terça-feira, 31 de dezembro de 2013
O verdadeiro significado de 1º de janeiro.
Todo dia 1º de janeiro o mundo se une para comemorar o Dia da Confraternização Universal e grande parte do mundo comemora a chegada do Ano-Novo. É por esse motivo que nesse dia todos desejam uns aos outros muita paz, amor e prosperidade. Fazemos planos, começamos novos projetos, olhamos para frente e desenhamos metas a serem atingidas no decorrer do ano. Deixamos-nos envolver pelo calor das emoções que ficam mais afloradas neste dia e nos enchemos de esperança e determinação para começar um novo ciclo de vida. É um dia feito para reflexão, especialmente sobre o que de fato temos feito para que a harmonia e a paz sejam construídas.
Confraternização deve ser seguida de equilíbrio, afeto, interesse pelo outro e amor no coração. Neste dia nos enchemos de esperança de uma vida melhor e pedimos a Deus que nos envie seus anjos para colaborar para que tudo de bom nos aconteça. Mas muitas vezes esquecemos-nos de fazer nossa parte nesse processo.
Todo ser humano minimamente espiritualizado deve ter claro dentro de si a consciência de que um mundo melhor somente é construído através de atitudes individuais e de uma espécie de reeducação. Essa é a única maneira de nos dedicarmos à construção de um mundo de paz. Não falo em passeatas, manifestações públicas de pedido de paz, apesar de muitas vezes isso funcionar, mas falo de atitudes individuais que nos ajudem a atingir esse objetivo.
Tenho observado como o ser humano mudou nos últimos dez anos e infelizmente acredito que piorou muito sua qualidade humanitária. Isso é muito facilmente notado através da observação crítica quando estamos no trânsito, no supermercado, atravessando uma rua, em qualquer situação corriqueira que vivemos todos os dias.
Parece que ficamos cegos para a existência do outro. As pessoas agem como se fossem as únicas, como se os outros não existissem. Passam por cima de todos feito tratores desgovernados diante do perigo. A vida se tornou uma ameaça e agimos e reagimos defensivamente o tempo todo. O culto à individualidade tem trazido alguns sérios reflexos em nossa vida pessoal e social.
Sem o sentido de fraternidade e propósito não chegaremos a lugar algum. Reverência, companheirismo e compaixão tornaram-se apenas palavras bonitas modernizadas pelo movimento de Nova Era, mas que quase ninguém aplica em sua vida. A ganância, o egoísmo, o culto à individualidade tornaram-se uma espécie de deuses que a maioria de nós cultua diariamente através de pequenas atitudes.
Por isso peço que neste 1º de janeiro todos se comprometam a observar e transformar suas atitudes menos nobres em atitudes éticas e conscientes de que o outro passa pelos mesmos medos e anseios que todos nós. Atitudes e reações transformadas certamente nos levarão a um 2010 verdadeiramente carregado de muita paz, prosperidade, fraternidade e amor. O compromisso por um mundo melhor deve partir de cada um de nós através de pequenas atitudes em nosso cotidiano.
Um Feliz 2014 para todos nós!
sexta-feira, 27 de dezembro de 2013
"Anjo Negro" - obra de Nelson Rodrigues´´
Primeiro Ato.
Na sala da casa de Ismael e Virgínia, vela-se a morte prematura do terceiro filho do casal. Chega o irmão de criação de Ismael, chamado Elias, que é um homem branco muito bonito e cego. Ele deseja ver a criança, mas é impedido por Ismael. Então, Elias fala que veio trazer um recado de sua mãe, dizendo que Ismael havia sido amaldiçoado por ser um filho ruim.
Após isso, Ismael e Virgínia discutem dentro do quarto. Ela está trancada no quarto e impedida de ver o filho morto. Ismael diz querer que ela engravide novamente, mas ela se recusa a ter relações sexuais com ele e Ismael a tranca no quarto novamente.
Na próxima cena, Virgínia está chorando no quarto enquanto na sala algumas senhoras ainda comentam que ela não foi ver o filho morto. Quando o corpo é levado para ser enterrado, uma empregada sobe ao quarto e Virgínia implora para que a deixe sair. Durante a conversa, a empregada acaba revelando que Elias se encontra na casa. Virgínia oferece dinheiro à empregada e consegue sair do quarto. Elias e Virgínia se encontram e conversam longamente, revelando-se a história das personagens.
Elias conta que Ismael odeia ser negro e que odeia sua mãe, pois ela é negra. Além disso, por conta de seu ódio e inveja, Ismael cegou Elias propositadamente.
Virgínia conta como se casou com Ismael. Por ter ficado órfã, Virgínia foi morar com sua tia e primas. Quando tinha 15 anos, o noivo da prima caçula a assedia. A prima vê o ocorrido e se enforca. Quando a tia fica sabendo o que aconteceu, ela trama sua vingança contra Virgínia. Ela convida Ismael para ir a sua casa e o manda ir ao quarto da sobrinha e estupra-la, o que ele faz. Após isso, ele compra a casa e passa a manter Virgínia presa.
Segundo Ato.
Após contarem essas coisas um ao outro, Virgínia e Elias revelam que sentem afeição um pelo outro e, após terem relação sexual, planejam fugir. Por temer que Elias volte e os flagre, Virgínia expulsa Elias e eles discutem. A tia e suas filhas chegam na casa e ouvem vozes na casa. A tia vê Elias descendo as escadas e vai até o quarto. Ela vê Virgínia arrumando a cama, consegue fazer com que a moça confesse sua traição e a ameaça.
Ismael chega em casa e vai direto para o quarto, onde encontra Virgínia com atitudes muito amorosas. Os dois acabam discutindo e Ismael acusa Virgínia de ter matado seus filhos por eles serem negros. Ela confessa e diz que matou este último afogado e os outros dois por envenenamento. Ismael diz que o próximo filho ele não a deixará matar. Virgínia se diz uma nova mulher e que não matará o próximo filho, mas pede que ele expulse a tia da casa.
Ismael pergunta porque ela deseja o próximo filho se ela nunca o amou. Então, a tia chega nesse exato momento e diz que é porque o filho é de Elias. Ismael expulsa a tia e suas filhas da casa. Ismael diz que como Virgínia matou os filhos dele, ele irá matar o filho branco de Virgínia e Elias. Então, para salvar seu filho, ela vai buscar Elias que está em outro quarto esperando-a. Quando eles retornam ao quarto onde Ismael está esperando, Ismael mata Elias com um tiro. Pensando que Virgínia está morta, a tia e suas filhas comemoram na sala.
Terceiro Ato.
Já se passaram 16 anos após o ocorrido e Ana Maria, filha branca que Virgínia teve, já completou 15 anos. Durante uma conversa, Virgínia diz que Ismael é quem cegou Ana Maria com ácido e ele consente. Virgínia exige conversar a sós com a filha, algo que Ismael nunca deixou que ela fizesse, e diz que irá contar toda a verdade para a menina.
Depois de anos fora, a tia retorna à casa com o corpo de sua última filha. Todas as outras haviam morrido virgem, mas esta não. Ela havia mandado a filha a ir sozinha a um poço onde sempre ficava um mendigo. Ele estupra a moça e a mata. Após contar isso, a tia ameaça Virgínia dizendo que Ana Maria também morrerá virgem. Furioso, Ismael protesta.
Após isso, Ismael autoriza Virgínia a passar três noites sozinha com a filha. Ele diz que Virgínia pode contar tudo a menina, inclusive que ele é negro. Por fim, ele diz que após isso é para ela sair de casa, pois ele não a quer mais.
