contos sol e lua

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terça-feira, 27 de julho de 2010

Rhiannon.


A Deusa-Égua gaulesa do Inferno, Rigatona ou Ringatona (Itália), Epona (Gália), Bubona (Escócia), Grande Deusa Branca eram alguns dos nomes originais de Rhiannon.
Seu nome significa “Divina Rainha das Fadas”, sendo considerada uma Deusa da Lua. É também conhecida como a Deusa dos pássaros, dos encantamentos, da fertilidade e do submundo. Ela se identifica com a noite, a emoção, o sangue, o drama.
Rhiannon é a donzela saída do mundo subterrâneo e neste aspecto, relaciona-se com a Deusa Perséfone. Sua iconografia vincula-se ao simbolismo eqüino. Andava em um cavalo branco, vestida com um manto de penas de cisnes, sempre acompanhada por seus pássaros mágicos. Ela é venerada na Irlanda, no País de Gales, na Gália (Epona), mas também aparece na Iugoslávia, África do Norte e Roma.
Algumas imagens de Rhiannon, onde ela se apresenta com cestas de frutos e flores, nos remetem ao simbolismo da fertilidade e abundância da terra. Acho que realmente sempre houve sua associação com as Deusas-Mães.
Rhiannon era uma Deusa gaulesa da morte, filha de Hefaidd, Senhor do Outro Mundo. Vivia sempre acompanhada por três pássaros mágicos, que podiam encantar os vivos e acordar os mortos.
A saga de Rhiannon.
Pwyll Penn Anwfn, rei de Dyved Rhiannon, se encontra no cerro de Arbet. Vê aparecer uma jovem que chega com um vestido dourado brilhante, montada sobre um cavalo branco. Envia um de seus cavaleiros para buscá-la, mas ela desaparece. No dia seguinte, a mesma cena: a amazona desaparece. No terceiro dia, Pwyll em pessoa se lança a persegui-la. Não a alcança, mas consegue gritar:
”Mulher, por amor do homem a quem mais amas, espere-me!”.
A amazona se detêm e diz chamar-se Rhiannon, filha de Hyveid Hen e vinha pelo amor de Pwyll:
”Jamais vou querer ninguém, a menos que não me queiras.”
O rei aceita casar-se com ela e o casamento é marcado para um ano depois na corte de Hyveid. Quando a cerimônia está acontecendo, aparece um homem, que não é outro que Gwawl, um antigo pretendente de Rhiannon, o qual, graças ao costume de doação que se tem obrigação de realizar sem saber do que se trata, reclama a própria Rhiannon.
Porém, Rhiannon consegue obter uma demora de mais um ano, antes de casar-se com Gwawl, prazo que aproveita para tramar um plano maquiavélico por o quel Gwawl, derrotado e descontente, sai definitivamente do jogo.
Rhiannon se casa com Pwyll. Pouco tempo mais tarde, utiliza-se da magia para conseguir engravidar e deu a luz a um filho, o herdeiro para o rei. Mas pouco depois do nascimento, o menino é raptado. As donzelas responsáveis por cuidar dele, com medo de serem acusadas pelo seu desaparecimento, mataram alguns pássaros, esfregaram o sangue dos animais no rosto e nas vestes de Rhiannon, acusando-a de ter devorado o filho. Foi quando Pwyll estabeleceu um estranho castigo para o seu alegado crime:
”Durante sete anos seguidos, permanecerá na corte de Arbert, se sentará a cada dia junto ao estribo da pedra que há na entrada, no exterior, explicará sua saga a todo aquele que venha e pareça ignorá-la e proporá aos hóspedes e os estrangeiros, se desejam permitir que os leve sobre as costas até a corte”.
No entanto, a criança tinha sido colocada de forma misteriosa na cocheira de um homem de Gwent, um tal de Teyrnon. Cada noite do calendário de maio, sua égua tinha o costume de parir um potro e o dito potro, desaparecia sempre sem que se imaginasse o que sucedia. Uma noite, Teyrnon monta guarda, e não só encontra o potro recém-nascido, mas também uma criança envolta em panos e um manto ricamente adornado. Teyrnon cria o menino, ao que dá o nome de Gwri Gwallt Euryn (Gwri dos cabelos de ouro). Com três anos, a criança, que havia feito amizade com o potro, o doma e o monta.
