quarta-feira, 26 de março de 2025
A Fuga - Clarice Lispector | Conto Completo...
Começou a ficar escuro e ela teve medo. A chuva caía sem tréguas e as calçadas brilhavam úmidas à luz das lâmpadas. Passavam pessoas de guarda-chuva, impermeável, muito apressadas, os rostos cansados. Os automóveis deslizavam pelo asfalto molhado e uma ou outra buzina tocava maciamente.
Quis sentar-se num banco do jardim, porque na verdade não sentia a chuva e não se importava com o frio.
Só mesmo um pouco de medo, porque ainda não resolvera o caminho a tomar. O banco seria um ponto de repouso. Mas os transeuntes olhavam-na com estranheza e ela prosseguia na marcha.
Estava cansada. Pensava sempre: "Mas que é que vai acontecer agora?" Se ficasse andando. Não era solução.
Voltar para casa? Não. Receava que alguma força a empurrasse para o ponto de partida. Tonta como estava, fechou os olhos e imaginou um grande turbilhão saindo do "Lar Elvira",
Você também pode gostar:
Leia na Fantástica os Melhores Contos de Clarice Lispectoraspirando-a violentamente e recolocando-a junto da janela, o livro na mão, recompondo a cena diária. Assustou-se. Esperou um momento em que ninguém passava para dizer com toda a força: "Você não voltará." Apaziguou-se.
Agora que decidira ir embora tudo renascia. Se não estivesse tão confusa, gostaria infinitamente do que pensara ao cabo de duas horas: "Bem, as coisas ainda existem." Sim, simplesmente extraordinária a descoberta. Há doze anos era casada e três horas de liberdade restituíam-na quase inteira a si mesma: — primeira coisa a fazer era ver se as coisas ainda existiam. Se representasse num palco essa mesma tragédia, se apalparia, beliscaria para saber-se desperta. O que tinha menos vontade de fazer, porém, era de representar.
Não havia, porém, somente alegria e alívio dentro dela. Também um pouco de medo e doze anos.
Atravessou o passeio e encostou-se à murada, para olhar o mar. A chuva continuava. Ela tomara o ônibus na Tijuca e saltara na Glória. Já andara para além do Morro da Viúva.
O mar revolvia-se forte e, quando as ondas quebravam junto às pedras, a espuma salgada salpicava-a toda. Ficou um momento pensando se aquele trecho seria fundo, porque tornava-se impossível adivinhar: as águas escuras, sombrias, tanto poderiam estar a centímetros da areia quanto esconder o infinito. Resolveu tentar de novo aquela brincadeira, agora que estava livre. Bastava olhar demoradamente para dentro d'água e pensar que aquele mundo não tinha fim. Era como se estivesse se afogando e nunca encontrasse o fundo do mar com os pés. Uma angústia pesada. Mas por que a procurava então?
A história de não encontrar o fundo do mar era antiga, vinha desde pequena. No capítulo da força da gravidade, na escola primária, inventara um homem com uma doença engraçada. Com ele a força da gravidade não pegava... Então ele caía para fora da terra, e ficava caindo sempre, porque ela não sabia lhe dar um destino. Caía onde? Depois resolvia: continuava caindo, caindo e se acostumava, chegava a comer caindo, dormir caindo, viver caindo, até morrer. E continuaria caindo? Mas nesse momento a recordação do homem não a angustiava e, pelo contrário, trazia-lhe um sabor de liberdade há doze anos não sentido. Porque seu marido tinha uma propriedade singular: bastava sua presença para que os menores movimentos de seu pensamento ficassem tolhidos. A princípio, isso lhe trouxera certa tranquilidade, pois costumava cansar-se pensando em coisas inúteis, apesar de divertidas.
Agora a chuva parou. Só está frio e muito bom. Não voltarei para casa. Ah, sim, isso é infinitamente consolador. Ele ficará surpreso? Sim, doze anos pesam como quilos de chumbo. Os dias se derretem, fundem-se e formam um só bloco, uma grande âncora. E a pessoa está perdida. Seu olhar adquire um jeito de poço fundo. Água escura e silenciosa. Seus gestos tornam-se brancos e ela só tem um medo na vida: que alguma coisa venha transformá-la. Vive atrás de uma janela, olhando pelos vidros a estação das chuvas cobrir a do sol, depois tornar o verão e ainda as chuvas de novo. Os desejos são fantasmas que se diluem mal se acende a lâmpada do bom senso. Por que é que os maridos são o bom senso? O seu é particularmente sólido, bom e nunca erra. Das pessoas que só usam uma marca de lápis e dizem de cor o que está escrito na sola dos sapatos. Você pode perguntar-lhe sem receio qual o horário dos trens, o jornal de maior circulação e mesmo em que região do globo os macacos se reproduzem com maior rapidez.
Ela ri. Agora pode rir... Eu comia caindo, dormia caindo, vivia caindo. Vou procurar um lugar onde pôr os pés...
Achou tão engraçado esse pensamento que se inclinou sobre o muro e pôs-se a rir. Um homem gordo parou a certa distância, olhando-a. Que é que eu faço? Talvez chegar perto e dizer: "Meu filho, está chovendo." Não. "Meu filho, eu era uma mulher casada e sou agora uma mulher." Pôs-se a caminhar e esqueceu o homem gordo.
Abre a boca e sente o ar fresco inundá-la. Por que esperou tanto tempo por essa renovação? Só hoje, depois de doze séculos. Saíra do chuveiro frio, vestira uma roupa leve, apanhara um livro. Mas hoje era diferente de todas as tardes dos dias de todos os anos. Fazia calor e ela sufocava. Abriu todas as janelas e as portas. Mas não: o ar ali estava, imóvel, sério, pesado. Nenhuma viração e o céu baixo, as nuvens escuras, densas.
Como foi que aquilo aconteceu? A princípio apenas o mal-estar e o calor. Depois qualquer coisa dentro dela começou a crescer. De repente, em movimentos pesados, minuciosos, puxou a roupa do corpo, estraçalhou-a, rasgou-a em longas tiras. O ar fechava-se em torno dela, apertava-a. Então um forte estrondo abalou a casa. Quase ao mesmo tempo, caíam grossos pingos d'água, mornos e espaçados.
Ficou imóvel no meio do quarto, ofegante. A chuva aumentava. Ouvia seu tamborilar no zinco do quintal e o grito da criada recolhendo a roupa. Agora era como um dilúvio. Um vento fresco circulava pela casa, alisava seu rosto quente. Ficou mais calma, então. Vestiu-se, juntou todo o dinheiro que havia em casa e foi embora.
Agora está com fome. Há doze anos não sente fome. Entrará num restaurante. O pão é fresco, a sopa é quente. Pedirá café, um café cheiroso e forte. Ah, como tudo é lindo e tem encanto. O quarto do hotel tem um ar estrangeiro, o travesseiro é macio, perfumada a roupa limpa. E quando o escuro dominar o aposento, uma lua enorme surgirá, depois dessa chuva, uma lua fresca e serena. E ela dormirá coberta de luar...
Amanhecerá. Terá a manhã livre para comprar o necessário para a viagem, porque o navio parte às duas horas da tarde. O mar está quieto, quase sem ondas. O céu de um azul violento, gritante. O navio se afasta rapidamente... E em breve o silêncio. As águas cantam no casco, com suavidade, cadência... Em torno, as gaivotas esvoaçam, brancas espumas fugidas do mar. Sim, tudo isso!
