sábado, 27 de julho de 2013

A SABEDORIA DO MUNDO ANIMAL Uma Antiga Tradição Celta.

Os nossos Professores Animais. Os nossos antepassados reverenciavam cada aspecto do mundo natural e consideravam cada parte deste mundo capaz de ser um aliado, um guia e um professor. O Druida de hoje é capaz de obter inspiração, direcção e assistência de cada reino do mundo natural, mas nos tempos antigos talvez isso fosse mais simples e menos incomum – havia menos “coisas” entre nós e o mundo da Natureza e a mundovisão predominante considerava que cada parte dela estava imbuída de vida espiritual e significado. Os animais, em particular, eram reverenciados pelas suas qualidades e eram vistos como sagrados à Deusa ou aos deuses. Diz-se que um certo número de tribos ou clãs descenderam de animais, tais como o “povo dos gatos” na Escócia e as “tribos do lobo”, assim como os “cabeças de cão”, na Irlanda. Também se diz que algumas famílias tinham antepassados animais. A foca, por exemplo, era o antepassado original de pelo menos seis famílias na Escócia e na Irlanda. A maior parte das tribos tinha os seus animais totémicos, claramente demonstrados nos seus nomes, como os Caerini e os Lugi em Sutherland (“Povo das Ovelhas” e “Povo dos Corvos”), os Epidii de Kintyre (“Povo dos Cavalos”), os Tochrad (“Povo dos Javalis”), os Taurisci (“Povo dos Touros”) e os Brannovices (“Povo dos Corvos”). As famílias também tinham animais totémicos, visíveis nos seus nomes, nos seus brasões ou nas suas tradições familiares. Todos conhecemos sobrenomes ingleses que são claramente nomes de animais, tal como Fox (“Raposa”), e a maior parte de nós conhece o animal que está relacionado com os nomes de origem clássica, tal como Philip, oriundo do grego e que significa “amante de cavalos”. Porém, muitos nomes em gaélico vêm directamente do reino animal e tentámos mencionar tantos quanto possível no Capítulo Dois d'O Oráculo Animal dos Druidas. Aprender que nomes como “Filho de Raposa” ou “Pequeno Lobo” eram comuns na tradição nativa britânica faz-nos sentir mais próximos dos nossos irmãos e irmãs da tradição nativa americana. Os nossos antepassados adoravam e respeitavam os animais de tal forma que escolhiam ser enterrados com eles, para os ter como guias e companheiros no Outro Mundo. Usavam os seus ossos e os seus dentes como amuletos. Usavam as suas peles para se vestirem e fazerem os seus leitos, para fazerem os seus escudos, tambores e gaitas-de-foles. Aceitavam as suas peles, os chifres, os cascos e a carne como dádivas e faziam uso de todas as partes dos animais – até mesmo os excrementos eram por vezes utilizados para efeitos de cura. Quando caçavam, pediam permissão à Deusa, antes de se aventurarem a tirar a vida de qualquer criatura. A caça em si era considerada sagrada e tinha uma série de tabus para proteger tanto o caçador como a caça. O elo existente entre os nossos antepassados e os animais era tão extraordinariamente rico que estes se relacionavam não só com os animais selvagens, mas também com os guardiães, guias neste mundo e no próximo, curandeiros, amigos e professores. Não é de espantar que eles os considerassem sagrados e companheiros dos deuses. Apenas nós, uma humanidade recente e bidimensional, é que vemos os animais como sendo meramente criaturas “menores”, de inteligência inferior e de pouco valor, para além do facto de servirem de alimento. Enraizado no Tempo. A reverência pelos animais e a consciência de que eles são professores e guias é tão antiga como a própria humanidade. As grutas de Drachenloch, na Suíça, exibem altares com cerca de 70.000 anos dedicados ao Urso. Nas grutas de Lascaux, em França, as extraordinárias pinturas de animais e a estátua cerimonial do corpo de um urso têm mais de 19.000 anos. Os animais eram claramente o centro de uma prática religiosa desde os primórdios do tempo. Na Grã-Bretanha, num povoado mesolítico em Yorkshire, encontraram-se hastes de veado com cerca de 10.000 anos que foram adaptadas para ser ritualisticamente usadas na cabeça. Usar peles de animais, cabeças e penas era uma forma de identificação com os mesmos, de ser esses animais por algum tempo, de partilhar dos seus poderes e de receber a inspiração divina. Na Grã-Bretanha, os nativos ainda faziam isto no séc. VII d.C. – sendo que Santo Agostinho condenou este “hábito extremamente obsceno de se vestirem como veados”. Na Irlanda, o Bardo usava o tugen – uma capa de penas feita com “peles de pássaros, brancas e multicoloridas... da cintura para baixo e com pescoços de patos bravos e cristas da cintura até ao pescoço”. Para além de se vestirem como animais, os nossos antepassados sacrificavam-nos e enterravam-nos ritualisticamente. Qualquer relutância que se possa ter inicialmente face a este comportamento deve ser temperada com a consciência de que hoje em dia milhões de animais criados industrialmente são sacrificados diariamente sem qualquer acompanhamento ou contexto espiritual – ao passo que os sacrifícios e rituais dos nossos antepassados envolviam um pequeno número de criaturas e uma consciência profunda da dádiva que o animal estava a conceder ao ser sacrificado. Parece que os animais eram enterrados cerimonialmente como uma acção de graças nos silos de cereais subterrâneos quando estes deixavam de ser úteis e eram selados. É possível que se tenham feito rituais semelhantes com os animais que acompanhavam os mortos ou que eram enterrados em altares ou santuários. A importância dos animais na vida religiosa dos nossos antepassados também pode ser vista no facto de quatro dos oito festivais druídicos do ano, conhecidos como Festivais de Fogo, estarem particularmente ligados à vida campestre da pastorícia e e da agricultura, e sabe-se que têm sido celebrados durante pelo menos os últimos 7.000 anos. O Imbolc, no dia 1 de Fevereiro, é o tempo do nascimento dos cordeiros, dos vitelos e das primeiras sementeiras. O Beltane, no dia 1 de Maio, assinala o início do Verão, quando os rebanhos são levados para as pastagens altas. O Lughnasadh, no dia 1 de Agosto, marca o início das colheitas