Virgínia e Ana Maria conversam durante três noites, mas a jovem não acredita em nada do que a mãe diz. Virgínia diz que a ama e planeja fugirem juntas, dizendo que levará a filha a um lugar onde existem muitos homens brancos que a amarão. Então, Ana Maria revela que possui uma relação de homem e mulher com Ismael e que o ama. Espantada, Virgínia fala que realmente sempre a odiou e que na realidade planejava abandonar Ana Maria nesse lugar cheio de homens para que a jovem ali se degradasse. Ana Maria diz que as três noites já acabaram e expulsa a mãe do quarto.
Virgínia conversa com Ismael e ele diz que ama Ana Maria. Ele diz para Virgínia ir embora, pois passará o resto da vida com a filha dela. Ela fala que a jovem jamais o amaria se pudesse ver o rosto de Ismael e que portanto só Virgínia poderia ama-lo de verdade. Ismael se convence de que Ana Maria é apaixonada por um homem branco que na verdade só existe nas histórias que ele conta para ela, e decide matar Ana Maria. Ismael vai buscar a jovem dizendo que vão passear e então ele e Virgínia trancam a menina em um mausoléu de vidro que tem na casa. O casal vai para o quarto consumar seu amor enquanto a Ana Maria morrerá aos poucos.
Personagens.
Ismael: médico negro, violento e sem escrúpulos. Por não se aceitar como negro, deixa sua filha cega para que ela não saiba que ele é negro.
Virgínia: mulher branca que torna-se vítima sexual e esposa de Ismael.
Ana Maria: filha branca de Virgínia com Elias. É abusada sexualmente por Ismael.
Elias: branco, irmão de criação de Ismael. Ficou cego provavelmente por culpa de seu irmão.
Tia: mulher cruel, vingativa e que superprotege suas filhas.
Primas: filhas da tia. Com exceção de apenas uma delas, todas morrem virgem.
Sobre Nelson Rodrigues.
Nelson Falcão Rodrigues nasceu no Recife, em 23 de agosto de 1912, e mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro. Aos 13 anos começou a trabalhar em jornal. Escreveu sua primeira peça, "A Mulher sem Pecado", em 1941. Dois anos depois, a montagem de Vestido de Noiva revolucionou o teatro nacional e transformou-o num dos principais dramaturgos brasileiros.
Sua obra teatral é assim classificada pelo crítico Sábato Magaldi: peças psicológicas (nas quais se incluem as duas primeiras), peças mitológicas ("Anjo Negro" e "Álbum de Família") e tragédias cariocas ("A Falecida" e "O Beijo no Asfalto"). Suas obras causaram polêmica ao abordar temas sexuais e morais, como o tabu do incesto e a infidelidade, de forma mórbida, obsessiva e moralista.
Sua vida pessoal foi marcada por tragédias, como o assassinato do irmão e o choque por saber que seu filho fora torturado pela ditadura militar, regime que Nelson apoiou. Escreveu também os romances "Meu Destino É Pecar" e "O Casamento", além de livros de crônicas. Morreu no Rio de Janeiro, em 21 de dezembro de 1980.
sábado, 21 de dezembro de 2013
O Simbolismo Esotérico do Natal - A simbologia do Natal.
Os simbolos e simbolismos esotéricos do natal, este é um evento maravilhoso, sobre o qual urge meditar profundamente...
O Sol realiza a cada ano uma viagem elíptica que começa no dia 25 de dezembro, e então regressa ao pólo sul, até a região da Antártida; exatamente por isto vale a pena refletirmos em seu significado profundo. Nesta época começa o frio aqui no norte, devido exatamente ao fato de que o Sol vai se afastando para as regiões austrais e, no dia 24 de dezembro, terá atingido o ponto máximo de sua viagem na direção sul. Se o Sol não avançasse rumo ao norte do dia 25 de dezembro em diante, morreríamos de frio. A Terra inteira se converteria em um bloco de gelo e realmente pereceriam todas as criaturas, tudo o que tem vida.
Assim, vale a pena refletir sobre o acontecimento do Natal. O Cristo-Sol deve avançar para dar-nos vida, e, no equinócio da Primavera, se crucifica na Terra; então amadurecem a uva e o trigo.
É precisamente na Primavera que o Senhor deve passar por sua vida, paixão e morte, para logo ressuscitar; a Semana Santa é na Primavera no Hemisfério Norte.
O Sol físico nada mais é que um símbolo do Sol Espiritual, do Cristo-Sol. Quando os antigos adoravam o Sol, quando lhe rendiam culto, não se referiam exatamente ao Sol físico; rendia-se culto ao Sol Espiritual, ao Sol da Meia-Noite, ao Cristo-Sol. Inquestionavelmente, é o Cristo-Sol quem deve guiar-nos nos Mundos Superiores de Consciência Cósmica. Todo místico que aprende a funcionar fora do corpo físico à vontade é guiado pelo Sol da Meia-Noite, pelo Cristo Cósmico.
É preciso aprender a conhecer os movimentos simbólicos do Sol da Meia-Noite; é ele quem guia o Iniciado, quem nos orienta, ele é que nos indica o que devemos e não devemos fazer. Estou falando no sentido esotérico mais profundo, levando em conta que todo Iniciado sabe sair do corpo físico à vontade, que isto de não saber sair à vontade é próprio de principiantes, gente que ainda está dando os primeiros passos nesses estudos. Se alguém está na Senda, tem que saber guiar-se pelo Sol da Meia-Noite, pelo Cristo-Sol, aprender a reconhecer seus sinais, seus movimentos. Se o vemos, por exemplo, desaparecer no ocaso, o que é que isto nos indica ? Simplesmente que algo deve morrer em nós. Se o vemos surgir do Oriente, o que é que isto nos diz ? Que alguma coisa deve nascer em nós.
Quando nos saímos bem nas provas esotéricas, ele brilha em sua plenitude no horizonte. O Senhor nos orienta nos Mundos Superiores, e temos que aprender a reconhecer seus sinais.
a simbologia esotérica do nascimento de Jesus, o natal místicoDupuis e muitos outros estudaram o maravilhoso acontecimento do Natal; não há dúvida, e isto o reconhece Dupuis, de que todas as religiões da antiguidade celebraram o Natal.
Assim como o Sol físico avança para o norte para dar vida a toda a criação, também o Sol da Meia-Noite, o Sol do Espírito, o Cristo-Sol, nos dá vida se aprendemos a cumprir com seus mandamentos. Nas Sagradas Escrituras se fala, obviamente, do acontecimento solar, e há que saber entender isto nas entrelinhas. A cada ano se vive no Macrocosmos todo o Drama Cósmico do Sol; cada ano, repito. Leve-se em conta que o Cristo-Sol deve crucificar-se cada ano no mundo, viver todo o drama de sua vida, paixão e morte, para logo ressuscitar em tudo o que é, foi e será, quer dizer, em toda a criação. Assim, pois, é como todos nós recebemos a vida do Cristo-Sol. Também é certo que cada ano o Sol, ao afastar-se para a região Austral, nos deixa tristes aqui no norte, pois vai dar vida a outras partes. As noites longas de inverno são fortes. Na época do Natal os dias são curtos e as noites longas.
