sábado, 25 de junho de 2011
Vêm.............
Te direi em segredo
aonde leva esta dança
Vê como as partículas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteadas.
Cada átomo
Feliz ou Miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.
Ninguém fala para si mesmo em voz alta
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.
Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral,
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé
Contempla teu corpo - um punhado de pó
Vê quão perfeito se tornou!
Quando tiverdes cumprido tua jornada
decerto hás de regressar como anjo,
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.
Não durmas,
senta com teus pares.
A escuridão oculta a água da vida,
Não te apresses, vasculha o escuro.
Os viajantes noturnos estão plenos de luz
Não te afastes pois da companhia de teus pares.
Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.
A viagem conduzirá o teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.
Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.
Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti
Eis aqui o sentido profundo da minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.
Oh dia, levanta! Os átomos dançam
As almas loucas de extase dançam,
A abóbada celeste, porcausa deste Ser dança
Ao ouvido te direi aonde leva sua dança.
Ontem à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio:
_ Não me esconda nada dos segredos do mundo!
Muito docemente, ele me disse ao ouvido:
- Chut! Podemos compreender, mas não exprimir!
Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar,
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser,
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!
Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
E eu agarro esta cabeleira de mil tranças
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.
Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu...
Esta água nunca faltou a este riacho
Ela é a substância do almíscar e nós seu perfume,
Alguma vez se viu o almíscar separado do seu cheiro?
Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.
Sou medido... ao medir teu amor
Sou levado... ao levar teu amor
Não posso comer de dia nem dormir de noite
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.
Teu amor me tirou de mim,
De ti, preciso de ti
Noite e dia, eu queimo por ti
De ti, preciso de ti.
Não posso dormir quando estou contigo
por causa do teu amor
Não posso dormir quanto estou sem ti
por causa de meu pranto e gemidos.
Passo as duas noites acordado
mas, que diferença entre uma e outra!
Não temos nada além do amor
Não temos antes, princípio nem fim
A alma grita e geme dentro de nós:
- Louco é assim o amor
Colhe-me, colhe-me, colhe-me...
Jalal al-Din Husain Rumi.
TÃO LOUCOS QUANTO NÓS.
O mundo não é nada. Nós não somos nada.
Nossa vida neste mundo não é nada além de sonhos e imagens.
Sendo assim, por que continuar lutando?
Se a pessoa que está sonhando sabe que está sonhando
Por que sofrer com os pesadelos?
Você me concedeu tantos favores
Que me sinto tentado a pedir por mais.
Como Moisés quando ouviu a voz de Deus
E desejou ver sua face.
Eu irei oferecer meu coração para aquele que
está doente da mesma doença.
Os doentes podem beber a mim como se eu fosse um elixir.
Eu me pareço com um falcão doente
Preso à terra por causa de sua doença.
Não pertenço mais às pessoas da terra
Nem sou capaz de voar para o céu.
Oh pobre falcão
Como você pode viver com estes corvos?
Você foi hipócrita
Fechando seus olhos para o amor
Enquanto o fogo brilhava em seu coração
Como você pode esconder o amor quando as lágrimas
Fluem de seu coração como cachoeiras?
A morte é um tipo diferente de vida para o Senhor
A alma se torna calma e tranqüila
A morte é união e não tortura e sofrimento
É diferente da do ignorante
Que morre todo o tempo
Seja como o sol pela graça e misericórdia
Seja como a noite para cobrir as faltas dos outros
Seja como a água corrente pela generosidade
Seja como a morte para a raiva e o ódio
Seja como a terra pela modéstia
Pareça ser aquilo que você é
Seja aquilo que você parece ser
Medindo seu amor, eu fui medido
Vestindo seu amor, eu fui vestido
Não posso viver os dias nem dormir de noite
Para ser seu amigo
Tornei-me inimigo de mim mesmo.
Se você pudesse livrar-se de si mesmo
Apenas uma vez
O segredo dos segredos se abriria para você.
A face do desconhecido
Oculto além do universo
Apareceria no espelho de sua percepção.
Primeiro ele me ofereceu uma centena de favores
Então me dissolveu no fogo da tristeza
Depois ele me selou com o selo do amor.
Eu me transformei nele
Então ele expulsou meu eu de mim.
Pergunte para mim sobre um amor
Que o leva para a total insanidade
Coisas como perder a vida ou a mente
Uma aventura de centenas de longos dias
Pergunte sobre o fogo e o sangue
De centenas de desertos.
Na verdade, sua alma e a minha são a mesma
Este é o real significado de nossa relação
Entre nós não existe mais eu e você.
Acredite em mim. Tudo o que aparece
são as sombras e imagens.
A mão que as desenha é a mão do senhor
Esta magnificente mentira não alcança
A magnificente verdade
O conhecido existe por causa do desconhecido.
Eu sou um rio
Você é o meu sol
Você é o remédio
Do meu coração ferido
Eu vôo ao seu lado, na calmaria.
Eu sou a agulha
Você, o meu magneto.
Os ferimentos que você inflige são melhores
que o carinho dos outros
Sua cobiça é mais graciosa
que a generosidade dos outros.
Seu tormento cura mais
que o consolo dos outros
Sua maldição é mais desejada
que a oração dos outros.
A pessoa não ama
A menos que ilumine sua alma
Ele não é um amante
A menos que gire como estrelas ao redor da lua
Ouça. As folhas não se movem sem vento.
Você não pode nos ver com este espelho velho
Você não nos pode manter nesta casa emprestada
Você não pode prender uma pessoa
Cuja algema é o cabelo dele.
Se você olhar cuidadosamente, verá
que cada partícula no ar
Feliz ou triste está mergulhada
Dentro do sol do Universo Absoluto
Cada partícula está tão bêbada e louca quanto nós.
União … é o jardim do Paraíso
Separação .. é o sofrimento do Inferno
O amor permanente no universo
Sempre permanece coberto
E torna nu aquele que está coberto
Este é o ponto sutil.
Oh alma, quem é o seu amor? Você sabe?
Oh coração quem está dentro de você? Você sabe?
Oh carne, você busca um caminho para escapar
de forma desonesta.
Quem está puxando você para Ele?
Olhe. Quem está buscando por você?