* * *
Mas ela não tem suficiente dinheiro para viajar. As passagens são tão caras. E toda aquela chuva que apanhou, deixou-lhe um frio agudo por dentro. Bem que pode ir a um hotel. Isso é verdade. Mas os hotéis do Rio não são próprios para uma senhora desacompanhada, salvo os de primeira classe. E nestes pode talvez encontrar algum conhecido do marido, o que certamente lhe prejudicará os negócios.
Oh, tudo isso é mentira. Qual a verdade? Doze anos pesam como quilos de chumbo e os dias se fecham em torno do corpo da gente e apertam cada vez mais. Volto para casa. Não posso ter raiva de mim, porque estou cansada. E mesmo tudo está acontecendo, eu nada estou provocando. São doze anos.
Entra em casa. É tarde e seu marido está lendo na cama. Diz-lhe que Rosinha esteve doente. Não recebeu seu recado avisando que só voltaria de noite? Não, diz ele.
Toma um copo de leite quente porque não tem fome. Veste um pijama de flanela azul, de pintinhas brancas, muito macio mesmo. Pede ao marido que apague a luz. Ele beija-a no rosto e diz que o acorde às sete horas em ponto. Ela promete, ele torce o comutador.
Dentre as árvores, sobe uma luz grande e pura.
Fica de olhos abertos durante algum tempo. Depois enxuga as lágrimas com o lençol, fecha os olhos e ajeita-se na cama. Sente o luar cobri-la vagarosamente.
Dentro do silêncio da noite, o navio se afasta cada vez mais......
Este conto é parte do livro Primeiras Histórias.
quinta-feira, 20 de março de 2025
MEDITAÇÃO E AMOR .
Toda a vida é feita de polaridades: positivo e negativo, nascimento e morte, homem e mulher, dia e noite, verão e inverno. Toda a vida consiste em opostos polares. Mas esses opostos não são apenas polares, são também complementares. Eles se ajudam um ao outro, dão apoio um ao outro.
Eles são como tijolos que formam uma arcada. Os tijolos de uma arcada têm que ser colocados uns contra os outros. Parecem estar um contra o outro, mas é por meio da oposição deles que a arcada é construída, que ela permanece firme. A resistência da arcada depende da polaridade dos tijolos colocados em oposição uns aos outros.
Esta é a polaridade máxima: meditação significa a arte de estar sozinho e amor significa a arte de estar junto. A pessoa completa é aquela que conhece ambas as artes e é capaz de se mover de uma para a outra com a maior facilidade possível. E exatamente como a inspiração e a expiração - não há dificuldade. Elas são opostas - quando vocês inspiram o ar, é um processo; quando expiram o processo é exatamente o oposto. No entanto, inspiração e expiração formam uma respiração completa.
Na meditação, vocês inspiram; no amor, expiram. Com o amor e a meditação juntos, sua respiração estará completa, inteira, total.
Durante séculos, as religiões tentaram atingir um pólo com a exclusão do outro. Existem religiões de meditação como, por exemplo, o jainismo e o budismo - são religiões meditativas, estão enraizadas na meditação. E existem religiões bhakti, religiões de devoção: o sufismo, o hassidismo - que estão enraizadas no amor. A religião baseada no amor precisa de Deus como o 'outro' a quem amar, a quem rezar. Sem um Deus, a religião de amor não consegue existir, é inconcebível - vocês precisam de um objeto de amor. Porém, uma religião de meditação consegue existir sem o conceito de Deus; essa hipótese pode ser descartada. Por isso o Budismo e o Jainismo não acreditam em Deus algum. Não há necessidade de um outro. A pessoa tem apenas que saber como ficar só, como permanecer silenciosa, como ficar quieta, como estar absolutamente calma e quieta dentro de si mesma. O outro tem que ser completamente abandonado, esquecido. Por isso, essas são religiões atéias.
Quando pela primeira vez os teólogos ocidentais entraram em contato com as literaturas budistas e jainistas, eles ficaram bastante confusos: como chamar de religião a essas filosofias atéias? Poderiam ser chamadas de filosofias, mas como chamá-las de religião? Isso era inconcebível para os teólogos, pois as tradições judaico e cristã consideram que, para alguém ser religioso, Deus é a hipótese mais fundamental. A pessoa religiosa é aquela temente a Deus, mas os budistas e jainistas dizem que não existe Deus; Assim a questão de temer a Deus não existe.
No Ocidente, durante milhares de anos, pensava-se que a pessoa que não acreditava em Deus era um ateu, não era uma pessoa religiosa. Mas Buda era ateu e religioso. Essa idéia soava muito estranha para os ocidentais porque eles nem sequer imaginavam que existiam religiões que tinha como base a meditação.
E o mesmo é verdadeiro para os seguidores de Buda e Mahavira. Eles riem da tolice das outras religiões que acreditam em Deus, porque essa idéia como um todo é absurda. É apenas fantasia, imaginação, nada mais; é uma projeção. Mas para mim, ambas são, ao mesmo tempo, verdadeiras.
Minha compreensão não está baseada em um único polo; minha compreensão é fluida. Eu saboreei a verdade de ambos os lados: eu amei totalmente e meditei totalmente. Esta é a minha experiência: a de que uma pessoa está completa só quando conhece os dois polos. Senão, ela é apenas uma metade; algo fica faltando nela.
Buda é uma metade - Jesus também. Jesus conhecia o que é o amor, Buda conhecia o que é a meditação; mas, se eles se encontrassem, seriam impossível se comunicarem entre si. Um não compreenderia a linguagem do outro. Jesus falaria sobre o reino de Deus e Buda começaria a rir: 'Que absurdo é esse que você está dizendo? O reino de Deus?' Buda diria apenas: 'Cessação do eu, desaparecimento do eu'. E Jesus: 'Desaparecimento do eu? Cessação do eu? Isso é cometer suicídio, o suicídio máximo. Que espécie de religião é essa? Fale do Eu Supremo!'
Um não entenderia as palavras do outro. Se alguma vez eles tivessem se encontrado, precisariam de um homem como eu como intérprete; caso contrário não haveria comunicação entre eles. Eu teria de interpretar de tal maneira que acabaria sendo infiel a ambos! Jesus falaria em 'reino de Deus', que eu traduziria por 'nirvana' - então Buda poderia entender. Buda diria 'nirvana' e, para Jesus, eu diria 'reino de Deus' - então ele poderia compreender.
Agora a humanidade precisa de uma visão total. Nós já vivemos com visões parciais por muito tempo. Essa foi uma necessidade do passado, mas agora o homem amadureceu. Os meus sannyasins têm de provar que podem meditar e rezar ao mesmo tempo; que podem meditar e amar ao mesmo tempo; que podem estar tão silenciosos quanto possível e que podem celebrar e dançar tanto quanto possível. Seu silêncio tem de se tornar a sua celebração, e sua celebração tem que se tornar o seu silêncio. Eu lhes dei a tarefa mais difícil que já foi dada a um discípulo, porque esse é o encontro dos opostos.
