contos sol e lua

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quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Cume Espiritual do Homem.


O essencial não está em ser poeta, nem artista, nem filósofo. O essencial é ter cada um de nós a dignidade do seu trabalho, a alegria do seu trabalho, a consciência do seu trabalho.
A determinação de fazer as coisas bem, o entusiasmo de sentir-se satisfeito, de querer somente o que é seu, é a recompensa dos fortes, dos que têm o coração robusto e o espírito límpido.
Dentro dos sagrados números da Natureza, nenhum trabalho bem feito vale menos, nenhum vale mais! Todos somos um tanto necessários e valiosos na marcha do mundo. O que constrói a torre e o que faz a cabana; o que tece os mantos imperiais e o que confecciona as vestes simples do humilde trabalhador; o que manufactura as sandálias de sedas imponderáveis e o que fabrica as rudes solas que defendem os pés do trabalhador rural, todos valem alguma coisa, porque todos estamos nivelados por essa força reguladora que reparte os dons e impulsiona as actividades.
Um grão de areia sustenta uma pirâmide e fá-la derrocar; um bocado de pão duro salva, ou pode destruir uma vida; uma gota de água faz murchar ou reverdecer um loureiro. Todos somos algo, representamos algo, fazemos viver algo, ansiamos por algo.
O que semeia o grão que sustenta o nosso corpo vale tanto como o que planta a semente que nutre o nosso espírito porque, nos dois trabalhos, há o transcendente, o nobre e o humano que faz dilatar a Vida. Talhar uma estátua, polir uma jóia, perceber um ritmo, animar um quadro, são coisas admiráveis. Tornar fecunda a herdade estéril e povoá-la com árvores e mananciais, ter um filho inteligente e belo, e logo poli-lo e amá-lo, ensinar-lhe a desnudar o seu coração e a viver em harmonia com o mundo, essas são coisas eternas!
Ninguém se envergonhe do seu trabalho, nem repudie a sua obra, se nela pôs o afecto diligente e o entusiasmo fecundo. Ninguém inveje seja a quem for, porque ninguém poderá oferecer-lhe o dom alheio nem retirar-lhe o seu próprio.
A inveja é o caruncho das madeiras velhas e apodrecidas e NUNCA DAS ÁRVORES SAUDÁVEIS.
Alargue e eleve cada um o que é seu; defenda-se e escude-se contra toda a má tentação. Deus dá-nos o pão nosso de cada dia, na satisfação do esforço legítimo nos oferece a actividade e o sossego. O triste, o mau, o daninho, é seco de alma; o que nega tudo é incapaz de admirar e de querer. O nocivo é o néscio, o imodesto, o parvo, o que nunca fez coisa alguma de valor, mas que sempre está pronto para conservar tudo e todos. O que nunca foi amado repudia o amor, mas o que trabalha, o que ganha o seu pão de cada dia e sabe nutrir a sua alegria, o justo, o nobre, o BOM, para esses sacudirá o porvir as suas ramagens cobertas de flores e de rocio, quer ele ande a escalar montes ou a cinzelar poemas. Ninguém deve sentir-se menos do que é! Ninguém maldiga seja a quem for! Ninguém desdenhe seja o que for! O cume espiritual do homem alcança-se com o regresso e o abraço das coisas humildes.Rev. nº 377 - Set / 2005.

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