O universo estava repleto de milagres.
O orvalho do amor estava misturado com a argila humana
Centenas de sacrifícios por amor
Entraram nas veias da alma e produziram uma única gota
Que é chamada de coração
Oh Amado, estamos mais próximos de você que o Amor.
Somos o solo no qual você anda
É razoável, na crença do amor,
Ver todos os universos através de você
Mas não ver você?
É necessário maturidade para o caminho do amor.
É necessário estar fora dos problemas da terra.
Curar a própria cegueira.
A verdade preenche o universo
Você tem olhos para vê-la?
Eu colhi uma rosa rapidamente
Com medo do Jardineiro.
Então, ouvi sua voz suave
"Qual o valor de uma rosa?
Dei a você todo o jardim".
Eu desejo ir para longe,
Centenas de milhas da mente.
Desejo me libertar do bom e do mal.
Quanta beleza por trás dessa cortina!
Aqui está meu ser real.
Oh ignorantes,
é por mim mesmo que desejo estar apaixonado.
Não posso dormir enquanto estou com você
por causa de seu amor.
Não posso dormir sem você
porque choro e grito.
Permaneço acordado em ambas as noites
Mas que diferença entre elas.
Este vale é diferente
Para além de religiões e cultos. Aqui, quietamente, abaixe sua cabeça
Mergulhe nas maravilhas de Deus
Aqui, não há salas para religiões ou cultos.
No começo, enquanto consolava a mim mesmo
com seu amor,
Os vizinhos não podiam dormir
por causa do meu lamento.
Agora, meus lamentos cessaram.
Meu amor aumentou
e como fumaça, desapareço
quando o fogo crepita.
Ele é o Todo e o Nada
Ele criou alegria e tristeza
Por que você não percebe
Que você não é nada além dele?
Da luz divina do céu
Nossa graça e beleza fez os anjos sentirem ciúmes.
Algumas vezes os espíritos superiores invejam
Nossa pureza e claridade
Algumas vezes o diabo sente medo de nossos vícios.
Oh sol, apareça. As partículas estão dançando.
Eu vejo espíritos sem cabeça e sem pés
dançando em êxtase.
Alguns dançam nas cúpulas do céu.
Chegue perto.
Eu lhe direi para onde eles estão indo.
Quem é mais miserável
Que um amante impaciente?
Este amor é uma doença
sem remédio ou fantasia.
A cura do amor
não é nem a hipocrisia e nem a moderação.
Gostaria de falar com você sem usar palavras
Gostaria de dizer segredos em seu ouvido.
Mesmo se dissesse essas coisas entre estranhos
Nenhum deles me entenderia.
Oh, aquele que não conhece a essência interior
Aquele que orgulha-se e gosta da própria pele
Acorde seus sentidos. Existe um amor
No interior de sua alma.
A percepção é a essência de seu corpo.
A alma é a essência de sua percepção.
Mas se você for para além do corpo, percepção e da alma
Tudo se transformará nele.
Oh, amor, todos estão despertos
com seu despertar
Todos os que dormem
Dormem na sua porta da Graça
Não há outro Secreto além de ti. Oh razão, vá embora.
Não há sábios aqui.
Mesmo se você se tornar um pequeno fio de cabelo,
Não haverá lugar para você.
É de manhã agora.
Qualquer vela que você queimar
Ficará constrangida frente à luz do sol.
O destino não está sob o controle do nosso coração.
Ser é o meio de alcançar o não-ser
Há alguém que nos olha
Por detrás da cortina.
Na verdade, não estamos aqui.
Esta é nossa sombra.
Alguém dentro de sua respiração
Também lhe dá a respiração, promessas de União.
Respire com ele até sua última respiração.
Ele lhe deu isto por causa de sua doçura e graça,
não como uma piada.
Não seja indolente e permaneça distante.
Venha. Junte-se a nós.
Uma pessoa sem trabalho come ou dorme.
Aqui está a música. Aqui está o Samá.
Venha. Junte-se a nós.
"Quem é o Uno?" eu perguntei
"Aquele que adiciona alma às nossas almas,
Confere a vida através das estrelas?'
Às vezes ele cobre nossos olhos como os de um falcão
Às vezes ele nos lança depois da presa.
Existe uma alma dentro de sua alma.
Busque por ela.
Existe uma jóia na montanha que é seu corpo.
Olhe para a mina que contém essa jóia.
Oh sufi andarilho
Busque dentro de você e não fora.
"Voarei como uma pomba de suas mãos".
"Se você voar, você merecerá ser
preso com minha mágoa", ele respondeu.
Eu disse, "Estou cansado e fraco
Morrendo em seu amor".
"A morte será uma honra para você", ele disse,
"Se você morrer com meu amor".
A fé na religião do amor é diferente.
A embriagues do vinho do amor é diferente.
É diferente de tudo o que você aprende na escola.
É diferente de tudo o que você aprende sobre o amor.
Você tem sido escravo de frios invernos,
Vivendo afastado do rouxinol e dos jardins de rosas.
Acorde! Este é o momento. Se você o perder, ele nunca irá retornar.
No Dia do Julgamento
Muitas pessoas irão se aproximar
Com as faces aterrorizadas pelo medo.
Eu irei colocar teu amor à minha frente
E pedirei que ele preste contas.
No amor não há alto ou baixo,
nem mal comportamento ou bom comportamento,
Nem líder, nem seguidor, nem devoto;
Apenas indiferença, tolerância e desistência.
O Amado caminha em lugares solitários
onde os amantes perambulam.
O devoto reza nas contas de seu rosário.
Um dorme na beirada da água.
Outros ajoelham-se por um pedaço de pão.
Eles sofrem de sede e fome.
Estamos felizes mesmo se não temos vinho e copo.
Estamos felizes se nos chamam de bons ou maus.
"Não haverá fim para eles", dizem de nós.
Estamos preenchidos de alegria por não termos fim.
Venha para o jardim na primavera
Ali existe luz e casais de namorados por entre as flores de romã.
Se você não vier, estas coisas não interessam.
Se você vier, estas coisas não interessam.
Quando perco seus lábios,
Eu beijo a pedra vermelha do anel.
Se seus lábios não estão por perto, eu beijo o anel.