E nesse encontro, todos os outros opostos vão se fundir e tornar-se um: Oriente e Ocidente, homem e mulher, matéria e consciência, este mundo e o outro mundo, vida e morte. Todos os opostos vão se encontrar e fundir-se por meio desse encontro, pois essa é a polaridade máxima; ela contém todas as polaridades.
Esse encontro criará um novo ser humano - Zorba, o Buda. Esse é o nome que eu dou ao novo homem. E cada um dos meus sannyasins precisa fazer todos os esforços possíveis para se transformar nessa liquidez, nesse fluxo, de modo que os dois polos façam parte deles.
Assim, vocês terão sentido o gosto da totalidade. E conhecer a totalidade é o único meio para se conhecer o que é o sagrado. Não há outro meio"
OSHO, Autobiografia de um Místico Espiritualmente Incorreto
EGO, O FALSO CENTRO .OSHO.
O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.
Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso.
Nascimento significa vir a esse mundo: o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo. Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu.
Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também é o 'outro', também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa maneira que a criança cresce.
Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma.
Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz 'você é bonita', se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Assim, um ego começa a nascer.
Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito.
E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo.
Primeiro a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas.
O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não.
O verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.
O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá à escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com as outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionando algo ao seu ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você não se torne um problema para a sociedade.
Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão.
Assim, estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro...
Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento.
A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível.
E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o ego dado pela sociedade.
Uma criança volta para casa. Se ela foi o primeiro lugar de sua sala, a família inteira fica feliz. Você a abraça e beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado.
O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção.
Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta.
É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele.
Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso - é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você é.
Os outros deram-lhe a idéia. E essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos.
Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas...
Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo.
Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa.
E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo.
Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca - e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.
Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido.
Por um certo tempo, todos os limite ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.
Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua alma, o eu.
Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência.
É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas...
O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um indivíduo?
O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa? E esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos para sofrer...
E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo.
Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém.
Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão.
As causas não estão fora de você.
A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?'
Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego.
E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido.
Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde'...
Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece.
E então você nunca diz: 'eu abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o criador de toda essa infelicidade...
É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.
Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.
Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca.
Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo... e então o verdadeiro centro surge.
E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir."
OSHO, Além das Fronteiras da Mente.
A Força.Por CHRISTIAN BERNARD.
De um ponto de vista tradicional, dizemos que o homem foi criado à imagem de Deus. Ele recebeu, então, no momento de sua criação, “a força”. No plano místico, esta força é sua aptidão para concentrar cada um de seus pensamentos, de suas palavras e de suas ações na direção do Absoluto divino. Ela representa o estado de consciência o qual denominamos de “estado Crístico”, de “estado Búdico” e de outros nomes mais. Pessoalmente, o chamarei “estado Rosacruz”.
A força à qual me refiro é perfeitamente ilustrada na narrativa alegórica de Davi e Golias. Esta é uma profunda ilustração de seu poder. O jovem Davi, com a ajuda de um seixo, faz tombar o gigante Golias, acertando-o mortalmente na fronte. Quando sabemos que o futuro rei Davi simboliza o poder da espiritualidade, neste conto, e Golias o poder da materialidade, compreendemos melhor a que ponto o pensamento vence a matéria. Isto mostra que a nossa força não deve ser aquela do corpo, mas sim a da alma.
Encontramos uma outra ilustração deste princípio na décima primeira carta do tarô, onde a força é simbolizada por uma jovem mulher a qual, apenas com suas mãos, mantém aberta a boca de um leão. É evidente que a força aqui representada nada tem de física. Aí também ela simboliza a supremacia da força da alma sobre a do corpo. Isto não significa que a energia corporal não possa servir a alguma finalidade espiritual: exatamente o contrário. Com efeito, o corpo e suas funções servem de veículo à alma e lhe permitem evoluir no contato com o mundo material.
Ao falarmos, utilizamos os órgãos da voz para exprimir aquilo em que pensamos. Nesse momento, requisitamos uma parte de nossa força física. A melhor prova é que a intensidade de nossas palavras está intimamente ligada ao nosso estado mental e emocional do momento. Assim, quando estamos exasperados ou em cólera, temos a tendência, conforme se diz familiarmente, de levantar a voz, isto é, de concentrar em nossa voz uma força maior do que a habitual. Ao contrário, quando estamos em prece, de uma maneira que não mentalmente, as palavras que pronunciamos se perdem num vago sussurrar.
A força de nossas palavras reflete com frequência o nosso estado interior, ou seja, o nosso estado de alma. O mesmo se aplica aos movimentos que fazemos. Por exemplo, um ato ritual nada tem a ver com um gesto de ira. O interesse desta relação corpo-mente-alma reside no fato de que podemos agir e reagir sobre nosso estado interior, observando a intensidade da força que manifestamos em nosso comportamento.
Para retornar ao exemplo da cólera, o fato de tomar consciência de que falamos muito alto e que nossos gestos são discordantes deveria nos incitar a agir mentalmente sobre nós mesmos para nos acalmarmos. Infelizmente, por falta de vontade e de mestria, não é sempre que pensamos fazê-lo. Inversamente, quando fazemos nossas preces ou meditamos, nos devotamos a permanecer calmos e descontraídos, a fim de estarmos receptivos interiormente.
Assim, creio que a força do ser humano reside não apenas em seu poder de concentração mental, mas também em sua aptidão de dominar aquilo que diz e faz, isto é, suas palavras, seus gestos e suas ações. Agindo assim, ele coloca todo o seu ser a serviço da alma que evolui por meio dele e contribui positivamente para sua evolução espiritual. Essa tomada de consciência é a chave mestra da verdadeira força e do domínio de si mesmo.
Que a força esteja sempre em você e que ela lhe ajude a atravessar a vida com sucesso e serenidade.
terça-feira, 18 de março de 2025
A Irmandade Invisível.Huberto Rohden
Desde que me encontrei com o Grande Anônimo,
Me tornei anônimo do meu velho ego,
Esse ego faminto de nomes...
E ingressei na Fraternidade Branca
Dos irmãos anônimos,
Incolores,
Amorfos,
Invisíveis,
Onipresentes...
Ingressei na mística "ekklesía"
Dos arautos da Divindade,
Das vestais do Fogo Sagrado.
Que operam no mundo inteiro,
Em todos os universos do Cosmos.
Mas ninguém os conhece,
Esses anônimos,
Envoltos no manto branco
Do eterno silêncio,
De inefável beatitude...
Onde quer que haja uma dor
A ser suavizada,
Uma alegria
A ser compartilhada,
Onde quer que agonize
Um coração chagado,
Lá estão os Irmãos Anônimos
Da Fraternidade Branca...
Nenhum monumento ostenta seus nomes,
Nenhuma estátua perpetua seus atos,
Nenhum obelisco lhes canta as glórias,
Nenhum poema celebra a grandeza
Desses invisíveis arautos do bem,
Dessas alvas vestais do amor...
Somente nas páginas brancas
Do livro da vida eterna
Estão escritos seus nomes,
Com as tintas da reticência,
Em perpétuo anonimato...
Suas obras ocultam sempre
Suas pessoas...
A presença do seu visível "agir"
Coincide com a ausência do seu invisível "ser"...
Porque anônimos como Deus
São esses ignotos filhos de Deus,
Benéficos raios solares
Do Grande Sol do universo,
Sempre ausente de mim
E sempre presente a Ti...
