sábado, 30 de junho de 2012

SUFISMO.


O Sufismo tem sido reconhecido há muito tempo como representantes da espiritualidade e detentores dos conhecimentos e práticas do caminho místico, no despertar da espiritualidade humana, e no resgate da relação do ser humano com o Divino, na busca do desenvolvimento pleno de sua consciência e suas infinitas potencialidades.
O Sufismo contém elementos comuns de outras tradições e pode dar continuidade à elas incorporando-as dentro de seu processo.
O Sufismo tem um caráter universal, mesmo estando ele ligado ao contexto do mundo Islâmico. Encontramos no Sufismo aspectos das tradições da antiga Pérsia, Egito, Grécia, e outras. Vemos dentro de seus conhecimentos e práticas um conhecimento mais amplo que praticamente sintetiza os elementos mais diversos. O Sufismo tem como objetivo o retorno do ser humano à sua dimensão mais perfeita aproximando-o ao Divino, como qualquer caminho místico verdadeiro.
O Sufismo foi o grande responsável por introduzir no Islã um grau cultural que acabou por influenciar o próprio Ocidente durante a Idade Média. O Sufismo influenciou tanto Cristãos e Judeus como as escolas esotéricas. Também influenciou a filosofia, com a tradução dos textos dos filósofos gregos e em todo o desenvolvimento posterior, nas ciências, na medicina, na matemática, na astronomia e nas Artes através da influência moura.
Os primeiros Sufis apareceram alguns anos após a morte do profeta Maomé. Eram indivíduos que se retiraram para o deserto ou para locais sem evidência, para preservar e dar continuidade aos conhecimentos que receberam. À eles Maomé teria confiado os aspectos mais esotéricos do
conhecimento que possuía, a dimensão mais mística ou espiritual.
Em contato com outras tradições, estes primeiros sufis foram os maiores responsáveis pelo desenvolvimento da dimensão mística do Islã, e aos poucos foram formando escolas e ganhando importância como os verdadeiros representantes da espiritualidade. Começaram a ser conhecidos como Sufis e inseriram suas escolas na comunidade.

A melhor aproximação na definição de Sufismo reside em um de seus próprios atributos, o Caminho. Uma via que dá acesso ao "Ser Humano Desperto".
O Sufismo considera o homem atual não plenamente no gozo das qualidades e atributos a que afirma ter direito e uso. O seu comportamento poderia ser qualificado de "Sono".
Para despertar esse homem, o Sufismo dispõe de um arsenal de meios, métodos e processos.
Existem princípios que permitem a escolha correta. O princípio do tempo correto, do lugar correto, de pessoas corretas, de situação social correta e a presença de um mestre preparado.
Reais progressos, segundo os sufis, só podem ser realizados sob a orientação de um mestre vivo e atuante. A aproximação ao Sufismo feita através de livros, palestras e discussões é mera aproximação.
O Sufismo é um processo vivencial e experimental que, sob as orientações de um mestre qualificado, dentro das condições de tempo, lugar e situação social e pessoal realiza a transformação do ser humano, de forma a levá-lo a um aperfeiçoamento, cujo produto final é conhecido como Sufi.
Este processo não entra em conflito com as necessidades, disposições, realizações e realidades, do mundo exterior ao indivíduo.
Um sufi pode existir em qualquer lugar. O Sufismo é a essência absoluta de todas as religiões. Sempre que uma religião se torna viva é por causa do Sufismo.
Sufismo significa simplesmente um caso de amor com o supremo, um caso de amor com o todo. Sufismo é a arte de remover obstáculos entre você e você, entre o self e o self, entre a parte e o todo.Ele não conhece formalidade.
Um sufi é um sufi. Não há como definí-lo. Através da mente e do intelecto não é possível conhecê-lo.Você pode apenas vivenciá-lo. A única maneira de saber o que é um sufi.é tornar-se um deles.
O Sufismo só pode ser transferido de pessoa a pessoa e não a partir de um livro. É uma transmissão além das palavras. Os sufis tem uma palavra especial para isso que é Silsila. Silsila significa uma transferência de um coração a outro coração, de pessoa a pessoa. O Sufismo é muito pessoal.
Um sufi tem de obter uma inocência primal. Ele tem de abandonar todos os tipos de cultura, condicionamento. Ele tem de se tornar novamente um animal.
Sufi significa lã, na raiz da palavra alemã e árabe.
Quando você escolhe que isto é bom e aquilo é mau, você permanece dividido.
Um sufi não conhece escolha. Ele é consciente sem escolha. O que quer que aconteça, ele aceita como uma causa dada por Deus. Ele confia na mente universal.
A palavra sufi pode ser derivada de sufa - pureza, limpeza, purificação. Quando você vive uma vida sem escolhas, surge uma pureza natural no sentido de ser divino.
Para um sufi Deus não é uma idéia. É sua realidade vivida. Esta realidade não está em algum lugar no céu. Ela está aqui e em todos os lugares, agora. Deus é apenas um nome para a totalidade da existência.
A palavra sufi pode ser derivada de outra palavra, sufia, que significa escolhido como amigo de Deus.
A sabedoria surge através do seu próprio ser. Você é a luz de si mesmo.
O Alcorão diz que três qualidades tem de estar no coração do buscador. A humildade, a caridade e a verdade (autenticidade). Estes são os três pilares do Sufismo.
Humildade define o homem que entendeu todas as formas do ego, não do desejo.
Caridade aparece quando você, a partir da sua abundância, compartilha a alegria de dar tal como a flôr dá o seu perfume.
O sufi vive no momento e esse pequeno momento torna-se luminoso através da concentração de energia.
O Sufismo é o caminho do amor e do sentimento. Sufismo é o despertar do coração.
Os sufis são aqueles que tem coração. O coração é a faculdade de perceber o bem amado. Só atravéz do coração você realiza a vida. É como uma celebração. O Sufismo é uma grande celebração. Um sufi lhe dá métodos, não doutrina. Os sufis são chamados "O povo do caminho" e eles dizem: Trabalhem o método!
Para seguir um método a pessoa precisa estar em busca. Um mestre vivo lhe dará apenas uma visão do que é possível. Então você começa a trabalhar por si mesmo. Cada um tem de encontrar sua própria disciplina.
Existem três planos: corpo, mente e alma.
O primeiro é sharia, que significa o corpo da religião. O ritual, o formal e mais social do que espiritual.
Sharia é o núcleo superficial da religião. Sharia é a circunferência de um círculo.
A segunda camada é hagiga. É o centro da circunferência, a alma da religião e a essência.
O terceiro plano é a tarica que significa o caminho, o método, de fora para dentro.
Só um raio pode ligar a circunferência ao centro e os raios são as pessoas do caminho, que transmitem muitas técnicas.
Tárica é levar a pessoa até a verdade para que ela possa ver por si mesma.
Cada degrau tem de ser celebrado.
O sufi dá a você o conhecimento sobre tárica, sobre o método mas não dá a você conhecimento sobre princípios.
Os sufis dizem que se um homem não tem consciência, nada pode ser ensinado.
Sufi significa consciência na vida, conciência num plano mais elevado do qual normalmente vivemos.
Um mestre não reajusta a sua mente, ele o ajuda a dissolvê-la livre de condicionamentos, leis, sociedade. Ele lhe dá liberdade.
Quando a pessoa começa a se perguntar o que é a religião verdadeira, o que é o verdadeiro Deus, ela se transforma em um buscador sufi.
Não há nenhum significado existindo na vida. Alguém tem de criá-lo.
A verdade religiosa não é uma coisa. É um significado e um sentido. Cada pessoa ir atrás dela para descobrí-la e explorá-la.
O conhecimento é uma teoria; o conhecer é uma experiência; conhecer quer dizer que você abre os olhos e você vê . Conhecimento significa que quem abriu os olhos viu e fala sobre isso e continua a acumular informações.
Os sufis dizem que se uma pessoa quer renunciar a algo, deve renunciar ao conhecimento que acumulou na memória. Essa é a verdadeira barreira para se tornar como crianças, um inocente.
Toda a existência é de cada pessoa. Ela deve explorá-la sem nenhum preconceito e filosofia mantendo a mente aberta. e assim ficará surpresa por descobrir que Deus existe.
A existência é um mistério, o imprevisível está em todo lugar. O corpo é a alma visível e a alma é o corpo invisível.
Contemplação Sufi significa pessoas sentadas em profunda recordação de Deus. Apenas sentadas silenciosamente observando a fonte fluindo energia. O que vier do mestre, a pessoa está pronta para recebê-la.
Baraka, a graça, está sempre fluindo do mestre. Se você estiver aberto, você será preenchido por ela. Você pode beber da fonte do seu mestre, onde quer que você esteja.
Meditação é um meio de ir para dentro de si mesmo, na profundidade onde os pensamentos não existem.
Sufis, o povo do caminho - Livro de Osho.

"INTOXICAÇÃO DIVINA"


Nós bebemos o vinho do nosso próprio sangue,
envelhecido nos barris de nossas próprias almas.
Nós daríamos nossa vida por um pequeno gole daquele néctar,
nossas cabeças em troca de uma só gota.

Outra manhã!
Sirva o vinho!
A vida sem seu amor
não é nada senão morte lenta.
A decisão é sua -
Aceite o choro do silencioso rubah
Ou suporte este coração que queima
repleto de pesar.

Oh irmão,
Tome um gole desta taça dourada -
Seu néctar irá transformar este mundo em um paraíso.
Beba, beba e ria da nuvem
que os outros chamam de desespero.

Estou tão embriagado
Que perdi a entrada e a saída.
Perdi a terra, a lua e o céu!
Não coloque outro copo de vinho na minha mão,
Coloque-o em minha boca -
Porque perdi o caminho da minha própria boca!

Nossa embriagues não vem do vinho.
A alegria do compartilhar
Não vem da corda do rubah.
Sem a beleza celestial para preencher nossos copos,
sem amigos, sem canto, sem vinho,
Nós queimamos como loucos
e rolamos embriagados sobre o chão.

Dizem que o paraíso será sublime
Com um precioso vinho que jorra sem parar
e com donzelas para encher nosso copo.
Por que não beber desse vinho agora?
Por que não nos juntarmos à dança agora?
Porque é assim que será de qualquer maneira.

"Oh irmão, traga o vinho puro
do amor e da liberdade."
"Mas mestre, um furacão está chegando."
"Mais vinho -
nós iremos ensinar a essa tempestade
uma coisa ou duas sobre giro!"

Sua dança me tomou hoje
e subitamente comecei a girar.
Todos os reinos giraram ao meu redor
em uma celebração infinita.
Minha alma perdeu seu controle
Meu corpo derrama sua fadiga
Ouvindo suas mãos batendo e o som de seu tambor ressoando
Eu flutuo em direção aos céus!

Uma centena de ondas quebra
sobre as águas do coração Levadas pelo vento do Samá
Qualquer coração que se junta às águas de todos os corações
irá ser destroçado neste vento
e gritará Samá!

O sufi está dançando
como os raios de sol quando brilham.
Dança do crepúsculo até a madrugada,
Eles dizem, "Isto é trabalho do demônio".
Certamente então, o Demônio com quem dançamos
é doce e alegre
e ele mesmo é um girador em êxtase!

O mundo dança em volta do sol.
A luz da manhã surge
Girando com delícia.
Como pode alguém
Tocado por seu amor
Não dançar como um salgueiro?

O Amado, como o sol, irá brilhar.
O amante, como os átomos, irá girar.
Como a brisa da primavera
O amor balança a terra gentilmente -
Cada ramo, que não está morto, irá dançar.rumi.