Teyrnon que havia ouvido falar da saga de Rhiannon, decide levar o menino a corte de Dyved. Rhiannon se propõe carregá-los sobre as costas. O menino rejeita. Teyrnon conta toda sua história a Pwyll e Rhiannon, que reconhecem assim a seu filho. Rhiannon grita que enfim havia se libertado de sua “preocupação” (Pryderi), dano a seu filho o nome definitivo de Pryderi.
Pryderi cresce torna-se um belo jovem. Depois da morte de Pwyll, se converte em rei de Dyved e se casa com uma tal de Kicva. Após a desastrosa expedição de Bran a Irlanda, se encontra entre os sete sobreviventes que seguem levando uma vida mágica ouvindo cantar “os pássaros de Rhiannon, cujo canto desperta os mortos e adormece os vivos”. Regressa a Arbert com Manawydan, filho de Llyr. Manawydan se casa com Rhiannon. Porém um encantamento se abate sobre Dyved da terra que torna-se deserta. Rhiannon, Kicva, Pryderi e Manawydan que são os únicos seres vivos do território, esgotam suas provisões, e depois vão buscar fortuna em outros lugares. Regressam a Arbert carregados com novas provisões. Um dia um javali branco surgiu e desapreceu em uma fortaleza. Pryderi o persegue até a fortaleza, mas essa está deserta. No meio do pátio há uma fonte com uma taça de ouro presa a uma corrente que se dirige para o céu e não se vê o término. Pryderi agarra a taça, porém no mesmo instante perde a voz e suas mãos ficam presas a taça. Rhiannon se preocupa, pois seu filho demora para retornar. Vai então até a fortaleza e tenta libertar Pryderi, mas fica presa como ele. Em seguida, caiu uma noite muito escura, surgiu um raio seguido de uma nuvem espessa e a fortaleza, assim como ma~e e filho, desapareceram.
É Manawydan que faz cessar o encantamento que pesava sobre Dyved e que se devia a Llywyt, filho de Kilcoet, que queria vingar-se de Gwawl nas pessoas de Pryderi e Rhiannon. No entanto, durante seu desaparecimento, mãe e filho estavam na corte de Llwyt e Rhiannon levava no pescoço um cabresto de asno.
A deusa-égua
O que mais se destaca na saga de Rhiannon, é sem dúvida, o vínculo entre o cavalo e a Deusa. No início, é a Amazona que aparece montada num cavalo branco que vem em busca do amor de Pwyll. Essa é a imagem da Deusa de Outro Mundo, a fada apaixonada por um mortal, que vem levá-lo para o país da eterna juventude.
A Amazona não é só uma imagem da morte, mas também da ressurreição. Seu cavalo é branco, cor do dia, um símbolo solar. Pwyll vê pela primeira vez Rhiannon no cerro de Arbert, que um lugar mágico, que é idêntico aos cerros da Irlanda, os sidhs, onde vivem os Tuatha De Dannan, morada das fadas. Como Rhiannon surge desse cerro, ela é a Nossa Senhora da Noite.
Por outro lado, seu filho Pryderi aparece claramente associado a um potro. Ele é encontrado na cocheira de Teyrnon junto ao potro recém-nascido , e aos três anos domará e montará esse potro. Segundo seu primeiro nome, Gwri Gwallt Euryn, o jovem Pryderi possui uma cabeleira dourada comparável a crina de um corcel: a imagem não é só poética, mas também indica um símbolo solar fácil de entender.
Ao ser condenada injustamente pelo desaparecimento de seu filho, Rhiannon é obrigada a levar sobre suas costas os viajantes que se dirigem a fortaleza do rei. Seria uma associação à sua égua, pois servia como um animal de carga, o que reforça mais essa identificação.
O cavalo é um símbolo solar. O Sol, desde os tempos pré-históricos é figurado por um carro, que significa seu deslocamento e o cavalo em sua brancura solar é o seu condutor, que o faz percorrer o espaço. Os cavalos que puxam o Sol são consagrados a ele. Esse cavalo se presta, pois, para ser montaria dos heróis, das Deusas e dos conquistadores espirituais.
O cavalo é portanto, um animal mágico e misterioso, ligado às trevas e a Deusa-Mãe, que inúmeras vezes pode aparecer dessa forma. O aspecto de Deusa-Égua da Grande Deusa, não é assimilação somente celta. Deméter era honrada em toda parte sob o nome de Epona, ou das “Três Eponas” entre os gauleses.