Se não posso alcançar seu céu,
Eu me ajoelho e beijo o chão.
Quem não tem o ser completamente aniquilado
não pode ser aceito em União.
A União não é a encarnação de Deus no homem.
União é a auto-aniquilação.
Tudo em volta está verde. As flores estão em todos os lugares.
Todas as partículas sorriem refletindo a Beleza.
Tudo brilha como pedras preciosas.
Amado e amante estão em união em todos os lugares.
Feche seus olhos. Meu coração será um olho para você.
Com este olho, outro mundo lhe será mostrado.
Quando você decidir não ser vaidoso,
Todos irão admirá-lo.
Não sei quem se senta em meu coração
Ou porque ele sorri para mim.
Não sou mais eu mesma.
Meu coração é como o ramo de uma rosa
Que perdeu suas folhas na brisa da manhã.
Você é aquele que faz com que todas as minhas inquietudes desapareçam.
Você faz com que o cedro, a rosa e o jardim se percam de si mesmos.
A rosa está alegre. O espinho está embriagado.
Dê a nós mais um copo, para que fiquemos todos iguais.
Não há forma deste coração escapar de você.
Oh, amor, você deve tomá-lo.
Se a dor do amor não preenche este coração,
não me importo se tenho um ou não.
Meu amor me disse, "Você pede
um beijo para tudo o que é belo.
Por que não o pede para mim?"
"Você gostaria de ouro?", eu perguntei.
"Não", ele disse, "apenas sua vida".
Meu coração está tão repleto de seu amor
Que todo o resto desapareceu.
Ele me fez esquecer dos livros, da ciência e da temperança.
Ensinou-me apenas sobre o lirismo, poemas e métrica.
Quem procura por um jardim, encontra você.
Quem pensa no vinho e na vela, ama você.
Eles dizem, "O sono é alimento para o cérebro."
Quem tiver visto o Amado, que importância dará para o cérebro?
Rumi.
É MESMO?
O Mestre Zen, Hakuin, era respeitado por todos os seus vizinhos como alguém que levava uma vida pura.
Um dia, foi descoberto que uma moça muito bonita que morava perto de sua casa estava grávida.
Os pais da moça ficaram furiosos. No início, a moça não quis dizer quem era o pai, mas após muita pressão falou que era Hakuin.
Com muita raiva, os pais foram a Hakuin, mas tudo o que ele disse foi: “É mesmo?”
Quando a criança nasceu, foi levada a Hakuin que, a essa altura, já havia perdido sua reputação, o que parecia não perturbá-lo absolutamente.
Hakuin obteve leite, comida e tudo o mais que a criança necessitava, pedindo esmola a seus vizinhos com todo o carinho.
Um ano mais tarde, não suportando mais a situação, a mãe da criança contou a verdade a seus pais – o verdadeiro pai era um jovem que trabalhava no mercado de peixes.
O pai e a mãe da moça foram imediatamente a Hakuin contar-lhe toda a história. Desculparam-se muito, imploraram seu perdão e pediram a criança de volta.
Enquanto entregava a criança, de boa vontade, o Mestre simplesmente falou: “É mesmo?”
Osho.
Um dia, foi descoberto que uma moça muito bonita que morava perto de sua casa estava grávida.
Os pais da moça ficaram furiosos. No início, a moça não quis dizer quem era o pai, mas após muita pressão falou que era Hakuin.
Com muita raiva, os pais foram a Hakuin, mas tudo o que ele disse foi: “É mesmo?”
Quando a criança nasceu, foi levada a Hakuin que, a essa altura, já havia perdido sua reputação, o que parecia não perturbá-lo absolutamente.
Hakuin obteve leite, comida e tudo o mais que a criança necessitava, pedindo esmola a seus vizinhos com todo o carinho.
Um ano mais tarde, não suportando mais a situação, a mãe da criança contou a verdade a seus pais – o verdadeiro pai era um jovem que trabalhava no mercado de peixes.
O pai e a mãe da moça foram imediatamente a Hakuin contar-lhe toda a história. Desculparam-se muito, imploraram seu perdão e pediram a criança de volta.
Enquanto entregava a criança, de boa vontade, o Mestre simplesmente falou: “É mesmo?”
Osho.
O Homem Cuja Vida Era Inexplicável.
Havia uma vez um homem chamado Mojud. Vivia numa cidade onde obtivera um emprego como pequeno funcionário, e tudo parecia indicar que terminaria sua vida como Inspetor de Pesos e Medidas.
Certo dia quando caminhava ao longo dos jardins de um antigo edifício próximo à sua casa, Khidr, o misterioso Guia dos Sufis, surgiu diante dele, vestido de um verde luminoso. Então Khidr disse:
- Homem de brilhantes perspectivas! Deixe seu trabalho e se encontre comigo na margem do rio dentro de três dias. - Dito isso, desapareceu.
Excitado, Mojud procurou seu chefe e lhe disse que ia partir. E todos na cidade logo souberam do fato e comentaram:
- Pobre Mojud! Deve ter ficado louco.
Mas como havia muitos candidatos ao posto vago, logo se esqueceram de Mojud. No dia marcado, Mojud encontrou Khidr, que lhe disse:
- Rasgue suas roupas e se lance no rio, talvez alguém o salve.
Mojud obedeceu, embora se perguntasse se não estaria louco .
Já que sabia nadar, não se afogou, mas ficou boiando à deriva um longo trecho da corrente antes que um pescador o recolhesse em seu bote, dizendo:
- Homem insensato! A corrente aqui é forte. Que está tentando fazer?
- Na verdade eu não sei - respondeu Mojud.
- Vejo que perdeu a razão, mas o levarei à minha cabana de juncos junto ao rio e aí veremos o que se pode fazer por você - disse o pescador.
Quando o pescador descobriu que Mojud era bem instruído, passou a aprender com ele a ler e escrever. Em troca, Mojud recebeu alojamento e comida e ajudou o pescador em seu trabalho diário.
Transcorridos uns poucos meses, Khidr apareceu novamente, desta vez ao pé do leito de Mojud, e disse:
- Levante-se e deixe a cabana deste pescador. Será provido do necessário.
