. Cheio de coragem, Teseu penetrou nos sombrios corredores do soturno labirinto. A fera, mal pressentiu a chegada do jovem, avançou, furiosa, fazendo tremer todo o palácio com a sua cólera. Calmo e sereno, esperou sua arremetida. E então, de um só golpe, Teseu decepou-lhe a cabeça.
Vitorioso, Teseu partiu de Creta, levando em sua companhia a doce e linda Ariadne. Entretanto, ele a abandona na ilha de Naxos, retornando a sua pátria sem ela. Ariadne, vendo-se sozinha, entrega-se ao desespero. Afrodite, porém, apiedou-se dela e consolou-a com a promessa de que teria um amante imortal, em lugar do mortal que tivera.
A ilha onde Ariadne fora deixada era a ilha favorita de Dionísio e enquanto lamentava seu terrível destino, ele encontrou-a, consolou-a e esposou-a. Como presente de casamento, deu-lhe uma coroa de ouro, cravejada de pedras preciosas que atirou ao céu quando Ariadne morreu. À medida que a coroa subia no espaço, as pedras preciosas foram se tornando mais brilhantes até se transformarem em estrelas, e, conservando sua forma, a coroa de Ariadne permaneceu fixada no céu como uma constelação, entre Hércules ajoelhado e o homem que segura a serpente.
Ariadne é uma mulher mortal associada ao divino, considerada ainda, como a Senhora dos Labirintos e o labirinto é a terra de nossas esperanças, de nossos sonhos e de nossa vida. Os labirintos são janelas do tempo, portais que aprisionam o tempo. São usados para facilitar estados alterados de consciência e tem paralelos com a iniciação, reencarnação, prosperidade e ritos de prosperidade. Antigos escandinavos acreditavam que o labirinto possuia propriedades mágicas e quando se caminhava dentro dele, podia-se controlar o tempo. Hoje compreendemos que os caminhos do labirinto, correspondem aos sete centros de energia do corpo, chamados chacras.
Ariadne também é retratada como líder das arrebatantes mênades dançantes, as mulheres seguidoras de Dionísio. Mencionada ainda, como supervisora dos rituais femininos da Vila dos Mistérios, na antiga Pompéia. Esta vila era um lugar destinado à iniciação de mulheres. O primeiro estágio da iniciação começava com orações preliminares, refeição ritual e purificação. O segundo estágio é a entrada no submundo, mostrando sátiros meio-humanos e meio-animais, e Sileno, velho gordo e bêbado, mas dotado de imenso conhecimento do passado e do futuro. Com a perda da consciência, a iniciada entrava no mundo de instintos e sabedoria, distante da segurança racional.
Em cada estágio posterior, a iniciada ia se desfazendo de suas vestes, como se ela fosse despir-se de antigos papéis, a fim de receber uma nova imagem de si mesma. No estágio final, uma cesta contendo o falo ritual é descoberta diante dela. Agora, ela se torna capaz de olhar para o poder fertilizador do deus, uma força regenerativa primordial. Então, uma deusa alada, com chicote comprido e fustigante ergue-se sobre a iniciada, que se submete com humildade. Há também a presença de uma mulher mais velha usando o chapéu da sabedoria, como alguém que já tivesse sido iniciada, e em cujo colo a iniciante, ajoelhada, pousa a cabeça. Ela não protege a noviça, mas lhe dá apoio.
Depois da iniciação a iniciante é vestida com lindos trajes e toda enfeitada. Ela se vê no espelho de Eros, que reflete sua natureza feminina no relacionamento. Ingressou, expeimentou e agora personifica o matrimônio sagrado de Ariadne e Dionísio. Agora é outra mulher, pronta para passar ao mundo exterior a sua força interior.
Na psicologia feminina este mito explica a libertação da mulher do papel de "filha do pai". Para superar esta virgindade perpétua, um cavalheiro-herói com armadura reluzente, a resgata do ambiente paterno. O tal herói é aventureiro e a faz conhecer um uma realidade completamente diversa do que ela já viveu.
