sábado, 12 de setembro de 2009
PARTE II.
Os julgamentos de setembro mandaram para a forca Martha Cory, Alice Parker, Ann Pudeator, Mary Esty, Margaret Scott, Mary Parker, Wil- mot Reed e Samuel Wardwell. O marido de Martha Cory, Giles, teve morte por esmagamento sob o peso de pedras. E quando esse hediondo verão terminou, mais de uma centena de pessoas estavam ainda aguardando julgamento, e várias centenas mais tinham sido acusadas.
Finalmente, cabeças mais frias começaram a predominar. Increase Mather pregou em Cambridge que a questão de provas aceitáveis como evidência de "Feitiçaria" assentava-se em bases muito duvidosas e precárias, sobretudo a noção de evidência espectral, ou a habilidade do diabo para assumir a forma de alguém na comunidade. Embora não negando que o diabo podia assumir a forma de um homem ou de uma mulher, era bastante difícil' 'provar" que ele ou ela tinha efetuado o pacto inicial com o diabo. Não podia o diabo assumir igualmente a forma de uma pessoa inocente? Algumas pessoas estavam começando a pensar que sim.
Finalmente, Increase Mather argumentou ser preferível deixar
uma "Bruxa" escapar à execução do que dar a morte a dez pessoas 'inocentes'. Seus argumentos levaram a melhor e a caça às Bruxas cessou pouco depois.
Uma questão que freqüentemente vem à tona acerca das 20 pessoas executadas e as centenas acusadas é a seguinte: Eram elas realmente Bruxas?
Os dados históricos são escassos. Estou certa de que algumas ou muitas delas, como suas congêneres na Europa, ainda retinham muitas das práticas da Velha Religião: ervas, poções especiais, adivinhação, técnicas de cura natural. Algumas podem ter até celebrado
as antigas datas festivas naturais.
Sabemos que colonos do Massachusetts em Marymount erigiram um Maypole (o mastro enfeitado da festa da primavera) no começo do século. Mas a questão sobre se eram devotos da Deusa ou não nunca foi apurada. Havia certamente Bruxas entre seus ancestrais, mas elas próprias podem não ter sido Bruxas na acepção de serem nossas correligionárias. A maioria dessas pessoas era, provavelmente, de cristãos devotos. Não obstante, penso que devemos reivindicá-las como Bruxas. Certamente morreram pela nossa liberdade. Recusaram-se a admitir que tivessem cometido qualquer crime. (É interessante assinalar que nenhuma das que confessou praticar a Feitiçaria foi enforcada. Declararam-se arrependidas e foram readmitidas na comunidade. Também poderíamos indagar se aquelas que confessaram eram realmente Bruxas ou o fizeram para salvar a própria vida. Muita coisa se perde nas páginas da história.)
Se as vítimas da caça às Bruxas em Salem e cidades vizinhas não eram bruxas, então o Museu da Bruxa, situado a algumas quadras de minha casa, não é realmente sobre Feitiçaria, e os visitantes que o percorrem aos milhares todos os anos não estão realmente aprendendo a verdade sobre quem somos ou o que praticamos. Durante anos, as Bruxas de Salem protestaram a esse respeito junto à Administração do Museu e conseguimos finalmente que os turistas fossem alertados para isso. O que os visitantes aprendem em seus giros pelo museu não é a religião da Deusa, mas o que pode acontecer a uma comunidade cristã que sucumbe a um medo irracional do diabo e projeta essa imagem maléfica em membros da própria comunidade.
À medida que o século XVIII avançava, as pessoas foram ficando mais céticas a respeito de Feitiçaria. O espírito da época - a racionalidade do Iluminismo - convenceu as pessoas de que essa magia era embromação e de que quem a praticava estava cedendo à auto-sugestão.
A nova era, também era mais cética sobre a religião em geral e menos zelosa em perseguir os não-crentes. A ira que tinha alimentado as caças às Bruxas aquietou-se. Em 1712, a última pessoa condenada por Feitiçaria era executada na Inglaterra, embora as leis antibruxaria permanecessem teoricamente em vigor até o século XX. Na Escócia, a última execução teve lugar em 1727 e as leis foram revogadas em 1736. E claro, por toda a Europa e na América houve julgamentos e execuções esporádicas. Na Hungria, em 1928, por exemplo, os tribunais absolveram uma família que tinha espancado uma anciã até a morte por suspeita de bruxaria.
Com ou sem as leis e as autoridades civis ou eclesiásticas para apoiá-Ias, as pessoas continuaram molestando Bruxas e, com freqüência, causando-lhes sérios danos físicos. Certa vez, um fotógrafo perguntou-me se eu estaria disposta a posar para uma foto ao lado do túmulo do Juiz Hathorne, um dos magistrados que perseguiu Bruxas em Salem nas cidades vizinhas no século XVII. Eu concordei e agora, sempre que olho para a foto, digo ao Juiz Hathorne e seu bando: "Nós sobrevivemos. Ainda estamos aqui."
Autora: Laurie Cabot (uma bruxa de Salem).
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