Vamos refletindo sobre tudo isto, e convém que entendamos o que é o Drama Cósmico. É necessário que também em nós nasça o Cristo-Sol, ele deve nascer em nós. Nas Sagradas Escrituras se fala claramente de Belém e de um estábulo onde ele nasce; esse estábulo de Belém está dentro de cada um aqui e agora; precisamente nesse estábulo interior moram os animais do desejo, todos esses "eus " passionais que carregamos em nossa psique, isto é óbvio. "Belém" mesmo é um nome esotérico; nos tempos em que o grande Kabir veio ao mundo, a aldeia de Belém não existia, de modo que isto é inteiramente simbólico. Bel é uma raiz caldéia que significa Torre do Fogo, de modo que, propriamente dito, Belém é Torre do Fogo. Quem poderia ignorar que Bel é um termo caldeu que corresponde precisamente à Torre de Bel, à Torre do Fogo ? Assim, o termo Belém é totalmente simbólico.
O simbolismo esoterico do natal.
Quando o Iniciado trabalha com o Fogo Sagrado, quando elimina completamente de sua natureza íntima os agregados psíquicos, quando de verdade está realizando a Grande Obra, indubitavelmente há de passar pela Iniciação Venusta; a descida do Cristo ao coração do homem é um acontecimento cósmico e humano de grande transcendência; tal evento corresponde na verdade à Iniciação Venusta. Infelizmente, não se compreendeu realmente o que é o Cristo; muitos supõem que o Cristo foi exclusivamente Jesus de Nazaré, e estão equivocados. Jesus de Nazaré, como homem - ou, melhor dizendo, Jeshuá ben Pandirá - recebeu, como homem, a Iniciação Venusta, encarnou o Cristo, mas não é o único a ter recebido tal Iniciação. Hermes Trimegisto, o três vezes grande Deus Íbis de Thot, também O encarnou. João Batista, a quem muitos consideravam como o Christus, o Ungido, inquestionavelmente recebeu a Iniciação Venusta, encarnou-O. Os Gnósticos Batistas asseguravam na Terra Santa que o verdadeiro Messias era João, e que Jesus era somente um Iniciado que havia querido seguir a João. Havia naquela época disputas entre Batistas, Gnósticos, Essênios e outros.
Devemos entender o Cristo tal qual é, não como uma pessoa, como um indivíduo. O Cristo está mais além da Personalidade, do Eu e da Individualidade. Cristo em esoterismo autêntico é o Logos, o Logos Solar representado pelo Sol. Agora compreenderemos porque os Incas adoravam o Sol, os Nahuas lhe rendiam culto, os Maias, os Egípcios, etc. Não se trata da adoração a um sol físico, mas ao que se oculta atrás deste símbolo físico; obviamente, adorava-se o Logos Solar, o Segundo Logos. Este Logos Solar é unidade múltipla perfeita. A variedade é unidade. No mundo do Cristo Cósmico a individualidade separada não existe; no Senhor somos todos um...
Me vem à memória certa experiência, digamos, esotérica, realizada há muitos anos. Então, submergido em profunda meditação, obtive certamente o Samadhi, o estado de Mantéia, o Êxtase, como é chamado no esoterismo ocidental. Naquela ocasião eu desejava saber algo sobre o batismo de Jesus, o Cristo, pois bem sabemos que João o batizou. Foi profundo o estado de abstração, obtive o perfeito Dharana, ou seja, concentração, o Dhyana, ou meditação, e por fim consegui o Samadhi; me atreveria a dizer que foi um Maha-Samadhi, porque abandonei perfeitamente os corpos Físico, Astral, Mental, Causal, Búdico e até o Átmico. Consegui, pois, reabsorver minha consciência de forma íntegra no Logos. Assim, nesse estado logoico, como um Dragão de Sabedoria, fiz a correspondente investigação. De imediato me vi na Terra Santa, dentro de um templo; mas, coisa extraordinária, vi a mim mesmo convertido em João Batista, com uma vestimenta sagrada; vi quando traziam a Jesus com sua veste branca, sua túnica branca.
Dirigindo-me a Ele, disse: "Jesus, despe tua túnica, tua vestimenta, pois vou batizar-te". Depois retirei de um recipiente um pouco de azeite de oliva, conduzi-O ao interior do Santuário, ungi-O com o óleo, despejei água sobre Ele e recitei os mantrams e ritos. Depois, o Mestre se sentou em sua cadeira à parte; eu guardei tudo novamente, pus os objetos em seus lugares e dei por terminada a cerimônia. Mas vi-me transformado em João!
É claro que, uma vez passado o Êxtase, o Samadhi, pensei: "Mas como é possível que eu seja João Batista? Nem remotamente, eu não sou João Batista! Fiquei bastante perplexo e pensei: "Vou fazer agora outra concentração, mas agora não vou me concentrar em João, vou concentrar-me em Jesus de Nazaré". Então escolhi como motivo da concentração o Grande Mestre Jesus. O trabalho foi longo e árduo, a concentração foi se fazendo cada vez mais profunda; logo passei do Dharana - concentração, ao Dhyana - meditação, e deste ao Sammadhi, ou Êxtase. Fiz um esforço supremo que me permitiu despir-me dos corpos Físico, Astral, Mental, Causal, Búdico e Átmico até introverter minha consciência, absorvendo-a no mundo do Logos Solar, e, em tal estado, querendo saber sobre o Cristo Jesus, me vi a mim mesmo convertido em Cristo Jesus, fazendo milagres e maravilhas na Terra Santa, curando os enfermos, dando vista aos cegos, etc., e, por último, me vi vestido com as vestes sagradas chegando ante João naquele Templo. Então João se dirigiu a mim e disse: "Jesus, retira tua vestimenta, pois vou batizar-te". Trocaram-se os papéis, já não me vi transformado em João mas em Jesus, e recebi o batismo de João.
Passado o Samadhi, regressando ao corpo físico, vim a constatar perfeitamente, com toda a clareza, que no mundo do Cristo Cósmico somos todos um. Se eu tivesse querido meditar em qualquer um de vocês, lá no mundo do Logos, me teria visto transformado em um de vocês, vivendo sua vida, já que lá não há individualidade, não há personalidade nem Eu; ali somos todos o Cristo, ali somos todos João, ali todos somos o Buda, ali somos todos um; no mundo do Logos não existe a individualidade separada.
O Logos é Unidade Múltipla Perfeita, é uma energia que se move e palpita em todo o criado, que subjaz em todo átomo, em todo elétron, em todo próton, e se expressa vivamente através de qualquer homem que esteja devidamente preparado.
Bem, este esclarecimento teve como objetivo explicar melhor o acontecimento de Belém. Quando um homem está devidamente preparado, passa pela Iniciação Venusta - mas, esclareço, deve estar devidamente preparado - e na Iniciação Venusta consegue a encarnação do Cristo Cósmico em si mesmo, dentro de sua própria natureza.
O objetivo do nascimento de Jesus
Inutilmente teria Jesus nascido em Belém se não nascesse em nosso coração também. Inutilmente teria morrido e ressuscitado na Terra Santa, se não morre e ressuscita em nós também. Esta é a natureza do "Salvator Salvandus". O Cristo Íntimo deve salvar-nos, mas salvar-nos desde dentro, a todos nós. Aqueles que aguardam a vinda de Jesus de Nazaré para um futuro remoto estão equivocados; o Cristo deve vir agora desde dentro, a segunda vinda do Senhor é desde dentro, desde o próprio fundo da Consciência.
