quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Fatalidade.
Com seu olhar longínquo, ele irradiava sabedoria.
Seu sorriso transmitia o mais mudo consolo.
Ele dizia, por si só.
De mim, arrancava a mais silenciosa serenidade.
Ao fitá-lo, meio que sorrateiramente,
podia sentir em mim a bondade
transpirada pelo seu coração.
O Destino, no entanto, golpeou-lhe duramente. Para ele, fora traçada a tríade que agora o atormenta , e há de acompanhá-lo até o fim de sua vida. Que não há lei, nem perdão ou Deus que lhe dêem conforto e paz, em lugar do pesar, da culpa e do sofrimento.
E eu, com esta mente tão distante quanto o seu olhar, morrerei como mortal inútil que nem uma mão pude lhe estender, que nem uma palavra de conforto pude lhe oferecer.
Morro pela minha incapacidade, pelas dores dos que se foram e dos que ficaram, pelas injustas escritas do Destino. Morro a cada instante, a cada pensar, a cada imaginar, a cada questionar - por quê ?
Uma parte de mim agoniza sem morrer, morre sem partir, parte sem viver. Como aqueles que agora se confrontam em pólos opostos, da lei e do crime, do perdão e da punição. Como a iluminada alma que agora vive nas mais escuras trevas. Para ele, não haverá mais Luz.
.......
Pudera eu ter o dom da luz da Vida. Quanta discórdia, quanto ódio, quantas lamúrias dissipar-se-iam ? Quantos corações acalmar-se-iam? Mas e se eu realmente pudesse trazê-lo de volta? Se eu pudesse deixá-lo junto àqueles que o amam e que agora clamam por justiça?
Pudera eu lutar contra as forças do Destino, nesta correnteza que flui para uma vida em um outro mundo. Mas não seria esse o seu caminho a trilhar? Não teria Deus assim determinado no momento em que lhe concedeu a Vida ?...
Pudera eu lutar contra a ignorância daqueles que traem, matam e pecam. Mas não seríamos nós, por força da Natureza, tão ou mais ignorantes e pecadores como eles ? Não seríamos todos nós vítimas da Fatalidade e, até os mais puros, sujeitos aos deslizes da Vida ?
Pudera eu tocar o coração dos homens e fazê-los discernir a Justiça da Vingança. Enxergar além do infinito horizonte. Compreender as leis naturais da Vida. Não há culpados nem inocentes; há, sim, vontade Divina.
Maguerita Lee
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