Na Tua longínqua transcendência,
Na Tua propínqua imanência...
Desde que me encontrei com o grande Anônimo
Me tornei anônimo do meu eu humano,
Eclipsado por seu Tu divino,
Pelo eterno Eu divino
Em mim...
segunda-feira, 17 de março de 2025
A Provação do Peregrino....Maria Coriel.
Todos vivemos várias provações ao longo da nossa existência terrena, períodos mais ou menos longos, em que somos assolados por diversas experiências bastante dolorosas; podemos citar a título de exemplo a perda de um ente querido, a falência de uma empresa, uma separação conjugal, algo intenso que provoca no indivíduo tristeza, instabilidade, insegurança, incerteza, lançando o ser numa crise profunda que atinge todas as áreas do seu ser, incluindo o seu lado espiritual.
Os estudantes das várias correntes espirituais sabem que nada funciona por acaso e que tudo o que nos é dado viver tem um sentido oculto. Vários são os caminhos tomados face a estes períodos. Surge na maioria uma desorientação que, progressivamente, origina uma desconexão com o seu lado espiritual, até se perderem no nevoeiro e tempestades da vida. Podem deambular durante uma vida, desperdiçando oportunidades evolutivas, desmotivados, descrentes, longe do Sentido que inicialmente buscavam.
Alguns costumam ficar obcecados com o passado longínquo e detêm-se em procurar ligações cármicas, buscando o fio antigo de sentidos; normalmente, tal é a obstinação por este trilho que rapidamente se perdem em mistificações ou deambulam em teias de fértil imaginação; outros refugiam-se numa atitude triste e submissa, aceitando o pesado destino com resignação.
Entre o nevoeiro e a luz outros há que, após fases sucessivas de quedas e de recomeços, vão perdendo e reencontrando o caminho que procuravam, num balanço entre o afastamento e o retorno.
Poucos são os que nunca perdem de vista o farol interior que os ilumina, ainda que se percam nos caminhos e atalhos da vida. Para todos a provação pode ser vista sob várias faces ou todas numa só:
— funciona como uma prova às capacidades do peregrino, no fundo, um teste a aprendizagens anteriores;
— necessidade de mudar de rumo, fazer novas escolhas difíceis, porém adequadas ao novo momento evolutivo;
— necessidade de redefinir os sonhos, os objectivos de vida; novas aprendizagens estão na forja.
Todos sentem que nesses momentos há determinadas aprendizagens – vontade, discernimento, pensamento positivo – que se afinam ou comportamentos que se adoptam, a disciplina, por exemplo; sentem também que há capacidades novas que emergem. Todas estas capacidades e atitudes podem tornar-se as nossas âncoras, mas só uma se afigura na provação como o nosso refúgio e salvação: a oração, esse fio de luz que nos liga à nossa Casa, nos devolve aos braços do Criador num breve alento para novas batalhas.
Qualquer situação, por mais distorcida que se afigure, não tem mais força do que o poder de uma oração sincera e a nossa persistência nesse acto ajudará a ultrapassar qualquer provação, visível ou invisível, a seu tempo.
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
Os Ventos.
Parti com os ventos
Pelas rotas do mundo,
Em busca de encantos
Dos longes sem fim...
Que das brumas chamam
Que das névoas nascem...
Voei com os ventos,
Entrei pelas brumas
Deixando, sem mágoa,
Precisos contornos,
Arestas cortantes
Das físicas coisas...
Nas brumas, nas névoas
Que os encantos fazem
Pelos longes sem fim,
Encontrei meu sonho
Brilhando e vivendo,
Dizendo meu nome,
Chamando por mim...
Os ventos sabiam
Onde o encontrar
E, sem eu pedir,
Para lá me levaram
Por névoas e brumas,
Como por encanto
Como por amar...
Fiquei com meu sonho
Lá longe, nos longes
Que não têm fim...
Os ventos nos guardam
Nos trazem encantos...
Porque amam meu sonho,
São parte de mim...
Maria Ana Tavares
Causas de Algumas Doenças.
<
A histeria, a epilepsia, a tuberculose e o cancro são o resultado das tendências para uma vida desordenada em vidas pretéritas. Ao investigarmos as vidas passadas de alguns destes doentes verificámos que eles foram, na sua maioria, grandemente sensuais. Satisfizeram intensamente a sua lascívia de modo quase compulsivo – ainda que fossem, ao mesmo tempo, de natureza altamente devota e até religiosa. Identificaram-se distúrbios mentais em pessoas que tinham o corpo físico aparentemente saudável. Noutros casos, em que a natureza passional andava claramente associada a um carácter vil e a uma cruel falta de respeito pelos outros desenvolveu-se a epilepsia, o raquitismo, o histerismo ou mal-conformação do corpo. Em muitos deles verificou-se o aparecimento de cancros, especialmente no fígado e no tórax.
O leitor deverá evitar quaisquer conclusões apressadas considerando esta relação como regra invariável. É certo que fizemos inúmeras investigações, penosas para um único observador. Não podem, todavia, servir para uma conclusão definitiva sobre um assunto que se relaciona com milhões de seres humanos. Não obstante, estão de acordo com os ensinamentos do Conceito Rosacruz do Cosmo dado pelos Irmãos Maiores acerca dos efeitos do materialismo sobre os tecidos moles, que endurecem, como no caso da tuberculose, e nos tecidos duros, que se tornam frágeis, como no raquitismo.
Vejamos o caso das doenças cancerosas.
Se considerarmos que a Lua, o planeta da geração, é o regente do Caranguejo (Cancer), e que a esfera lunar é regida por Javé, o deus da geração, cujos anjos anunciam e presidem ao nascimento – como vemos nos casos de Isaque, Samuel, João Baptista e Jesus – não será difícil compreender a relação entre o abuso da função sexual, o cancro e as variadas formas conhecidas das doenças mentais”1.
“Aquele que tem uma vida sã, que se esforça por se amoldar e obedecer às divinas leis da harmonia, cria à sua volta urna barreira defensiva formada de pensamentos elevados. Tem, ao mesmo tempo, clara influência no ambiente que o rodeia. A sua mente e desenvolver-se-á com harmonia. E quando chegar a altura de preparar o novo corpo físico para a futura vida terrena, no Segundo Céu, estará, fácil e intuitivamente em perfeita sintonia com as forças do equilíbrio e da rectidão. O hábito anteriormente adquirido há-de permiti-lo facilmente.
Tal harmonia, assim impregnada no corpo, terá idêntico reflexo nos outros veículos. A saúde será, por conseguinte, o merecido prémio.
O Segundo Céu é um estado de consciência espiritual por que todos havemos de passar entre renascimentos.
Mas o certo é que ainda hoje o número de pessoas dispostas a viver inteiramente em harmonia com a verdade que já conhece, e a defendê-la publicamente pelo exemplo é muito pequeno. Compreende-se que assim seja. E era ainda mais reduzido noutros tempos, antes de Cristo haver estimulado o sentimento de altruísmo. As normas da moral também eram incipientes. O amor à verdade quase ignorado. A indiferença pelos interesses alheios praticamente total. Cada um lutava por si e para si. Apenas se procura a fortuna, o poder ou o prestígio pessoal. Tudo isto deu origem a arquétipos repletos de desarmonia. Desta desarmonia resultaram corpos físicos com enfermidades evidentes, em particular no Ocidente. Esta característica deve-se ao facto de, neste lado do mundo, os corpos densos serem cada vez mais sensíveis ao desenvolvimento da consciência do espírito”.
