quinta-feira, 1 de julho de 2010

Disse uma Rosa Rubra para a Cruz:


"Por que razão me crucificas
e não me purificas na Magna Luz
de que tanto falas, empolgada?!"
Respondeu-lhe a Cruz, pausada e friamente:
"É preciso que purgues de ti
toda a essência sem perfume,
para que somente este reste
em tuas pétalas machucadas."
Assustada, indagou a Rosa, novamente:
"Qual a razão de me quereres ver ferida,
emanando um perfume que só pode ser
o da dor volatilizada? Prefiro, pois,
a purificação sem sofrimento.
Onde obterei a anestesia?"
Deu-lhe a Cruz esta resposta:
"A morfina que tanto queres
é justamente o perfume dolorido.
Para o obteres hás de sofrer, e hás
de ter caído e levantado várias vezes.
Somente então o deterás, como ópio permitido.
Daí em diante mais nada sofrerás,
pois de nada mais precisarás."
"Oh!" - disse a Rosa, prosseguindo
em suas indagações profundas - "Então
não há como ser poupada dessa
mágica e cruel alquimia?"
"Não" - redarguiu-lhe a Cruz, enfatizando:
"Para que serviria eu, com esses braços,
cruzados sobre a reta do caminho, se tu aqui
não viesses repousar, para conhecer a
natureza do teu próprio espinho?"
"Bem" - falou a Rosa para a Cruz -
"penso em abolir tua existência
e ficar à mercê de meus espinhos.
Assim não os sentirei me atormentando,
mesmo que a outros firam por acaso.
Não terei culpa no processo,
afinal não pedi que me tocassem
e muito menos para ser colhida."
"Como queiras" disse a Cruz,
em tom indiferente. E prosseguindo:
"Serás cortada e para um belo vaso irás,
no qual logo, logo fenecerás.
Não terás sido purificada e
nem teu perfume sobrará.
Outras rosas nascerão na Roseira
que te deu Vida, mas não serão
a tua continuação. De ti mesmo tu te
esquecerás, será como se nunca
tivesses existido. Eu continuarei aqui,
no chão duro da Dualidade, porque algumas
outras Rosas virão sobre mim repousar;
destas, umas poucas florescerão
e poderão ser purificadas.
Do perfume puro que emanarão,
uma nova Cruz será formada:
Só que sem dor nem sofrimento,
apenas para mostrar entendimento.
Meu papel terá sido cumprido,
Uma vez mais, no firmamento,
para onde todos olham e nada vêem
além de vagas luzes cintilantes."
Então, distante - bem distante - ,
lá no final da Espiral da Vida, um
Grande Portal Azul se abriu, e eis que
Era Verde por dentro, como o Logos
Do Santo Espírito (o Deus Abstrato por tudo
Distribuído e docemente disseminado).
Uma voz se ouviu, suave e dotada de Poder,
Pronunciando o mantra OM, antigo
E ao mesmo tempo nascituro ,
Criando mundos e eras novas
Sempiternamente renovadas
E depois trituradas ao ranger de dentes
Ao som da Música das Esferas
Numa fantástica sinfonia inacabada
E sempre recomeçada novamente .
M as em seguida um grande silêncio se fez
E uma Rosa Branca apareceu
Falando por telepatia
Com todos os seres existentes:
"Eis que fui Vermelha um dia,
depois vi-me Iniciada. Sobrou de mim
a verdadeira natureza, com a qual
eu fora originalmente inventada.
Apresento-me agora no Portal Azul
para mostrar minha nova imagem:
A que eu tinha antes de nascer
e que me fora retirada."
Disse então a Rosa Rubra para a Cruz
No chão cruel da Vida docemente estirada:
"Agora entendo o que dizias
e então quero ser purificada".
"Assim será feito" - disse-lhe a Cruz -
"e tu serás iniciada. Continuarei a fazer
o meu serviço, convidando e sendo recusada.
nunca esmorecerei, porém, emitindo
mensagens renovadas. No fim a instrução
será sentida, e com agrado recebida,
mesmo que depois de contestada."
Assim Rosa e Cruz se uniram
Em alquímicas bodas assumidas.
E não muito depois se separaram
Para viver suas novas vidas,
Permanentemente renovadas.
Aquela Rosa que era Rubra
Agora é Branca; e aquela Cruz
Antes deitada agora está erguida,
Sem que nada em si esteja pregado.
Um novo ciclo se inicia
E tudo é recomeçado.
Novas Rosas nascem na Roseira,
Ante o Portal Azul escancarado.
Umas florescerão na Cruz da Vida,
Outras murcharão no vaso.
A Cruz e a Rosa sempre existirão
Formando a Rosa+Cruz Verdadeira
Que aponta para a Eterna Luz,
A qual por ela vela, permanentemente,
Sendo continuamente emitida,
Em uma mensagem transmitida
Muito além da compreensão,
Invisível e intocável,
Perceptível pelo Coração.
Frater Velado.
17 de Agosto de 6246 AFK.

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