"A ALQUIMIA DO AMOR"


Você chega a nós
Vindo de um outro mundo
Além das estrelas e
De um espaço sem fim.
Transcedental, puro,
De uma beleza inimaginável,
Trazendo com você
A essência do amor.
Você transforma tudo o que toca
Aflições banais,
Problemas e tristezas
Dissolvem-se na sua presença,
Trazendo alegria
Aos comandantes e aos comandados,
Aos plebeus e aos reis.
Você nos enfeitiça
Com sua graça.
Qualquer mal
Transforma-se em
Bem.
Você ascende a chama do amor
Na terra e no céu,
No coração e na alma
De cada ser humano.
Com seu amor
O existir e o não-existir se unem.
Os opostos de fundem.
E tudo o que é profano
Torna-se sagrado outra vez.rumi.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

À Descoberta de Mozart.


No ano de 2005 comemorou-se o 250º aniversário do nascimento de Mozart. Celebrou-se por toda a parte a vida e obra deste compositor algo enigmático, de quem muito se tem escrito e falado. Na maior parte das vezes repetem-se os mesmos pontos de vista, com pequenas diferenças. Este copia aquele e ambos dão assunto para que um terceiro escreva mais alguma coisa. Um dos lugares-comuns dos artigos sobre Mozart é a sua ligação à Maçonaria. Esta Instituição, na Áustria mozartiana, como na Baviera, estava profundamente inspirada na filosofia Rosacruz. Por outro lado, Mozart foi um grande amigo de Mesmer (1734 – 1815), um rosacruz. Esta amizade deu bons frutos, incluindo a união da ciência com a arte em sintonia com os ideais rosacrucianos.

Não vamos falar deste assunto, onde muito está por descobrir. Preferimos dar atenção a uma das suas maravilhosas obras: o motete Ave Verum Corpus1.

As composições mozartianas reproduzem sons do Coro Universal. Entre elas existem algumas obras-primas intemporais. Nele incluímos este maravilhoso motete. Pela sua simplicidade, pela sua concepção geométrica e matemática, encerra pérolas espirituais que nos elevam e libertam.

Esta obra foi composta a 17 de Junho, numa altura em que as forças da Natureza estão mais vigorosas, e no próprio ano em que Mozart chegaria ao fim da sua existência física. Nasceu para o “santo etéreo monte” em 5 de Dezembro de 1791, às portas do Inverno, estação em que tudo começa a ficar em repouso à espera da Primavera.

Foi nesta fase final que surgiram várias das geniais e inovadoras obras deste compositor. Algumas são fruto da sua amizade com Mesmer e nelas encontramos uma simbiose entre a arte e a ciência2. É o caso do Adágio e Rondó para harmónica de vidro, flauta, oboé, viola e violoncelo3. Trata-se de uma criação musical com a particularidade de influenciar positivamente os enfermos promovendo a sua cura. A Flauta Mágica e a Clemência de Tito, o Concerto para Clarinete em Lá e o Requiem, são outras obras do mesmo período, todas repletas de beleza, de alegria, de esperança, de melodia. Em A Flauta Mágica, onde existem muitas notas e símbolos rosacrucianos, Mozart eleva-nos para a criação da Fraternidade Universal consciente de que, embora ainda tivesse muito para oferecer, já estava próxima a “irmã morte”.

Em meados do referido ano de 1781, a esposa de Mozart estava grávida do sexto e último filho. Doente, encontrava-se a banhos na cidade termal de Baden, a 26 km a sudoeste de Viena onde o compositor trabalhava arduamente. Mozart sofria com a ausência da esposa como se vê nas cartas que lhe escreveu. Sentindo aproximar-se do fim da vida, mergulha na angústia e na ansiedade.

É neste ambiente, mui sucintamente retratado, que ele oferece à humanidade o Ave Verum Corpus, um louvor à glória de Cristo e de Deus. Inspirando-se em João Sebastião Bach e no neoplatonismo cristão, concebe-a para ser tocada e cantada na Festa do Corpo de Deus, a 19 de Junho desse ano. Dedica-a a Anton Stoll, amigo e director do Coro da Paróquia da referida cidade de Baden. Trata-se de uma obra orquestrada com simplicidade, destinada apenas para instrumentos de corda, órgão e coro, com apenas 46 compassos, ou seja 4+6=10=1: O número um simboliza a unidade da Vida; o dez (5x2), relaciona-se com a expressão da vida tal como se representa no pentagrama do símbolo rosacruz, em sintonia com a elevada missão de Cristo.

O texto original que serviu a Mozart é de autor medieval desconhecido do século XIV. É um hino com apenas oito versos e a sua própria melodia de cantochão, É frequentemente usado por diversos compositores: Schubert, Gounod, etc. A versão mais conhecida é, sem dúvida, a de Mozart. Estimula uma profunda meditação sobre a paixão de Cristo, a redenção da humanidade e a vitória da vida sobre a morte. Comendo durante dias, meses e anos o pão amargo do sofrimento, no auge de uma profunda angústia, Mozart alcança, através da música, as vibrações celestiais que reproduz como pode, e de modo tão singelo e tão repleto de beleza e de profundidade que nos desperta logo o sentimento da unidade da vida e a indiferença ao pavor da morte. Estando assim em sintonia com a vontade do Pai, a música do genial compositor austríaco já não é só dele: é sobretudo o reflexo da harmonia do Cristo Cósmico, onde as individualidades se fundem mas não se confundem.

No texto do primeiro verso lemos a palavra Ave, que muitos querem que seja o anagrama de Eva. O Ave Verum Corpus4 é um réquiem em miniatura: não dura mais que uns três minutos. Ave é uma palavra latina que se traduz por “eu te saúdo” ou, simplesmente, por “salve”.

Mozart, ao sentir a profundidade da Paixão veiculada no hino que exalta a vitória da vida sobre a morte e da luz sobre as trevas, aceitou serenamente a peregrinação terrena como um caminho breve que leva à vida superior, quer dizer, à nossa pátria comum, que é o mundo espiritual

terça-feira, 26 de junho de 2012

A ARTE DE VIVER.