Compreende-se que a modificação de certos hábitos e modos de ver, aperfeiçoando sempre a nossa conduta, é condição essencial para uma vida longa e saudável.
Max Heindel1
O Manto dos Três Fios.
Desde tempos antigos que a Ciência Sagrada foi dividida em três áreas – Religião, Arte e Ciência – para que o Homem se tornasse mais sábio e pudesse finalmente compreender a Deus. O Conhecimento espartilhado permitiria uma assimilação lenta, mas efectiva do mesmo, bem como uma maior profundidade nas áreas acima mencionadas.
Os Senhores da Forma, pertencentes à Hierarquia de Escorpião, ajudam-nos nesta fase; porém esta assimilação faseada esconde os seus perigos, sendo o mais evidente a visão espartilhada e, portanto, parcial, que temos do que nos rodeia. Desde cedo, somos ensinados a conhecer um objecto não só através dos sentidos físicos, mas medindo, comparando, criticando, avaliando, tendo no final uma visão parcial, mais ou menos completa do mesmo, ou seja, adquirimos uma ideia ou várias sobre o nosso alvo, mas não conhecemos o nosso alvo em si mesmo, na totalidade.
No entanto, de retalho em retalho, cada um vai tecendo o seu próprio manto com três fios (Religião, Arte e Ciência), até que no final de tal lenta e laboriosa tarefa, o mesmo nos possa envolver na viagem de regresso a Casa, libertando-nos, por fim, do ciclo do renascimento.
Neste momento, o nosso tear move-se lentamente, com paragens e recomeços perturbados; os fios emaranhados impedem o tear de trabalhar de forma serena e equilibrada. Porque escolhemos habitar um tempo de rápidas mudanças, com as quais temos bastante dificuldade em lidar, o que nos causa sofrimento e angústia.
Cabe a cada um procurar desembaraçar os novelos; cultivar em sua própria vida o seu lado espiritual, descobrir o seu talento e tornar-se mais conhecedor do mundo que nos rodeia. De nada nos servirá pedir para Deus nos mostrar o nosso talento pois só obteremos silêncio; no entanto, Deus dar-nos-á a oportunidade de descobri-lo. De nada servirá pedir a Deus para nos ajudar a desenvolver o nosso lado espiritual; porém, dar-nos-á a oportunidade de o fazer. E assim sucessivamente...
Esta atitude torna-nos atentos às oportunidades diárias, aos acontecimentos mais comezinhos que somos convidados a viver, a descobrir-lhes o sentido; torna-nos activos e responsáveis pelas nossas escolhas, pois só pela experiência nos tornaremos sábios, em suma, transformamo-nos em seres cada vez mais conscientes. Dito de uma outra forma, viver de forma responsável, activa e atenta potencia a expansão da nossa consciência.
Neste ano novo que se aproxima, Deus não construirá o nosso manto, mas dar-nos-á oportunidade de recomeçar o lento caminhar do nosso tear, nas diversas áreas da nossa vida. Saiba cada um tecer o seu com suavidade, deixando que os dedos sintam os três fios dos novelos: amor, criatividade e sabedoria.
Maria Coriel..
A Provação do Peregrino.
Todos vivemos várias provações ao longo da nossa existência terrena, períodos mais ou menos longos, em que somos assolados por diversas experiências bastante dolorosas; podemos citar a título de exemplo a perda de um ente querido, a falência de uma empresa, uma separação conjugal, algo intenso que provoca no indivíduo tristeza, instabilidade, insegurança, incerteza, lançando o ser numa crise profunda que atinge todas as áreas do seu ser, incluindo o seu lado espiritual.
Os estudantes das várias correntes espirituais sabem que nada funciona por acaso e que tudo o que nos é dado viver tem um sentido oculto. Vários são os caminhos tomados face a estes períodos. Surge na maioria uma desorientação que, progressivamente, origina uma desconexão com o seu lado espiritual, até se perderem no nevoeiro e tempestades da vida. Podem deambular durante uma vida, desperdiçando oportunidades evolutivas, desmotivados, descrentes, longe do Sentido que inicialmente buscavam.
Alguns costumam ficar obcecados com o passado longínquo e detêm-se em procurar ligações cármicas, buscando o fio antigo de sentidos; normalmente, tal é a obstinação por este trilho que rapidamente se perdem em mistificações ou deambulam em teias de fértil imaginação; outros refugiam-se numa atitude triste e submissa, aceitando o pesado destino com resignação.
Entre o nevoeiro e a luz outros há que, após fases sucessivas de quedas e de recomeços, vão perdendo e reencontrando o caminho que procuravam, num balanço entre o afastamento e o retorno.
Poucos são os que nunca perdem de vista o farol interior que os ilumina, ainda que se percam nos caminhos e atalhos da vida. Para todos a provação pode ser vista sob várias faces ou todas numa só:
— funciona como uma prova às capacidades do peregrino, no fundo, um teste a aprendizagens anteriores;
— necessidade de mudar de rumo, fazer novas escolhas difíceis, porém adequadas ao novo momento evolutivo;
— necessidade de redefinir os sonhos, os objectivos de vida; novas aprendizagens estão na forja.
Todos sentem que nesses momentos há determinadas aprendizagens – vontade, discernimento, pensamento positivo – que se afinam ou comportamentos que se adoptam, a disciplina, por exemplo; sentem também que há capacidades novas que emergem. Todas estas capacidades e atitudes podem tornar-se as nossas âncoras, mas só uma se afigura na provação como o nosso refúgio e salvação: a oração, esse fio de luz que nos liga à nossa Casa, nos devolve aos braços do Criador num breve alento para novas batalhas.
Qualquer situação, por mais distorcida que se afigure, não tem mais força do que o poder de uma oração sincera e a nossa persistência nesse acto ajudará a ultrapassar qualquer provação, visível ou invisível, a seu tempo.
Maria Coriel..
O Corpo de Pecado – A Autopossessão..
Há uma região (a inferior do Mundo do Desejo) que é o ambiente em que se movem os espíritos errantes. Neste plano eles estabelecem uma íntima ligação com as pessoas "vivas" que sejam mais facilmente influenciáveis. Geralmente, permanecem nestas condições durante cinquenta, sessenta ou setenta e cinco anos. Já observámos casos em que tais infelizes permaneceram séculos no ambiente físico. Tanto quanto foi possível investigar, parece não haver limite para o que possam fazer. Nem se pode prever, com segurança, quando possam deixar de actuar, por obsessão ou sugestão. Deste comportamento resulta uma tremenda responsabilidade da qual não poderão fugir, uma vez que o corpo vital reflecte e grava profundamente, no corpo de desejos, o registo de todas as acções. Quando, finalmente, abandonarem a vida errante, é que iniciam a existência purgatorial. E aí encontrarão o merecido castigo.
O sofrimento destas pessoas é, naturalmente, proporcional ao tempo em que estiveram nestas condições, depois da morte do corpo físico.
O corpo-de-pecado é o veículo formado pelos corpos vital e desejos amalgamados. Não se desintegra tão facilmente como os outros, quando é abandonado pelo espírito.