e o Samhuinn, no dia 1 de Novembro, assinala o princípio do Inverno, quando os animais são trazidos até aos vales e se fazem as matanças para a carne que deve ser conservada. Xamanismo e Animais de Poder. Trabalhar com animais de poder é uma característica central do Xamanismo e podemos encontrar inúmeros elementos xamânicos intricados na filosofia e na prática do Druidismo. Michael Harner, uma autoridade mundial em Xamanismo, fala do caminho xamânico como algo que se poderia definir como um método para abrir uma porta e entrar numa realidade diferente. Uma parte significativa da cerimónia e da meditação Druídicas tem como objectivo viajar até outras realidades, bem como a palavra “Druida” se relaciona com palavras que significam “carvalho” e “porta” – sendo que o símbolo da porta ou portal é central nos ensinamentos Druídicos. Joseph Campbell, o grande mitógrafo, mostrou-nos que existe um conjunto de características que distingue a arte de um xamã. Estas incluem: a dança ritual, a posse de uma vara ou bordão, a dança extática, o uso de uma vestimenta animal, a identificação com um pássaro, veado ou touro, tornar-se senhor dos animais de caça e das iniciações e o controlo de um animal mágico ou “familiar”. Na literatura druídica, existem vestígios de possíveis danças rituais nas antigas danças folclóricas e existem numerosas referências às varas e bordões druídicos e a estados alterados de consciência ou de êxtase. Todas as restantes características mencionadas por Campbell relacionam-se com animais e todas estão presentes na tradição druídica. Já abordámos o uso de trajes animais, tais como o veado ou o pássaro. Os druidas eram muitas vezes identificados com animais: eram apelidados de víboras ou leitões, dizia-se que tinham o “conhecimento do grou, do corvo ou do pássaro” ou recebiam nomes como Mathgen, que significa Nascido-de-Urso. Os veados e os touros são particularmente importantes no Druidismo – o veado é um mensageiro do Outro Mundo, montado pelo sábio Merlin, e o touro é sagrado ao deus Taranis, o beneficente deus do céu, do trovão, do relâmpago e do carvalho. O touro tem uma presença proeminente na música sagrada do Druidismo – eram ritualisticamente usados chocalhos de bronze com forma de testículos de touro, assim como cornos de bronze, que foram encontrados um pouco por toda a Grã-Bretanha e Irlanda, que muitas vezes se assemelham a cornos de touro. Estes últimos, quando tocados com o método de respiração circular usado pelos tocadores de didgeridoo, soam como o bramir dos touros. Encontramos a imagem do “senhor dos animais de caça” na iconografia e na literatura celtas. Podem ser vistas imagens de Cernunnos ou do Senhor da Caça tanto na Grã-Bretanha como em França e a imagem avassaladora do senhor de todos os animais aparece no Mabinogion galês. Por fim, o controlo de um animal mágico ou familiar relaciona-se habitualmente com um atributo da bruxa no folclore britânico, sendo a lebre, a rã e o gato citados como os familiares mais comuns. Existem muitas ligações históricas entre o Druidismo e a Bruxaria. O Outro Mundo Celta Um ponto central na mundivisão druídica é a crença de que o mundo material em que vivemos corresponde apenas a um nível ou plano de existência. Por detrás e para além deste mundo fica o Outro Mundo, o mundo dos poderes e das potências, dos espíritos e das forças que nos podem guiar e ajudar, se simplesmente conseguirmos reconhecer a sua existência e aceitar a sua realidade. Os animais, em particular, são reverenciados pela sua capacidade de estabelecer uma ponte entre estes dois mundos. Eles podem trazer-nos mensagens do Outro Mundo e agir como nossos guias nesse reino, quando nos despojamos dos nossos corpos na morte. Porque eles têm simultaneamente uma forma espiritual e uma forma física, podem ser os nossos guardiães e protectores, mesmo quando não estão fisicamente presentes. Embora cada animal tenha o seu próprio caminho para o Outro Mundo, um estudo dos animais aqui descritos neste Oráculo irá demonstrar que eles formam determinados grupos que se adequam particularmente a certas funções: alguns são mais adequados como guardiães e protectores, outros como curandeiros, guias, professores, transmutadores de forma ou familiares. Pode encontrar um guia relativo a estas diferentes categorias na página 163 d'O Oráculo Animal dos Druidas. É interessante reparar que a grande maioria destes animais são considerados sagrados à Deusa. Animais Interiores, Animais de Poder, Guias Totémicos. Trabalhar com o Oráculo Animal pode colocar-nos em contacto com quatro tipos diferentes de animais. Primeiramente, pode despertar-nos para a beleza do animal no mundo físico, levando-nos a descobrir mais acerca da sua vida e dos seus hábitos. Em segundo lugar, pode pôr-nos em contacto com os nossos “animais interiores”. De alguma forma, os animais agem como símbolos ideais ou imagens dos nossos medos e ânsias mais profundas ou de partes da nossa psique que foram negadas, reprimidas ou simplesmente negligenciadas. Ao acolher e nutrir os animais que entram na nossa consciência através do Oráculo, em sonhos, meditações ou divagações, enriquecemos o nosso mundo interior e descobrimos um caminho de crescimento pessoal que está em perfeita sintonia com o mundo natural. Em terceiro lugar, existem animais de poder. A tradição druídica, tal como outras vias indígenas, acredita que os animais também existem sob forma espiritual no Outro Mundo e que, por vezes, esses animais podem visitar-nos – para nos dar energia ou cura, inspiração ou conselhos. Porque cada um deles tem um poder específico, dom ou “remédio”, eles são geralmente chamados de “animais de poder”. O quarto tipo de animais é conhecido como “totem”. Se optarmos por trabalhar com animais de poder, podemos acabar por desenvolver uma relação especial com um deles ou mais. Iremos sentir muitas vezes a sua presença na nossa consciência – guiando-nos, ensinando-nos e ajudando-nos. Podemos então dizer que estes animais de poder se tornaram os nossos “totens” ou “familiares”.Philip & Stephanie Carr-Gomm.