"O homem nasce para atingir a vida, mas tudo depende dele. Ele pode perdê-la. Ele pode seguir respirando, ele pode seguir comendo, ele pode seguir envelhecendo, ele pode seguir se movendo em direção ao túmulo - mas isso não é vida. Isso é morte gradual, do berço ao túmulo, uma morte gradual com a duração de setenta anos. E porque milhões de pessoas ao redor de você estão morrendo essa morte lenta e gradual, você também começa a imitá-los. As crianças aprendem tudo daqueles que estão em volta delas e nós estamos rodeados pelos mortos. Então temos que entender primeiro o que eu entendo por 'vida'. Ela não deve ser simplesmente envelhecer. Ela deve ser desenvolver-se. E isso são duas coisas diferentes. Envelhecer, qualquer animal é capaz. Desenvolver-se é prerrogativa dos seres humanos. Somente uns poucos reivindicam esse direito.
Desenvolver-se significa mover-se a cada momento mais profundamente no princípio da vida; significa afastar-se da morte - não ir na direção da morte. Quanto mais profundo você vai para dentro da vida, mais entende a imortalidade dentro de você. Você está se afastando da morte: chega a um momento em que você pode ver que a morte não é nada, apenas um trocar de roupas ou trocar de casas, trocar de formas - nada morre, nada pode morrer. A morte é a maior ilusão que existe.
Como desenvolver-se? Simplesmente observe uma árvore. Enquanto a árvore cresce, suas raízes crescem para baixo, tornam-se mais profundas. Existe um equilíbrio; quanto mais alto a árvore vai, mais fundo as raízes vão. Na vida, desenvolver-se significa crescer profundamente para dentro de si mesmo - que é onde suas raízes estão.
Para mim o primeiro princípio da vida é meditação. Tudo o mais vem em segundo lugar. E a infância é o melhor momento. À medida que você envelhece, significa que você está chegando mais perto da morte, e se torna mais e mais difícil entrar em meditação. Meditação significa entrar na sua imortalidade, entrar na sua eternidade, entrar na sua divindade. E a criança é a pessoa mais qualificada porque ela ainda está sem a carga da educação, sem a carga de todo o tipo de lixo. Ela é inocente. Mas infelizmente a sua inocência está sendo considerada como ignorância. Ignorância e inocência tem uma similaridade, mas elas não são a mesma coisa. Ignorância também é um estado de não conhecimento, tanto quanto a inocência é. Mas também existe uma grande diferença que passou despercebida por toda a humanidade até agora. A inocência não é instruída - mas também não é desejosa de ser instruída. Ela é totalmente contente, preenchida...
O primeiro passo na arte de viver será criar uma linha de demarcação entre ignorância e inocência. Inocência tem que ser apoiada, protegida - porque a criança trouxe com ela o maior tesouro, o tesouro que os sábios encontram depois de esforços árduos. Os sábios têm dito que se tornaram crianças novamente, que eles renasceram...
Sempre que você perceber que perdeu a oportunidade da vida, o primeiro princípio a ser trazido de volta é a inocência. Abandone o seu conhecimento, esqueça as suas escrituras, esqueça as suas religiões, suas teologias, suas filosofias. Nasça novamente, torne-se inocente - e a possibilidade está em suas mãos. Limpe a sua mente de todo conhecimento que não foi descoberto por você mesmo, de todo conhecimento que foi tomado emprestado dos outros, tudo o que veio pela tradição, convenção, tudo o que lhe foi dado pelos outros - pais, professores, universidades. Simplesmente desfaça-se disso. Novamente seja simples, mais uma vez seja uma criança. E esse milagre é possível pela meditação.
Meditação é apenas um método cirúrgico não convencional que corta tudo aquilo que não é seu e só preserva aquilo que é o seu autêntico ser. Ela queima tudo o mais e o deixa nu, sozinho embaixo do sol, no vento. É como se você fosse o primeiro homem que tivesse descido na Terra - que nada sabe e que tem que descobrir tudo, que tem que ser um buscador, que tem que ir em peregrinação.
O segundo princípio é a peregrinação. A vida deve ser uma busca - não um desejo, mas uma pesquisa: não uma ambição para tornar-se isso, para tornar-se aquilo, um presidente de um país, ou um primeiro-ministro, mas uma pesquisa para encontrar 'Quem sou eu?'. É muito estranho que as pessoas que não sabem quem elas são, estão tentando se tornar alguém. Elas nem mesmo sabem quem elas são neste momento! Elas não conhecem os seus seres - mas elas têm um objetivo de vir a ser. Vir a ser é a doença da alma. O ser é você e descobrir o seu ser é o começo da vida. Então cada momento é uma nova descoberta, cada momento traz uma alegria. Um novo mistério abre as suas portas, um novo amor começa a crescer em você, uma nova compaixão que você nunca sentiu antes, uma nova sensibilidade a respeito da beleza, a respeito da bondade.
Você se torna tão sensível que até a menor folha de grama passa a ter uma importância imensa para você. Sua sensibilidade torna claro para você que essa pequena folha de grama é tão importante para a existência quanto a maior estrela; sem esse folha de grama, a existência seria menos do que é. E essa pequena folha de grama é única, ela é insubstituível, ela tem a sua própria individualidade.
E essa sensibilidade criará novas amizades para você - amizades com árvores, com pássaros, com animais, com montanhas, com rios, com oceanos, com as estrelas. A vida se torna mais rica enquanto o amor cresce, enquanto a amizade cresce...
Quando você se torna mais sensível, a vida se torna maior. Ela não é um pequeno poço, ela se torna oceânica. Ela não está confinada a você, sua esposa e seus filhos - ela não é confinada de jeito algum. Toda essa existência se torna a sua família e a não ser que toda essa existência seja a sua família, você não conheceu o que é a vida. - porque homem algum é uma ilha, nós estamos todos conectados. Nós somos um vasto continente, unidos de mil maneiras. E se o nosso coração não está cheio de amor pelo todo, na mesma proporção a nossa vida é diminuída.
A meditação lhe traz sensibilidade, uma grande sensação de pertencer ao mundo. Este é o nosso mundo - as estrelas são nossas e nós não somos estrangeiros aqui. Nós pertencemos intrinsecamente à existência. Nós somos parte dela, nós somos o coração dela.
Em segundo lugar, a meditação irá lhe trazer um grande silêncio - porque todo o lixo do conhecimento foi embora, pensamentos que são partes do conhecimento foram embora também... Um imenso silêncio e você é surpreendido - esse silêncio é a única música que existe. Toda música é um esforço para manifestar esse silêncio de algum modo.
Os videntes do antigo oriente foram muito enfáticos a respeito da questão de que todas as grandes artes - música, poesia, dança, pintura, escultura - são todas nascidas da meditação. Elas são um esforço para, de algum modo, trazer o incompreensível para o mundo do conhecimento, para aqueles que não estão prontos para a peregrinação - presentes para aqueles que ainda não estão prontos para partirem na peregrinação. Talvez uma canção possa despertar um desejo de ir em busca da fonte, talvez uma estátua.
Na próxima vez que em você entrar em um templo de Gautama Buda ou de Mahavira, sente-se silenciosamente e olhe a estátua... porque a estátua foi feita de tal forma, em tal proporção que se você olhá-la, você cairá em silêncio. É uma estátua de meditação; não é a respeito de Gautama Buda ou de Mahavira...
Naquele estado oceânico, o corpo toma uma certa postura. Você próprio já observou isso, mas não estava alerta. Quando você está com raiva, você observou? seu corpo tomou uma certa postura. Na raiva você não pode manter as suas mãos abertas: na raiva, a mão se fecha. Na raiva você não pode sorrir - ou você pode? Com uma certa emoção, o corpo tem que seguir uma certa postura. Pequenas coisas estão profundamente relacionadas no interior...
Uma certa ciência secreta foi usada por séculos, de modo que as gerações futuras pudessem entrar em contato com as experiências das gerações mais velhas - não através de livros, não através de palavras, mas através de algo que vai mais profundo - através do silêncio, através da meditação, através da paz. À medida que seu silêncio cresce, sua amizade cresce, seu amor cresce; sua vida se torna uma dança, momento a momento, uma alegria, uma celebração.
Você já pensou sobre o porquê, em todo o mundo, em toda cultura, em toda sociedade, existem uns poucos dias no ano para a celebração? Esses poucos dias para a celebração são apenas uma compensação - porque essas sociedades tiraram toda a celebração de sua vida e se nada é dado para você em compensação, sua vida pode tornar-se um perigo para a cultura. Toda cultura criou alguma compensação e assim você não se sentirá completamente perdido na miséria, na tristeza... Mas essas compensações são falsas. Mas no seu mundo interior pode existir uma continuidade de luz, canções, alegria.
Sempre lembre-se que a sociedade o compensa quando ela sente que a repressão pode explodir em uma situação perigosa se não for compensada. A sociedade encontra algum jeito de lhe permitir soltar a repressão. Mas isso não é a verdadeira celebração, e não pode ser verdadeira. A verdadeira celebração deveria vir de sua vida, na sua vida.
E a celebração não pode estar de acordo com o calendário, que no primeiro dia de novembro você irá celebrar. Estranho, o ano todo você é miserável e no primeiro dia de novembro, de repente, você sai da miséria, dançando. Ou a miséria era falsa ou o primeiro de novembro é falso.; ambos não podem ser verdadeiros. E uma vez que o primeiro de novembro se vai, você está de volta em seu buraco negro, todo mundo em sua miséria, todo mundo em sua ansiedade.
A vida deveria ser uma celebração contínua, um festival de luzes por todo o ano. Somente então você pode se desenvolver, você pode florir. Transforme pequenas coisas em celebração... Tudo o que você faz deveria expressar a si próprio; deveria ter a sua assinatura. Então a vida se torna uma celebração contínua.
Inclusive se você adoece e você está deitado na cama, você fará daqueles momentos de repouso, momentos de beleza e alegria, momentos de relaxamento e descanso, momentos de meditação, momentos para ouvir música ou poesia. Não há necessidade de ficar triste porque você está doente. Você deveria estar feliz porque todo mundo está no escritório e você está na cama como um rei, relaxando - alguém está preparando chá para você, o samovar está cantando uma canção, um amigo se oferece para vir e tocar flauta para você. Essas coisas são mais importantes do que qualquer remédio. Quando você está doente, chame um médico. Mas, mais importante, chame aqueles que o amam porque não existe remédio mais importante que o amor. Chame aqueles que podem criar beleza, música, poesia à sua volta, porque não existe nada que cure como uma atmosfera de celebração.
O medicamento é o mais baixo tipo de tratamento. Mas parece que nós esquecemos tudo, assim nós temos que depender dos medicamentos e ficar rabugentos e tristes - como se você estivesse perdendo uma grande alegria que havia quando você estava no escritório! No escritório você era miserável - simplesmente um dia de folga, mas você também se agarra à miséria, você não a deixa ir.
Faça todas as coisas criativas, faça o melhor a partir do pior - isso é o que eu chamo de arte. E se um homem viveu toda a vida fazendo a todo momento uma beleza, um amor, um desfrute, naturalmente a sua morte será o supremo pico no empenho de toda a sua vida.
Os últimos toques... sua morte não será feia como ordinariamente acontece todo dia com todo mundo. Se a morte é feia, isso significa que toda a sua vida foi um desperdício. A morte deveria ser uma aceitação pacífica, uma entrada amorosa no desconhecido, um alegre despedir-se dos velhos amigos, do velho mundo...
Comece com a meditação e muitas coisas crescerão em você - silêncio, serenidade, êxtase, sensibilidade. E o que quer que venha com a meditação, tente trazer para a sua vida. Compartilhe isso, porque tudo o que é compartilhado cresce mais rápido. E quando você atingir o momento da morte, você saberá que não existe morte. Você pode dizer adeus, não existe nenhuma necessidade de lágrima de tristeza - talvez lágrimas de felicidade, mas não de tristeza."
OSHO, O Livro da Cura.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

MEDITAÇÃO E AMOR.


"Toda a vida é feita de polaridades: positivo e negativo, nascimento e morte, homem e mulher, dia e noite, verão e inverno. Toda a vida consiste em opostos polares. Mas esses opostos não são apenas polares, são também complementares. Eles se ajudam um ao outro, dão apoio um ao outro.
Eles são como tijolos que formam uma arcada. Os tijolos de uma arcada têm que ser colocados uns contra os outros. Parecem estar um contra o outro, mas é por meio da oposição deles que a arcada é construída, que ela permanece firme. A resistência da arcada depende da polaridade dos tijolos colocados em oposição uns aos outros.
Esta é a polaridade máxima: meditação significa a arte de estar sozinho e amor significa a arte de estar junto. A pessoa completa é aquela que conhece ambas as artes e é capaz de se mover de uma para a outra com a maior facilidade possível. E exatamente como a inspiração e a expiração - não há dificuldade. Elas são opostas - quando vocês inspiram o ar, é um processo; quando expiram o processo é exatamente o oposto. No entanto, inspiração e expiração formam uma respiração completa.
Na meditação, vocês inspiram; no amor, expiram. Com o amor e a meditação juntos, sua respiração estará completa, inteira, total.
Durante séculos, as religiões tentaram atingir um pólo com a exclusão do outro. Existem religiões de meditação como, por exemplo, o jainismo e o budismo - são religiões meditativas, estão enraizadas na meditação. E existem religiões bhakti, religiões de devoção: o sufismo, o hassidismo - que estão enraizadas no amor. A religião baseada no amor precisa de Deus como o 'outro' a quem amar, a quem rezar. Sem um Deus, a religião de amor não consegue existir, é inconcebível - vocês precisam de um objeto de amor. Porém, uma religião de meditação consegue existir sem o conceito de Deus; essa hipótese pode ser descartada. Por isso o Budismo e o Jainismo não acreditam em Deus algum. Não há necessidade de um outro. A pessoa tem apenas que saber como ficar só, como permanecer silenciosa, como ficar quieta, como estar absolutamente calma e quieta dentro de si mesma. O outro tem que ser completamente abandonado, esquecido. Por isso, essas são religiões atéias.
Quando pela primeira vez os teólogos ocidentais entraram em contato com as literaturas budistas e jainistas, eles ficaram bastante confusos: como chamar de religião a essas filosofias atéias? Poderiam ser chamadas de filosofias, mas como chamá-las de religião? Isso era inconcebível para os teólogos, pois as tradições judaico e cristã consideram que, para alguém ser religioso, Deus é a hipótese mais fundamental. A pessoa religiosa é aquela temente a Deus, mas os budistas e jainistas dizem que não existe Deus; Assim a questão de temer a Deus não existe.
No Ocidente, durante milhares de anos, pensava-se que a pessoa que não acreditava em Deus era um ateu, não era uma pessoa religiosa. Mas Buda era ateu e religioso. Essa idéia soava muito estranha para os ocidentais porque eles nem sequer imaginavam que existiam religiões que tinha como base a meditação.
E o mesmo é verdadeiro para os seguidores de Buda e Mahavira. Eles riem da tolice das outras religiões que acreditam em Deus, porque essa idéia como um todo é absurda. É apenas fantasia, imaginação, nada mais; é uma projeção. Mas para mim, ambas são, ao mesmo tempo, verdadeiras.
Minha compreensão não está baseada em um único polo; minha compreensão é fluida. Eu saboreei a verdade de ambos os lados: eu amei totalmente e meditei totalmente. Esta é a minha experiência: a de que uma pessoa está completa só quando conhece os dois polos. Senão, ela é apenas uma metade; algo fica faltando nela.
Buda é uma metade - Jesus também. Jesus conhecia o que é o amor, Buda conhecia o que é a meditação; mas, se eles se encontrassem, seriam impossível se comunicarem entre si. Um não compreenderia a linguagem do outro. Jesus falaria sobre o reino de Deus e Buda começaria a rir: 'Que absurdo é esse que você está dizendo? O reino de Deus?' Buda diria apenas: 'Cessação do eu, desaparecimento do eu'. E Jesus: 'Desaparecimento do eu? Cessação do eu? Isso é cometer suicídio, o suicídio máximo. Que espécie de religião é essa? Fale do Eu Supremo!'
Um não entenderia as palavras do outro. Se alguma vez eles tivessem se encontrado, precisariam de um homem como eu como intérprete; caso contrário não haveria comunicação entre eles. Eu teria de interpretar de tal maneira que acabaria sendo infiel a ambos! Jesus falaria em 'reino de Deus', que eu traduziria por 'nirvana' - então Buda poderia entender. Buda diria 'nirvana' e, para Jesus, eu diria 'reino de Deus' - então ele poderia compreender.
Agora a humanidade precisa de uma visão total. Nós já vivemos com visões parciais por muito tempo. Essa foi uma necessidade do passado, mas agora o homem amadureceu. Os meus sannyasins têm de provar que podem meditar e rezar ao mesmo tempo; que podem meditar e amar ao mesmo tempo; que podem estar tão silenciosos quanto possível e que podem celebrar e dançar tanto quanto possível. Seu silêncio tem de se tornar a sua celebração, e sua celebração tem que se tornar o seu silêncio. Eu lhes dei a tarefa mais difícil que já foi dada a um discípulo, porque esse é o encontro dos opostos.
E nesse encontro, todos os outros opostos vão se fundir e tornar-se um: Oriente e Ocidente, homem e mulher, matéria e consciência, este mundo e o outro mundo, vida e morte. Todos os opostos vão se encontrar e fundir-se por meio desse encontro, pois essa é a polaridade máxima; ela contém todas as polaridades.
Esse encontro criará um novo ser humano - Zorba, o Buda. Esse é o nome que eu dou ao novo homem. E cada um dos meus sannyasins precisa fazer todos os esforços possíveis para se transformar nessa liquidez, nesse fluxo, de modo que os dois polos façam parte deles.
Assim, vocês terão sentido o gosto da totalidade. E conhecer a totalidade é o único meio para se conhecer o que é o sagrado. Não há outro meio"
OSHO, Autobiografia de um Místico Espiritualmente Incorreto.