Quando este espírito renasce, atrai naturalmente o seu corpo-de-pecado. Vive com ele, geralmente, durante toda a vida, como um demónio. As investigações efectuadas revelam que este tipo de criaturas sem alma, eram abundantes nos tempos bíblicos. O Salvador referia-se-lhes chamando-lhes "demónios". São a causa de diversas obsessões e doenças físicas (erradamente atribuídas por vezes a outros espíritos). Ainda hoje, uma boa parte do Sul da Europa e Oriente é prejudicada pela sua influência. Em África, há tribos inteiras que, por causa das suas práticas de magia negra, arrastam consigo estes tenebrosos espectros. O mesmo se pode dizer dos indígenas da América do Sul.
No entanto, o mal não é um exclusivo dos povos menos desenvolvidos. Encontramos esses demónios mesmo entre os habitantes dos países ditos civilizados, no Norte da Europa e na América tanto do Norte como do Sul. A sua forma é, porém, menos repugnante do que nos casos atrás citados, frequentemente associados a práticas abomináveis.
A possibilidade de a guerra contribuir para que os corpos vital e de desejos se pudessem unir fortemente entre si preocupou-nos imenso tempos atrás. Poderia originar o nascimento de legiões de monstros que afligissem as gerações futuras. Concluímos, todavia, com satisfação, que esse receio era infundado. A cristalização do corpo vital e a sua forte ligação ao corpo de desejos só acontece como resultado da perversidade, da vingança premeditada e quando se alimentam estes sentimentos por muito tempo.
Os arquivos da Grande Guerra informam-nos até que, em alguns casos, os combatentes de ambos os lados, uma vez cessadas as hostilidades ou impedidos de permanecer em combate, se relacionavam normalmente sempre que para tal havia oportunidade.
Por isso, ainda que a guerra seja causadora de enorme mortalidade, mesmo infantil, não pode ser acusada, no entanto, das penosas consequências da obsessão nem dos crimes induzidos por esses tenebrosos corpos-de-pecado.
Os corpos-de-pecado abandonados permanecem normal e preferencialmente nas regiões etéreas inferiores. A sua densidade coloca-os no limiar da visão física. Algumas vezes materializam-se, atraindo alguns constituintes do ar, até se tornarem perfeitamente visíveis às suas vítimas.
Max Heindel..
segunda-feira, 20 de janeiro de 2025
O Tempo das Provas.
No último artigo1, vimos que nestes tempos assolados por crises individuais e colectivas, o ser sente-se perdido num mar cada vez mais abundante de desencanto e vazio de valores, com dificuldade em adaptar-se a um mundo cheio de mudanças rápidas e constantes.
As sombras que pairam no mundo visível ou invisível são desconhecidas da maioria das pessoas que habitam o plano físico, mas podem desencadear crises individuais e colectivas. Dito de uma outra forma, entidades doutros planos que não o físico podem estar no epicentro das nossas crises.
Essas forças exercidas sobre nós, muitas vezes, atribuímo-las aos outros, desde a elementos da nossa família, a colegas de trabalho, ao contexto social, ao local onde habitamos, entre outros.
Estes seres provêm, essencialmente, do Mundo do Desejo e dos seus respectivos planos. Tendo em conta que o ser não é composto apenas por matéria física, mas também é formado por substâncias de outros mundos, nomeadamente, do Mundo Mental e do Mundo do Desejo, estamos sempre em contacto com esses planos invisíveis e movemo-nos inconscientemente neles. Actuando neles, atraímos, desta forma, entidades que neles habitam e que estão em consonância com o nosso nível evolutivo e em sintonia com a nossa vibração base.
Esta influência estabelece-se, normalmente, pelas vias mental e emocional embora relativamente a esta última tal influência seja mais fácil e eficaz, através do estímulo do corpo de desejos.
Os nossos diversos estados de espírito atraem, por afinidade energética, vibratória e consequente nível evolutivo, em momentos igualmente diversos, diferentes tipos de entidades, por isso, devemos controlar e trabalhar sobre as nossas flutuações de humor e tentar mantermo-nos calmos e estáveis.
Também estamos mais sujeitos a essas influências nefastas em alguns momentos do que noutros, pois essas forças manifestam-se tendencialmente nos nossos tempos mais frágeis, quando estamos mais debilitados fisicamente e psiquicamente, doentes ou em fase de provação das nossas aprendizagens. É importante notar, ainda, que essas forças incidem sobre as fraquezas e debilidades que trazemos para evoluir.
Verificámos, deste modo, que as entidades que atraímos são sempre em função do nosso nível vibratório. Deste modo, quando temos pensamentos negativos, adaptamos práticas prejudiciais aos diversos corpos ou escolhemos circular em determinados meios de vibração baixa, estamos a enfraquecer a nossa vibração e, consequentemente, atraímos entidades que estão em sintonia com ela. Por vezes, a libertação desses estados não pode ser realizado individualmente, mas requer ajuda especializada.
Dificilmente, no nosso estado actual evolutivo, estamos completamente imunes a essas influências sombrias, mas podemos libertar-nos e construir uma “armadura espiritual”, através da purificação e fortalecimento dos nossos corpos. Isso poderá ser feito através de uma alimentação correcta, exercício físico, persistência em hábitos saudáveis (corpo físico e vital), escolha de pensamentos positivos (corpo mental), praticando boas acções, orando e meditando (corpo emocional). A reformulação de práticas e processos deve ter um carácter construtivo e não punitivo. É requerido um trabalho de introspecção constante, de atenção e de silêncio interior.
Também notamos a “olho nu” essa influência quando nos sentimos fatigados ao pé de alguém, com dor de cabeça ou entristecidos. Há seres mais sensíveis às influências alheias do que outros. O mesmo pode ser estendido aos ambientes que nos circundam.
Apesar deste breve artigo ter incidido sobre as influências nefastas nas nossas vidas de entidades do mundo supra-físico, também somos influenciados por via mental, positivamente, por entidades bondosas. Tanto num caso como noutro, notamos que nós atraímos seres em função do nosso nível evolutivo e não acima dele; isto de um modo geral e corrente, porém, nem sempre é assim. Note-se que o auxílio espiritual implica a aproximação de entidades de nível superior, ainda que não invocado por nós conscientemente. Também a oração tende, regra geral, a atrair seres de estatura, pelo menos moral, superior à do orante. Sabendo isto, estaremos libertos da ignorância, não tomando estas entidades por aquilo que elas não são.
Também existe uma ideia inexacta, por vezes, fantasiosa, acerca dos nossos guias pessoais (não nos referimos aqui aos “guias” da Humanidade, mencionados por Max Heindel). São seres que habitam no plano invisível, mas estes pertencem ao nosso nível evolutivo e não acima dele, pelo que também eles podem induzir-nos em erro, uma vez que o seu conhecimento é tão limitado quanto o nosso.
Também é necessário ainda referir que nem todos os seres que se encontram no plano invisível, mesmo ao nosso nível, são prejudiciais. Afinal de contas, Max Heindel afirma “que também os mortos nos ajudam a viver”, como diz o Conceito. Este assunto é igualmente abordado na carta ao estudante número 63, intitulada Mestres Espirituais, os Autênticos e os Falsos.