Por isto está escrito o que Ele disse: "Se ouvires alguém dizendo na praça pública que é Cristo, não o creiais, e se disserem "Ele está ali no Templo predicando", não o creiais". É que o Senhor não virá desta vez de fora mas de dentro, virá desde o próprio fundo de nosso coração, se nós nos prepararmos. Paulo nos esclarece dizendo: "De sua virtude tomamos todos, graça por graça". Então, está documentado; se estudarmos cuidadosamente Paulo de Tarso, veremos que raramente alude ao Cristo histórico; cada vez que Paulo de Tarso fala sobre Jesus Cristo, refere-se ao Jesus Cristo Interior, ao Jesus Cristo Íntimo que deve surgir do fundo de nosso Espírito, de nossa Alma. Enquanto um homem não O tenha encarnado, não se pode dizer que possua a Vida Eterna, só Ele pode tirar nossa Alma do Hades, só Ele pode verdadeiramente dar-nos vida, e em abundância. Assim, pois, devemos ser menos dogmáticos e aprender a pensar no Cristo Íntimo, isto seria grandioso...
Todo o simbolismo relacionado com o nascimento de Jesus é alquímico e cabalístico. Diz-se que três Reis Magos vieram adorá-lo, guiados por uma estrela; este trecho não pode ser compreendido, falando francamente, se não se for versado em alquimia, porque é alquímico. Que são essa estrela e esses Reis Magos? E eu vos digo que essa estrela não é outra coisa que o Selo de Salomão, a estrela de seis pontas, símbolo do Logos Solar. O triângulo superior representa obviamente o Enxofre, ou seja, o Fogo. E o inferior, o que representa em Alquimia? O Mercúrio, a Água; mas a que tipo de água se referem os Alquimistas? Dizem eles: "A Água Que Não Molha as Mãos, o Úmido Radical Metálico", em outras palavras, o Exiohehari.
Ele nasce no estábulo de nosso próprio corpo dentro do qual temos todos os animais do desejo, das paixões inferiores. Ele tem que crescer, desenvolver-se ascendendo pelos diversos graus até converter-se num Homem entre os homens, tomar a seu cargo todos os nossos processos mentais, volitivos, sexuais, emocionais, etc., passar por um homem comum. Mesmo sendo o Cristo um Ser tão perfeito, um Homem que não peca, ainda assim deve viver como um pecador entre pecadores, um desconhecido entre outros desconhecidos; esta é a crua realidade dos fatos.
Mas (o Cristo) vai crescendo, vai-se desenvolvendo à medida que elimina em si mesmo os elementos indesejáveis que levamos dentro. É tal sua integração conosco que lança toda a responsabilidade sobre seus ombros. Converteu-se num pecador como nós, não sendo Ele um pecador - sentindo em carne e osso as tentações, vivendo como um homem qualquer.
E assim, pouco a pouco, à medida que vai eliminando os elementos indesejáveis de nossa Psique, não como algo alheio ou estranho mas como algo próprio Dele, vai se desenvolvendo no interior de nós mesmos; isto precisamente é o maravilhoso. Se não fosse assim, seria impossível realizar a Grande Obra. É Ele quem tem de eliminar todo esse Mercúrio Seco, todo esse Enxofre venenoso, para que os Corpos Existenciais Superiores do Ser possam converter-se em veículos de Ouro Puro, Ouro da melhor qualidade.
Os Três Reis Magos que vieram adorar o Menino representam as cores da Grande Obra.
A primeira cor é o Negro, quando estamos aperfeiçoando o corpo. Isto, repito, simboliza o Corvo Negro da Morte, é a Obra de Saturno simbolizada pelo Rei Mago de cor negra; então passamos por uma morte, a morte de nossos desejos, paixões, etc., no Mundo Astral.
A seguir vem a pomba Branca, isto é, o momento em que já desintegramos todos os Eus do Mundo Astral; adquirimos então o direito de usar a túnica de linho branco, a túnica do Phtah egípcio, a túnica de Ísis; evidentemente esta cor é simbolizada pela Pomba Branca; este é ainda o segundo dos Reis, o Rei Branco.
Já bastante avançado no aperfeiçoamento do Corpo Astral, apareceria a cor Amarela, ou seja, conquistaria o direito à túnica Amarela; então aparece a Águia Amarela, o que nos recorda o terceiro dos Reis Magos, que é da raça amarela.
Finalmente, a coroação da Obra é a Púrpura. Quando um corpo, seja o Astral, o Mental ou o Causal, já se tornou de Ouro Puro, recebe a púrpura dos Reis, porque triunfou. Assim, como podem ver, os Três Reis Magos não são três indivíduos, como muitos acreditam, mas símbolos das cores fundamentais da Grande Obra, e o próprio Jesus Cristo vive dentro. Jesus em hebraico é Jeshuá; Jeshuá significa Salvador, e, como Salvador, nosso Jeshuá particular tem de nascer neste estábulo que temos dentro de nós para realizar a Grande Obra; Ele é o Magnésio Interior do Laboratório Alquimista. O grande Mestre deve surgir no fundo de nossa Alma, de nosso Espírito.
O mais duro para o Cristo Íntimo, após seu nascimento no coração do Homem, é precisamente o Drama Cósmico, sua Via-Crucis. No Evangelho as multidões aparecem pedindo a crucificação do Senhor; essas não são multidões de ontem, de um passado remoto, como se supõe, de algo que ocorreu há 1975 (ano em que este texto foi escrito) anos. Não, senhores, essas multidões estão dentro de nós mesmos, são nossos famosos "Eus"; dentro de cada pessoa moram milhares de pessoas, o "Eu do ódio", o "Eu tenho ciúmes", o "Eu sinto inveja", o "Eu da cobiça", ou seja, todos os nossos defeitos, e cada defeito é um "Eu" diferente. É claro que essas multidões que trazemos dentro de nós, que são nossos famosos "Eus", são os que gritam: "Crucifiquem-nO, crucifiquem-nO!".
Quanto aos Três Traidores, já sabemos que no Evangelho Crístico são Judas, Pilatos e Caifás. Quem é Judas? O Demônio do Desejo. Quem é Pilatos? O Demônio da Mente. Quem é Caifás? O Demônio da Má Vontade.
Mas é preciso esclarecer isto, para que se possa compreendê-lo melhor. Judas, o Demônio do Desejo, troca o Cristo Íntimo por trinta moedas de prata : 30 (3 - 0), 3, esta é a alusão cabalística, ou seja, troca-O pelas coisas materiais, pelo dinheiro, pela bebida, pelo luxo, pelos prazeres animais, etc.
Quanto a Pilatos, é o Demônio da Mente; este sempre "lava as mãos", nunca tem culpa, para tudo encontra uma evasiva ou justificativa, jamais se sente responsável.
Realmente, estamos sempre justificando todos os defeitos psicológicos que temos em nosso interior, jamais nos julgamos culpáveis.
Muita gente me diz: "Acredito ser uma boa pessoa; eu não mato, não roubo, sou caridoso, não sou invejoso", ou seja, são todos cheios de virtude, perfeitos, segundo eles próprios; "ignoto", é o que tenho a dizer ante tanta perfeição.
Assim, olhando as coisas como são, em seu cru realismo, esse Pilatos sempre lava as mãos, nunca se considera culpado.
Quanto a Caifás, francamente o considero o mais perverso de todos. Pensem no que representa Caifás: muitas vezes o Cristo Íntimo nomeia um Sacerdote, um Mestre ou Iniciado para que guie suas ovelhas e as apascente, lhe entrega a autoridade e o põe à frente de uma congregação, e o tal Sacerdote, Mestre, Iniciado, etc., em vez de guiar seu povo sabiamente, vende os Sacramentos, prostitui o Altar, fornica com as devotas, etc. - ou seja, trai o Cristo Interno, isto é o que faz Caifás.