sábado, 20 de julho de 2013

Stairway To Heaven. Led Zeppelin

Escadaria Para O Paraíso Há uma senhora que tem certeza de que tudo o que reluz é ouro E ela está comprando a escada para o céu Quando ela chega lá ela sabe se as lojas estiverem todas fechadas Com uma palavra ela consegue o que veio buscar E ela está comprando a escadaria para o paraíso Há um aviso na parede, mas ela quer ter certeza Porque você sabe, às vezes as palavras têm duplo sentido Em uma árvore a beira do riacho há um rouxinol que canta Às vezes todos os nossos pensamentos estão vazios Oh, isso me faz pensar Oh, isso me faz pensar Há algo que sinto quando olho para o oeste E meu espírito chora por liberdade Em meus pensamentos eu vejo anéis de fumaça atravessando as árvores E as vozes daqueles que observam Oh, isso me faz pensar Oh, isso me faz pensar E é sussurrado que logo, se todos entoarmos a canção Então o flautista nos levará à razão E um novo dia nascerá para aqueles que chegaram lá E a floresta irá ecoar com gargalhadas Se ouvir barulho em seus arbustos, não se assuste É só uma limpeza do inverno para a chegada da primavera Sim, há dois caminhos que você pode seguir, mas na longa caminhada Ainda há tempo de mudar o caminho que você segue Oh,e isso me faz pensar Sua cabeça lateja e não para nunca Caso você não saiba, o flautista está te chamando para se juntar a ele Querida moça, você ouve o vento que sopra? E você sabia que sua escadaria repousa no vento sussurrante? E conforme seguimos por essa estrada Com nossas sombras mais altas que nossas almas, lá caminha uma moça que todos conhecemos Que tem um brilho branco e quer mostrar Como tudo ainda vira ouro, e se você ouvir com muita atenção A canção finalmente chegará até você Quando todos são um e um é o todo, yeah Pra ser agitado e não rolar E ela esta comprando a escadaria para o paraíso

A maldição de Tutancamon.

Rainer Sousa As lendas e mitos que cercam as pirâmides atraem muitas pessoas e reforçam o lado misterioso que cerca a antiga cultura egípcia. Esse mistério começou a ser instigado com a febre de escavações e expedições arqueológicas que tomaram conta das antigas cidades egípcias. Em 1923, um grupo de pesquisadores comemorou a descoberta da tumba de um faraó com mais de 3000 anos de existência. Este faraó era o lendário Tutancamon, que teve sua múmia encontrada ao lado de artefatos em ouro, bacias cheias de grãos e uma inscrição egípcia prometendo que a morte afligiria todo aquele que viesse a perturbar o sono do faraó. Mesmo com seu tom ameaçador, aquele e outros avisos não foram capazes de sanar a cobiça dos saqueadores de tumbas que violaram o descanso de diversas outras múmias. Será que a maldição atingiria aqueles que ignoravam o silencioso aviso? Em meio a tantas lendas, o arqueólogo Howard Carter resolveu embrenhar-se na região do Vale dos Reis à procura dos artefatos pertencentes a algum faraó egípcio. Chegando por ali por volta de 1916, a equipe liderada por esse pesquisador não acreditava nos avisos que diziam ser impossível encontrar algum tesouro arqueológico entre tantas escavações inacabadas. Seis anos depois, Howard ainda não havia conseguido encontrar pistas de um desconhecido rei egípcio que havia sido enterrado naquela região. Obcecado por suas hipóteses, tentou organizar uma última escavação em uma região ocupada por algumas cabanas. Depois de remover as rudimentares construções do local, as primeiras escavações foram presenteadas com o encontro de uma escadaria. Alguns dias depois, a equipe de Carter percebeu que se tratava de um acesso a uma passagem obstruída. Aquela descoberta impulsionou um trabalho mais intenso que, logo em seguida, desbloqueou um corredor que dava acesso a uma outra porta. A porta possuía um lacre visivelmente quebrado e, posteriormente, reconstruído. Tal indício diminui as expectativas de Howard Carter em encontrar um tesouro arqueológico intacto. Depois vencer o obstáculo de uma última porta, a equipe arqueológica deparou-se com uma sala abarrotada de artefatos de grande detalhe e um trono revestido em ouro. Nessa sala percebeu a existência de uma outra porta onde, por uma fresta, identificou-se um novo cômodo. Após essas descobertas, Carter teve a astúcia de fechar os acessos àquele local e lançar um monte de entulho na via de acesso a escadaria. Meses depois, levantou uma maior quantidade de recursos e especialistas para trabalharem naquele grande achado. Voltando à primeira sala, retirou e catalogou todos os seus objetos. Dessa vez, abriu o segundo cômodo e lá deu de cara com uma enorme urna funerária que ocupava quase todo o espaço do lugar. Em quase três meses de trabalho, removeu outras três urnas menores depositadas dentro da urna maior. No interior da última urna descobriu um pesado sarcófago feito em pedra. Após contar com o auxílio de um guindaste para remover o tampo de