quarta-feira, 4 de agosto de 2010

O Preço do Pecado e os Caminhos da Salvação.


"O preço do pecado é a morte", diz a Bíblia e quando semeamos para a carne, por certo colheremos corrupção. Também não devemos ficar surpresos quando alguém de caráter negativo, como os Filhos de Seth representados por Margarida no mito de Fausto, torna-se vítima desta lei da Natureza, logo após ter cometido o pecado. A rápida prisão de Margarida pelo crime de matricídio é uma ilustração de como funciona a lei. O sagrado horror da igreja, que foi omissa não a protegendo enquanto ainda havia tempo, é um exemplo de como a sociedade procura encobrir sua negligência e ergue suas mãos chocada pelos crimes pelos quais, em grande parte, é a própria responsável.
Se o padre, em vez de cobiçar as jóias, tivesse ficado atento à confidência de Margarida, poderia tê-la ajudado em tão dura sina, e, embora ela pudesse ter sofrido por perder seu amado, teria conservado sua pureza. Contudo, é pela intensidade da dor que a alma sofredora encontra seu caminho de volta à fonte de seu ser, pois nós todos, como filhos pródigos, deixamos nosso Pai no Céu, afastamo-nos dos reinos do espírito e alimentamo-nos das escórias da matéria para adquirir experiência e ganhar individualidade.
Quando estamos no abismo do desespero, começamos a compreender nossa alta linhagem e exclamamos: "Vou erguer-me e ir ao encontro de meu Pai". Ser membro de uma igreja, ou estudar o misticismo do ponto de vista intelectual, não trazem a compreensão do até onde, que é necessário para podermos seguir o Caminho. Porém, quando estamos despojados de todo apoio mundano, quando estamos doentes ou na prisão, encontramo-nos mais próximos e somos mais queridos do Salvador do que em qualquer outro momento. Portanto, Margarida na prisão, proscrita pela sociedade, está mais próxima de Deus do que aquela inocente, bela e pura Margarida, que tinha o mundo diante de si quando encontrou Fausto no jardim.
O Cristo não tem mensagem para aqueles que estão satisfeitos e amam o mundo e seus costumes. Enquanto estiverem com essa mentalidade, Ele não lhes pode falar, nem eles podem ouvir Sua voz. Mas há uma infinita ternura nas palavras do Salvador: "Vinde a mim todos vós que labutais e estais oprimidos e eu vos darei descanso". A alma pecadora simbolizada por Margarida em sua cela na prisão, solitária, banida da sociedade como uma leprosa moral e social, é compelida a elevar seus olhos aos céus e suas preces não são em vão. Contudo, até o último momento, as tentações perseguem a alma que procura. As portas do céu e do inferno estão igualmente próximas à cela da prisão de Margarida, como vemos pela visita de Fausto e Lúcifer, que tentam arrastá-la da prisão e da morte iminente para uma vida de vergonha e servidão. Mas ela mantém-se firme. Prefere a prisão e a morte à vida e liberdade na companhia de Lúcifer. Dessa maneira resistiu à prova e qualificou-se para o Reino de Deus.
Salomão era servo de Jeová e como Filho de Seth estava ligado ao Deus que o criou e a seus ancestrais. Mas, numa vida posterior, como Jesus, ele deixou seu Primeiro Mestre no Batismo, e depois recebeu o Espírito do Cristo. Assim, todos os Filhos de Seth devem, algum dia, deixar seus protetores e escolher Cristo, sem se importarem com o sacrifício conseqüente, ainda que o preço seja a própria vida.
Margarida em sua cela da prisão toma essa importante decisão e qualifica-se para a cidadania no Novo Céu e na Nova Terra, pela fé em Cristo. Por outro lado, Fausto permanece com o Espírito de Lúcifer por um tempo considerável. Ele possui agora um caráter mais Positivo, é um verdadeiro Filho de Caim e, embora o preço do Pecado possa eventualmente levá-lo à morte, a salvação pode vir através de uma concepção mais pura do amor, e através de obras.
Na segunda parte de Fausto, encontramos o herói com o espírito alquebrado pela desgraça que, por sua causa, caiu sobre Margarida. Percebe sua culpa e começa a galgar o caminho da redenção. Usa o Espírito de Lúcifer, ligado a ele pelo pacto de sangue, como um meio de atingir sua finalidade. Torna-se um fator importante nos assuntos de estado do país por onde viaja, pois todos os Filhos de Caim deleitam-se com a arte de governar, assim como os Filhos de Seth gostam da política clerical.