O animal e, principalmente o cavalo, é utilizado com freqüência na simbologia religiosa celta e, por conseguinte, na iconografia e inclusive na decoração, algo que, por outra parte, resulta de todo normal para um povo que sempre se dedicou a criação de cavalos, assim como para equitação. Inclusive as moedas que usavam, todas elas magnificam o cavalo e faziam dele um animal fantástico, as vezes com cabeça de pássaro ou de homem.
Durante as comemorações de 1 de maio, que é celebrada na Cornualha, acontece a festa da Pele, a qual põe em cena um homem disfarçado de cavalo de madeira andrógino. Executa saltos na direção das jovens, levanta a roupa e exibe longo bastão colocado entre as pernas. Essas cabriolas obscenas são celebração dos ritos primaveris, tornada festa popular.
A deusa-pássaro.
Mas Rhiannon não era só a Deusa-Cavalo, mas também está relacionada com os pássaros. Os pássaros de Rhiannon são célebres na tradição gaulesa. Encontramos esses pássaros maravilhosos na narração de Branwen, na segunda parte do chamado Mabinogion:
A HOSPITALIDADE DA CABEÇA SAGRADA (País de Gales):
Depois da desastrosa expedição na Irlanda, que tinha como objetivo liberar a Branwen, irmã de Bran e recuperar o caldeirão da ressurreição, Bran resulta ferido. Pede aos sete sobreviventes que lhe cortem a cabeça, a levem com eles e regressem a ilha da Bretanha.
“Em Hardlech permaneceis sete anos sentados à mesa, durante os quais os pássaros de Rhiannon cantarão para todos vocês. Minha cabeça resultará em uma companhia tão agradável como nos melhores momentos, quando estava sobre meus ombros”.
Assim o fizeram. Se dirigiram a Hardlech e se instalaram ali. Começaram a prover-se de comida e bebida em abundância, e se puseram a comer e beber. A pareceram três pássaros a cantar-lhes um som que superava em encanto a tudo que já haviam ouvido. Os pássaros se mantinham longe, sobre as ondas, mas no entanto, os ouviam tão claramente como se estivessem com eles. Esse banquete durou sete anos.” (Joseph Loth, Mabinogion, I, pp. 147-148)
Nessa história não aparece Rhiannon em pessoa, mas sim os pássaros maravilhosos que pertencem a Deusa. São eles que faz com que os sete sobreviventes percam o sentido do tempo e permaneçam no festim da imortalidade por sete anos, sem recordarem-se dos momentos dolorosos.
Os três pássaros de Rhiannon são verdadeiramente mágicos e submergem a quem os escuta em um verdadeiro êxtase que faz esquecer a própria existência.
A Deusa dos Pássaros é, pois, um dos aspectos essenciais de Rhiannon, uma aspecto mais sereno, mas tranqüilizador do que seu aspecto de égua. Como Deusa Pássaro, Rhiannon representa a esperança e o esquecimento das grandes dores da vida.
A Deusa Mãe
Rhiannon, representa também, a Mãe da Consolação, que dedica-se e ama às crianças. Querendo ou não, é a mãe que indica ao homem o caminho a seguir.
O relacionamento embriônico, bem como o infantil, da criança e a mãe, é o protótipo de todos os relacionamentos primais. Somente a consecução do desapego ao relacionamento primal, e uma atitude objetiva em relação a este último leva a descoberta do “Eu” masculino e à estabilidade.
A missão do homem é resgatar o “Feminino” (anima) da dominação materna, necessário para o seu desenvolvimento.
A mãe doadora de vida e administradora da morte, o Grande Poder Feminino, está bem visível na saga de Rhiannon.
O que todos nós precisamos é experimentar como uma pessoa se sente quando é amada. E, se nenhuma pessoa estiver disposta a proporcionar -nos essa experiência, então precisamos a aprender a amar a nós mesmos.
Podemos identificar Rhiannon, nas mulheres do nosso dia-a-dia. São na maioria mulheres fortes e lutadoras, como também sobreviventes da violência doméstica.
Essa Deusa é ainda, o arquétipo da Senhora Godiva, uma mulher que monta nua coberta somente com um véu um cavalo branco.
Rhiannon dos pássaros, da égua branca do mar é a Deusa Donzela do amor sexual e da fertilidade. Ela é virgem significando que é completa em si. A “Donzela” é a face mais jovem da Deusa, relacionado com os descobrimentos e aspectos mais criativos da nossa personalidade. É pura inocência e despreocupação, é alegria de viver. Se associa também com a primavera que celebramos durante o Festival de Ostara.
Rosane Volpatto

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