pedra, Howard Carter retirou um véu de linho que cobria uma bela máscara mortuária feita em ouro, vidro e pedras coloridas; e um ataúde no formato de um corpo. Depois disso, duas novas camadas de máscaras e ataúdes foram retirados do interior do sarcófago. Passados tantos obstáculos, a equipe de arqueólogos vislumbrou o corpo do faraó Tutancamon queimado e enrijecido pelas resinas utilizadas em seu processo de mumificação. A mais valiosa descoberta arqueológica da época foi alcançada depois de anos de dedicação. No entanto, a riqueza da descoberta reavivou os rumores da famosa maldição de Tutancamon. Já na primeira vez que descobriu a escadaria, o canário de Carter foi comido por uma cobra, indicando o primeiro mau presságio. Na época em que a tumba foi descoberta, o empresário Lorde Carnavon – financiador da equipe de Carter – foi um dos primeiros a conhecer o sarcófago. Logo em seguida, o empresário teve uma ferida infecciosa provocada pela picada de um mosquito. O estado febril acabou levando-o à morte em poucos dias. Antes de morrer, disse à irmã que Tutancamon o havia convocado. No dia em que faleceu, o cachorro do empresário foi vítima de um enfarte fulminante. A notícia da morte de Lorde Carnavon logo agitou os esotéricos e supersticiosos sobre as maldições daquela tumba faraônica. Depois do ocorrido, Arthur Mace – integrante da equipe de Carter – morreu repentinamente no mesmo hotel em que Carnavon passou seus últimos dias. Joel Woolf, dono das primeiras fotos de Tutancamon, e Richard Bethell, secretário de Carter, também faleceram em condições inexplicáveis. Nessa mesma funesta coincidência se juntaram a irmã e a mulher de Carnavon. Ao longo de seis anos após a descoberta, trinta e cinco pessoas ligadas à descoberta da múmia de Tutancamon morreram em condições misteriosas. Para combater as lendas e explicações sobrenaturais, cientistas levantaram a hipótese de que alguma substância tóxica ou fungo venenoso fora criado na época para que ninguém viesse a profanar aquela sala mortuária. Outros ainda chegaram a afirmar que os egípcios já conheciam a energia atômica e teriam depositado urânio nas tumbas. Durante o século XX, o alvoroço causado pela maldição das tumbas acabou perdendo sua força mediante outras tranqüilas descobertas arqueológicas. Mesmo que as explicações científicas para as tragédias fossem plausíveis, o desencadear de tantas mortes não consegue ser explicado satisfatoriamente como uma simples eventualidade. O desconhecido ainda encobre esse episódio.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Silêncio – Clarice Lispector.

É tão vasto o silêncio da noite na montanha. É tão despovoado. Tenta-se em vão trabalhar para não ouvi-lo, pensar depressa para disfarçá-lo. Ou inventar um programa, frágil ponto que mal nos liga ao subitamente improvável dia de amanhã. Como ultrapassar essa paz que nos espreita. Silêncio tão grande que o desespero tem pudor. Montanhas tão altas que o desespero tem pudor. Os ouvidos se afiam, a cabeça se inclina, o corpo todo escuta: nenhum rumor. Nenhum galo. Como estar ao alcance dessa profunda meditação do silêncio. Desse silêncio sem lembranças de palavras. Se és morte, como te alcançar. É um silêncio que não dorme: é insone: imóvel mas insone; e sem fantasmas. É terrível – sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento. Vento é ira, ira é a vida. Ou neve. Que é muda mas deixa rastro – tudo embranquece, as crianças riem, os passos rangem e marcam. Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite? Quem ouviu não diz. A noite desce com suas pequenas alegrias de quem acende lâmpadas com o cansaço que tanto justifica o dia. As crianças de Berna adormecem, fecham-se as últimas portas. As ruas brilham nas pedras do chão e brilham já vazias. E afinal apagam-se as luzes as mais distantes. Mas este primeiro silêncio ainda não é o silêncio. Que se espere, pois as folhas das árvores ainda se ajeitarão melhor, algum passo tardio talvez se ouça com esperança pelas escadas. Mas há um momento em que do corpo descansado se ergue o espírito atento, e da terra a lua alta. Então ele, o silêncio, aparece. O coração bate ao reconhecê-lo. Pode-se depressa pensar no dia que passou. Ou nos amigos que passaram e para sempre se perderam. Mas é inútil esquivar-se: há o silêncio. Mesmo o sofrimento pior, o da amizade perdida, é apenas fuga. Pois se no começo o silêncio parece aguardar uma resposta – como ardemos por ser chamados a responder – cedo se descobre que de ti ele nada exige, talvez apenas o teu silêncio. Quantas horas se perdem na escuridão supondo que o silêncio te julga – como esperamos em vão por ser julgados pelo Deus. Surgem as justificações, trágicas justificações forjadas, humildes desculpas até a indignidade. Tão suave é para o ser humano enfim mostrar sua indignidade e ser perdoado com a justificativa de que se é