É doloroso isto? É claro, é horrível, é uma traição do tipo mais sujo que há, e não há dúvida de que muitas religiões se prostituíram e muitos sacerdotes traíram o Cristo Íntimo; não me refiro a nenhuma seita em particular, mas a todas as religiões do mundo. É possível que haja grupos esotéricos dirigidos por verdadeiros Iniciados, e que estes, muitas vezes traidores, tenham traído o Cristo Íntimo.
Tudo isto é doloroso, infinitamente doloroso. Caifás é o que há de mais sujo. Estes três traidores levam o Cristo Íntimo ao suplício.
Pensem por um instante no Cristo Íntimo no mais profundo de cada um de vocês, senhor de todos os processos mentais e emocionais, lutando por salvá-los, sofrendo terrivelmente; os próprios Eus de vocês protestando contra Ele, blasfemando, pondo-Lhe a coroa de espinhos, açoitando-O. Bem, esta é a crua realidade dos fatos, este é o Drama Cósmico vivido interiormente.
Finalmente, este Cristo Íntimo subiria ao Calvário, isto é óbvio, e baixa ao sepulcro, com sua morte mata a morte, isto é a última coisa que faz. Posteriormente ressuscita no Iniciado e o Iniciado ressuscita n'Ele.
Então a Grande Obra está realizada, "consummatum est". Assim têm surgido através dos séculos Mestres Ressurrectos; lembremos um Hermes Trimegisto, um Moria, grande Mestre da Força do Tibet, lembremos o Conde Cagliostro, que ainda vive, e Saint-Germain, que em 1939 visitou outra vez a Europa. Este Saint-Germain trabalhou ativamente nos séculos 17, 18 e 19 e, entretanto, continua a existir fisicamente, é um Mestre Ressurrecto.
Por que são Mestres Ressurrectos? Porque, graças ao Cristo Íntimo, obtiveram a Ressurreição. Sem o Cristo Íntimo, a Ressurreição não seria possível.
Aqueles que supõem que pelo simples fato de morrer fisicamente alguém já tem direito à Ressurreição dos Mortos são realmente dignos de compaixão; falando outra vez em estilo socrático, não apenas ignoram mas, o que é ainda pior, ignoram que ignoram.
A Ressurreição é algo pelo qual se tem de trabalhar, e trabalhar aqui e agora, e é preciso ressuscitar em carne e osso (e ao vivo). A Imortalidade deve-se conseguí-la agora mesmo, pessoalmente; assim se deve considerar todo o Mistério Crístico.
Todo o Drama Cósmico é em si mesmo extraordinário, maravilhoso, e se inicia realmente com o Natal do Coração.
O que vem a seguir relacionado com o Drama, a fuga para o Egito, quando Herodes manda matar todos os meninos e Ele tem de fugir, tudo é simbólico, totalmente simbólico.
Dizem (num Evangelho Apócrifo) que Jesus, José e Maria tiveram de fugir para o Egito, tendo permanecido vários dias vivendo sob uma figueira, e que desta figueira saiu um manancial de água puríssima - é preciso saber compreender isto : esta figueira representa sempre o sexo; dizem ainda que se alimentavam do fruto desta figueira, os frutos da Árvore da Ciência do Bem e do Mal. A água que corria puríssima, que saía desta figueira, é nada menos que o Mercúrio da Filosofia Secreta.
Quanto à decapitação dos inocentes, muito se tem escrito sobre isso. Nicolas Flamel deixou gravadas nas portas do cemitério de Paris cenas retratando a degola dos inocentes. Por que essa cruel degola dos inocentes? Não obstante, isto é também muito alquímico, todo Iniciado tem de passar pela decapitação.
Mas o que é que o Cristo Íntimo tem de decapitar em nós? Simplesmente deve degolar o Ego, o Eu, o Si Mesmo, e o sangue que emana da decapitação é o Fogo, é o Fogo Sagrado pelo qual o Iniciado tem de purificar-se, limpar-se, branquear-se; tudo isso é profundamente esotérico, nada pode ser tomado "ao pé da letra".
A seguir vêm os feitos milagrosos do grande Mestre. Caminhava sobre as águas, [como] sobre as Águas da Vida tem de caminhar o Cristo Íntimo. Abrir a visão dos que não vêem, predicando a palavra para que vejam a luz; abrir os ouvidos dos que não querem ouvir, para que escutem a palavra.
Quando o Senhor já cresceu no Iniciado, tem de tomar a palavra e explicar a outros o que é o caminho, limpar os leprosos; não há ninguém que não esteja leproso, essa lepra é o Eu pluralizado, essa é a epidemia que todos levam dentro de si, a lepra da qual devemos ser limpos.
Os que estão paralíticos não caminham ainda pela Senda da Auto-Realização, o Filho do Homem deve curar os paralíticos para que andem rumo à montanha do Ser.
Há que compreender tudo isto de forma mais íntima, mais profunda; isto não corresponde a um passado remoto, é para ser vivido dentro de nós mesmos aqui e agora.
Se começamos a amadurecer um pouquinho, saberemos apreciar melhor a mensagem que o Grande Kabir Jesus trouxe à Terra.
Em todo caso, precisamos passar por Três Purificações, à base de ferro e fogo - este é o significado dos Três Cravos da Cruz. E a palavra INRI diz muito. Já sabemos que INRI esotericamente é o Fogo; necessitamos passar pelas Três Purificações à base de ferro e fogo antes de conseguir a Ressurreição, do contrário seria impossível lográ-la.
Aquele que ressuscita se transforma radicalmente, se converte num Deus-Homem, é um Hierofante da estatura de um Hermes, um Quetzalcoatl ou um Buda.
Mas é necessário fazer a Grande Obra. Realmente, não se poderia entender os quatro Evangelhos se não se estudasse Alquimia e Cabala, porque [os Evangelhos] são alquimistas e cabalistas, isto é óbvio.
Os judeus tinham três livros sagrados. O primeiro é o corpo da doutrina, a Bíblia. O segundo é a alma da doutrina, o Talmud, no qual está a alma nacional judaica. E o terceiro é o espírito da doutrina, o Zohar, onde está toda a Cabala dos rabinos.
A Bíblia, o corpo da doutrina, está escrita sob chave. Se queremos estudar a Bíblia "compaginando versículos", procedemos de forma ignorante, empírica e absurda.
Prova disto é que todas as seitas mortas que, até a época atual, se nutriram da Bíblia interpretada de forma empírica, não puderam entrar em acordo. Se existem milhares de seitas baseadas na Bíblia, quer dizer que nenhuma delas a compreendeu.
As chaves para a interpretação estão no Zohar, escrito por Simeon Ben Iochai, o grande rabino iluminado. Aí encontramos as chaves para interpretar a Bíblia. Então, é necessário "abrir" o Zohar.Texto de V.M. Samael Aun Weor.
domingo, 1 de dezembro de 2013
Os Três Fios do Cordel do Destino.