Por vezes, por desconhecimento, no dia-a-dia, ao acender velas, incensos e outros procedimentos semelhantes atraímos entidades que nos prejudicam. Estes produtos, devido à sua composição e características, atraem entidades que carecem de luz; pertencem normalmente ao plano inferior do Mundo do Desejo. Também a recitação repetitiva de determinados textos ou frases mais curtas pode afectar-nos, caso sejam diferentes do nosso nível vibratório. Persistindo em certas práticas nefastas, atraem-se entidades dos planos suprafísicos que se fazem passar por guias, santos e afins, afectando negativamente os corpos, a própria saúde e a evolução dos implicados.
Vive-se actualmente num contexto de desespero e de descrença propício à divulgação de conhecimentos distorcidos e à proliferação de falsos mestres, de rituais folclóricos, entre outros. Cegos uns, no plano físico, interagindo com outros cegos, no suprafísico, acabarão por voltar sempre mais enfraquecidos aos mesmos caminhos, por vezes, com danos irreversíveis na saúde, no caso do plano físico, com as expectativas goradas, representando um atraso evolutivo para todas as entidades envolvidas.
Não pensemos que as próprias instituições religiosas ou filosóficas estão imunes a estas influências. Se os seus membros adoptarem práticas contrárias ao nível vibratório em que essas instituições vibram, darão espaço a crises sérias pela falta de sintonia que geram. Não foi em vão que Max Heindel nos alertou para a importância e necessidade de disciplina nas instituições.
De tempos a tempos, também elas sofrem provações, circulando no seu seio ou querendo entrar nele seres ignorantes, ávidos de protagonismo, que põem à prova as capacidades e conhecimentos dos seus membros. Embora sabendo que a ignorância tem o seu tempo determinado, o facto é que podem prejudicar a evolução dos seus membros e o trabalho social das instituições2.
Os menos fortalecidos no plano espiritual e mais carentes de conhecimento deixar-se-ão iludir. Esta atitude fortalecerá, a longo prazo, a instituição porque afastará dela aqueles que não vibram na mesma sintonia ou ainda que vibrem, falta-lhes aperfeiçoar o discernimento e fortalecer a vontade, por isso, são elementos que, isoladamente, não prejudicam mas também não ajudam a fortalecer a égregora da instituição. Tal como os indivíduos, também as instituições necessitam de se limpar e purificar, a fim de se fortalecerem e continuarem a passar às gerações vindouras sabedoria espiritual sólida.
Maria Coriel.
Tempo perdido.
Jeanne Guesdon.
Charles Darwin (1809-1882) foi um dos maiores cientistas do último século. Sua obra fundamental sobre a origem das espécies teve, desde sua publicação, uma repercussão universal e orientou a biologia em caminhos novos e fecundos. Darwin baseou seus trabalhos em milhares de observações.
Teve, portanto, um trabalho enorme. No entanto, sua saúde não era boa; ele era fisicamente incapaz de um trabalho de muitas horas seguidas e, em suas memórias, confessa: “Nunca pude trabalhar mais de duas horas por dia.”
Duas horas? É bem pouco. Mas quando esse lapso de tempo foi repetido todo dia, realmente todo dia, ele permitiu fazer obra digna de admiração, um verdadeiro monumento de saber humano.
Chamamos sua atenção para o bom uso que cada um de nós pode e deve fazer do mais valioso dos tesouros: o tempo.
Quantas vezes ouvimos confidências do tipo: “Sim, eu gostaria muito de fazer progressos maiores, mas não tenho tempo”. Ao que podemos quase sempre responder, sem medo de errar; “Bem, esse tempo necessário ao estudo, você o tem, mas não sabe usá-lo. Você o desperdiça, você o joga fora. Sem nem mesmo se dar conta disto…”.
Pois, assim como gotas de água, milhares de vezes repetidas e caindo sempre no mesmo lugar, acabam vencendo a resistência do granito, assim também os minutos de estudo ou meditação, repetidos diariamente, nem que seja a razão de dez ou quinze minutos cada vez, farão de você um autêntico buscador da verdade, logo um Rosacruz.
Faça um exame sincero de seu uso do tempo diário e veja se não há um só quarto de hora por dia que você desperdice com conversas fúteis, leitura de revistas sem cultura etc.
Economizando esses momentos de tempo perdido, encontramos facilmente, mesmo que sejamos “terrivelmente ocupados”, aquele quarto de hora necessário ao estudo. E com a condição expressa de continuarmos todos os dias, sem nenhuma interrupção, de perseverarmos, faça chuva ou faça sol, é certo e seguro que podemos realizar um trabalho considerável e atingir nossos objetivos. Há também um meio mais sutil de perder tempo: é usá-lo pela metade, isto é, não nos dedicarmos completamente à tarefa que executamos, sendo que devemos nos entregar a ela por inteiro, não nos deixarmos distrair por nada, entrarmos inteiros naquilo que fazemos. O importante é uma atenção absoluta, que tenha de certo modo um valor magnético.
Naturalmente, tal resultado não se obtém num só dia. Mas a Ordem Rosacruz, AMORC vai, justamente, ensiná-lo a obter esse estado de concentração, no mínimo de tempo e com o máximo de eficiência.
Também é importante escolhermos para nossos momentos de estudo um tema relacionado às nossas possibilidades, aos nossos gostos. Se quiséssemos atacar uma tarefa árdua demais, possivelmente os fracassos nos cansariam e nos desestimulariam, ao passo que, se o esforço estiver à altura dos nossos meios, ele ampliará o campo de nossa ação. O crescente interesse vai também nos abrir novos horizontes de busca; o esforço inicial se tornará um prazer e dará o sentimento e a satisfação do dever cumprido, o que em geral proporciona, acima de tudo, paz e muitas vezes felicidade também.
Lembremos também que o tempo foge com rapidez. Nós marcamos sua passagem com medidas humanas, mas não podemos detê-lo. O minuto presente nem bem existe e logo outro chega, e é substituído pelo seguinte.
Dentre os momentos perdidos, esta mensagem mencionou as conversas fúteis. Uma pessoa rumina várias vezes aquilo que já disse… E para quê? Para se repetir! Outra, quando você lhe conta uma experiência vivida, um acontecimento qualquer, vai imediatamente relatar algo parecido com o que você acabou de falar. Ora, lembre-se de que aquilo que tem interesse pessoal para você muitas vezes não interessa à pessoa que está ouvindo. Na hora de falar, seria bom também lembrar-se de uma das lições rosacruzes que fala do esquecimento de si mesmo e da supressão do pronome “eu”.
Também nesse caso, há uma disciplina a ser seguida e um treinamento a ser feito; e, em vez de “colher flores ao longo da estrada da vida”, essa disciplina e esse treinamento o ajudarão a subir a encosta, mais penosa, da senda da montanha que conduz à iluminação.
O Labirinto
Adilio Jorge Marques.
Um dos conhecimentos Druídicos e pagãos mais importantes incorporados por nossa cultura abrange o estudo do simbolismo dos Labirintos e sua utilização na vida psicológica e mística. Entre eles, o dos Labirintos era de conhecimento não só dos Iniciados, como, também naquela época, do povo, que respeitava e sabia algumas das finalidades daquelas construções e representações simbólicas até o advento do cristianismo em terras do norte da Europa. Com a “Nova Mensagem” cristã, muitos desses antigos costumes e conhecimentos foram propositadamente abandonados ou deixados de lado pela nova explicação espiritual.