Toda mulher, faz do seu primeiro homem uma imagem refletida de um perfeito herói, que nada mais é do que a personificação do seu próprio potencial inconsciente e acredita que este homem travará as batalhas delas, realizará todos seus desejos e lhe tirará de situações indesejáveis. Mas quando, este parceiro, um simples mortal, não corresponde com suas projeções, a realidade é percebida e a relação não pode mais ser sustentada.
Acredite, a paixão é sempre resultado de uma projeção, jamais será um sentimento maduro de respeito e admiração um pelo outro, muito pelo contrário, venera-se um aspecto de si mesmo.
Para que a mulher se relacione bem com seu companheiro, esta projeção deve ser extirpada. Ela precisará compreender que as qualidades que ela vê nele, na realidade, estão dentro dela própria. Aí sim, poderá apreciar a força madura do masculino, o deus que há dentro dele, sem perder a conexão com a sua natureza feminina. A partir da união do masculino com o feminino, a mulher madura experimenta a fertilização de sua própria energia criativa.
Ariadne é a imagem arquetípica de alguém que foi iniciada nos mistérios e alcançou profunda conexão com a Deusa do Amor. Tendo integrado a potência da Deusa, ela pode então servir como mediadora das exigências do inconsciente para outras mulheres.
É através do ritual formal ou da evolução psicológica, que conseguimos conhecer o lado espiritual do erotismo e vive-lo na prática, de acordo com circunstâncias pessoais. Encontramos este tipo de mulher em todas as esferas sociais. Podemos sentir sua presença em toda a mulher que vive sua vida de acordo com sua própria escolha. Tal mulher pode ser muito sexy e provocante, mas não no sentido superficial, por que ela não é motivada pelo consciente ou por exigências inconscientes, mas sim da sutileza do seu ser, que emerge das profundezas de sua alma. Ela é a imagem radiante do feminino que deseja manter um relacionamento amoroso com a mulher.Texto de Rosane Valpato.
segunda-feira, 1 de abril de 2013
Gibran Khalil Gibran.
( 1883 – 1931 )
Gibran Khalil Gibran nasceu no Líbano no final do século XIX, terra então dominada pelo Império Turco Otomano, há milênios conturbada e há milênios preocupada com o fenômeno filosófico e religioso. Com o crescimento do perigo fascista para a região, lá conhecido como “sionismo”, mudou-se para os EUA, ali radicando-se desde o início do século passado (caramba, somos todos do século passado!) e tornando-se uma das principais referências intelectuais para o conhecimento da alma do povo muçulmano, druso, maronita ou cristão ortodoxo em geral, libaneses em particular. Aos 14 para 15 anos tornei-me leitor ávido de sua obra, mais ou menos como os jovens hoje lêem “Senhor dos Anéis” ou “Harry Potter”, com a enorme vantagem, a meu juízo, de os escritos de Gibran trazerem sempre alguma mensagem importante para nós, algo que nos marca o horizonte existencial por toda uma (ou mais) existência! Ultimamente tenho estado mais propenso a reflexões perenes que as superficiais, políticas... Reproduzo, a título mesmo de “isca”, textos de três de suas obras mais admiráveis: “O Louco”, “O Profeta” e “Temporais”. Com a palavra o Grande e Admirável Poeta:
O Louco. Meu Amigo.
Dos Filhos. Da Dádiva.
O Poeta.
O Louco.
Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:
Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.
Meu Amigo
Meu Amigo, não sou o que pareço. O que pareço é apenas uma vestimenta cuidadosamente tecida, que me protege de tuas perguntas e te protege da minha negligência.
Meu Amigo, o Eu em mim mora na casa do silêncio, e lá dentro permanecerá para sempre, despercebido, inalcançável.
Não queria que acreditasses no que digo nem confiasses no que faço – pois minhas palavras são teus próprios pensamentos em articulação e meus feitos, tuas próprias esperanças em ação.