Vestido como um pescador, Mojud deixou imediatamente a humilde cabana e perambulou sem rumo certo até alcançar uma estrada.
Ao romper da aurora, viu um granjeiro montado num burro, a caminho do mercado.
- Procura trabalho? - perguntou o agricultor. - Estou precisando de um homem que me ajude a trazer algumas compras da cidade.
Mojud o acompanhou então. Trabalhou para o granjeiro durante quase dois anos, ao fim dos quais aprendeu muita coisa, mas somente sobre agricultura.
Uma tarde quando estava ensacando lã, Khidr fez nova aparição e lhe disse:
- Deixe esse trabalho, dirija-se à cidade de Mosul, e empregue suas economias para se converter em mercador de peles.
Mojud obedeceu.
Em Mosul tornou-se logo conhecido como um negociante de peles, sem voltar a ver Khidr durante os três anos em que exerceu seu novo ofício. Tinha reunido uma considerável quantia e estava pensando em comprar uma casa, quando Khidr lhe apareceu e disse:
- Dê-me seu dinheiro, afaste-se desta cidade rumo à distante Samarkand e lá passe a trabalhar para um merceeiro.
Foi o que Mojud fez. E logo começou a demonstrar indícios indubitáveis de iluminação. Curava os enfermos, servia a seu próximo no armazém e nas horas de lazer, e seu conhecimento dos mistérios da vida tomou-se cada vez mais profundo.
Sacerdotes, filósofos e outros o visitavam e indagavam:
- Com quem você estudou?
- É difícil dizer - respondia Mojud.
Seus discípulos perguntavam:
- Como iniciou sua carreira?
E ele retrucava:
- Como um pequeno funcionário.
- E deixou o emprego para dedicar-se à automortificação?
- Não, simplesmente abandonei a carreira.
Eles não o compreendiam.
Pessoas dele se acercavam, desejosas de escrever a história de sua vida.
- Que tem feito em sua vida? - indagavam.
- Em me atirei a um rio, fui salvo por um pescador com quem morei e trabalhei. Certa noite, abandonei a sua cabana de juncos. Depois, me converti num agricultor. Quando estava ensacando lã, larguei meu trabalho e me dirigi para Mosul, onde me tornei mercador de peles. Economizei algum dinheiro ali, mas o doei. Então fui para Samarkand, passando a trabalhar para um merceeiro. E aqui estou agora.
- Mas esse comportamento inexplicável não esclarece de modo algum seus estranhos dons e exemplos edificantes - observaram os biógrafos.
- Assim é - disse Mojud.
E foi assim que os biógrafos teceram em torno da figura de Mojud uma história maravilhosa e excitante. Porque todos os santos afinal devem ter sua história, e esta deve estar de acordo com a curiosidade do ouvinte, não com as realidades da vida.
E a ninguém é permitido falar de Khidr diretamente. É por isso que esta história não é verídica. É uma representação de uma vida. A vida real de um dos maiores sufis.
Extraído de 'Histórias dos Dervixes'
Idries Shah
Nova Fronteira 1976
quarta-feira, 22 de junho de 2011
CAMINHOS DO CORAÇÃO.
Joanna de Ângelis
Multiplicam-se os caminhos do processo evolutivo, especialmente durante a marcha que se faz no invólucro carnal.
Há caminhos atapetados de facilidades, que conduzem a profundos abismos do sentimento.
Apresentam-se caminhos ásperos, coalhadas de pedrouços que ferem, na forma de vícios e derrocadas morais escravizadores.
Abrem-se, atraentes, caminhos de vaidade, levando a situações vexatórias, cujo recuo se torna difícil.
Repontam caminhos de angústia, marcados por desencantos e aflições
desnecessárias, que se percorrem com loucura irrefreável.
Desdobram-se caminhos de volúpias culturais, que intoxicam a alma de soberba, exilando-a para as regiões da indiferença pelas dores alheias.
Aparecem caminhos de irresponsabilidade, repletos de soluções fáceis para os problemas gerados ao longo do tempo.
Caminhos e caminhantes!
Existem caminhos de boa aparência, que disfarçam dificuldades de acesso e encobrem feridas graves no percurso.
Caminhos curtos e longos, retos e curvos, de ascensão e descida, estão por toda parte, especialmente no campo moral, aguardando ser escolhidos.
Todos eles conduzem a algum lugar, ou se interrompem, ou não levam a parte alguma... São, apenas, caminhos: começados, interrompidos, concluídos...
Tens o direito de escolher o teu caminho, aquele que deves seguir.
Ao fazê-lo, repassa pela mente os objetivos que persegues, os recursos que se encontram à tua disposição íntima assinalando o estado evolutivo, a fim de teres condição de seguir.
Se possível, opta pelos caminhos do coração.
Eles, certamente, levarão os teus anseios e a tua vida ao ponto de luz que brilha à frente esperando por ti.
O homem estremunha-se entre os condicionamentos do medo, da ambição, da prepotência e da segurança que raramente discerne com correção.
O medo domina-lhe as paisagens íntimas, impedindo-lhe o crescimento, o avanço, retendo-o em situação lamentável, embora todas as possibilidades que lhe sorriem esperança.
A ambição alucina-o, impulsionando-o para assumir compromissos perturbadores que o intoxicam de vapores venenosos, decorrentes da exagerada ganância.
A prepotência anestesia-lhe os sentimentos, enquanto lhe exacerba as paixões inferiores, tornando-o infeliz, na desenfreada situação a que se entrega.
A liberdade a que aspira, propõe-lhe licenças que se permite sem respeito aos direitos alheios nem observância dos deveres para com o próximo e a vida; destruindo qualquer possibilidade de segurança, que, aliás, é sempre relativa enquanto se transita na este física.
Os caminhos do coração se encontram, porém, enriquecidos da coragem, que se vitaliza com a esperança do bem, da humildade, que reconhece a própria fragilidade, e satisfaz-se com os dons do espírito - ao invés do tresvariado desejo de amealhar coisas de secundário importância - os serviços
enobrecedores e a paz, que são a verdadeira segurança em relação às metas a conquistar.
Os caminhos do coração encontram-se iluminados pelo conhecimento da razão, que lhes clareia o leito, facilitando o percurso. Jesus escolheu os caminhos do coração para acercar-se das criaturas e chamá-las ao reino dos Céus.