um ser humano humilhado de nascença. Até que se descobre – nem a sua indignidade ele quer. Ele é o silêncio. Pode-se tentar enganá-lo também. Deixa-se como por acaso o livro de cabeceira cair no chão. Mas, horror – o livro cai dentro do silêncio e se perde na muda e parada voragem deste. E se um pássaro enlouquecido cantasse? Esperança inútil. O canto apenas atravessaria como uma leve flauta o silêncio. Então, se há coragem, não se luta mais. Entra-se nele, vai-se com ele, nós os únicos fantasmas de uma noite em Berna. Que se entre. Que não se espere o resto da escuridão diante dele, só ele próprio. Será como se estivéssemos num navio tão descomunalmente enorme que ignorássemos estar num navio. E este singrasse tão largamente que ignorássemos estar indo. Mais do que isso um homem não pode. Viver na orla da morte e das estrelas é vibração mais tensa do que as veias podem suportar. Não há sequer um filho de astro e de mulher como intermediário piedoso. O coração tem que se apresentar diante do nada sozinho e sozinho bater alto nas trevas. Só se sente nos ouvidos o próprio coração. Quando este se apresenta todo nu, nem é comunicação, é submissão. Pois nós não fomos feitos senão para o pequeno silêncio. Se não há coragem, que não se entre. Que se espere o resto da escuridão diante do silêncio, só os pés molhados pela espuma de algo que se espraia de dentro de nós. Que se espere. Um insolúvel pelo outro. Um ao lado do outro, duas coisas que não se vêem na escuridão. Que se espere. Não o fim do silêncio mas o auxílio bendito de um terceiro elemento, a luz da aurora. Depois nunca mais se esquece. Inútil até fugir para outra cidade. Pois quando menos se espera pode-se reconhecê-lo – de repente. Ao atravessar a rua no meio das buzinas dos carros. Entre uma gargalhada fantasmagórica e outra. Depois de uma palavra dita. Às vezes no próprio coração da palavra. Os ouvidos se assombram, o olhar se esgazeia – ei-lo. E dessa vez ele é fantasma.

O Rouxinol e a Rosa – Oscar Wilde.

- Ela disse que dançaria comigo se eu lhe levasse rosas vermelhas – exclamou o Estudante – mas estamos no inverno e não há uma única rosa no jardim… Por entre as folhas, do seu ninho, no carvalho, o Rouxinol o ouviu e, vendo-o ficou admirado… - Não há nenhuma rosa vermelha no jardim! – disse o Estudante, com os olhos cheios de lágrimas. – Ah! Como a nossa felicidade depende de pequeninas coisas! Já li tudo quanto os sábios escreveram. A filosofia não tem segredos para mim e, contudo, a falta de uma rosa vermelha é a desgraça da minha vida. - Eis, afinal, um verdadeiro apaixonado! – disse o Rouxinol. Tenho cantado o Amor noite após noite, sem conhecê-lo no entanto; noite após noite falei dele às estrelas, e agora o vejo… O cabelo é negro como a flor do jacinto e os lábios vermelhos como a rosa que deseja; mas o amor pôs-lhe na face a palidez do marfim e o sofrimento marcou-lhe a fronte. - Amanhã à noite o Príncipe dá um baile, murmurou o Estudante, e a minha amada se encontrará entre os convidados. Se levar uma rosa vermelha, dançará comigo até a madrugada. Somente se lhe levar uma rosa vermelha… Ah… Como queria tê-la em meus braços, sentir-lhe a cabeça no meu ombro e a sua mão presa a minha. Não há rosa vermelha em meu jardim… e ficarei só; ela apenas passará por mim… Passará por mim… e meu coração se despedaçará. - Eis um verdadeiro apaixonado… – pensou o Rouxinol. – Do que eu canto, ele sofre. O que é dor para ele é alegria para mim. Grande maravilha, na verdade, é o Amar! Mais precioso que esmeraldas e mais caro que opalas finas. Pérolas e granada não podem comprá-lo, nem se oferece nos mercados. Mercadores não o vendem, nem o conferem em balanças a peso de ouro. - Os músicos da galeria – prosseguiu o Estudante – tocarão nos seus instrumentos de corda e, ao som de harpas e violinos, minha amada dançará. Dançará tão leve, tão ágil, que seus pés mal tocarão o assoalho e os cortesãos, com suas roupas de cores vivas, reunir-se-ão em torno dela. Mas comigo não bailará, porque não tenho uma rosa vermelha para dar-lhe… – e atirando-se à relva, ocultou nas mãos o rosto e chorou. - Por que está chorando? – perguntou um pequeno lagarto ao passar por ele, correndo, de rabinho levantado. - É mesmo! Por que será? – Indagou uma borboleta que perseguia um raio de sol. - Por quê? – sussurrou uma linda margarida à sua vizinha. _-Chora por causa de uma rosa vermelha – informou o Rouxinol. - Por causa de uma rosa vermelha? – exclamaram – Que coisa ridícula! E o lagarto, que era um tanto irônico, riu à vontade. Mas o Rouxinol compreendeu a angústia do Estudante e, silencioso, no carvalho, pôs-se a meditar sobre o mistério do Amor. Subitamente, abriu as asas pardas e voou. Cortou, como uma sombra, a alameda, e como uma sombra, atravessou o jardim. Ao centro do relvado, erguia-se uma roseira. Ele a viu. Voou para ela e posou num