Para os gregos, havia três Fados que teciam o cordel da vida. Para aquele que conhece a Sabedoria, há também três Fados, cada um deles tecendo um fio, sendo os três fios que eles tecem retorcidos em um, formando a resistente corda do Destino, que prende ou solta a vida do homem sobre a Terra. Esses três Fados não são as mulheres, as Parcas, da lenda grega, e sim as três forças da Consciência humana: o Poder da Vontade, o Poder do Pensamento e o Poder da Ação. São esses os Fados que torcem os fios do destino humano, e eles estão dentro do homem, e não fora. O destino do homem é autoconstruído; não é imposto arbitrariamente do exterior; seus próprios poderes, encequecidos pela ignorância, torcem a corda que os entrava, e seus próprios poderes, dirigidos pelo conhecimento, liberam seus membros dos grilhões autocompostos e deixam-no livre da escravidão.
O mais importante desses três Poderes é o Poder de pensar; homem quer dizer pensador; é uma raiz sânscrita, e dela deriva-se o inglês man, idêntico à raiz sânscrita, o alemão Mann, o francês homme, o italiano uomo, o português homem, etc. O cordel do pensamento é tecido de qualidades morais e mentais, e essas qualidades formam, na sua totalidade, o que chamamos de caráter. Essa conexão de pensamento e caráter é reconhecida nas escrituras de todos os povos. Na Bíblia lemos: “Tal como o homem pensa, assim ele é.” Essa é a Lei geral. Mais particularmente: “O que olhar para uma mulher com lascívia já cometeu adultério com ela em seu coração.” Ou: “O que odeia a seu irmão é um assassino.” Dentro desse mesmo espírito, declara uma escritura hindu: “O homem é criado pelo pensamento; naquilo que um homem pensa, ele se torna.” Ou: “Um homem consiste em sua crença; o que ele crê ele é.” O rationale, nesses fatos, é que quando a mente está voltada para um pensamento específico e demora-se nele, instala-se uma vibração definida da matéria e, quanto maior for a frequência dessa vibração, mais ela tende a repetir-se, a se tornar um hábito, a se fazer automática. O corpo segue a mente e imita as suas mudanças; se concentramos nosso pensamento, os olhos tornam-se fixos, os músculos tensos; um esforço para recordar é acompanhado pelo franzir da testa; os olhos movem-se de cá para lá, quando procuramos recuperar uma expressão perdida; ansiedade, amor, cólera, impaciência, todos têm o seu acompanhamento apropriado. A sensação que dá a um homem a tendência de atirar-se de uma altura é a tendência do corpo que representa o pensamento da queda. O primeiro passo para a criação deliberada do caráter está, portanto, na escolha deliberada do que pensaremos, e então no pensar persistentemente na qualidade escolhida. Não se passará muito tempo para surgir uma tendência que mostre essa qualidade. Em pouco tempo esse exercício se tornará um hábito. Entreteçamos o fio do pensamento em nosso destino, e chegaremos a ter um caráter inclinado a todas as finalidades nobres e úteis. Aquilo em que pensamos é aquilo em que nos tornamos. O Pensamento faz o caráter.
O Poder da vontade é o segundo Fado, e tece um fio forte para o cordão do destino. Mostra-se como desejo, desejo de possuir, que é amor, atração, em inúmeras formas; desejo de repelir, que é ódio, repulsa, afastando o que nos é indesejável. Tão verdadeiramente como o ímã atrai e prende o ferro, nosso desejo atrai para nós o que desejamos possuir e manter como nosso. O forte desejo de fortuna e de sucesso traz essas coisas ao nosso alcance; o que desejamos ter, firme e persistentemente, teremos, mais cedo ou mais tarde. Fantasias fugidias, indeterminadas, mutáveis, têm uma força de atração muito fraca, mas o homem de vontade firme obtém o que deseja. Esse fio da vontade traz-nos os objetos do desejo e a oportunidade de obtê-los. A Vontade dá a oportunidade e atrai objetos.
O terceiro fio é tecido pelo Poder de agir, e esse é o fio que traz para o nosso destino a direção da felicidade ou do sofrimento. Conforme agimos em relação aos que nos rodeiam, eles reagem em relação a nós. O homem que espalha felicidade em torno de si, sente a felicidade fluindo sobre ele próprio. Aquele que torna os outros infelizes, sente a reação da infelicidade sobre ele próprio. Sorrisos produzem sorrisos, carrancas produzem carrancas; a pessoa irritada desperta irritação em outras. A Lei do tecido desse fio é: Nossas ações afetam os outros e causam reação de natureza semelhante em nós.
Esses são os fios que fazem o destino, porque fazem o caráter, a oportunidade e o ambiente; eles não são cortados de todo pela morte, mas estendem-se para as outras vidas. O fio do pensamento nos dá o caráter com que viemos ao mundo; o fio da vontade dá ou retira oportunidades, faz-nos “com sorte” ou “sem sorte”; o fio da ação dá-nos condições físicas favoráveis ou desfavoráveis. Do que estamos semeando, colheremos; do que estamos tecendo, assim será, no futuro, o cordão do destino. O Homem é o Criador do seu Futuro; o Homem é o Construtor do seu Destino; o Homem é o seu próprio Fado.
Autor: Annie Besant.
O Enigma do Amor e do Ódio..
Entre nós, a grande maioria das pessoas tem uma vida que apresenta uma série de embaraços e de quebra-cabeças que não pode resolver. Por que as pessoas nascem tão diferentes em capacidade mental e moral? Por que uma criança tem um cérebro que denota grande poder intelectual e moral, enquanto outra tem um cérebro que a torna marcada para ser um idiota ou um criminoso? Por que uma criança tem pais bons e amorosos, bem como circunstâncias favoráveis, enquanto outra tem pais desregrados, que a detestam, e é criada em ambiente dos mais abomináveis? Por que uma dessas crianças é feliz e a outra é desafortunada? Por que uma delas morre velha e a outra morre jovem? Por que uma pessoa é impedida, por “incidente”, de tomar um navio ou um trem que sofrerá um desastre, enquanto dezenas ou centenas de outras perecem sem socorro? Por que gostamos de uma pessoa no momento em que a vemos, enquanto, com a mesma rapidez, não gostamos de outra? Perguntas como essas são feitas continuamente, e também, continuamente, não têm respostas, embora essas respostas estejam ao nosso alcance. Porque essas incongruências aparentes, essas injustiças, esses acontecimentos, que vemos como fortuitos, são apenas os resultados do trabalho de algumas leis naturais, simples e fundamentais. A compreensão dessas leis subjacentes torna a vida inteligível, restaurando, portanto, a nossa confiança na ordem divina e dotando-nos de força e coragem para enfrentar as vicissitudes da sorte. Transtornos que sobre nós caem, como “flechas lançadas do céu”, são duros de suportar, mas transtornos surgidos de causas, isso, podemos entender e, conseqüentemente, controlar e enfrentar com paciência e resignação.