Francisco de Assis seguiu-Lhe o exemplo e tornou-se o herói da humildade.
Vicente de Paulo optou pelos mesmos e fez-se o campeão da caridade.
Gandhi redescobriu-os e comoveu o mundo, revelando-se como o apóstolo da não-violência.
Incontáveis criaturas, nos mais diversos períodos da humanidade e mesmo hoje, identificaram esses caminhos do coração e avançam com alegria na direção da plenitude espiritual.
Diante dos variados caminhos que se desdobram convidativos, escolhe os caminhos do coração, qual ovelha mansa, e deixa que o Bom Pastor te conduza ao aprisco pelo qual anelas.
Psicografia de Divaldo P. Franco – Momentos de Felicidade
A Tempestade do Destino.
Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de
mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de
ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no
teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de
dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é
uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta
tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta
deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os
ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma
ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a
noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca
e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma
tempestade de areia assim que deves imaginar.
E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa
tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e
simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue
de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho,
quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos
outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido
atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a
tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres
da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem
sentido.
Haruki Murakami.
mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de
ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no
teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de
dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é
uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta
tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta
deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os
ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma
ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a
noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca
e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma
tempestade de areia assim que deves imaginar.
E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa
tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e
simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue
de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho,
quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos
outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido
atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a
tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres
da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem
sentido.
Haruki Murakami.
As Lições dos Gansos.
Quando um ganso bate as asas, cria um "vácuo" para o pássaro seguinte. Voando numa formação em "V", o bando inteiro tem o seu desempenho 71% melhor do que se a ave voasse sozinha.
Lição: Pessoas que compartilham uma direção comum e senso de comunidade podem atingir seus objetivos mais rápido e mais facilmente pois estão contando com a ajuda de outros.
Sempre que um ganso sai de formação, sente subitamente a resistência por tentar voar sozinho e, rapidamente, volta para a formação, aproveitando a "aspiração" da ave imediatamente à sua frente.
Lição: Se tivermos tanta sensibilidade como um ganso, permaneceremos em formação com aqueles que se dirigem para onde pretendemos ir e nos dispomos a aceitar a sua ajuda, assim como prestar a nossa aos outros.
Quando o ganso líder se cansa, muda para trás na formação e imediatamente, um outro ganso assume o lugar, voando para a posição de ponta.
Lição: É preciso acontecer um revezamento das tarefas pesadas e dividir a liderança.
As pessoas, assim como os gansos, são dependentes umas das outras. Os gansos de trás, na formação, grasnam para incentivar e encorajar os da frente a aumentar a velocidade.
Lição: Precisamos nos assegurar que nosso "grasno" é ENCORAJADOR, e não outra coisa...
Quando um ganso fica doente, ferido ou abatido, dois gansos saem da formação e seguem-no para ajudá-lo ou protegê-lo. Ficam com ele até que esteja apto a voar de novo ou morra. Só assim, eles voltam ao procedimento normal, com outra formação, ou vão atrás do bando.
Lição: Se tivermos bom senso tanto quanto os gansos, também estaremos ao lado dos outros nos momentos difíceis.[D.A]
Orações Místicas - Jalal-ud-din Rumi.
Ó Deus, Sua graça é o correto objeto do nosso desejo.
Não é próprio acrescentar outro ao Senhor.
Nada é mais amargo do que afastar-se do Senhor.
Sem Sua proteção não há nada, exceto desorientação.
Nossos bens materiais nos privam de nossos bens espirituais.
Nosso corpo rompe as vestes da nossa alma.
Nossas mãos, como estão, oprimem nossos pés.
Sem confiarmos no Senhor, como poderemos viver?
E se a alma escapa destes grandes perigos,
É capturada como vítima de infortúnios e medos.
Pois quando a alma não está unida ao Bem-Amado,
Ela vive cega e obscurecida por si mesma.
Invocação Sufi.
Louvado seja, ó Oculto e Manifesto. Louvada seja Sua glória, Sua força, Seu poder e Sua grande habilidade. Ó Alá, toda a grandeza é Sua. Ó Senhor, que possui o poder, a beleza e a perfeição; É o espírito de tudo. Louvado seja, ó Soberano de todos os monarcas; Mestre de todos os assuntos; Controlador de todas as coisas; Governante de todos os seres. O Senhor é livre da morte, livre do nascimento e livre de todas as limitações. Ó Eterno, o Senhor é livre de todas as condições, intocado por todas as coisas. Ó Alá, o Senhor é o Deus de todas as almas na terra; é o Deus das hostes celestes.Jalal-ud-din Rumi
Não é próprio acrescentar outro ao Senhor.
Nada é mais amargo do que afastar-se do Senhor.
Sem Sua proteção não há nada, exceto desorientação.
Nossos bens materiais nos privam de nossos bens espirituais.
Nosso corpo rompe as vestes da nossa alma.
Nossas mãos, como estão, oprimem nossos pés.
Sem confiarmos no Senhor, como poderemos viver?
E se a alma escapa destes grandes perigos,
É capturada como vítima de infortúnios e medos.
Pois quando a alma não está unida ao Bem-Amado,
Ela vive cega e obscurecida por si mesma.
Invocação Sufi.
Louvado seja, ó Oculto e Manifesto. Louvada seja Sua glória, Sua força, Seu poder e Sua grande habilidade. Ó Alá, toda a grandeza é Sua. Ó Senhor, que possui o poder, a beleza e a perfeição; É o espírito de tudo. Louvado seja, ó Soberano de todos os monarcas; Mestre de todos os assuntos; Controlador de todas as coisas; Governante de todos os seres. O Senhor é livre da morte, livre do nascimento e livre de todas as limitações. Ó Eterno, o Senhor é livre de todas as condições, intocado por todas as coisas. Ó Alá, o Senhor é o Deus de todas as almas na terra; é o Deus das hostes celestes.Jalal-ud-din Rumi
Esvazie a mala.
Pessoas que não conseguem desapegar-se das coisas que acumulam na vida deixam de aproveita-la porque não conseguem livrar-se de suas pesadas bagagens.