Quando dizes: “O vento sopra do leste”, eu digo: “Sim, sopra mesmo do leste”, pois não queria que soubesses que minha mente não mora no vento, mas no mar.
Não podes compreender meus pensamentos, filhos do mar, nem eu gostaria que compreendesses. Gostaria de estar sozinho no mar.
Quando é dia contigo, meu Amigo, é noite comigo. Contudo, mesmo assim falo do meio-dia que dança sobre os montes e da sombra de púrpura que se insinua através do vale: porque não podes ouvir as canções de minhas trevas nem ver minhas asas batendo contra as estrelas – e eu prefiro que não ouças nem vejas. Gostaria de ficar a sós com a noite.
Quando ascendes a teu Céu, eu desço ao meu Inferno – mesmo então chamas-me através do abismo intransponível, “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada”, e eu te respondo: “Meu Amigo, Meu Companheiro, Meu Camarada” – porque não gostaria que visses meu Inferno. A chama queimaria teus olhos, e a fumaça encheria tuas narinas. E amo demais meu Inferno para querer que o visites. Prefiro ficar sozinho no Inferno.
Amas a Verdade, e a Beleza, e a Retidão. E eu, por tua causa, digo que é bom e decente amar essas coisas. Mas, no meu coração rio-me de teu amor. Mas não gostaria que visses meu riso. Gostaria de rir sozinho.
Meu Amigo, tu és bom e cauteloso e sábio. Tu és perfeito – e eu também, falo contigo sábia e cautelosamente. E, entretanto, sou louco. Porém mascaro minha loucura. Prefiro ser louco sozinho:
Meu Amigo, tu não és meu Amigo, mas como te farei compreender? Meu caminho não é o teu caminho. Contudo juntos marchamos, de mãos dadas.
Dos Filhos.
E uma mulher que carregava o filho nos braços disse: “Fala-nos dos filhos.”
E ele disse:
Vossos filhos não são vossos filhos.
São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E, embora vivam convosco, a vós não pertencem.
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,
Pois eles têm seus próprios pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;
Pois suas almas moram na mansão do amanhã, que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis faze-los como vós,
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.
Vós sois o arco dos quais vossos filhos, quais setas vivas, são arremessados.
O Arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com Sua força para que suas flechas se projetem, rápidas e para longe.
Que vosso encurvamento na mão do Arqueiro seja vossa alegria:
Pois assim como Ele ama a flecha que voa, ama também o arco, que permanece estável.
Da Dádiva.
Então um homem opulento disse: “Fala-nos da dádiva.”
E ele respondeu:
“Vós pouco dais quando dais de vossas posses.
É quando dais de vós próprios que realmente dais.
Pois, o que são vossas posses senão coisas que guardais por medo de precisardes delas amanhã?
E amanhã, que trará o amanhã ao cão ultraprudente que enterra ossos na areia movediça enquanto segue os peregrinos para a cidade santa?
E o que é o medo da necessidade senão a própria necessidade?
Não é vosso medo da sede, quando vosso poço está cheio, a sede insaciável?
Há os que dão pouco do muito que possuem, e fazem-no para serem elogiados, e seu desejo secreto desvaloriza suas dádivas.
E há os que têm pouco e dão-no integralmente.
Esses confiam na vida e na generosidade da vida, e seus cofres nunca se esvaziam.
E há os que dão com alegria, e essa alegria é já a sua recompensa.
E há os que dão com pena, e essa pena é o seu batismo.
E há os que dão sem sentir pena nem buscar alegria nem pensar na virtude:
Dão como, no vale, o mirto espalha sua fragrância no espaço.
Pelas mãos de tais pessoas, Deus fala; e através de seus olhos Ele sorri para o mundo.
É belo dar quando solicitado; é mais belo, porém, dar sem ser solicitado, por haver apenas compreendido;
E para os generosos, procurar quem recebe é uma alegria maior ainda que a de dar.
E existe alguma coisa que possais guardar?
Tudo o que possuís será um dia dado.
Dai agora, portanto, para que a época da dádiva seja vossa e não de vossos herdeiros.