O primeiro princípio que devemos assimilar com firmeza, a fim de podermos aplicá-lo para resolver os problemas da vida, é o da Reencarnação. O homem é, essencialmente, um Espírito, um indivíduo vivo e autoconsciente, consistindo essa vida autoconsciente em um corpo de matéria muito sutil. A vida não pode agir sem uma espécie qualquer de corpo, isto é, sem uma forma de matéria, por muito fina e sutil que essa matéria possa ser, que lhe dá existência separada neste Universo. Portanto, o corpo muitas vezes é mencionado como veículo que carrega a vida, fazendo-a individual. Esse Espírito, ao vir para o mundo físico, reveste-se de um corpo físico, como um homem veste o casaco e põe o chapéu para sair de sua própria casa. Mas o corpo físico não é o homem, tal como o casaco e o chapéu não são o corpo que os usa. Assim como um homem descarta roupas antigas e passa a usar novas, o Espírito descarta um corpo usado e reveste-se de outro (Bhagavad Gita). Quando o corpo físico está por demais usado, o homem passa pelos portões da morte, deixando as vestes físicas e entrando no mundo “invisível”. Depois de um longo período de repouso e de refrigério, durante o qual as experiências da vida terrena anterior são assimiladas, aumentando, assim, os poderes do homem, ele retorna ao mundo físico através dos portões do renascimento e toma um novo corpo físico, adaptado para a expressão de sua capacidade aumentada. Quando, há milênios, Espíritos que deviam fazer-se humanos vieram para o mundo, não passavam de embriões, como sementes, nada sabendo do bem nem do mal, com infinitas possibilidades de desenvolvimento — pois que eram rebentos de Deus — mas sem qualquer poder real, a não ser o de vibrar fracamente aos estímulos externos. Todos os poderes latentes que viviam dentro dele tiveram de ser despertados para a manifestação ativa, através de experiências obtidas no mundo físico. Pelo prazer e pela dor, pela alegria e pelo sofrimento, pelo sucesso e pelo fracasso, pelo gozo e pelo desapontamento, pelas sucessivas escolhas, bem ou mal feitas, o Espírito aprende suas lições e suas leis, que não podem ser rompidas, e manifesta, lentamente, uma a uma, suas possibilidades mentais e sua vida moral. Depois de cada breve mergulho no oceano da vida física — esse período geralmente conhecido como “a vida” —, ele retorna ao mundo invisível carregado das experiências que reuniu, tal como o mergulhador sai do mar com as pérolas que arrancou dos bancos de ostras. Nesse mundo invisível, ele transforma em poderes morais e mentais o que reuniu na vida que terminou, transformando aspirações em capacidade de obter, mudando os resultados de esforços que falharam em forças para futuros sucessos, mudando as lições dos erros em repulsa pelas ações erradas e a soma de experiências em sabedoria. Como bem escreveu Edward Carpenter: “Todas as dores que sofri num corpo se transformaram em poderes que exerci no seguinte.”
Quando tudo quanto se recolheu é assimilado — a extensão da vida celeste depende da quantidade de material moral e mental coletado —, o homem retorna à Terra. Em condições que logo serão explicadas, ele é guiado para a raça, a nação, a família que lhe deve dar o seu próximo corpo físico, e esse corpo é moldado de acordo com as suas necessidades, de forma a servir como instrumento feito para as suas possibilidades ou como limitação que expresse a sua deficiência. Em seu novo corpo físico, e na vida do mundo invisível que se segue ao descartar dele pela morte, que o destrói, ele retoma, em nível mais alto, um, ciclo semelhante, e assim repetidamente, durante centenas de vidas, até que todas as suas possibilidades como ser humano se tenham tornado poderes ativos e ele tenha aprendido todas as lições que a vida humana pode ensinar. Assim, o Espírito se desenvolve da infância para a juventude, da juventude para a maturidade, tornando-se uma vida individualizada de força imortal e de ilimitada utilidade para o serviço divino. Os espíritos lutadores e expandidos de uma humanidade tornam-se os guardiões da próxima humanidade, as Inteligências espirituais que guiam a evolução dos mundos posteriores ao seu próprio tempo. Somos protegidos, ajudados e instruídos por Inteligências espirituais que foram homens em mundos mais velhos do que o nosso, bem como pelos homens mais desenvolvidos da nossa própria humanidade. Pagaremos nossa dívida protegendo, ajudando e ensinando raças humanas em mundos que agora estão nos primeiros estágios do seu desenvolvimento, preparando-se para se tornar, depois de incontáveis eras, as moradas dos homens futuros. Se encontramos, em torno de nós, muita gente ignorante, estúpida, e mesmo brutal, limitada tanto nos poderes mentais como morais, é porque se trata de homens mais jovens do que nós, irmãos mais jovens, daí a razão para que seus erros devam ser tratados com amor e assistência, em lugar de amargura e ódio. Tais como são, fomos nós no passado; tais como somos, serão eles no futuro, e tanto eles como nós seguiremos adiante, sempre adiante, através de intermináveis idades.
Este, então, é o princípio fundamental que torna a vida inteligível, quando aplicado às condições do presente; a partir disso, entretanto, só posso completar aqui, com detalhes, a resposta a uma das perguntas feita acima, isto é, por que gostamos de uma pessoa e sentimos aversão por outra, logo à primeira vista; mas todas as outras perguntas serão respondidas da mesma forma. Para respostas completas, entretanto, temos de entender o princípio gêmeo da Reencarnação — o do Carma ou Lei da Causação.
Podemos fazer isso em palavras que são conhecidas de todos: “O que o homem semeia, isso ele colherá.” Ampliando esse curto axioma, compreendemos, com ele, que o homem forma o seu próprio caráter, tornando-se aquilo que ele pensa, e que ele produz as circunstâncias de sua vida futura pelos efeitos de suas ações sobre os outros. Assim, se eu penso com nobreza, irei aos poucos me tornando uma personalidade nobre, mas, se penso com baixeza, uma personalidade baixa será formada. “O homem é criado pelo pensamento; o que ele pensa durante uma vida, ele se torna na outra” — diz uma escritura hindu. Se a mente lida continuamente com uma sucessão de pensamentos, forma-se um canal, para o qual as forças do pensamento correm automaticamente, e esse hábito de pensamento sobrevive à morte, e, como pertence ao Ego, é levado para a vida subsequente na Terra, como capacidade e tendência de pensamento. O estudo habitual de problemas abstratos, para dar um exemplo bem claro, resultará, em outra vida terrena, numa capacidade bem desenvolvida para o pensamento abstrato; enquanto pensamentos volúveis, irrefletidos, voando de um assunto para outro, irão resultar numa mente inquieta, mal-regulada, para o próximo nascimento no mundo. A egoística cobiça pelas posses de outros, embora jamais levada à trapaça ativa no presente, faz o ladrão de uma vida terrena posterior, enquanto o ódio e o desejo de vingança, secretamente mantidos, são as sementes das quais brotam os assassinos. Assim, repetimos, o amor sem egoísmo produz como colheita o filantropo e o santo, e cada pensamento de compaixão ajuda a construir a natureza terna e piedosa própria de quem é “amigo de todas as criaturas”. O conhecimento dessa lei de imutável justiça, de exata resposta da Natureza a cada demanda, capacita o homem para construir a própria personalidade com toda a certeza da ciência, e a olhar para o futuro com corajosa paciência, divisando o nobre tipo que aos poucos, e com segurança, está desenvolvendo.
Os efeitos das nossas ações sobre os outros modelam as circunstâncias exteriores de uma vida terrena subsequente. Se tivermos sido causa de ampla felicidade, nasceremos em ambiente físico muito favorável ou iremos encontrá-lo durante a vida, enquanto a causa de ampla miséria resulta em ambiente infeliz. Nós nos relacionamos com as outras pessoas tendo contato com elas individualmente, e são forjados laços pelos benefícios e pelos prejuízos, os laços de ouro do amor ou as cadeias de ferro do ódio. Isso é Carma. Com essas ideias complementares mantidas com clareza em nossa mente, podemos responder com muita facilidade à nossa pergunta.
