contos sol e lua

contos sol e lua

segunda-feira, 9 de junho de 2014

“Dá-me a flauta e canta!” – Gibran .

“Dá-me a flauta e canta!” – Gibran Na floresta não existe nem rebanho, nem pastor Quando o inverno caminha, segue seu distinto curso como faz a primavera Os homens nasceram escravos daquele que repudia a submissão Se ele um dia se levanta, lhes indica o caminho, com ele caminharão Dá-me a flauta e canta! O canto é o pasto das mentes, e o lamento da flauta perdura mais que rebanho e pastor Na floresta não existe ignorante ou sábio Quando os ramos se agitam, a ninguém reverenciam O saber humano é ilusório como a cerração dos campos que se esvai quando o sol se levanta no horizonte Dá-me a flauta e canta! O canto é o melhor saber, e o lamento da flauta sobrevive ao cintilar das estrelas Na floresta só existe lembrança dos amorosos Os que dominaram o mundo e oprimiram e conquistaram, seus nomes são como letras dos nomes dos criminosos Conquistador entre nós é aquele que sabe amar Dá-me a flauta e canta! E esquece a injustiça do opressor Pois o lírio é uma taça para o orvalho e não para o sangue Na floresta não há crítico nem sensor Se as gazelas se perturbam quando avistam companheiro, a águia não diz: ‘Que estranho’ Sábio entre nós é aquele que julga estranho apenas o que é estranho Ah, dá-me a flauta e canta! O canto é a melhor loucura e o lamento da flauta sobrevive aos ponderados e aos racionais Na floresta não existem homens livres ou escravos Todas as glórias são vãs como borbulhas na água Quando a amendoeira lança suas flores sobre o espinheiro, não diz: ‘Ele é desprezível e eu sou um grande senhor’ Dá-me a flauta e canta! Que o canto é glória autêntica, e o lamento da flauta sobrevive ao nobre e ao vil Na floresta não existe fortaleza ou fragilidade Quando o leão ruge não dizem: ‘Ele é temível’ A vontade humana é apenas uma sombra que vagueia no espaço do pensamento, e o direito dos homens fenece como folhas de outono Dá-me a flauta e canta! O canto é a força do espírito, e o lamento da flauta sobrevive ao apagamento dos sóis Na floresta não há morte nem apuros A alegria não morre quando se vai a primavera O pavor da morte é uma quimera que se insinua no coração Pois quem vive uma primavera é como se houvesse vivido séculos Dá-me a flauta e canta! O canto é o segredo da vida eterna, e o lamento da flauta permanecerá após findar-se a existência.

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