EGO, O FALSO CENTRO.


"O primeiro ponto a ser compreendido é o ego.
Uma criança nasce sem qualquer conhecimento, sem qualquer consciência de seu próprio eu. E quando uma criança nasce, a primeira coisa da qual ela se torna consciente não é ela mesma; a primeira coisa da qual ela se torna consciente é o outro. Isso é natural, porque os olhos se abrem para fora, as mãos tocam os outros, os ouvidos escutam os outros, a língua saboreia a comida e o nariz cheira o exterior. Todos esses sentidos abrem-se para fora. O nascimento é isso.
Nascimento significa vir a esse mundo: o mundo exterior. Assim, quando uma criança nasce, ela nasce nesse mundo. Ela abre os olhos e vê os outros. O outro significa o tu.
Ela primeiro se torna consciente da mãe. Então, pouco a pouco, ela se torna consciente de seu próprio corpo. Esse também é o 'outro', também pertence ao mundo. Ela está com fome e passa a sentir o corpo; quando sua necessidade é satisfeita, ela esquece o corpo. É dessa maneira que a criança cresce.
Primeiro ela se torna consciente do você, do tu, do outro, e então, pouco a pouco, contrastando com você, com tu, ela se torna consciente de si mesma.
Essa consciência é uma consciência refletida. Ela não está consciente de quem ela é. Ela está simplesmente consciente da mãe e do que ela pensa a seu respeito. Se a mãe sorri, se a mãe aprecia a criança, se diz 'você é bonita', se ela a abraça e a beija, a criança sente-se bem a respeito de si mesma. Assim, um ego começa a nascer.
Através da apreciação, do amor, do cuidado, ela sente que é ela boa, ela sente que tem valor, ela sente que tem importância. Um centro está nascendo. Mas esse centro é um centro refletido. Ele não é o ser verdadeiro. A criança não sabe quem ela é; ela simplesmente sabe o que os outros pensa a seu respeito.
E esse é o ego: o reflexo, aquilo que os outros pensam. Se ninguém pensa que ela tem alguma utilidade, se ninguém a aprecia, se ninguém lhe sorri, então, também, um ego nasce - um ego doente, triste, rejeitado, como uma ferida, sentindo-se inferior, sem valor. Isso também é ego. Isso também é um reflexo.
Primeiro a mãe. A mãe, no início, significa o mundo. Depois os outros se juntarão à mãe, e o mundo irá crescendo. E quanto mais o mundo cresce, mais complexo o ego se torna, porque muitas opiniões dos outros são refletidas.
O ego é um fenômeno cumulativo, um subproduto do viver com os outros. Se uma criança vive totalmente sozinha, ela nunca chegará a desenvolver um ego. Mas isso não vai ajudar. Ela permanecerá como um animal. Isso não significa que ela virá a conhecer o seu verdadeiro eu, não.
O verdadeiro só pode ser conhecido através do falso, portanto, o ego é uma necessidade. Temos que passar por ele. Ele é uma disciplina. O verdadeiro só pode ser conhecido através da ilusão. Você não pode conhecer a verdade diretamente. Primeiro você tem que conhecer aquilo que não é verdadeiro. Primeiro você tem que encontrar o falso. Através desse encontro, você se torna capaz de conhecer a verdade. Se você conhece o falso como falso, a verdade nascerá em você.
O ego é uma necessidade; é uma necessidade social, é um subproduto social. A sociedade significa tudo o que está ao seu redor, não você, mas tudo aquilo que o rodeia. Tudo, menos você, é a sociedade. E todos refletem. Você irá à escola e o professor refletirá quem você é. Você fará amizade com as outras crianças e elas refletirão quem você é. Pouco a pouco, todos estarão adicionando algo ao seu ego, e todos estarão tentando modificá-lo, de modo que você não se torne um problema para a sociedade.
Eles não estão interessados em você. Eles estão interessados na sociedade. A sociedade está interessada nela mesma, e é assim que deveria ser. Eles não estão interessados no fato de que você deveria se tornar um conhecedor de si mesmo. Interessa-lhes que você se torne uma peça eficiente no mecanismo da sociedade. Você deveria ajustar-se ao padrão.
Assim, estão interessados em dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Ensinam-lhe a moralidade. Moralidade significa dar-lhe um ego que se ajuste à sociedade. Se você for imoral, você será sempre um desajustado em um lugar ou outro...
Moralidade significa simplesmente que você deve se ajustar à sociedade. Se a sociedade estiver em guerra, a moralidade muda. Se a sociedade estiver em paz, existe uma moralidade diferente. A moralidade é uma política social. É diplomacia. E toda criança deve ser educada de tal forma que ela se ajuste à sociedade; e isso é tudo, porque a sociedade está interessada em membros eficientes. A sociedade não está interessada no fato de que você deveria chegar ao auto-conhecimento.
A sociedade cria um ego porque o ego pode ser controlado e manipulado. O eu nunca pode ser controlado e manipulado. Nunca se ouviu dizer que a sociedade estivesse controlando o eu - não é possível.
E a criança necessita de um centro; a criança está absolutamente inconsciente de seu próprio centro. A sociedade lhe dá um centro e a criança pouco a pouco fica convencida de que esse é o seu centro, o ego dado pela sociedade.
Uma criança volta para casa. Se ela foi o primeiro lugar de sua sala, a família inteira fica feliz. Você a abraça e beija; você a coloca sobre os ombros e começa a dançar e diz 'que linda criança! você é um motivo de orgulho para nós.' Você está dando um ego para ela, um ego sutil. E se a criança chega em casa abatida, fracassada, foi um fiasco na sala - ela não passou de ano ou tirou o último lugar, então ninguém a aprecia e a criança se sente rejeitada. Ela tentará com mais afinco na próxima vez, porque o centro se sente abalado.
O ego está sempre abalado, sempre à procura de alimento, de alguém que o aprecie. E é por isso que você está continuamente pedindo atenção.
Você obtém dos outros a idéia de quem você é. Não é uma experiência direta.
É dos outros que você obtém a idéia de quem você é. Eles modelam o seu centro. Mas esse centro é falso, enquanto que o centro verdadeiro está dentro de você. O centro verdadeiro não é da conta de ninguém. Ninguém o modela. Você vem com ele. Você nasce com ele.
Assim, você tem dois centros. Um centro com o qual você vem, que lhe é dado pela própria existência. Esse é o eu. E o outro centro, que é criado pela sociedade - o ego. Esse é algo falso - é um grande truque. Através do ego a sociedade está controlando você. Você tem que se comportar de uma certa maneira, porque somente assim a sociedade irá apreciá-lo. Você tem que caminhar de uma certa maneira; você tem que rir de uma certa maneira; você tem que seguir determinadas condutas, uma moralidade, um código. Somente assim a sociedade o apreciará, e se ela não o fizer, o seu ego ficará abalado. E quando o ego fica abalado, você já não sabe onde está, você já não sabe quem você é.
Os outros deram-lhe a idéia. E essa idéia é o ego. Tente entendê-lo o mais profundamente possível, porque ele tem que ser jogado fora. E a não ser que você o jogue fora, nunca será capaz de alcançar o eu. Por estar viciado no falso centro, você não pode se mover, e você não pode olhar para o eu. E lembre-se: vai haver um período intermediário, um intervalo, quando o ego estará se despedaçando, quando você não saberá quem você é, quando você não saberá para onde está indo; quando todos os limites se dissolverão. Você estará simplesmente confuso, um caos.
Devido a esse caos, você tem medo de perder o ego. Mas tem que ser assim. Temos que passar através do caos antes de atingir o centro verdadeiro. E se você for ousado, o período será curto. Se você for medroso e novamente cair no ego, e novamente começar a ajeitá-lo, então, o período pode ser muito, muito longo; muitas vidas podem ser desperdiçadas...
Até mesmo o fato de ser infeliz lhe dá a sensação de "eu sou". Afastando-se do que é conhecido, o medo toma conta; você começa sentir medo da escuridão e do caos - porque a sociedade conseguiu clarear uma pequena parte de seu ser... É o mesmo que penetrar numa floresta. Você faz uma pequena clareira, você limpa um pedaço de terra, você faz um cercado, você faz uma pequena cabana; você faz um pequeno jardim, um gramado, e você sente-se bem. Além de sua cerca - a floresta, a selva. Mas aqui dentro tudo está bem: você planejou tudo.
Foi assim que aconteceu. A sociedade abriu uma pequena clareira em sua consciência. Ela limpou apenas uma pequena parte completamente, e cercou-a. Tudo está bem ali. Todas as suas universidades estão fazendo isso. Toda a cultura e todo o condicionamento visam apenas limpar uma parte, para que ali você possa se sentir em casa.
E então você passa a sentir medo. Além da cerca existe perigo.
Além da cerca você é, tal como você é dentro da cerca - e sua mente consciente é apenas uma parte, um décimo de todo o seu ser. Nove décimos estão aguardando no escuro. E dentro desses nove décimos, em algum lugar, o seu centro verdadeiro está oculto.
Precisamos ser ousados, corajosos. Precisamos dar um passo para o desconhecido.
Por um certo tempo, todos os limite ficarão perdidos. Por um certo tempo, você vai se sentir atordoado. Por um certo tempo, você vai se sentir muito amedrontado e abalado, como se tivesse havido um terremoto.
Mas se você for corajoso e não voltar para trás, se você não voltar a cair no ego, mas for sempre em frente, existe um centro oculto dentro de você, um centro que você tem carregado por muitas vidas. Esse centro é a sua alma, o eu.
Uma vez que você se aproxime dele, tudo muda, tudo volta a se assentar novamente. Mas agora esse assentamento não é feito pela sociedade. Agora, tudo se torna um cosmos e não um caos, nasce uma nova ordem. Mas essa não é a ordem da sociedade - essa é a própria ordem da existência.
É o que Buda chama de Dhamma, Lao Tzu chama de Tao, Heráclito chama de Logos. Não é feita pelo homem. É a própria ordem da existência. Então, de repente tudo volta a ficar belo, e pela primeira vez, realmente belo, porque as coisas feitas pelo homem não podem ser belas. No máximo você pode esconder a feiúra delas, isso é tudo. Você pode enfeitá-las, mas elas nunca podem ser belas...
O ego tem uma certa qualidade: a de que ele está morto. Ele é de plástico. E é muito fácil obtê-lo, porque os outros o dão a você. Você não precisa procurar por ele; a busca não é necessária. Por isso, a menos que você se torne um buscador à procura do desconhecido, você ainda não terá se tornado um indivíduo. Você é simplesmente mais um na multidão. Você é apenas uma turba. Se você não tem um centro autêntico, como pode ser um indivíduo?
O ego não é individual. O ego é um fenômeno social - ele é a sociedade, não é você. Mas ele lhe dá um papel na sociedade, uma posição na sociedade. E se você ficar satisfeito com ele, você perderá toda a oportunidade de encontrar o eu. E por isso você é tão infeliz. Como você pode ser feliz com uma vida de plástico? Como você pode estar em êxtase ser bem-aventurado com uma vida falsa? E esse ego cria muitos tormentos. O ego é o inferno. Sempre que você estiver sofrendo, tente simplesmente observar e analisar, e você descobrirá que, em algum lugar, o ego é a causa do sofrimento. E o ego segue encontrando motivos para sofrer...
E assim as pessoas se tornam dependentes, umas das outras. É uma profunda escravidão. O ego tem que ser um escravo. Ele depende dos outros. E somente uma pessoa que não tenha ego é, pela primeira vez, um mestre; ele deixa de ser um escravo.
Tente entender isso. E comece a procurar o ego - não nos outros, isso não é da sua conta, mas em você. Toda vez que se sentir infeliz, imediatamente feche os olhos e tente descobrir de onde a infelicidade está vindo, e você sempre descobrirá que o falso centro entrou em choque com alguém.
Você esperava algo e isso não aconteceu. Você espera algo e justamente o contrário aconteceu - seu ego fica estremecido, você fica infeliz. Simplesmente olhe, sempre que estiver infeliz, tente descobrir a razão.
As causas não estão fora de você.
A causa básica está dentro de você - mas você sempre olha para fora, você sempre pergunta: 'Quem está me tornando infeliz?' 'Quem está causando a minha raiva?' 'Quem está causando a minha angústia?'
Se você olhar para fora, você não perceberá. Simplesmente feche os olhos e sempre olhe para dentro. A origem de toda a infelicidade, da raiva e da angústia, está oculta dentro de você, é o seu ego.
E se você encontrar a origem, será fácil ir além dela. Se você puder ver que é o seu próprio ego que lhe causa problemas, você vai preferir abandoná-lo - porque ninguém é capaz de carregar a origem da infelicidade, uma vez que a tenha entendido.
Mas lembre-se, não há necessidade de abandonar o ego. Você não o pode abandonar. E se você tentar abandoná-lo, simplesmente estará conseguindo um outro ego mais sutil, que diz: 'tornei-me humilde'...
Todo o caminho em direção ao divino, ao supremo, tem que passar através desse território do ego. O falso tem que ser entendido como falso. A origem da miséria tem que ser entendida como a origem da miséria - então ela simplesmente desaparece. Quando você sabe que ele é o veneno, ele desaparece. Quando você sabe que ele é o fogo, ele desaparece. Quando você sabe que esse é o inferno, ele desaparece.
E então você nunca diz: 'eu abandonei o ego'. Você simplesmente irá rir de toda essa história, dessa piada, pois você era o criador de toda essa infelicidade...
É difícil ver o próprio ego. É muito fácil ver o ego nos outros. Mas esse não é o ponto, você não os pode ajudar.
Tente ver o seu próprio ego. Simplesmente o observe.
Não tenha pressa em abandoná-lo, simplesmente o observe. Quanto mais você observa, mais capaz você se torna. De repente, um dia, você simplesmente percebe que ele desapareceu. E quando ele desaparece por si mesmo, somente então ele realmente desaparece. Porque não existe outra maneira. Você não pode abandoná-lo antes do tempo. Ele cai exatamente como uma folha seca.
Quando você tiver amadurecido através da compreensão, da consciência, e tiver sentido com totalidade que o ego é a causa de toda a sua infelicidade, um dia você simplesmente vê a folha seca caindo... e então o verdadeiro centro surge.
E esse centro verdadeiro é a alma, o eu, o deus, a verdade, ou como quiser chamá-lo. Você pode lhe dar qualquer nome, aquele que preferir."
OSHO, Além das Fronteiras da Mente.