Dizeis muitas vezes: “Eu daria, mas somente a quem merece”.
As árvores de vossos pomares não falam assim, nem os rebanhos de vossos pastos.
Dão para continuar a viver, pois reter é perecer.
Certamente, quem é digno de receber seus dias e suas noites é digno de receber de vós tudo o mais.
E quem mereceu beber do oceano da vida, merece encher sua taça em vosso pequeno córrego.
E que mérito maior haverá do que aquele que reside na coragem e na confiança, mais ainda, na caridade de receber?
E quem sois vós para que os homens devam expor o seu íntimo e desnudar seu orgulho a fim de que possais ver seu mérito despido e seu amor-próprio rebaixado?
Procurai ver, primeiro, se mereceis ser doadores e instrumentos do dom.
Pois, na verdade, é a vida que dá à vida, enquanto vós, que vos julgais doadores, são meras testemunhas.
E vós que recebeis – e vós todos recebeis – não assumais encargo de gratidão a fim de não pordes um jugo sobre vós e vossos benfeitores.
Antes, erguei-vos, junto com eles, sobre asas feitas de suas dádivas;
Pois se ficardes demasiadamente preocupados com vossas dívidas, estareis duvidando da generosidade daquele que tem a terra liberal por mãe e Deus por pai.”
O Poeta.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro, e há na vida do estrangeiro uma solidão pesada e um isolamento doloroso. Sou assim levado a pensar sempre numa pátria encantada que não conheço, e a sonhar com os sortilégios de uma terra longínqua que nunca visitei.
Sou um estrangeiro para minha alma. Quando minha língua fala, meu ouvido estranha-lhe a voz. Quando meu Eu interior ri ou chora, ou se entusiasma, ou treme, meu outro Eu estranha o que ouve e vê, e minha alma interroga minha alma. Mas permaneço desconhecido e oculto, velado pelo nevoeiro, envolto no silêncio.
Sou um estrangeiro para o meu corpo. Todas as vezes que me olho num espelho, vejo no meu rosto algo que minha alma não sente, e percebo nos meus olhos algo que minhas profundezas não reconhecem.
Quando caminho nas ruas da cidade, os meninos me seguem gritando: “Eis o cego, demos-lhe um cajado que o ajude.” Fujo deles. Mas encontro outro grupo de moças que me seguram pelas abas da roupa, dizendo: “É surdo como a pedra. Enchamos seus ouvidos com canções de amor e desejo.” Deixo-as correndo. Depois, encontro um grupo de homens que me cercam, dizendo: “É mudo como um túmulo, vamos endireitar-lhe a língua.” Fujo deles com medo. E encontro um grupo de anciãos que apontam para mim com dedos trêmulos, dizendo: “É um louco que perdeu a razão ao freqüentar as fadas e os feiticeiros.”
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e já percorri o mundo do Oriente ao Ocidente sem encontrar minha terra natal, nem quem me conheça ou se lembre de mim.
Acordo pela manhã, e acho-me prisioneiro num antro escuro, freqüentado por cobras e insetos. Se sair à luz, a sombra de meu corpo me segue, e as sombras de minha alma me precedem, levando-me aonde não sei, oferecendo-me coisas de que não preciso, procurando algo que não entendo. E quando chega a noite, volto para a casa e deito-me numa cama feita de plumas de avestruz e de espinhos dos campos.
Idéias estranhas atormentam minha mente, e inclinações diversas, perturbadoras, alegres, dolorosas, agradáveis. À meia-noite, assaltam-me fantasmas de tempos idos. E almas de nações esquecidas me fitam. Interrogo-as, recebendo por toda resposta um sorriso. Quando procuro segura-las, fogem de mim e desvanecem-se como fumaça.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um estrangeiro e não há no mundo quem conheça uma única palavra do idioma de minha alma...
Caminho na selva inabitada e vejo os rios correrem e subirem do fundo dos vales ao cume das montanhas. E vejo as árvores desnudas se cobrirem de folhas num só minuto. Depois, suas ramas caem no chão e se transformam em cobras pintalgadas.