Em minhas viagens, costumo encontrar muitas pessoas que não curtem a jornada porque estão preocupadas demais com sua imensa bagagem.
O mesmo acontece com as pessoas que não conseguem desapegar-se das coisas que acumulam na vida: bens, cargos, posições e até mesmo relacionamentos.
Elas, com freqüência, deixam de aproveitar a vida porque não conseguem livrar-se de suas pesadas bagagens.
A ruptura de um relacionamento, por exemplo, não é nada fácil, embora em geral, no começo da relação, tudo seja muito simples e gostoso. Estamos, normalmente, tomados pelo delicioso anestésico da paixão. Lidar com o fim de uma relação, porém, é coisa que poucos sabem – embora todos nós possamos aprender.
A melhor história de desapego que conheço aconteceu com um casal de amigos meus. Certo dia, eles me convidaram para uma festa. Ao chegar, vi que se
tratava de uma ocasião especial: decoração caprichada, banda de música, todos os amigos e familiares presentes. Lá pelas tantas, para surpresa geral, o casal anunciou que a festa era em comemoração de sua despedida.
Estavam celebrando o fim de um ciclo de sua vida após dezessete anos de união. Em um discurso, explicaram:
– Para que a planta nasça, é preciso matar a semente. Para que o fruto exista, é preciso morrer a florada. A borboleta só surge com o desaparecimento da lagarta. O ser humano não existe sem o embrião e só vinga
com a transformação do óvulo. Estamos morrendo para esse relacionamento, porém sinceramente preocupados e comprometidos em nascer para outros muito
melhores, em que possamos doar o máximo de cada um de nós! Por favor, não fiquem tristes com nossa separação porque os amigos do coração nunca se separam.
Eles decidiram separar-se quando perceberam que estavam mais preocupados em anular a alegria um do outro do que em ser felizes. Se, para serem felizes, era importante transformar essa relação, eles dariam esse passo. Até mesmo para manter a amizade.
Que coragem, não?
É muito raro que alguém admita diante do parceiro que está casado por causa do conforto e não tem mais coragem de enfrentar a própria vida.
Se meu casal de amigos insistisse em seu relacionamento, provavelmente acumularia infelicidades e não poderia aproveitar os diversos passarinhos do amor que ainda surgiriam.
Por isso, não tema deixar para trás as coisas que já morreram. Elas são como uma bagagem que não é mais necessária. Somente nossa experiência de vida e nosso desejo de criar uma existência cheia de significado são tesouros leves para carregar.
Roberto Shinyashiki.
terça-feira, 14 de junho de 2011
O mercador de Veneza.
Trata-se de uma das obras mais polêmicas
do célebre dramaturgo inglês. Escrito no findar dos anos 1500, época em
que os judeus estiveram ausentes da Inglaterra (foram expulsos em 1290,
e só seriam novamente aceitos em 1655), capta as chocantes caricaturas
feitas pelos ingleses.
Em O Mercador de Veneza, o personagem que mais chama a atenção
não é o mocinho, e sim o vilão, criado para dar um tom cômico à peça.
Trata-se do agiota e judeu _ daí a polêmica _ Shylock, retratado como
indivíduo desprezível. A vítima, o cristão Antônio, cidadão bem
sucedido de Veneza, faz um contrato atípico com o agiota, penhorando
453 gramas de sua própria carne. Agora, o vilão faz questão de tal
medonha extração, o que levaria Antônio a morte. O que se observa é a
velha e infeliz máxima anti-semita. O judeu ?do mal?, quer sangue do
?bom cristão?.
Durante anos, tal peça foi encenada, sempre ascendendo
discussões, ou mesmo pregando o anti-semitismo. Nos territórios
nazistas, por exemplo, essa se tornou a peça mais popular de
Shakespeare nos anos 30 e 40. Após a Segunda Guerra Mundial, a história
tornou-se constrangedora e passou a ser exibida somente com
interpretações mastigadas, tentando expor inclusive as mazelas do
preconceito sofrido pelo próprio Shylock.
O autor, em seu original, também busca trabalhar com o
emocional do vilão, o mostrando como humano em suas características
sentimentais. O fato é que o dramaturgo inglês foi certamente
influenciado pela onda deletéria aos judeus, presente em sua época.
Todavia, é a índole e as convicções ideológicas do leitor ou do
expectador de O mercador de Veneza, que vai relativizar ou aceitar a
pilhagem anti-semita integralmente.Shakespeare.
Profecias do Arco Íris.
"O Olho do Sol" pequeno Lobo
Grande Mistério.
"Deus" não é uma unidade.
Há milhares de anos o homem vem tentando separar "Deus" de tudo o que existe, fazendo com que ele seja considerado uma unidade separada. Isto não é verdade. "Deus" está em todas as coisas, nas pessoas (boas ou más), nos objetos, nas plantas, nos animais (até nos microorganismos), na Terra (nos minerais), no ar, na água, nas estrelas, no espaço (aparentemente vazio), enfim, em tudo o que é visível e o que não é visível. Deus é uma totalidade que permeia todo o Universo, "Deus" está em você em mim e em tudo que existe, que existiu e que existirá. Ele existe antes de tudo e depois de tudo, ele é o começo, o meio e o fim. O título "Deus" é apenas um nome para definir o que não podemos definir.
Nós homens queremos sempre explicar tudo, até "Deus", colocando um nome nele, mas ele não pode ser explicado nem definido só por uma pequena e limitada parte do Todo ao qual pertencemos. Seu tamanho é infinito demais para que nossa razão possa explicá-lo. Para mim ele é um Mistério maravilhoso e assustador diante da minha pequenez, não tem cor, não tem raça, não tem forma.
Desse Mistério que tentamos definir como "Deus", tudo emana, tudo respira, tudo se transforma. Cada comunidade, cada tribo, cada povo, tenta dar nome em vão a esse Mistério, e cada qual achando que seu "Deus" é o verdadeiro. Isso cria uma separação entre os homens, fazendo com que a paz e a harmonia, infinita e incessante, que flui desse Mistério seja bloqueada em nossas mentes, causando uma ruptura no equilíbrio em nossas vidas, pois desligados do Todo, nos achamos fora do contexto do nosso Planeta e das outras formas de vida.