Rabindranath Tagore - Cantar me enlouquece.


Quando me ordenas cantar, parece que o meu coração vai arrebentar-se...
Pensei que poderia te pedir a grinalda de flores que levas no pescoço...

Essa que ficou sempre na profundidade do meu ser...

A minha libertação...
Daqui por diante eu me expressarei em sussurros...

Cantar me enlouquece...

Quando me ordenas cantar,
parece que o meu coração vai arrebentar-se
de orgulho. Então contemplo a tua face e as
lágrimas me vêm aos olhos.

Tudo o que é duro e dissonante em
minha vida se dissolve em única e doce
harmonia, e a minha adoração abre as
suas asas, como um pássaro alegre voando
sobre o mar.

Sei que tens prazer no meu canto.
Sei que posso chegar à tua presença apenas
como um cantor.

Com a ponta da asa imensamente
aberta do meu canto eu roço os teus pés,
que eu jamais poderia querer alcançar.

Embriagado pela alegria de cantar,
esqueço a mim mesmo e te chamo amigo,
tu que és o meu Senhor.

Pensei que poderia te pedir a
grinalda de flores que levas no pescoço,
mas não me atrevi. Fiquei esperando pela
manhã, quando tivesses ido embora, para
encontrar pedaços dela no leito. E fiquei na
madrugada feito mendiga, procurando
uma ou duas pétalas caídas.

Coitada de mim, o que foi que
encontrei? O que me restou do teu amor?
Nem flor, nem perfume, nem jarro de água
perfumada... Apenas a tua espada
poderosa, flamejante como chama e pesada
como raio na tempestade. A luz jovem da
manhã entra pela janela e se derrama em
teu leito. O pássaro da manhã começa a
cantar, e me pergunta: "Mulher, o que é
que encontraste?" Não, não foi uma flor,
nem perfume e nem jarro de água
perfumada. Encontrei apenas a tua espada
poderosa.

Sento-me e fico cismando, admirada
com essa tua dádiva. Não acho lugar onde
escondê-la. Tenho vergonha de usá-la, tão
frágil sou, e ela me fere quando eu a aperto
contra o peito. Mesmo assim, porém, eu
levarei no meu coração esse honroso fardo
de dor, que é a tua dádiva para mim.

Doravante nada mais temerei neste
mundo, e tu conquistarás a vitória em
todas as minhas lutas. Deste-me a morte
por companheira, e eu vou coroá-la com a
minha vida. A tua espada está comigo para
cortar as minhas amarras, e nada mais
temerei neste mundo.

Doravante eu abandono todos os
adornos fúteis. Senhor do meu coração,
não vou mais ficar esperando ou me
desesperando pelos cantos, e nunca mais
vou ser tímida ou caprichosa. Deste-me
como ornamento a tua espada. Não preciso
mais dos enfeites de boneca.

Essa que ficou sempre na
profundidade do meu ser, no crepúsculo de
vislumbres e percepções momentâneas; essa
que jamais retirou seus véus na luz da
manhã, essa irá ser a minha última
oferenda a ti, meu Deus, envolta na minha canção final.

As palavras a cortejam, mas não conseguiram vencê-la, e a persuasão inutilmente estendeu para ela os seus braços ansiosos.

Vaguei de país em país, conservando-a
no íntimo do meu coração, e ao redor
dela a minha vida ergueu-se e caiu, ao
mesmo tempo forte e frágil.

Embora habite sozinha e afastada, ela sempre reinou sobre todos os meus pensamentos e ações, sobre todos os meus sonos e sonhos.

Muitos bateram à minha porta,
perguntaram por ela, e foram-se embora,
sem esperança.

Ninguém no mundo conseguiu vê-la face a face, e ela continua em sua solidão,
à espera do teu reconhecimento.

A minha libertação, para mim, não está
na renúncia. Sinto o abraço da liberdade
em mil laços de prazer.

Daqui por diante eu me expressarei
em sussurros...
...Gastei muitas e muitas horas na luta
entre o bem e o mal. Mas agora o prazer do
meu companheiro de jogos nos dias vazios
é atrair o meu coração para o seu. E eu
não compreendo por que esse repentino
convite para não sei qual inútil
inconseqüência!

Cantar me enlouquece, e se eu me
desfizesse todo num vôo de canção, nada
me pesaria tanto...

sábado, 23 de junho de 2012

Eutanásia.


Quando o tempo me houver trazido esse momento,
Do dormir, sem sonhar que, extremo, nos invade,
Em meu leito de morte ondule, Esquecimento,
De teu sutil adejo a langue suavidade!

Não quero ver ninguém ao pé de mim carpindo,
Herdeiros, espreitando o meu supremo anseio;
Mulher, que, por decoro, a coma desparzindo,
Sinta ou finja que a dor lhe estará rasgando o seio.

Desejo ir em silêncio ao fúnebre jazigo,
Sem luto oficial, sem préstito faustoso.
Receio a placidez quebrar de um peito amigo,
Ou furtar-lhe, sequer, um breve espaço ao gozo.

Só amor logrará (se nobre à dor se esquive,
E consiga, no lance, inúteis ais calar),
No que se vai finar, na que lhe sobrevive,
Pela vez derradeira, o seu poder mostrar.

Feliz se essas feições, gentis, sempre serenas,
Contemplasse, até vir a triste despedida!
Esquecendo, talvez, as infligidas penas,
Pudera a própria Dor sorrir-te, alma querida.

Ah! Se o alento vital se nos afrouxa, inerte,
A mulher para nós contrai o coração!
Iludem-nos na vida as lágrimas, que verte,
E agravam ao que expira a mágoa e enervação.

Praz-me que a sós me fira o golpe inevitável,
Sem que me siga adeus, ou ai desolador.
Muita vida há ceifado a morte inexorável
Com fugaz sofrimento, ou sem nenhuma dor.

Morrer! Alhures ir... Aonde? Ao paradeiro
Para o qual tudo foi e onde tudo irá ter!
Ser, outra vez, o nada; o que já fui, primeiro
Que abrolhasse à existência e ao vivo padecer!...

Contadas do viver as horas de ventura
E as que, isentas da dor, do mundo hajam corrido,
Em qualquer condição, a humana criatura
Dirá: "Melhor me fora o nunca haver nascido!"
Lord Byron.

A QUE ESTÁ SEMPRE ALEGRE.



Teu ar, teu gesto, tua fronte
São belos qual bela paisagem;
O riso brinca em tua imagem
Qual vento fresco no horizonte.

A mágoa que te roça os passos
Sucumbe à tua mocidade,
À tua flama, à claridade
Dos teus ombros e dos teus braços.

As fulgurantes, vivas cores
De tua vestes indiscretas
Lançam no espírito dos poetas
A imagem de um balé de flores.

Tais vestes loucas são o emblema
De teu espírito travesso;
Ó louca por quem enlouqueço,
Te odeio e te amo, eis meu dilema!

Certa vez, num belo jardim,
Ao arrastar minha atonia,
Senti, como cruel ironia,
O sol erguer-se contra mim;

E humilhado pela beleza
Da primavera ébria de cor,
Ali castiguei numa flor
A insolência da Natureza.

Assim eu quisera uma noite,
Quando a hora da volúpia soa,
Às frondes de tua pessoa
Subir, tendo à mão um açoite,

Punir-te a carne embevecida,
Magoar o teu peito perdoado
E abrir em teu flanco assustado
Uma larga e funda ferida,

E, como êxtase supremo,
Por entre esses lábios frementes,
Mais deslumbrantes, mais ridentes,
Infundir-te, irmã, meu veneno!


EMBRIAGUEM-SE.

É preciso estar sempre embriagado. Aí está: eis a única questão. Para não sentirem o fardo horrível do Tempo que verga e inclina para a terra, é preciso que se embriaguem sem descanso.

Com quê? Com vinho, poesia ou virtude, a escolher. Mas embriaguem-se.