galho. - Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu cantarei para ti a minha mais bela canção! - Minhas rosas são brancas; tão brancas quanto a espuma do mar, mais brancas que a neve das montanhas. Procura minha irmã, a que enlaça o velho relógio-de-sol. Talvez te ceda o que desejas. Então o Rouxinol voou para a roseira, que enlaçava o velho relógio-de-sol. - Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu te cantarei minha canção mais linda. A roseira sacudiu-se levemente. - Minhas rosas são amarelas como as cabelos dourados das donzelas, ainda mais amarelas que o trigo que cobre os campos antes da chegada de quem o vai ceifar. Procura a minha irmã, a que vive sob a janela do Estudante. Talvez ela possa te possa ajudar. O Rouxinol então, dirigiu o vôo para a roseira que crescia sob a janela do Estudante. - Dá-me uma rosa vermelha – pediu – e eu te cantarei a mais linda de minhas canções. A roseira sacudiu-se levemente. - Minhas rosas são vermelhas, tão vermelhas quanto os pés das pombas, mais vermelhas que os grandes leques de coral que oscilam nos abismos profundos do oceano. Contudo, o inverno regelou-me até as veias, a geada queimou-me os botões e a tempestade quebrou-me os galhos. Não darei rosas este ano. - Eu só quero uma rosa vermelha, repetiu o Rouxinol, – uma só rosa vermelha. Não haverá meio de obtê-la? - Há, respondeu a Roseira, mas é meio tão terrível que não ouso revelar-te. - Dize. Não tenho medo. - Se queres uma rosa vermelha, explicou a roseira, hás de fazê-la de música, ao luar, tingi-la com o sangue de teu coração. Tens de cantar para mim com o peito junto a um espinho. Cantarás toda a noite para mim e o espinho deve ferir teu coração e teu sangue de vida deve infiltrar-se em minhas veias e tornar-se meu. - A morte é um preço exagerado para uma rosa vermelha – exclamou o Rouxinol – e a Vida é preciosa… É tão bom voar, através da mata verde e contemplar o sol em seu esplendor dourado e a lua em seu carro de pérola…O aroma do espinheiro é suave, e suaves são as campânulas ocultas no vale, e as urzes tremulantes na colina. Mas o Amor é melhor que a Vida. E que vale o coração de um pássaro comparado ao coração de um homem? Abriu as asas pardas para o vôo e ergueu-se no ar. Passou pelo jardim como uma sombra e, como uma sombra, atravessou a alameda. O Estudante estava deitado na relva, no mesmo ponto em que o deixara, com os lindos olhos inundados de lágrimas. - Rejubila-te – gritou-lhe o Rouxinol – Rejubila-te; terás a tua rosa vermelha. Vou fazê-la de música, ao luar. O sangue de meu coração a tingirá. Em conseqüência só te peço que sejas sempre verdadeiro amante, porque o Amor é mais sábio do que a Filosofia; mais poderoso que o poder.. Tem as asas da cor da chama e da cor da chama tem o corpo. Há doçura de mel em seus braços e seu hálito lembra o incenso. O Estudante ergueu a cabeça e escutou. Nada pode entender, porém, do que dizia o Rouxinol, pois sabia apenas o que está escrito nos livros. Mas o Carvalho entendeu e ficou melancólico, porque amava muito o pássaro que construíra ninho em seus ramos. - Canta-me um derradeiro canto – segredou-lhe – sentir-me-ei tão só depois da tua partida. Então o Rouxinol cantou para o Carvalho, e sua voz fazia lembrar a água a borbulhar de uma jarra de prata. Quando o canto finalizou, o Estudante levantou-se, tirando do bolso um caderninho de notas e um lápis. - Tem classe, não se pode negar – disse consigo – atravessando a alameda. Mas terá sentimento? Não creio. É igual a maioria dos artistas. Só estilo, sinceridade nenhuma. Incapaz de sacrificar-se por outrem. Só pensa e cantar e bem sabemos quanto a Arte é egoísta. No entanto, é forçoso confessar, possui maravilhosas notas na voz. Que pena não terem significação alguma, nem realizarem nada realmente bom! Foi para o quarto, deitou-se e, pensando na amada, adormeceu. Quando a lua refulgia no céu, o Rouxinol voou para a Roseira e apoiou o peito contra o espinho. Cantou a noite inteira e o espinho mais e mais foi se enterrando em seu peito, e o sangue de sua vida lentamente se escoou… Primeiro descreveu o nascimento do amor no coração de um menino e uma menina; e, no mais alto galho da Roseira, uma flor desabrochou, extraordinária, pétala por pétala, acompanhando um canto e outro canto. Era pálida, a princípio, qual a névoa que esconde o rio, pálida qual os pés da manhã e as asas da alvorada. Como sombra de rosa num espelho de prata, como sombra de rosa em água de lagoa era a rosa que apareceu no mais alto galho da Roseira. Mas a Roseira pediu ao Rouxinol que se unisse mais ao espinho. – Mais ainda, Rouxinol, – exigiu a Roseira, – senão o dia raia antes que eu acabe a rosa. O Rouxinol então apertou ainda mais o espinho junto ao peito, e cada vez mais profundo lhe saía o canto porque ele cantava o nascer da paixão na alma do homem e da mulher. E tênue