Então promovemos uma destruição da vida que o Mistério nos deu, destruição esta que está atingindo o Planeta todo, inclusive os próprios homens. Todas as outras formas de vida também fazem parte do Mistério ao qual pertencemos. Essa separação só existe em nossas mentes. O Mistério continua permeando tudo infinitamente, o tempo passará, os homens passarão, mas o Mistério sempre existirá. "Deus" é a união de tudo que existe. Não se pode "ver Deus" sem que o todo seja observado, mesmo assim ele jamais poderá ser explicado, apenas sentido.
Vivemos um sonho (ou pesadelo) que nós mesmos criamos. Precisamos acordar a tempo, para que nossos filhos também possam partilhar desse Mistério junto com as outras formas de vida, para que possamos honrar o Mistério que nos criou do qual nós dependemos.
Desejo que a Paz e a Luz desse Mistério volte a habitar no coração dos homens, para que nosso Planeta Mãe volte a respirar aliviado, e paire tranqüilo no berço do Mistério.F.Grupos: Yahoo.
SUFISMO.
Sheikh Muzaffer Ozak
(palestra proferida aos derviches da Ordem Sufi Jerrahi nos Estados Unidos)
Bismillahir Rahmanir Rahim (Em nome de Deus, o Mais Clemente, o Mais Misericordioso)
O Sufismo não é diferente do misticismo de todas as religiões. O misticismo vem de Adão (que a Paz de Allah esteja com ele) e adotou diferentes formas ao longo dos séculos: por exemplo o misticismo de Jesus (que a Paz de Allah esteja com ele), dos monges eremitas e de Muhammad (que a Paz e as Bençãos de Allah estejam com ele)l). Um rio passa por muitos países e cada um deles o reivindica para si, mas só há apenas um rio.
A Verdade não muda: as pessoas mudam. As pessoas pretendem possuir a Verdade e guardá-la para si, mantendo-a fora do alcance dos outros, mas não se pode possuir a Verdade.
O Caminho do Sufismo é a eliminação de qualquer intermediário entre o indivíduo e Deus. A meta é atuar como uma extensão de Deus, não como uma barreira.
Ser um derviche (estudante do Sufismo) é sentir e ajudar aos outros, não somente sentar e rezar. Ser um verdadeiro derviche é levantar aqueles que caíram, enxugar as lágrimas dos que sofrem e confortar aos órfãos e aos que estão sós.
Pessoas diferentes possuem capacidades diferentes. Uns podem ajudar com suas mãos, outros com sua língua, outros com suas orações e outros com suas riquezas. Podes chegar a algum lugar por ti mesmo, mas esse é o caminho mais difícil.
Nossas metas pessoais conduzem todas ao mesmo fim: só há uma Verdade! Mas, por que negar os milhares de anos de experiência entesourados pela religião? Estes oferecem um caudal de verdadeira sabedoria destilada por tantos anos de busca, prova e erro.
Ter só meia religião é um gravíssimo equívico que te manterá alijado da verdadeira fé. Visitar a alguém que é somente meio médico é terrivelmente perigoso. Um meio governante é um tirano.
Muitos se debatem no labirinto da religião e as diferenças religiosas. São como cães pelejando por um osso, buscando seus próprios interesses egoístas. A solução é recordar que há um Só Criador que nos sustém a todos. Quanto mais recordermos d'Ele, menos lutaremos.
Um Sheikh Sufi é como um médico para o estudante cujo coração está enfermo. O estudante acode ao Sheikh para curar-se.
Um verdadeiro Sheikh prescreverá uma dieta e uma medicação determinadas para curar as enfermidades de cada pessoa. Se os estudantes seguem as prescrições de seu Sheikh se curarão. Se não, podem destruir-se a si mesmos. Os pacientes que empregam de forma errônea as receitas de seu médico estão chamando a sua própria ruína.
Em um nível mais elevado, a relação entre um Sheikh e seus estudantes é como a de um cacho de uvas e o ramo do qual este pende. O Sheikh conecta as uvas à árvore, a seiva à fonte da seiva.
É extremamente importante entender bem essa conexão. É como a que há entre uma lâmpada e a corrente elétrica. A energia é a mesma. Alguns Sheikhs tem 20 Volts e outros 100, mas todos transmitem a mesma eletricidade.
Os olhos são as janelas da alma, olhando aos estudantes o mestre os conecta. Pode haver uma grande força no olhar de um Sheikh.
A primeira etapa é ter fé. O primeiro passo nesta etapa é ter fé no próprio Sheikh, a qual se expressa no submetimento a sua pessoa. Através dessa submissão tua arrogância se transformará em humildade; tua ira e tua agressividade se transmutarão em bom caráter e suavidade. O primeiro passo é muito importante.
Nem todos os que levam um turbante e veste túnicas chamativas é um Sheikh. Mas uma vez que, por vontade de Allah, encontrou a um verdadeiro, o primeiro passo é a submissão.
O questionar e duvidar, como tanto se insiste no Ocidente hoje em dia, também pode levar à Verdade. De fato há algo cego em submeter-se sem pensar. Pode ser que seja melhor buscar, meditar primeiro e decidir seguir a um Sheikh só quando hajas resolvido todas as dúvidas e perguntas.
Em nossa tradição, geralmente se considera uma grande falta de educação questionar ou duvidar de teu Sheikh. No entanto, pode ser bom questionar-se e através das respostas tua fé se torna mais clara e firme.
Um dia o Profeta Abraão perguntou a Deus: "Como podes devolver a vida aos mortos?". Deus respondeu: "Abraão, não tens fé em Mim? Dúvidas de Mim?". Abraão respondeu: "Sim, tenho fé e Tu sabes o que há em meu coração. Mas só queria ver com meus próprios olhos".
Há quatro caminhos para a fé. O primeiro é o caminho do conhecimento. Alguém vem a ti e te fala de algo que nunca havia visto. Por exemplo, muitas pessoas falaram deste país, mas eu nunca o contemplei. Finalmente tomei um avião para vê-lo com meus próprios olhos do ar. Então minha fé se fez mais forte. Agora estou aqui e minha fé é ainda mais forte. O último nível seria chegar a fazer parte deste país.
