contos sol e lua

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segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A ESSENCIA DO VAMPIRO.


A Maldição condena os Vampiros a uma eternidade de busca pela sobrevivência, em um ambiente hostil onde apenas os mais fortes – ou mais espertos – sobrevivem. Todo Vampiro tem dentro de si a Besta, uma parte de sua alma com características destrutivas, egoístas e irracionais. Todo Vampiro sabe que sucumbir à Besta é a sua ruína, mas a maioria acaba não resistindo às tentações impostas por ela e fazendo exatamente o que ela quer. O Horror Pessoal em Vampiro reside justamente no fato da condenação eterna aos caprichos de uma entidade opressora que está dentro de si mesmo, na luta para conter ou domar o avanço dessa Besta, na necessidade de sobreviver a uma sociedade onde todos estão condenados pela mesma entidade que personifica a Maldição.
A Maldição da Estagnação
Quando um Vampiro é abraçado, a sua aparência geral torna-se preservada. Sem um fator vivo dentro do corpo, o Vampiro não envelhece, seus cabelos e unhas não crescem mais, e sem a utilização de um meio sobrenatural, torna-se impossível alterar essa aparência. A Maldição condena o Vampiro a ser uma criatura deslocada do tempo, e qualquer tentativa posterior de mudança que não utilize forças sobrenaturais fracassa. Piercings saltam para fora da pele após um dia de sono, e a tinta das tatuagens escorre para fora da pele. A barba e o cabelo cortados na noite anterior revertem misticamente ao tamanho e aparência que tinham na noite do abraço. Alterações permanentes só são possíveis com a influência sobrenatural, e mesmo os raros casos onde ocorre aumento de aparência após compra com pontos de experiência, podem ser considerados sobrenaturais.
Mas há algo mais na Maldição da Estagnação: ela não é apenas física. Os livros da linha de Vampiro que tratam especificamente de personagens anciões mostram que a estagnação se reflete nos gostos e costumes do Vampiro. Um ancião poderá até mesmo usar aparelhos modernos e roupas da moda, se render a equipamentos de segurança com tecnologia avançada, mas o que ele gosta mesmo é de se vestir e se comportar exatamente da mesma forma como era quando vivo. Ele poderá se render às necessidades do mundo moderno, mas isso será artificial, porque a maldição o prende ao passado, à época de seu abraço. Ele tenderá a usar a linguagem e gestos de sua época na maior parte das ocasiões, pois essa é uma restrição intrínseca à sua maldição: Vampiros estão parados no tempo, ou melhor, estão presos ao seu passado mortal de alguma forma. O ancião não conseguirá gostar de falar ao telefone, de usar e-mail nem roupas modernas, pois as mesmas destoam daquilo que ele tem dentro de si, que foi paralisado com o abraço: seus gostos, convicções e costumes.
Como seita, a Camarilla é composta e coordenada por Anciões. Em sua organização podemos ver quão forte a estagnação cultural atua nos Vampiros. A corte, os Elísios, a estrutura absolutista, tudo isso é uma herança da época da criação da seita. As Tradições da Camarilla não devem ser contestadas, elas são perfeitas porque funcionam bem desde aquela época. A forma como um Vampiro se comporta diante do outro, a estratificação, o status dentro da seita: tudo isso reflete o tradicionalismo da mesma, que é uma decorrência da estagnação imposta pela Maldição aos Vampiros que mandam nela. Mesmo dentro do Sabá, que foi criado para combater os Antigos e sua tirania absolutista, o que vemos entre os mais velhos é uma estrutura semelhante, importada da estrutura da Igreja Católica, e portanto tradicional: os Cardeais, mais velhos e poderosos, são aqueles que definem os rumos da seita. Até que ponto a estrutura do Sabá é apenas uma sátira à Igreja? Até que ponto essa organização não é uma necessidade psicológica de seus líderes, incapazes de se adaptar a uma estrutura diferente? A resistência a mudanças faz parte da Maldição Vampírica. Isso é tão patente quanto a dificuldade de ascender em Trilhas de Sabedoria que visam alterações e evolução, como é o caso da Trilha da Metamorfose. É necessário se dedicar a uma Trilha da Sabedoria apenas para admitir que a mudança é válida e conseguir mudar.
Este é o principal motivo pelo qual os Vampiros mais antigos se cercam de carniçais e neófitos: usá-los para fazer as coisas que ele não gosta de fazer: escolher e comprar essas horríveis roupas modernas, negociar via telefone com o informante que fala uma linguagem que ele acha ridiculamente vulgar, e tantas outras coisas inadmissíveis para alguém com a nobreza e importância do ancião.

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