E se, porventura, nos degraus de um palácio, sobre a relva verde de um fosso, na solidão morna do quarto, a embriaguez diminuir ou desaparecer quando você acordar, pergunte ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio, a tudo que flui, a tudo que geme, a tudo que gira, a tudo que canta, a tudo que fala, pergunte que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, o pássaro, o relógio responderão: "É hora de embriagar-se! Para não serem os escravos martirizados do Tempo, embriaguem-se; embriaguem-se sem descanso". Com vinho, poesia ou virtude, a escolher.


O CONVITE À VIAGEM.

Minha doce irmã,
Pensa na manhã
Em que iremos, numa viagem,
Amar a valer,
Amar e morrer
No país que é a tua imagem!
Os sóis orvalhados
Desses céus nublados
Para mim guardam o encanto
Misterioso e cruel
Desse olhar infiel
Brilhando através do pranto.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.

Os móveis polidos,
Pelos tempos idos,
Decorariam o ambiente;
As mais raras flores
Misturando odores
A um âmbar fluido e envolvente,

Tetos inauditos,
Cristais infinitos,
Toda uma pompa oriental,
Tudo aí à alma
Falaria em calma
Seu doce idioma natal.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.

Vê sobre os canais
Dormir junto aos cais
Barcos de humor vagabundo;
É para atender
Teu menor prazer
Que eles vêm do fim do mundo.
— Os sangüíneos poentes
Banham as vertentes,
Os canis, toda a cidade,
E em seu ouro os tece;
O mundo adormece
Na tépida luz que o invade.

Lá, tudo é paz e rigor,
Luxo, beleza e langor.
Charles Baudelaire.

As Flores do Mal, de Charles Baudelaire.


A obra As Flores do Mal, considerada o marco da poesia moderna, foi criada por Charles Baudelaire com versos rigorosamente metrificado e rimados, que prefiguraram o Parnasianismo. Baudelaire tratou de temas e assuntos que vão do sublime ao escabroso, investindo liricamente contra as convenções morais que permeavam a sociedade francesa dos meados do século XIX. As Flores do Mal reúnem de modo exemplar uma série de motivos obra do poeta: a queda; a expulsão do paraíso; o amor; a morte; o tempo; o exílio e o tédio. Os poemas desta obra retratam como ninguém as mazelas do espírito humano.

Diversos poemas de As Flores do Mal foram cortados do livro como imorais, por decisão legal, num processo que só foi anulado em 1949. Nem mesmo suas dilacerantes contradições e dramas íntimos, alternando orações a Deus e ao diabo, transformando sua vida em uma prodigiosa confusão entre amor sublime e degradação, dissipação e trabalho intelectual, tudo isso agravado pela doença que o corroia, a sífilis que acabaria por levá-lo à morte em 1867, aos 46 anos, não o impediram de, à sua maneira, ser consistente. Comentário de Paul Valéry: As Flores do Mal não contêm poemas nem lendas nem nada que tenha que ver com uma forma narrativa. Não há nelas nenhum discurso filosófico. A política está ausente por completo. As descrições, escassas, são sempre densas de significado. Mas no livro tudo é fascinação, música, sensualidade abstrata e poderosa.

Remorso Póstumo.

Quando fores dormir, ó bela tenebrosa
Em fundo de uma cripta em mármore lavrada
Quando tiveres só por alcova e morada
O vazio abismal de carneira chuvosa;

Quando a pedra, a oprimir tua fronte medrosa
E teus flancos a arfar de exaustão encantada,
Mudar teu coração numa furna calada
Amarrando-te os pés na rota aventurosa,

A tumba, confidente do sonho infinito
(Pois toda a vida a tumba há de entender o poeta),
Pela noite imortal de que o sono é prescrito,

Te dirá: "De que serve, hetaira incompleta,
Não teres conhecido o que choram os mortos?"
E os vermes te roerão assim como os remorsos.

A Uma Passante.

A rua, em torno, era ensurdecedora vaia.
Toda de luto, alta e sutil, dor majestosa,
Uma mulher passou, com sua mão vaidosa
Erguendo e balançando a barra alva da saia;

Pernas de estátua, era fidalga, ágil e fina.
Eu bebia, como um basbaque extravagante,
No tempestuoso céu do seu olhar distante,
A doçura que encanta e o prazer que assassina.

Brilho... e a noite depois! - Fugitiva beldade
De um olhar que me fez nascer segunda vez,
Não mais te hei de rever senão na eternidade?

Longe daqui! tarde demais! nunca talvez!
Pois não sabes de mim, não sei que fim levaste,
Tu que eu teria amado, ó tu que o adivinhaste!

A Cidade No Mar.


Olhai! a Morte edificou seu trono
numa estranha cidade solitária
por entre as sombras do longínquo oeste.
Lá, os bons, os maus, os piores e os melhores,
foram todos buscar repouso eterno.
Seus monumentos, catedrais e torres
(torres que o tempo rói e não vacilam!)
em nada se parecem com os humanos.
E em volta, pelos ventos olvidadas,
olhando o firmamento, silenciosas
e calmas, dormem águas melancólicas.

Ah! luz nenhuma cai do céu sagrado
sobre a cidade, em sua imensa noite.
Mas um clarão que vem do oceano lívido
invade dos torreões, silentemente,
e sobe, iluminando capitéis,
pórticos régios, cúpulas e cimos,
templos e babilônicas muralhas;
sobe aos arcos templos magníficos, sem conta,
onde os frios se enroscam e entretecem
de vinhedos, violetas, sempre-vivas.

Olhando o firmamento, silenciosas,
calmas, dormem as águias melancólicas.
Torreões e sombras tanto se confundem
que é tudo como solto nos espaços.
E a Morte, do alto de soberba torre,
contempla, gigantesca, o panorama.
Lá, os sepulcros e os templos se escancaram
mesmo ao nível das águas luminosas;
mas não pode a riqueza portenhosa
dos ídolos com olhos de diamante,
nem das jóias que riem sobre os mortos,
tirar as vagas de seu leito imóvel;
pois, ai! nem leve movimento ondula
esse imenso deserto cristalino!
Nem ondas falam de possíveis ventos
sobre mares distantes, mais felizes;
ondas nào contam que existiram ventos
em mar de menos espantosa calma.

Mas, vede! Um frêmito percorre os ares.
Uma onda... Fez-se ali um movimento!
e dir-se-ia que as torres vacilaram
e afundaram de leve na água turva,
abrindo com seus cumes, debilmente,
um vazio nos céus enevoados.
As ondas têm, agora, luz mais rubra,
as horas fluem, lânguidas e fracas.
E quando, entre gemidos sobre-humanos,
a cidade submersa for fixar-se no fundo,
o Inferno, erguido de mil tronos,
curvar-se-á, reverente.E.Allan Poe.

Sombra.


VÓS QUE ME LEDES por certo estais ainda entre os vivos; mas eu que escrevo terei partido há muito para a região das sombras. Por que de fato estranhas coisas acontecerão, e coisas secretas serão conhecidas, e muitos séculos passarão antes que estas memórias caiam sob vistas humanas. E, ao serem lidas, alguém haverá que nelas não acredite, alguém que delas duvide e, contudo, uns poucos encontrarão muito motivo de reflexão nos caracteres aqui gravados com estiletes de ferro. O ano tinha sido um ano de terror e de sentimentos mais intensos que o terror, para os quais não existe nome na Terra. Pois muitos prodígios e sinais haviam se produzido, e por toda a parte, sobre a terra e sobre o mar, as negras asas da Peste se estendiam. Para aqueles, todavia, conhecedores dos astros, não era desconhecido que os céus apresentavam um aspecto de desgraça, e para mim, o grego Oinos, entre outros, era evidente que então sobreviera a alteração daquele ano 794, em que, à entrada do Carneiro, o planeta Júpiter entra em conjunção com o anel vermelho do terrível Saturno. O espírito característico do firmamento, se muito não me engano, manifestava-se não somente no orbe físico da Terra, mas nas almas, imaginações e meditações da Humanidade. Éramos sete, certa noite, em torno de algumas garrafas de rubro vinho de Quios, entre as paredes do nobre salão, na sombria cidade de Ptolemais. Para a sala em que nos achávamos a única entrada que havia era uma alta porta de feitio raro e trabalhada pelo artista Corinos, aferrolhada por dentro. Negras cortinas, adequadas ao sombrio aposento, privavam-nos da visão da lua, das lúgubres estrelas e das ruas despovoadas; mas o pressentimento e a lembrança do flagelo não podiam ser assim excluídos. Havia em torno de nós e dentro de nós coisas das quais não me é possível dar conta, coisas materiais e espirituais: atmosfera pesada, sensação de sufocamento, ansiedade; e, sobretudo, aquele terrível estado de existência que as pessoas nervosas experimentam quando os sentidos estão vivos e despertos, e as faculdades do pensamento jazem adormecidas. Um peso mortal nos acabrunhava. Oprimia nossos ombros, os móveis da sala, os copos em que bebíamos. E todas se sentiam opressas e prostradas, todas as coisas exceto as chamas das sete lâmpadas de ferro que iluminavam nossa orgia. Elevando-se em filetes finos de luz, assim que permaneciam, ardendo, pálidas e imotas. E no espelho que seu fulgor formava sobre a redonda mesa de ébano a que estávamos sentados, cada um de nós, ali reunidos, contemplava o palor de seu próprio rosto e o brilho inquieto nos olhos abatidos de seus companheiros. Não obstante, ríamos e estávamos alegres, a nosso modo - que era histérico - , e cantávamos as canções de Anacreonte - que são doidas -, e bebíamos intensamente, embora o vinho purpurino nos lembrasse a cor do sangue. Pois ali havia ainda outra pessoa em nossa sala, o jovem Zoilo. Morto, estendido a fio comprido, amortalhado, era como o gênio e o demônio da cena. Mas ah! Não tomava ele parte em nossa alegria! Seu rosto, convulsionado pela doença, e seus olhos, em que a Morte havia apenas extinguido metade do fogo da peste, pareciam interessar-se pela nossa alegria,, na medida em que, talvez, possam os mortos interessar-se pela alegria dos que têm de morrer. Mas embora eu, Oinos, sentisse os olhos do morto cravados sobre mim, ainda assim obrigava-me a não perceber a amargura de sua expressão. E mergulhando fundamente a vista nas profundezas do espelho de ébano, cantava em voz alta e sonorosa as canções do filho de Teios. Mas, Pouco a pouco, minhas canções cessaram e seus ecos, ressoando ao longe, entre os reposteiros negros do aposento, tornavam-se fracos e indistintos, esvanecendo-se. E eis que dentre aqueles negros reposteiros, onde ia morrer o rumor das canções, se destacou uma sombra negra e imprecisa, uma sombra tal como a da lua quando baixa no céu, e se assemelha ao vulto dum homem: mas não era a sombra de um homem, nem a de um deus, nem a de qualquer outro ente conhecido. E, tremendo um instante entre os reposteiros do aposento, mostrou-se afinal plenamente sobre a superfície da porta de ébano. Mas a sombra era vaga, informe, imprecisa, e não era sombra nem de homem, nem de deus, de deus da Grécia, de deus da Caldéia, de deus egípcio. E a sombra permanecia sobre a porta de bronze, por baixo da cornija arqueada, e não se movia, nem dizia palavra alguma, mas ali ficava parada e imutável. Os pés do jovem Zoilo, amortalhado, encontravam-se, se bem me lembro, na porta sobre a qual a sombra repousava. Nós, porém, os sete ali reunidos, tendo avistado a sombra no momento em que se destacava dentre os reposteiros, não ousávamos olhá-la fixamente, mas baixávamos os olhos e fixávamos sem desvio as profundezas do espelho de ébano. E afinal, eu, Oinos, pronunciando algumas palavras em voz baixa, indaguei da sombra seu nome e lugar de nascimento. E a sombra respondeu: "Eu sou a SOMBRA e minha morada está perto das catacumbas de Ptolemais, junto daquelas sombrias planícies infernais que orlam o sujo canal de Caronte". E então, todos sete, erguemo-nos, cheios de horror, de nossos assentos, trêmulos, enregelados, espavoridos, porque o tom da voz da sombra não era de um só ser, mas de uma multidão de seres e, variando suas inflexões, de sílaba para sílaba, vibrava aos nossos ouvidos confusamente, como se fossem as entonações familiares e bem relembradas dos muitos milhares de amigos que a morte ceifara.E.Allan Poe.

quinta-feira, 21 de junho de 2012


Não fui, na infância, como os outros
e nunca vi como outros viam.
Minhas paixões eu não podia
tirar de fonte igual à deles;
e era outra a origem da tristeza,
e era outro o canto, que acordava
o coração para a alegria.