E as aves do céu voam, pousam, cantam, gorgeiam e depois param, abrem as asas e viram mulheres nuas, de cabelos soltos e pescoços esticados. E olham para mim com paixão e sorriem com sensualidade. E estendem suas mãos brancas e perfumadas. Mas, de repente, estremecem e somem como nuvens, deixando o eco de risos irônicos.
Sou um estrangeiro neste mundo.
Sou um poeta que põe em prosa o que a vida põe em versos, e em versos o que a vida põe em prosa. Por isto, permanecerei um estrangeiro até que a morte me rapte e me leve para minha pátria.
As duas faces de Eva.
Analisando a evolução da humanidade ao longo da História temos a impressão de sermos filhos da guerra e da violência e não herdeiros do amor e da compreensão. O próprio ensinamento bíblico nos sugere esta conclusão.
No início, Adão e Eva até que apreciavam aquela vidinha chata e tediosa do jardim do Éden, onde passeavam pelados e de mãos dadas, enquanto ele sussurrava juras de eterno amor no ouvido dela. Mas era só! Até que, um dia, perceberam que aquela porcaria de vida não tinha futuro! Ela resmungava, roçando os lábios no pescoço dele: - Tesouro, quando vamos nos casar para termos nossos filhos? - Como? Ter filhos? Nem sabemos se isto é possível! - Eu sei. Aquela cobra que você viu proseando comigo me deu a dica toda.
Já dominei a teoria do procedimento e me acho pronta para os exercícios práticos. Hoje, à noite, se você quiser, poderemos mergulhar no “Lago do Suave Êxtase Poético”. É assim que ela chama... - Mulher, mulher! Deste jeito nós perderemos o nosso status VIP e seremos enxotados daqui, cada um levando na mão a sua declaração de PERSONA NON GRATA.
É isso o que você quer? - O que eu quero é poder sonhar, viver... Você precisa conhecer melhor a sua metade, que sou eu. Eu quero ser conhecida. Todinha. Tenho muito para revelar... - Okay, você venceu. Como é mesmo o nome? - Oceano do Suave Êxtase Poético... - Você não tinha dito Lago... deste tal êxtase? - Querido, nossa imaginação ignora obstáculos, os horizontes mentais se ampliam... Venha. Você não se arrependerá de descobrir os meus mistérios. Alguns são insondáveis. Seja paciente. - E são realmente atraentes esses tais mistérios? - Eu diria que sim. Mas não se esqueça: eu fui feita de uma costela sua. Se, pelo menos, tivesse sido de uma parte mais nobre... - Tudo bem, não precisa espatifar. Mas não acha que está muito cedo? - Bobinho, estamos no horário de verão... E foi assim que eles conseguiram se livrar do tal paraíso.
Na confluência dos rios Tigre e Eufrates, onde se “situava” o Jardim do Éden, surgiu a florescente Babilônia que acabou se pervertendo e sucumbiu destruída pelo exército de Ciro, rei dos persas. Atualmente no mesmo lugar está situada Bagdá, capital do Iraque e palco de uma sangrenta guerra que ninguém sabe como e quando terminará. Apear Saddan Hussein do poder já custou 200 bilhões de dólares aos Estados Unidos e a morte de 3 mil dos seus soldados. O Iraque continua dividido, como sempre, pela religião, sua Economia destroçada e as estimativas indicam que mais de 600 mil pessoas já perderam a vida desde o início dos conflitos. Saddan Hussein foi preso e enforcado, mas não podemos ignorar que, com o líder sunita morto e enterrado, nunca mais haverá paz naquela região, pois os Curdos, provavelmente, lutarão por sua independência; xiitas e sunitas se engalfinharão numa luta fratricida de inimagináveis proporções; e a ira dos radicais se alastrará pelo mundo perseguindo alvos norte-americanos.
