domingo, 5 de julho de 2015
O Místico.
Uma Viagem Fora do Corpo
Seguindo a via iniciática rosacruciana, Francisco Marques Rodrigues alcançou o apuro das faculdades mentais e físicas em grau que lhe permitiu o despojamento, a imaculação das deficiências que subjugam o Eu às eventualidades do espaço e do tempo pelas limitações que decorrem do uso do corpo físico. Realizando os seus exercícios espirituais, que têm como premissa última o desenvolvimento das energias e capacidades na plenitude do que genuinamente somos, mobilizou capacidades que lhe permitiram contrariar essa limitação, atingindo um estádio de consciência que permitia transpor os condicionamentos corporais: podia delivrar à vontade o corpo físico e, nessa serena e inteira desvinculação do veículo denso, manter mobilizadas as suas faculdades psíquicas, capaz de adquirir uma consciência holoística abstida das aparências enganadoras impostas pela limitação do espaço.
Na vida de Marques Rodrigues aconteceram pelo menos duas destas viagens do espírito, que ocorreram em tempos muito diferentes.
Eis um dos relatos, notável pela distância geográfica entre as localidades, Lisboa e Maputo, ex-Lourenço Marques, em Moçambique.
Aurora da Liberdade Figueiredo residia, desde Setembro de 1976, em Maputo. Vivia no Bairro do Alto Maé. Espírito metódico, muito pragmático, anotava tudo pormenorizadamente no seu diário. Aurora de Figueiredo sofria atrozmente de um problema circulatório de um membro inferior que lhe provocava dores lancinantes.
Depois da independência daquela colónia as dificuldades agravaram-se. Tudo escasseava e, naturalmente, a assistência médica digna desse nome estava reduzida ao mínimo. Para agravar a situação Aurora de Figueiredo residia num andar de um prédio em que há muito os elevadores tinham deixado de funcionar, obrigando-a a um retiro tão indesejado quando doloroso e prolongado.
Em 1987, no auge de uma das suas habituais crises, quase em desespero, Aurora de Figueiredo lembrou-se insistentemente de Francisco Marques Rodrigues. Pensou telefonar-lhe. A sua ajuda seria inestimável. Se ao menos estivesse em Lisboa, onde os recursos eram diferentes... Algum tempo depois, ocupada em resolver assuntos relacionados com a sua vida profissional, arrastava-se com dores no seu flat, de uma assoalhada para outra. Exausta, e quase em desespero, senta-se na esperança de a crise diminuir. Momentos depois Cocky, o cão de raça Cocker, agita-se. Reage, inquieto, como se ali estivesse alguém estranho. O seu nervosismo incomoda Aurora de Figueiredo que olha em redor, intrigada com a inquietação do animal e vê, claramente, Francisco Marques Rodrigues. Reconhece-lhe os traços fisionómicos e até pormenores do vestuário. Levanta-se na ânsia de cumprimentar o visitante. Ouviu um familiar "Viva". Surpresa, tenta acalmar Cocky, que permanece inquieto perante aquela presença estranha ao ambiente familiar. O sentimento inicial de Aurora de Figueiredo, de satisfação, deu lugar a um certo embaraço quando se lembrou de estar longe de Lisboa. E nem sequer havia aberto a porta. Perplexa, recostou-se novamente e fechou os olhos em recolhimento. Teve uma estranha, intensa e agradável sensação de frescura na sua perna e, pouco depois, desapareceram todas as dores.
Retomou logo a sua actividade normal. No dia seguinte, a 17 de Agosto, expede uma carta para Lisboa pormenorizando o sucedido. No dia imediato Francisco Marques Rodrigues tem idêntica iniciativa. Envia-lhe algumas palavras de conforto e aconselha o seu regresso urgente a Lisboa.
Aurora de Figueiredo regressaria, efectivamente, em 22 de Junho 1988. Ficou acamada desde fins de Abril de 1991, vindo a falecer em 4 de Novembro desse ano.
Aurora de Figueiredo vivia nesse tempo com a filha, Maria Laura Sampaio que leccionava no Liceu Salazar. Acumulava as funções lectivas com as de Directora Administrativa, mas conseguia arranjar tempo para acompanhar a mãe nos momentos mais difíceis. Esclareceu-nos alguns pormenores interessantes: o cão, o local da residência, etc. As fotografias da época pertencem ao seu arquivo pessoal.Francisco Marques Rodrigues.[ Revista rosacrus. nº 368 - Jun / 2003 ]
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