Tudo o que amei, amei sozinho.
Assim, na minha infância, na alba
da tormentosa vida, ergueu-se,
no bem, no mal, de cada abismo,
a encadear-me, o meu mistério.

Veio dos rios, veio da fonte,
da rubra escarpa da montanha,
do sol, que todo me envolvia
em outonais clarões dourados;
e dos relâmpagos vermelhos
que o céu inteiro incendiavam;
e do trovão, da tempestade,
daquela nuvem que se alteava,
só, no amplo azul do céu puríssimo,
como um demônio, ante meus olhos.
Allan Poe.

Edgar Allan Poe


Nasceu em Boston, em 1809, e faleceu em Baltimore, em 1849. Filho de actores, muito cedo viu desaparecer os pais, vitimados pela tuberculose. Edgar e seus irmãos foram recolhidos por pessoas de família, tendo ele sido adoptado por um tio rico, com quem conheceu um verdadeiro lar. No entanto, os anos de miséria e a morte dos pais desenvolveram no jovem um espírito mórbido, que a sua natureza enfermiça mais propiciou.

Em 1827 abandona a casa dos pais adoptivos, vivendo por uns tempos um período de instabilidade emocional. Matricula-se na Academia Militar de West Point, mas depressa se manifesta avesso à disciplina militar e é expulso. Publica ainda em 1827 o seu primeiro livro de poesia, Tamerlane and other poems, by a Bostonian. Em 1833 ganha um prêmio instituído pelo jornal Philadelphia Saturday Visitor com seu conto Manuscript found in a bottle. O diretor do jornal, vendo a situação de miséria e depressão em que Poe vivia, consegue-lhe um lugar de vice-diretor do Southern Literary Messenger, onde ficará por pouco tempo, pois que, devido à sua permanente morbidez, se tornara num alcoólico inveterado.

Casa com sua prima Virgínia, uma noiva-criança, com 13 anos apenas, junto de quem parece readquirir um pouco de confiança em si. Trabalha em vários jornais de Nova Iorque e Filadélfia. Nesta cidade aparece em 1840 a sua primeira colecção de contos: Tales of grotesque and arabesque. O ano de 1840 foi de grande atividade literária: escreveu Os crimes da Rua Morgue, criando a figura do detetive Dupin, predecessor de Sherlock Holmes, e desempenhou funções de chefe de redação do Graham's Magazine. A doença da mulher, atacada de tuberculose, tem sobre ele nefasta influência, fá-lo voltar ao alcoolismo e leva-o a procurar a companhia duma poetisa menor, Frances Osgood, na tentativa de se furtar talvez ao trágico ambiente familiar. Em 1847 morre sua mulher e Poe mergulha num estado de desespero que o leva a procurar novas mulheres e a passar a maior parte do seu tempo embriagado.

Em outubro de 1849, numa taberna, é encontrado em profundo estado de embriaguez. Levado ao hospital, ali morre três dias depois.

Deixou um espólio literário considerável e a sua figura dramática tem dado origem a inúmeros estudos da gênese da sua obra por meio da psicanálise.

A sua influência na Europa foi flagrante, sobretudo em França, entre simbolistas e decadentes. Além de contos, deixou poesias diversas, das quais a mais conhecida é The Raven.

Personagem patético, cujo valor como criador literário foi justamente celebrado pouco depois da sua morte, viveu apagadamente, como revela uma carta sua de poucas linhas a um editor a quem pedia como única “compensação umas vinte cópias do seu livro para oferecer a amigos”. Por uma daquelas ironias proverbiais da vida de Poe, esta pequena carta valeria três mil dólares um século depois da sua morte.

Os seus contos, recusados durante muito tempo pelos editores por serem demasiado “germânicos” para um público comum, conheceram depois da sua morte um êxito notável. Visto com a perspectiva que o tempo concede à obra literária, sabemos hoje que a criação de Poe tem por base o temor ao dogmatismo da ciência e à influência nefasta do materialismo.

Os seus contos têm sido largamente utilizados pelo cinema, que neles descobriu uma perfeita construção cinemática de incontestável modernidade.

Balada nupcial.


No meu dedo anelar,
nupcial coroa templo minha decoração;
sedas e diamantes olhar para o brilho,
e eu estou feliz agora.

E o meu Senhor me dá amor seguro;
mas diga-me ontem o quanto eu adoro,
meu coração tremeu, como a magia,
de "que caíram na guerra", ao pé do muro,
e está feliz agora.

Mas ele tranquilizóme, e na minha testa
palidez beijou você ama.
E eis que um sonho, eu vi isso,
D'Elormy mortos ', sua, na minha testa,
foi o beijo, e suspiro (como é doce!)
"- Ah, eu estou feliz agora!"

E se eu pudesse dar nova palavra,
e eu jurei a voto e, embora traiçoeiro,
e apesar de um luto para o amor conduz a alma,
eis que esse anel brilhar "me testar"
Estou feliz agora.

Ah! Deus me ilumine esse passado,
sonhos para se sonhos alma não ou ignorado,
eo coração é pressionado e incomodado
pregúntase, ó Senhor, se a "esquecida"
ser feliz agora!e.alan poe.

UM SONHO NUM SONHO.



Este beijo em tua fronte deponho!
Vou partir. E bem pode, quem parte,
francamente aqui vir confessar-te
que bastante razão tinhas, quando
comparaste meus dias a um sonho.
Se a esperança se vai, esvoaçando,
que me importa se é noite ou se é dia...
ente real ou visão fugidia?
De maneira qualquer fugiria.
O que vejo, o que sou e suponho
não é mais do que um sonho num sonho.

Fico em meio ao clamor, que se alteia
de uma praia, que a vaga tortura.
Minha mão grãos de areia segura
com bem força, que é de ouro essa areia.
São tão poucos! Mas, fogem-me, pelos
dedos, para a profunda água escura.
Os meus olhos se inundam de pranto.
Oh! meu Deus! E não posso retê-los,
se os aperto na mão, tanto e tanto?
Ah! meu Deus! E não posso salvar
um ao menos da fúria do mar?
O que vejo, o que sou e suponho
será apenas um sonho num sonho?
edgar allan poe

poema.


Vida,
Tediosa existência,
Incessante movimentação,
Eterna dúvida,
Maior dos mistérios

O que senão o sono,
O inibidor dos sentidos,
Para nos desprender daqui,
Oh, sofrido mundo!
O sono é a morte dos que ainda vivem

Para os que dele retornam,
Resta apenas serem tolos
E procurarem a felicidade
Ou serem sábios
E procurarem evitar a dor
Ciclo vicioso, degradante, tedioso

O que senão o sono eterno,
O finalizador dos sentidos,
Para nos tirar daqui,
Oh, sofrido mundo!
A morte é o sono dos que não vivem

Os que para ela foram,
Aqui não mais retornarão
Resta-lhes o nada,
Fazer nada,
Não serem, pois nada são
Nada é!
Não há ciclo
Apenas a degradação completa

Insistentes,
As artes preencherão o vazio de tuas almas
Pobres almas...
Destroçadas pela vida
O sono,
O analgésico para a dor da vida

As pessoas estao indo embora
sangue pelo chão
gritos pelo ar...

Não sei o que vou fazer
nao sei como encontrar forças para correr
pois quem eu amo
está morto no chao

Maldito aquele que viola a lei divina
matando pessoas por pura diversão!

Por ti, amor! morrerei!
só nao quero viver
num inferno de podridão!

Ilusão minha era achar que eles tivessem alma
que eles tivessem compaixão!

Um bando de jovens destruídos
por uma sociedade de eterna maldição.
Jovens assassinos...
jovens sem alma e sem coração!
jovens, condenados por um mesmo destino que eu...
o destino da solidão!

Perdi quem mais amei
e em cima de seu corpo chorarei
minha alma destruída pela vingança
e meu coração consumido pela tristeza
vão sempre ficar assim...
até que no inferno te encontrarei!

Certas Derrotas nos preparam pra grandes vitorias ?

Na escuridão das trevas,
onde a luz não ousa chegar,
existe um lugar onde a vida apenas sobrevive.
Muitos chamam esse lugar de inferno,
outros de fim do mundo.
Eu, chamo de lar.

O sono é uma morte incompleta,
a morte é o sono perfeito.

A sombra é a luz negativa.

Uma cadeia de ferros é mais facil do que romper uma cadeia de flores.

A pratica é o verbo em ação,
o homem que pratica pertence
a doutrina cujo ritos realiza.

Se eu avançar, segue-me.
Se eu morrer, vinga-me.
Se eu recuar, mata-me.

Se você é capaz de amar,
não faça sofrer quem te ama.

Lutar sempre,
vencer se possível,
desistir nunca.

Antes de magoar um coração,
veja se não esta dentro dele.
[d.a]

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Os Mistérios Egípcios..


Uma das particularidades mais notáveis que acontece com o Antigo Egipto e que continua a intrigar os mais cépticos dos cientistas, para a qual ainda não encontraram uma explicação razoável, é a seguinte: não se conhece uma passagem gradual do estado pré-histórico, da Idade da Pedra, do Ferro, do Bronze, para o estado civilizacional. De repente, aparece uma civilização organizada, com uma escrita, os faraós governando e construindo grandes monumentos. O mesmo fenómeno parece ter acontecido, mais ou menos ao mesmo tempo, na Caldeia e na Babilónia ou, mais precisamente na região da Mesopotâmia. Dá a impressão de que alguém chegou, vindo não se sabe de onde, e instruiu os habitantes locais sobre as diversas artes e ciências. Naturalmente que existem muitas teorias acerca dos primitivos habitantes das margens do rio Nilo, mas não explicam como é que esses habitantes, que viviam da pesca e de uma agricultura rudimentar, se transformaram, da noite para o dia, na civilização organizada que conhecemos.

A importância do Antigo Egipto é tão grande que, dentro da arqueologia constitui uma especialidade à parte – egiptologia. Os arqueólogos que se têm dedicado a escavar as tumbas no Egipto também se chamam egiptólogos. O problema é que estes egiptólogos, para as suas conclusões, partem de premissas conservadoras, ou seja, que a civilização do Antigo Egipto teve que ter uma evolução gradual como qualquer outra civilização antiga e que foram os egípcios os únicos responsáveis por essa civilização e pela construção de toda a monumentalidade que nos deixaram. Não lhes passa pela cabeça que a verdade pode estar algures em outra parte.

Não têm levado em consideração os escritos antigos que contrariam as suas teses. Maneto, um sacerdote de Heliópolis do terceiro século antes da nossa era, compilou uma história do Antigo Egipto mas, os egiptólogos só usam as suas descrições para o período histórico e repudiam tudo quanto se refere a épocas anteriores, considerando-as falsas ou fruto de fantasias. Numa crónica de Eusébio, um autor cristão do terceiro século depois de Cristo, citando directamente Maneto, desenrola uma lista de deuses que mais não é do que a novena, ou o grupo de 9 deuses de Heliópolis. Esses deuses são: Rá, Geb, Nut, Osíris, Ísis, Seth, Shu, Tefnet e Nephtys. Estranhamente Hórus não faz parte desta lista.