A existência de canais ou veias telúricas, por onde flui a energia da Mãe Terra, era de conhecimento dos povos antigos de um modo geral. Encontramos vestígios disto em todas as partes do mundo, mais principalmente onde hoje é a Grã-Bretanha e a França. Além dos marcos bem conhecidos destes pontos telúricos, como dólmens, menires etc., temos os Labirintos de pedra e, nos lugares ditos pagãos onde Catedrais foram construídas por cima, vemos dentro delas, como em Chartres, desenhos de Labirintos, como a nos relembrar os antigos tempos. Eles seguiam muitas vezes estes canais de energia telúrica, dando, assim, forma ao seu complexo de passagens e corredores. Porém, este é um conhecimento que não é aceito como explicação em nossos dias atuais.
Os Labirintos são encontrados em quase todas as Catedrais, e como muitos de nós certamente já o sabem, também em outros lugares ou templos diversos. A que eram destinados é motivo de questionamentos até os dias atuais para a ciência oficial. Acredita-se que continham funções iniciáticas e, até mesmo, exotéricas. Quanto a sua origem precisa, pode ser ainda mais difícil de dizer, pois até no Antigo Egito foram encontrados vestígios de Labirintos. Na Grécia fazia parte da cultura e da mitologia de seu povo, onde indicava obstáculos a serem superados para que se conseguisse alcançar determinado objetivo. Várias passagens mitológicas mostram isso, como o fio de Ariadne e a do Minotauro. Na Holanda a lenda de São Jorge é atribuída pelos antigos a este antigo conhecimento das linhas telúricas benfazejas, pois dizia-se que sua lança era a representação de um menir, tais forças da terra o dragão e o Santo era o homem Iniciado nos mistérios, detentor do conhecimento, que domina as energias da Natureza e as suas energias internas.
O Labirinto simboliza as dificuldades da Iniciação daquele que a requer. É o símbolo do lento progresso de seu pensamento, de suas provas, de seu retorno a si mesmo, ao seu interior, a fim de encontrar o que chamaríamos “o bom caminho”. Ou, o verdadeiro caminho da Alma. No início, o candidato desconhece a trilha a ser seguida, e o medo o envolve. Muitas vezes o candidato tem que retornar a um determinado ponto para poder seguir adiante. Ele mostra também, assim, os revezes da vida, assim como sua volta para tornar a partir sobre novas bases, mais sãs e mais seguras, após períodos de reflexões aprofundadas. Tudo isto são aspectos do que é necessário ao requerente à Iniciação onde aparece o Labirinto.
Neste sentido, os Labirintos desenhados nas Catedrais, sob uma forma mais curta e simbólica, nos indicam a representação de todas as dificuldades do caminho Iniciático. Podem ser provas físicas, ou não. Ou, até, os perigos reais da vida.
Com isto, os Labirintos deixam na eternidade o fato de que seu simbolismo místico continua atual até os dias de hoje e assim permanecerá aos Iniciados do amanhã.
O Quarto Mago que não era Rei
,
Manuel O. S. Pina –
Há cerca de dois mil anos atrás houve um estranho acontecimento astronômico: uns dizem que eram os planetas todos alinhados num cortejo brilhante em relação ao sol; outros contam que havia uma estrela refulgente movimentando-se do oriente e indicando um caminho. Não se sabe bem como foi, sabe-se apenas que naqueles dias nascia uma criança destinada a revolucionar o mundo.
Uns senhores que eram magos e a quem chamavam reis sabiam o que estava para acontecer, como o sabem sempre os homens sábios deste mundo. Deitaram-se ao caminho e procuraram essa criança para a adorar e lhe fazer ofertas – dizem que de ouro, incenso e mirra.
Houve um quarto mago, que não era rei, que ouviu falar dessa criança e foi também procurá-la. Mas não a encontrou. Procurou por todos os caminhos, todas as estradas e não a conseguiu encontrar. Mais tarde ouviu também falar de um homem a quem chamavam de Nazareno, mas não foi escutar as “Bem Aventuranças” nem esteve no Calvário.
Não tendo encontrado a criança nem ouvido o Homem do Sermão da Montanha, nem por isso deixou de usar Seu nome durante os séculos da história do Mundo que ajudou a construir. Pelejou em todas as batalhas. Bateu-se em todas as guerras “santas”; conheceu vitórias e derrotas, teve oportunidade de perdoar os seus inimigos e ser perdoado por estes, mas nenhum deles sabia o que era o perdão. Embarcou em todas as naus que cruzaram o planeta levando nas velas impresso em vermelho sangue o símbolo daquela Criança e daquele Homem que não conseguira encontrar, e nem lhe viu sequer o rosto nas mil faces estranhas que encontrou em todos os fins de mundo.
Construiu fortalezas e cidades, inventou tudo quanto havia a inventar, perscrutou as estrelas e estabeleceu teorias, prescreveu dogmas, doutrinas e receitas de felicidade. No entanto, continuava muito longe de vislumbrar o rosto daquela criança.
Contudo, a semente um dia deitada à terra crescia, expandia-se em mil ramos, no meio de agonias e desespero, entre as muitas fomes e os muitos sofrimentos. Resistia às calúnias e à intolerância, escondia-se no coração de alguns aonde humildemente ia florescendo, no lugar mais íntimo daqueles que, não sendo magos sentiam dentro de si aquela pequena luz, aquela centelha a pulsar.
Entretanto… alguém chorava e orava. Pedia pelos desprotegidos, pelos injustiçados, pelos famintos, pelos perseguidos, e também pedia pelo quarto mago que tinha todo o poder da riqueza, pedia piedade para com o seu coração endurecido e para que ele um dia pudesse despertar.
Os tempos chegaram em que o quarto mago que não era rei, depois de tudo saber e tudo poder, começou a sentir que afinal… pouco ou nada sabia e que o poder de pouco lhe valia para a sua alma esquecida em tantas andanças em busca de nada. À sua volta acumulavam-se os destroços do seu egoísmo. Tudo lhe parecia estéril, até o arco-íris lhe parecia cinzento.
A dúvida instalou-se no seu coração e sentiu nascer em si todas as angústias. Foi em busca de outros magos, que também não eram reis, que procuravam curar-lhe as mazelas do corpo, que da alma nada sabiam. Percorreu todas as igrejas, fez oferendas, tentou comprar a paz que lhe faltava a outros magos da ciência que do espírito nada entendiam. Lembrou-se então daquela criança e vestiu-a de vermelho, deu-lhe um ar de patriarca e chamou-a de Pai Natal. Fê-la entrar pelas chaminés ou percorrer os céus num trenó puxado por renas. Não sabendo adorar, substituiu o presépio pela árvore de luzes cintilantes das mil prendas com que se contentam todos os magos que não são reis.
Pode ser, que um dia destes, os planetas se alinhem de novo no capricórnio crístico ou que uma estrela venha dançar por sobre a Terra, indicando que a Esperança e o Amor podem ser renovados.
Pode ser, que desta vez, o mago que nunca foi rei, encontre o caminho que o seu coração rejubile e que suas mãos se abram em oferta de ouro, incenso e mirra para Aquele que veio para se instalar em nosso coração, para todo o sempre.
Assinar:
Postagens (Atom)