É preciso que os nossos ensandecidos líderes mundiais recuperem o bom senso e compreendam: 1) O primeiro passo para combater o terrorismo é parar de incentivá-lo;
2) A guerra é sempre estúpida, quaisquer que sejam as razões que a justifiquem.
O poeta libanês Kalil Gibran disse, num de seus livros, que “os libaneses combinaram estar sempre em desacordo”. (Mas, será que só os libaneses?). É preciso, urgentemente, desarmar os espíritos, desativar as armas e acender a chama da Esperança para que a Paz e o Amor possam renascer no solo estéril do deserto em que se transformaram os corações humanos. Pelo que parece, ao serem expulsos, Adão e Eva excomungaram aquele lugar: - Pode deixar, Seu Anjo! Não precisa falar mais nada, não! Nós já estamos indo... E, na saída, enquanto batia a poeira das sandálias, ela teria resmungado: - Nunca mais quer ver nossas caras relaxadas por aqui, não é? E quem disse que nos queríamos ficar? Vem, amor...
João Cândido da Silva Neto.
A importância da saudade.
Certo dia, a saudade, em um momento de explosão, desabafa:
-Distância, por quê você existe?
Só serve para trazer a separação, um sentimento ruim de tristeza e abandono.
A distância, percebendo o momento difícil que a saudade está passando, não se exalta com as críticas recebidas e responde:
-Olha, saudade, entendo perfeitamente o que está acontecendo com você. Sei que reclamam muito de você, mas tudo isso é força de expressão.
A saudade rebate:
-Tenho dúvidas sobre isso, não aguento mais. São pessoas dizendo:"pensei que fosse morrer de tanta saudade!" outro diz:"pensei que fosse enlouquecer de tanta saudade!"já ouvi até alguém dizer assim:" o que os olhos não vêem, o coração não sente," então me explica a saudade? os olhos não ve e o coração sente e sente muito.
Está vendo? diz a saudade, até mal para o coração eu faço, e nem explicação para isso se encontra.
A culpa de tudo isso é sua distância, você se interpoe entre os corações, você não respeita. simplismente afasta, eu chego e levo a culpa de tudo.
-olha, saudade, você está sendo um pouco injusta comigo, porque o maior culpado por tudo isso, não sou eu.
-mas é claro que é, diz a saudade, é você que separa, que afasta; que distancia um coração do outro.
-É verdade,tudo o que você está falando tem fundamento, fala a distância, mas o culpado maior é o tempo.
O tempo até então calado, fala:
-Realmente, também tenho culpa, vamos exclarecer tudo, vamos dividir as responsabilidades.Eu o tempo, só cumpro ordens, é o coração que determina o tempo, se ele acha que vai aguentar, ele resiste ao tempo.
-Não, não é verdade, eu já vi um coração muito triste, e sofrendo muito, ele falou:"agora, só o tempo para me tirar essa saudade que teima em ficar."
-É verdade, diz o tempo, há circunstâncias em que o coração é o senhor do tempo; em outras, um verdadeiro escravo do tempo, mas vamos deixar o coração de lado, porque com certeza ele tem razão.
A distância, embora afaste um do outro, neste momento, estava muito próxima da saudade e do tempo, e fala suavemente:
-Nós estamos vendo somente o lado ruim, vamos analisar o outro lado.
É quando o coração aparece e resolve pôr fim a toda essa discussão, e diz:
-Quantas e quantas vezes, nós os corações, estamos desgastados um com o outro?
É nesse momento que precisamos desesperadamente de cada um de vocês, você, distância, nos afasta; o tempo passa, e se une à distância, a união de vocês, gera a saudade, que nasce muito forte.
É nesse momento que você, saudade, mostra o quanto nós os corações, precisamos um do outro para sermos felizes. Saiba, saudade, que você não precisa brigar com a distância, nem com o tempo, você é fundamental para os corações, é você quem desperta o desejo do coração para ver o outro coração que está distante.
Então, somente então, a saudade percebeu o quanto era importante, e feliz se cala.
Nilton Rodrigues Gonçalves.
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