Referindo-se a estes deuses, Eusébio diz o seguinte: “Foram os primeiros a ter o poder no Egipto. A realeza passou de um para outro numa sucessão ininterrupta… durante 13.900 anos. Após os deuses, os semideuses reinaram durante 1.255 anos; e, depois, outra linha de reis teve o poder durante 1.817 anos; em seguida vieram mais trinta reis, que reinaram durante 1.790 anos; e depois 10 reis que governaram durante 350 anos. Eles seguiram o governo dos espíritos dos mortos… durante 5.813 anos”. A soma destes períodos todos dá 24.925 anos. Ora o período histórico do Egipto, o início da primeira dinastia, remonta a apenas 3.100 a.C. Isto quer dizer que, muito antes da primeira dinastia, estavam presentes no Egipto seres civilizados, deuses ou homens.

O historiador grego Diodoro Sículo, que viveu no primeiro século a. C., visitou o Egipto. Eis o que ele escreveu: “No começo, deuses e heróis governaram o Egipto durante pouco menos de dezoito mil anos, sendo Hórus, o filho de Ísis, o último dos deuses a governar... Mortais foram os reis do seu país, segundo se diz, durante quase cinco mil anos.”

Antes de Diodoro, outro historiador grego visitou o Egipto, Heródoto, que viveu no quinto século a. C. Ele transmite-nos a seguinte informação que lhe foi facultada pelos sacerdotes de Heliópolis: “Disseram que durante esse tempo houve quatro ocasiões em que o Sol nasceu fora do seu local habitual – duas vezes nascendo onde agora se põe, e duas vezes pondo-se onde agora nasce”.

Isto quer dizer o quê? Que o Sol mudou de local de nascimento, que deixou de nascer a leste? Não. Isto tem a ver com o fenómeno da precessão dos equinócios. No tempo de Heródoto, o Sol, no Equinócio da Primavera, nascia na constelação de Carneiro (Áries), quando a constelação de Balança (Libra) estava no local oposto. Como o Sol muda de constelação zodiacal em cada 2160 anos aproximadamente, para termos o Sol a nascer na constelação de Balança, teremos que recuar aproximadamente 13.000 anos. Seguindo à letra a informação acima, isto leva-nos a qualquer coisa como 39.000 anos antes de Heródoto, pois o fenómeno repetiu-se por duas vezes. Este número de 39.000 anos parece muito exagerado, mesmo para os mais entusiastas acerca destas questões. No entanto, ele está de acordo com dois documentos que foram encontrados no Egipto e que se referem aos tempos pré-dinásticos.

Um desses documentos é chamado “O Papiro de Turim”. Nos fragmentos que se conseguiram recuperar, é possível ler nove dinastias de faraós pré-dinásticos, entre os quais estão os “Veneráveis de Mênfis”, os “Veneráveis do Norte” e os “Shemsu Hor, os seguidores de Hórus, que governaram até ao fim da época de Manes. Nas duas linhas finais do papiro está o resumo em anos da duração dos reinados: “Shemsu Hor – 13.420 anos; reinados antes de Shemsu Hor – 23.200 anos; total – 36.620 anos.

O segundo documento que se refere aos tempos pré-históricos é chamado de “A Pedra de Palermo”, mas este não recua no tempo tanto quanto o “Papiro de Turim”. O registo mais antigo que consta nesta pedra diz respeito ao reinado de 120 faraós que governaram o Egipto antes de 3.100 a. C.

Os monumentos mais famosos do Egipto e mais conhecidos são as três grandes pirâmides cuja construção foi atribuída pelos egiptólogos e arqueólogos a três faraós: Khufu (Quéops), Khafre (Kefren) e Menkaure (Miquerinos). O que levou estes pesquisadores a esta conclusão foi terem-se encontrado referências escritas a estes reis junto daqueles monumentos. Mas isto não prova que tenham sido eles os seus verdadeiros construtores e que as pirâmides tenham sido construídas na época que eles indicam, cerca de 2.500 anos antes de Cristo. Na verdade, ninguém sabe, exactamente, em que época é que elas foram construídas.Manuel O. Pina .

A ERA DOS DEUSES - O Cavalo de Tróia.


Toda a gente conhece a história do Cavalo de Tróia. É tão conhecida a história e o seu significado que até alguns vírus informáticos que infectam de vez em quando os computadores tomaram esse nome. É também o nome de uma série de livros acerca de uma presumível viagem no tempo, mais precisamente ao tempo de Jesus. Na verdade trata-se de uma armadilha, de uma introdução de algo estranho dentro de um ambiente para daí tirar vantagem. Foi o que aconteceu em Tróia, aparentemente, pois não se sabe se o episódio foi real, uma vez que não consta da Ilíada, a obra-prima de Homero. Verdade ou não, o que é certo é que tem servido de inspiração a muita gente.

Durante muito tempo a Ilíada foi considerada um relato fantasioso acerca de uma presumível guerra entre aqueus (gregos) e troianos motivada pelo rapto da bela Helena. Não se sabe ao certo se terá sido mesmo rapto, ou se Helena, filha de Zeus, o chefe dos deuses, e de Leda, rainha de Esparta, portanto uma semideusa, que acabou por casar com Menelau, rei de Esparta, não terá fugido por vontade própria com o jovem príncipe Páris que a levou para Tróia. No final de toda a trama, terá acabado os seus dias na companhia de Páris, protegidos pelos deuses Apolo e Afrodite.

Verdadeira ou falsa, esta história de Helena pertence ao reino do romantismo, pois Homero não fala dela e uma outra lenda grega refere que a guerra foi provocada por Zeus para diminuir o número de homens sobre a Terra. Para Homero, a guerra de Tróia foi instigada pelos deuses para satisfazer os seus caprichos. Agindo directa ou indirectamente, por vezes de forma visível, outras invisível, os deuses atiçaram os pobres dos humanos nessa luta dramática pela posse de Tróia. Por detrás de tudo estava Zeus, que observava com satisfação o desenrolar das batalhas. Ele autorizara os outros deuses a tomarem o partido que quisessem mas, quando verificou que os deuses tinham começado a ferir-se mutuamente, ordenou-lhes que parassem e se mantivessem fora da luta dos mortais.

Homero descreve-nos que enquanto os guerreiros e os deuses dormiam profundamente na planície após um dia de intensa luta, Zeus mantinha-se acordado pensando em como poderia honrar Aquiles (Ulisses) e, ao mesmo tempo, provocar grandes destruições nos navios dos aqueus. Quando os aqueus e os troianos acertaram uma trégua para que os seus líderes pudessem resolver a contenda numa luta corpo a corpo, os deuses ficaram muito descontentes com a ideia, porque ficavam privados do espectáculo diário de morticínios de parte a parte. Instruíram de imediato a deusa Minerva para se deslocar ao campo de batalha e fazer com que os troianos fossem os primeiros a romper a trégua, atacando os aqueus. Durante a noite, para que os combates pudessem prosseguir, a deusa iluminou o campo de batalha.

A Ilíada descreve em pormenor a guerra de Tróia e o envolvimento dos deuses que tomaram partido por um ou outro lado. Durante muito tempo esta descrição foi considerada uma fantasia de Homero, um poeta sobre cuja existência ainda hoje existem dúvidas. De facto não se sabe se existiu um personagem chamado Homero e pensa-se que a Ilíada, assim como a Odisseia, sejam compilações de vários autores. Tradicionalmente Homero é representado como um velho cego, conforme mostra um busto grego bem conhecido. Supõe-se que terá vivido por volta do século VII antes da nossa era, altura em que começaram a aparecer os primeiros escritos gregos, mas são apenas conjecturas, ninguém tem a certeza de nada.

Como a Ilíada foi considerada uma fantasia de um poeta imaginário, então Tróia nunca existiu de facto, pensava-se. Aliás, toda aquela descrição do envolvimento dos deuses não passava de uma criação do imaginário grego. Para as religiões monoteístas que se vieram a impor mais tarde, as descrições dos deuses faziam parte das crenças pagãs e portanto, não eram para ser levadas a sério. Assim, a guerra de Tróia e a própria Tróia foi considerada apenas parte de um fascinante mas improvável conjunto de lendas gregas que os eruditos, com um sorriso de tolerância, denominaram mitologia. No entanto, grandes surpresas estavam para acontecer.

Em 1822 um certo Charles McLaren sugeriu que determinado monte da Turquia podia ser a localização da antiga cidade de Tróia. Ninguém acreditou nele. Somente em 1870, um rico comerciante alemão que estudara a Ilíada e acreditava que se tratava de uma história verídica, resolveu começar a escavar o local, aplicando no empreendimento toda a sua fortuna.

Este comerciante alemão, Heinrich Schliemann, era uma figura enigmática. Desde os 14 anos de idade que se sentira fascinado pelas obras de Homero e acreditava que se tratava de relatos verdadeiros e não imaginários. Arqueólogo amador, foi autodidacta em tudo em que se envolveu na vida, aprendia línguas com uma rapidez assombrosa, chegando a dominar 9 línguas, além do alemão. Tendo começado como aprendiz numa loja, emigrou para a Venezuela, de onde voltou mais tarde para a Europa. Vai para a Rússia e instala-se em São Petersburgo, onde acaba por abrir a sua própria loja, nesta altura já possuidor de uma fortuna considerável. Fascinado pelas obras de Homero, resolveu arriscar toda a sua fortuna na procura da antiga cidade de Tróia.

Para espanto dos eruditos e dos cépticos acerca da validade da história contada na Ilíada, à medida em que escavava foi descobrindo cidade sobre cidade, até chegar à sétima camada, onde encontrou a Tróia cantada por Homero.

O que fazer agora com a história de Homero? A cidade existia, portanto, essa parte era verdadeira. Teria havido mesmo uma guerra para diversão dos deuses, como dizia ele na Ilíada? O que dizer de frases como: “Enquanto os deuses se mantiveram afastados dos guerreiros mortais, os aqueus triunfaram, pois Aquiles (Ulisses), o semideus, agora estava com eles. Porém, devido ao crescente rancor entre os deuses e da ajuda que os gregos recebiam de Aquiles, Zeus mudou de ideia. Quando a mim, disse ele, ficarei aqui no Olimpo, sentado, a observar. Vós podereis tomar o lado que quiserdes, o dos gregos ou dos troianos.”

Esta guerra, se aconteceu, terá ocorrido entre 1300 e 1200 anos antes da nossa era. É interessante notar que até 1200 a. C., há inúmeras referências de deuses em todo o Oriente Médio, incluindo o Egipto. Há inúmeras histórias contando a participação de alguns dos deuses na condução das guerras, dirigindo eles próprios as operações ou instruindo humanos a fazê-lo. Os deuses tomam nomes diferentes em cada região, mas suspeito que sejam sempre os mesmos. É difícil, no entanto, identificar os deuses egípcios com os gregos ou os da Mesopotâmia. A Minerva ou Afrodite gregas podem ser a Ishtar mesopotâmica, ou a Ísis egípcia. Zeus, que odiava os homens, pode ser o Enlil da Mesopotâmia ou o Iahweh bíblico, pois qualquer deles era cruel e odiava os homens. O Ea ou Enki da Mesopotâmia, pode ser o RA egípcio, ou aquele que ajudou Noé a salvar-se da raiva desencadeada por Enlil, tentando destruir os homens através de um dilúvio.wikepédia