Os quatro caminhos para a fé são:
- Conhecimento de algo;
- Visão de algo;
- Estar em algo;
- Tornar-se algo.
É bom ter dúvidas, mas não se deveria permanecer em dúvidas. A dúvida deveria levar-te à Verdade. Não pare nas perguntas. A mente também te pode enganar. O conhecimento e a ciência podem enganar-te. Existe um estado, que é parte do destino de algumas pessoas, no qual os olhos que vêem deixam de ver, os ouvidos que ouvem deixam de ouvir, e a mente que imagina e considera deixa de imaginar e considerar.
O povo do Profeta Abraão estava formado por adoradores de ídolos. Mas ele buscava a Deus. Um dia, contemplando a estrela mais brilhante do firmamento, disse: "Tu és meus Senhor". Então saiu a lua e voltou a dizer: "Tu és meu Senhor". Então saiu o sol e a lua e as estrelas desapareceram. Abraão disse: "Tu é meu maior, tu és meus Senhor". Mas com a chegada da noite o sol também desapareceu e Abraão disse: "Meu Senhor é Aquele que faz aparecer e desaparecer as coisas gerando todas as transformações. Meu Senhor é Aquele que está por trás de toda mudança".
Por meio deste processo, passo a passo, vê-se como o Profeta Abraão passou da adoração de ídolos à verdadeira adoração de Deus, salvando assim suas gentes da falsidade. Certamente se pode chegar à Unidade através da multiplicidade.
Os "nafs" - o Eu inferior - se acha sempre em batalha com a alma. Essa batalha continuará durante toda a vida. A questão é quem educará a quem? Quem dominará a quem? Se a alma chega a ser amo, te tornarás um crente, alguém que abraça a Verdade. Mas se o "Eu Inferior" é o que domina a alma, serás um dos que nega a Verdade.
Deus disse: "Eu, ao que todos os mundo são incapazes de abarcar, posso caber no coração de um crente".
(...)
Aí está a essência de Deus e de Seus Atributos. A essência é incompreensível para nós! Podemos começar por entender os Atributos. De fato, parte da educação Sufi é compreender esses atributos dentro de si mesmo.
Deus disse: "Meus servos Me encontrarão na forma em que me vêem". Isto não quer dizer que quando pensas em Deus com uma uma árvore ou montanha Deus será essa árvore ou essa montanha. Mas se pensas em Deus como Misericordioso ou Pleno de Amor, ou como colérico e vingativo, assim é como O encontrarás.
No Sufismo é lícito falar de todos os atributos de Deus.
Finalmente, o Sufi chega ao estado de submissão e, então, deixa de fazer perguntas.
Há eletricidade em todas as partes, mas se somente possui três lâmpadas, tudo o que verás são essas três lâmpadas. Tens que ser consciente de ti mesmo. Este é o atributo e a via. Somente através do conhecimento de ti mesmo, entenderás certos atributos.
A conexão com os atributos se obtém através do conhecimento de si mesmo. Exteriormente não encontrarás nada.
Toda a criação é a manifestação de Deus, mas como em certas partes da terra se recebe mais sol do que em outras, a algumas pessoas lhes é dada mais luz. Os Profetas de Deus receberam o máximo de Luz Divina. Ademais da quantidade, está a qualidade! Aí está a questão de que é aí que os Atributos se manifestam. Certas pessoas são manifestações de diferentes Atributos Divinos. Os Profetas manifestaram todos os Atributos Divinos. A lua reflete a luz do Sol. O Sol é a verdade e a Lua é cada um dos Profetas.
domingo, 5 de junho de 2011
As Portas do Paraíso.
Havia uma vez um bom homem que levou toda a sua vida cultivando as qualidades indicadas aos que deveriam alcançar o Paraíso. Ajudou bastante aos pobres, amou e serviu a seus semelhantes. Ciente da necessidade de ter paciência, suportou grandes e inesperadas privações, muitas vezes em benefício do próximo. Fez viagens em busca de conhecimentos. Sua humildade e seu comportamento modelar eram tão expressivos que sua reputação de homem sábio e bom cidadão ficou conhecida desde o Oriente ao Ocidente, e desde o Norte ao Sul.
Certamente que ele punha em prática todas aquelas qualidades, cada vez que delas se lembrava. Mas tinha um defeito, a negligência. Tal propensão não era acentuada nele, e achava que, comparada com as outras boas ações que praticava, podia ser encarada como uma pequena falha. Houve alguns pobres aos quais ele não ajudou, pois de quando em quando tornava-se insensível as suas necessidades. Algumas vezes, também, esquecia-se de estimar e atender aos outros, quando entravam em jogo o que encarava como necessidades pessoais, ou pelo menos desejos.
O sono lhe apetecia muito, e por vezes, quando se achava adormecido, perdia de modo irreparável oportunidades de alcançar conhecimentos, ou de entendê-los devidamente, ou ainda de exercitar a verdadeira humildade, e de aumentar o número de boas ações.
E assim como as boas qualidades tinham deixado impressa a sua marca em seu ser essencial, assim também aconteceu com o sinal deixado por sua negligência. E foi então que ele veio a morrer. Encontrando-se mais além desta vida e dirigindo-se para os portais do Jardim Amuralhado, o nosso homem parou um momento para um exame de consciência. E sentiu que sua oportunidade era única de penetrar nos umbrais do Paraíso.
Viu que as portas estavam fechadas e aí soou uma voz que lhe disse:
- Permaneça atento, pois as portas se abrirão somente uma vez em cada cem anos.
O homem se acomodou para esperar, ansioso com a perspectiva de ser aceito. Mas, perdidas agora as oportunidades de exercitar virtudes em benefício da humanidade, ele se deu conta de que sua capacidade de atenção não lhe era suficiente.
Após ter permanecido atento durante um intervalos de tempo que lhe pareceu um século, começou a cochilar. E no instante infinitesimal em que seus olhos se fecharam, as portas do Paraíso foram abertas de par em par. E antes que os olhos do homem se abrissem de novo, as portas se fecharam. Com um estrondo bastante forte para ressuscitar os mortos.
Extraído de 'Histórias dos Dervixes'
Idries Shah
Nova Fronteira 1976
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