Os laços entre Egos, entre Espíritos individualizados, não podem ser antecipados quanto à primeira separação desses Espíritos em relação ao Logos, tal como as gotas não podem ser separadas do oceano. Nos reinos mineral e vegetal, a vida que se expressa em pedras e plantas ainda não evoluiu para uma existência continuamente individualizada. O termo “alma grupal” tem sido usado para expressar a ideia dessa vida em evolução, quando anima uma quantidade de organismos físicos semelhantes. Assim, toda a ordem, de plantas, digamos, como forrageiras, umbelíferas ou rosáceas, é animada por uma só alma grupal, que evolui em virtude de simples experiências reunidas através de suas incontáveis incorporações físicas. As experiências de cada planta fluem para a vida que atinge toda a sua ordem, e ajudam e apressam a sua evolução. Quando as incorporações físicas se tornam mais complexas, subdivisões instalam-se na alma grupal, e cada subdivisão, lenta e gradualmente, se separa; o número de incorporações pertence a cada subgrupo assim formado e diminui à proporção que essas subdivisões aumentam. No reino animal, esse processo de especialização das almas grupais continua, e nos mamíferos superiores um grupo relativamente pequeno de criaturas é animado por uma única alma grupal, porque a Natureza está trabalhando para a individualização. As experiências reunidas em cada um deles são preservadas na alma grupal, e dali afetam cada animal recém-nascido que a ela está ligado. Isso aparece no que chamamos instintos e é encontrado em recém-nascidos. Assim, é o instinto que leva um pinto mal saído da casca a correr à procura de proteção contra o perigo sob a asa aquecida da galinha e impele o castor a construir sua represa. As experiências acumuladas de suas espécies, preservadas na alma grupal, chegam a cada membro do grupo. Quando o reino animal alcança suas mais altas expressões, as subdivisões finais da alma grupal animam apenas uma criatura isoladamente, até que, por fim, a vida divina se derrame nesse veículo, agora pronto para recebê-la, dando nascimento ao Ego humano e dando início à evolução da inteligência autoconsciente.
A partir do momento em que uma vida separada anima um corpo isolado, pode-se estabelecer o vínculo com outras vidas separadas, cada uma igualmente habitando um tabernáculo de carne isolado. Os Egos, habitando corpos físicos, entram em contato uns com os outros; talvez uma simples atração física reúna dois Egos que habitam, respectivamente, corpos masculinos e femininos. Eles vivem juntos, têm interesses comuns e assim o vínculo se estabelece. Se é possível usar esta expressão, eles contraem dívidas um com o outro, e na Natureza não há tribunais para falências, tribunais onde esses compromissos possam ser cancelados. A morte fere um corpo, depois o outro e os dois passam para o mundo invisível; porém, as dívidas contraídas no plano físico têm de ser resgatadas no mundo a que pertencem, e aqueles dois têm de se encontrar novamente na vida terrena, e renovar a ligação que foi rompida. As grandes Inteligências que administram a lei do Carma guiam os dois para o renascimento no mesmo período de tempo, de forma que suas existências terrenas possam sobrepor-se e, na devida ocasião, eles se encontram. Se o débito contraído foi um débito de amor e de serviço mútuo, eles irão sentir-se atraídos um pelo outro; os Egos se reconhecem, como dois amigos se reconhecem, embora estejam usando roupas novas, e apertam-se as mãos, não como estranhos, mas como amigos. Se o débito foi de ódio e de injúrias, eles se evitam com uma sensação de repulsa, cada qual reconhecendo um antigo inimigo, olhando-se ambos através do abismo dos males feitos e recebidos. Casos desse tipo devem ser conhecidos de todos os leitores, embora a causa subjacente não tenha sido reconhecida. Na verdade, essas simpatias e antipatias súbitas têm sido consideradas, levianamente, como “infundadas”, como se, num mundo que obedece a uma lei, algo pudesse existir sem uma causa. Isso não quer dizer que Egos assim ligados venham a renovar esse vínculo com o exato relacionamento rompido aqui pela mão da morte. O marido e a esposa de uma vida terrena podem nascer na mesma família, como irmão e irmã, como pai e filho, como pai e filha ou com qualquer outro relacionamento de sangue. Ou podem nascer como estranhos, e se encontrarem pela primeira vez na juventude ou na maturidade, sentindo um pelo outro uma dominadora atração.
Em quão pouco tempo nos relacionamos intimamente com aquele que era um estranho, enquanto vivemos anos ao lado de outros, dos quais permanecemos alheados em nosso coração! De onde vêm essas afinidades, se não são recordações, nos Egos, de amores do seu passado? “Sinto como se tivesse conhecido você toda a minha vida” — dizemos a um amigo de poucas semanas, enquanto outros, que conhecemos durante toda a nossa vida, são para nós como livros fechados. Os Egos se conhecem, embora os corpos sejam estranhos, e os velhos amigos apertam-se as mãos com perfeita confiança e entendimento de parte a parte. E isso se dá, embora os cérebros físicos ainda não tenham aprendido a receber aquelas impressões da memória que existe nos corpos sutis, mas que são finas demais para causar vibrações na matéria grosseira do cérebro e, assim, despertar frêmitos de consciência perceptíveis no corpo físico.
Às vezes, o vínculo, sendo de ódio e de malquerença, reúne antigos inimigos na mesma família, para redimir pelo sofrimento os maus resultados de um passado comum. Terríveis tragédias familiares têm suas raízes profundas no passado, e muitos dos fatos temíveis, como a tortura de crianças indefesas, mesmo pelas próprias mães, a maligna ferocidade que inflige dor a fim de gozar com o espetáculo da agonia — tudo se torna inteligível quando sabemos que a alma daquele corpo jovem infligiu, no passado, algum horror sobre o que agora o atormenta, e está aprendendo, através dessa terrível experiência, como são duros os sistemas errados.
Na mente de alguns pode surgir a pergunta: “Se isso é verdade, devemos salvar a criança?” Seguramente, sim, devemos. É nosso dever suavizar o sofrimento, onde quer que o encontremos, felizes por ter a Boa Lei nos escolhido para seus distribuidores de misericórdia.
Outra pergunta pode ser feita: “Como podem ser rompidos esses vínculos do Mal? A tortura infligida não formará novos vínculos, pelos quais os pais cruéis virão a ser vítimas, e a criança torturada se faça o opressor?” “O ódio, em tempo algum, cessa pelo ódio” cita o Senhor Buda, conhecedor da Lei. Mas murmura o segredo da liberação quando continua: “O ódio cessa pelo amor.” Quando o Ego que pagou sua dívida do passado, sofrendo o mal que causou, for bastante sensato, corajoso e grande para dizer, entre a agonia do corpo e da mente: “Eu perdoo” — então ele cancela o débito que pode ter imposto ao seu antigo inimigo, e o vínculo forjado pelo ódio dissolve-se para sempre no fogo do amor.
Os vínculos do amor se fortalecem em cada vida terrena sucessiva, na qual os que assim se vincularam apertam-se as mãos e têm o acréscimo da vantagem de se tornarem mais fortes durante a vida no céu, para onde os vínculos do ódio não podem ser levados. Egos que têm dívidas de ódio entre si não se relacionam um com o outro no plano celeste, mas cada qual faz todo o bem que tiver em si, sem entrar em contato com o seu desafeto.
Quando o Ego consegue imprimir no cérebro de seu corpo físico sua própria lembrança do passado, então essas lembranças levam os Egos a se fazerem ainda mais próximos, e o laço ganha um sentido de segurança e de força como vínculo algum de uma só vida pode dar. Muito profunda e feliz é a confiança desses Egos, que sabem, por experiência própria, que o amor não morre.
Essa é a explicação das afinidades e repulsas, vistas à luz da Reencarnação e do Carma.
Autor: Annie Besant.
Assinar:
Postagens (Atom)