nuance rosa nacarou as pétalas, igual ao rubor que invade a face do noivo quando beija a noiva nos lábios. Mas o espinho não lhe alcançava ainda o coração e o coração da flor continuava branco – pois somente o coração de um Rouxinol pode avermelhar o coração de rosa. - Mais ainda, Rouxinol, – clamou a Roseira – raiar o dia antes que eu finalize a rosa. E o Rouxinol, desesperado, calcou-se mais forte no espinho, e o espinho lhe feriu o coração, e uma punhalada de dor o traspassou. Amarga, amarga lhe foi a angústia e cada vez mais fremente foi o canto, porque ele cantava o amor que a morte aperfeiçoa, o amor que não morre nem no túmulo. E a rosa maravilhosa tornou-se purpurina como a rosa do céu oriental. Suas pétalas ficaram rubras e, vermelho como um rubi, seu coração. Mas a voz do Rouxinol se foi enfraquecendo, as pequeninas asas começaram a estremecer e uma névoa cobriu-lhe o olhar, o canto tornou-se débil e ele sentiu qualquer coisa apertar-lhe a garganta. Então, arrancou do peito o derradeiro grito musical. Ouviu-o a lua branca, esqueceu-se da Aurora e permaneceu no céu. A rosa vermelha o ouviu, e trêmula de emoção, abriu-se à aragem fria da manhã. Transportou-o o Eco, à sua caverna purpurina, nos montes, despertando os pastores de seus sonhos. E ele levou-os através dos caniços dos rios e eles transmitiram sua mensagem ao mar. - Olha! Olha! Exclamou a Roseira. – A rosa está pronta, agora. Ao meio dia o Estudante abriu a janela e olhou. - Que sorte! – disse – Uma rosa vermelha! Nunca vi rosa igual em toda a minha vida. É tão linda que tem certamente um nome complicado em latim. E curvou-se para colhê-la. Depois, pondo o chapéu, correu à casa do professor. - Disseste que dançarias comigo se eu te trouxesse uma rosa vermelha, – lembrou o Estudante. – Aqui tens a rosa mais linda e vermelha de todo o mundo. Hás de usá-la, hoje a noite, sobre ao coração, e quando dançarmos juntos ela te dirá o quanto te amo. A moça franziu a testa. - Esta rosa não combina com o meu vestido, disse. Ademais, o Capitão da Guarda mandou-me jóias verdadeiras, e jóias, todos sabem, custam muito mais do que flores… - És muito ingrata! – exclamou o Estudante, zangado. E atirou a rosa a sarjeta, onde a roda de um carro a esmagou. - Sou ingrata? E o senhor não passa de um grosseirão. E, afinal de contas, quem és? Um simples estudante… não acredito que tenhas fivelas de prata, nos sapatos, como as tem o Capitão da Guarda… – e a moça levantou-se e entrou em casa. - Que coisa imbecil, o Amor! – Resmungou o estudante, afastando-se. – Nem vale a utilidade da Lógica, porque não prova nada, está sempre prometendo o que não cumpre e fazendo acreditar em mentiras. Nada tem de prático e como neste século o que vale é a prática, volto à Filosofia e vou estudar metafísica. Retornou ao quarto, tirou da estante um livro empoeirado e pôs-se a ler…

macbeth..willian shakespeare.

Macbeth e seu amigo Banquo eram generais do exército da Escócia. Enquanto cavalgavam, ouviram vozes. Tratava-se de três bruxas que profetizaram que Macbeth ganharia o cargo General de Cowdor – o de mais alta confiança do Rei, e posteriormente, seria coroado Rei da Escócia. Somente poderia tornar-se rei os filhos ou, na ausência destes, o general de Cowdor. Tendo isso em vista, Macbeth sabia que para essa profecia tornar-se realidade, seria necessário atravessar a hierarquia de algumas pessoas, mas principalmente do filho do Rei, o jovem Malcom. Além disso, seu amigo Banquo, que já o avisara que essa ambição traria a ele muitas consequências, era a principal testemunha profecia das bruxas e desconfiaria de qualquer atitude de Macbeth. Após vencerem uma batalha contra a Noruega, os generais foram procurados por mensageiros de Duncan, naquele momento, Rei da Escócia, que informam a eles que o Rei quer parabenizar Macbeth pela vitória contra a Noruega e que irá torná-lo general de Cowdor. Com a primeira parte da profecia já realizada, Macbeth acredita mais ainda nas bruxas de que logo seria coroado Rei. Resolve então contar os ocorridos para sua esposa, que exercia forte influência sobre ele e decidem cometer uma série de assassinatos, começando pelo amigo Banquo. A sua esposa então, começa a tramar a morte do Rei Duncan para logo tornar-se rainha. Organiza uma festa em sua casa com o pretexto de que todos assistissem à morte de um traidor do Rei. A festa acontece e o homem é enforcado. Quando todos os hóspedes vão dormir, a esposa de Macbeth dá orientações a seu esposo de como tudo deveria ser feito. Começa então servindo vinho aos camareiros que fazem a guarda do Rei, e isso os faz dormir mais profundamente. A caminho do quarto onde o Rei dormia, Macbeth começa a ter visões de um punhal, o que estranha. Ele então entra no quarto e mata o Rei com o punhal. Logo em seguida, Macbeth começa a ter outras visões, a ouvir vozes, mas logo acha que tudo