Fausto, contudo, não satisfeito em servir outros sob as condições existentes, invoca as forças diabólicas sob seu comando para criar uma região, emergi-la do mar e fazer uma Nova Terra. Ele sonha uma utopia, pretendendo que este lugar livre seja o lar de um povo livre que a habitará em paz e alegria, vivendo à altura dos mais elevados ideais da vida.
Estes ideais são originados em sua alma pelo amor de uma personagem chamada Helena, um amor da mais sublime e espiritual natureza, inteiramente separado do pensamento de sexo e paixão. Com o decorrer do tempo, ele vê esta terra elevar-se do mar, mas seus olhos estão ficando cegos, pois está substituindo sua contemplação de uma condição terrestre para uma celestial. Enquanto fica assim contemplando as forças dirigidas por Lúcifer, labutando em seu comando dia e noite, Fausto compreende que tornou real a predição de Lúcifer para ser:
"A força que mesmo o mal planejando.
Para o bem está trabalhando".
Ele percebe que seu trabalho com as forças inferiores está chegando ao término e que sua visão está diminuindo. Mas, com o desejo veemente que se apodera da sua alma para ver o fruto de suas obras, ele quer reter a visão até que tudo esteja completado e seu sonho utópico convertido em realidade. Porém, como a visão que tem diante de si - a terra surgindo do mar e o feliz povo que nela vive em fraternidade - se desvanece sob seus olhos quase cegos, ele profere as palavras fatídicas que disse quando de seu pacto como Lúcifer:
"Sempre que a hora for passando Eu digo: 'Oh! fica! és tão leal',
Assim, a força a ti eu vou dando
De levar-me ao mais profundo desespero.
Meu dobrar de sinos não o deixes prolongar,
De meu serviço, livre irás ficar;
E quando do relógio o ponteiro indicador tiver caído,
Esteja, então, o meu tempo concluído".
Pelos termos desse pacto, quando Fausto proferiu as palavras fatídicas, as forças do inferno soltaram-se da escravidão e foram para ele que, por sua vez, tornou-se vítima delas. Pelo menos assim parecia ser. Mas Fausto não desejou deter a marcha do tempo com o objetivo de desfrutar os prazeres sensuais, nem de satisfazer desejos egoístas, como foi projetado no pacto. Para a realização de um ideal altruístico e nobre, ele desejou deter a hora que passava. Por conseguinte, está realmente livre de Lúcifer, e uma batalha entre as forças angélicas e as hostes lucíferas termina finalmente com o triunfo das primeiras, que conduzem a alma que procura para o porto do descanso no reino de Cristo, enquanto proferem as seguintes palavras:
"A nobre alma está salva do mal,
Nosso espírito ressurge. Todo aquele
Que se esforça para adiante, com desejo de mudar,
Nós podemos libertá-lo.
E, se nele, o amor celestial tomou lugar,
Para encontrá-lo desçam os anjos do céu
Com afeto cordial, eles o vão saudar".
Assim, o Fausto do mito é uma personalidade inteiramente diferente do Fausto do palco; e o drama que começa no céu, onde foi dada permissão a Lúcifer para tentá-lo, como Job foi tentado na antiguidade, também acaba no céu quando a tentação foi vencida e a alma voltou para seu Pai.
Goethe, o grande místico, finaliza apropriadamente sua versão com o mais místico de todos os versos encontrados em qualquer literatura:
"Tudo que é perecível,
É somente uma ilusão.
O inatingível,
È aqui consumação.
O indescritível,
Aqui ele é ação.
O Eterno Feminino,
È para nós uma atração".
Esta estrofe confunde todos os que não são capazes de penetrar nos reinos onde ela é cantada, isto é, no céu.
Nela se diz que "tudo que é perecível é somente uma ilusão". Quer dizer, as formas materiais que estão sujeitas à morte e à transmutação são apenas uma ilusão do arquétipo visto no céu. "O inatingível é aqui consumação" - o que pareceu impossível na Terra é consumado no céu. Ninguém sabe disso melhor do que quem é capaz de agir nesse reino, pois aí toda aspiração elevada e sublime encontra satisfação. As indescritíveis aspirações, idéias e experiências da alma, que nem ela pode expressar para si própria, são claramente definidas no céu. O Eterno Feminino, a Grande Força Criadora na Natureza, a Mãe-Deus que nos conduz pelo caminho da evolução, torna-se lá uma realidade. Assim, o mito de Fausto conta a história do Templo do Mundo, que as duas classes de pessoas estão construindo e que serão, finalmente, o Novo Céu e a Nova Terra profetizados no Livro dos Livros.Max Heindel.

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