segunda-feira, 12 de março de 2012

Poemas de Kabir.


1-SOBRE DEUS

Ele não tem forma nem extensão,
Ele não tem corpo nem territorialidade.
No meio da mandala celestial, Ele permanece,
o Ser Incorpóreo.
Ele é meu Senhor, o Um. E o Um somente, sem um segundo.
Quem quer que diga “Ele é mais do que um”,
este não pertence a boa linhagem.
Kabir diz: “Cultuo Deus-Com-Atributos,
conheço Deus-Sem-Atributos;
mas, além dos Atributos e dos Não-Atributos,
é lá que fixo minha atenção!”

2-ONDE PROCURAR DEUS

Onde me procuras?
Estou contigo.
Não nas peregrinações ou nos ídolos,
tampouco na solidão.
Não nos templos ou nas mesquitas,
tampouco na Caaba ou no Kailash.
Estou contigo, ó homem,
estou contigo.
Não nas preces ou na meditação,
tampouco no jejum.
Não nos exercícios iogues ou na renúncia,
tampouco na força vital ou no corpo.
Estou contigo, ó homem,
estou contigo.
Não no espaço etéreo ou no útero da Terra,
tampouco na respiração da respiração.
Procura ardentemente e descobre,
num instante único de busca.
Kabir diz: escuta, com atenção!
Onde está tua fé, lá eu estou.

3-SOBRE A AUTO-REALIZAÇÃO

Ó, ser liberto, eu sou o iogue de muitas eras:
não venho, nem vou, tampouco me esvaneço;
eu saboreio e desfruto o Som Não-Percutido.
Em toda direção, vejo apenas uma coleção e um carnaval de mim:
estou em todos e todos, em mim;
sou eu apenas, absolutamente só.
Eu sou o siddha, eu sou o samadhi:
eu sou o que silencia, eu sou o que fala;
a forma é minha própria forma manifestando o sem-forma.
Eu sou aquele que joga o jogo consigo mesmo.
Kabir diz: escuta, ó sadhu! Já não há mais desejo.
Estou flutuando em mim mesmo, em minha própria cabana,
brincando sem esforço por vontade própria.

***
A misericórdia do meu verdadeiro Guru
me fez conhecer o desconhecido.
Com ele aprendi a caminhar sem os pés,
ver sem olhos, escutar sem ouvidos,
beber sem boca, e sem asas, voar.
Levei meu amor e minha meditação
ao reino onde sol não há, nem lua, nem noite, nem dia.
Sem tocar com meus lábios, do néctar mais doce provei;
e saciei minha sede sem nada beber.
Lá onde houver deleite, plena alegria haverá.
A quem haverei de cantar tal júbilo?
A grandeza do Guru excede louvores,
e grande é a ventura do discípulo.

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