aquilo era só imaginação. Sua esposa coloca o punhal usado nas mãos de um dos camareiros com o objetivo de incriminá-los. Ao amanhecer, os mensageiros do Rei chegam para acordá-lo e deparam-se com o Rei morto. Aos gritos, todos acordam e Macbeth, encenando desespero, mata os camareiros do Rei na frente de todos, dizendo que aqueles eram os perigosos assassinos. O filho do Rei, Malcom e seu companheiro, o nobre Macduff, fogem para a Inglaterra, com medo de serem incriminados pelo assassinato. Macbeth que já era general de Cowdor, e na ausência de filhos do Rei, é então coroado Rei da Escócia. Porém, já na festa de seu reinado, o fantasma do Rei Duncan e de Banquo aparecem para ele. Sua esposa, agora chamada de Lady Macbeth, que antes poderia ser condiderada uma mulher tímida, recatada e de bem, após revelar sua ganância, egoísmo e poder de persuadir o esposo, também passa a ter delírios e crises de sonambulismo. Em uma dessas crises, Lady Macbeth, inconscientemente revela ao médico e à sua camareira que a observavam, que tem culpa nos assassinatos. Faz repetidamente o gesto de lavar as imaginárias manchas de sangue das mãos e isso também a denuncia. Posteriormente, Lady Macbeth comete suicídio. Macbeth, ignora a morte da esposa, argumentando que ela teria que morrer "em uma melhor hora." Cansado de ter visões, Macbeth vai consultar novamente as bruxas. Numa segunda profecia, as bruxas dizem que ele só seria derrotado se um “bosque chegasse ao castelo”, e que ele não precisaria preocupar-se, pois “nenhum homem nascido de mulher” poderia matá-lo, porém avisa-o para tomar cuidado com Macduff, o nobre que fugiu com Malcom, filho do Rei. Ambas as profecias pareciam impossíveis: que um bosque chegasse ao castelo e que existisse de um homem que não houvesse nascido de mulher, assim, Macbeth sentia-se seguro mas, por precaução , manda matar a esposa e todos os filhos de Macduff. Mensageiros procuram Macduff na Inglaterra, e quando contam a ele a tragédia com sua família, Macduff decide voltar para a Escócia, mas para guerrear contra Macbeth. Com a ajuda de 10.000 homens do exército inglês, aproximam-se então do castelo. Os soldados ingleses, para se camuflarem, seguravam troncos e ramos de árvores e isso, sendo visto de longe, parecia um bosque ou uma montanha em movimento, cumprindo-se então a primeira parte da segunda profecia das bruxas. Começa então a guerra entre os exércitos e o duelo entre Macbeth e Macduff. Durante a luta, Macbeth diz ao oponente que está seguro porque nenhum homem nascido de mulher poderia matá-lo, mas Macduff revela a ele que não nasceu, e sim, foi tirado prematuramente do ventre da mãe por cesariana. Macduff então mata Macbeth e tira-lhe a cabeça. Assim, em grande festa, Malcom, filho do Rei Duncan é então coroado e consagrado Rei da Escócia.

° Otelo°

O seu personagem principal, que empresta o nome a obra, é um general mouro que serve o reino de Veneza.Toda história gira em torno da traição e da inveja. Inicia-se com Iago,alferes de Otelo, tramando com Rodrigo uma forma de contar a Brabâncio,rico senador de Veneza, que sua filha, a gentil Desdêmona, tinha se casado com Otelo. Iago queria vingar-se do general Otelo porque ele promoveu Cássio, jovem soldado florentino e grande intermediário nas relações entre Otelo e Desdêmona, ao posto de tenente. Esse ato deixou Iago muito ofendido, uma vez que acreditava que as promoções deveriam ser obtidas "pelos velhos meios em que herdava sempre o segundo o posto doprimeiro"e não por amizades. Brabâncio, que deixara a filha livre para escolher o marido que mais a agradasse, acreditava que ela escolheria, para seu cônjuge, um homem da classe senatorial ou de semelhante. Ao tomar ciência que sua filha havia fugido para se casar com o Mouro, foi à procura de Otelo mata-lo. No momento em que se encontraram, chegou um comunicado do Doge de Veneza, convocando-os para uma reunião de caráter urgente no senado. Durante a reunião, Brabâncio, sem provas, acusou o Mouro de ter induzido Desdêmona a casar-se com ele por meio de bruxarias. Otelo, que era general do reino de Veneza e gozava da estima e da confiança do Estado por ser leal, muito corajoso e ter atitudes nobres, fez, em sua defesa, um simples relato da sua história de amor que foi confirmado pela própria Desdêmona. Por isso, e por ser o único capaz de conduzir um exercito no contra-ataque a uma esquadra turca que dirigia-se à ilha de Chipre, Otelo foi inocentado e o casal seguiu para Chipre, em barcos separados, na manhã seguinte. Durante a viagem uma tempestade separou as embarcações e, devido a isso, Desdêmona chegou primeiro à ilha. Algum tempo depois, Otelo desembarca com a novidade que a guerra tinha acabado porque a esquadra turca fora destruída pela fúria das águas. No entanto, o que o Mouro não sabia é que na ilha ele enfrentaria um inimigo mais fatal do que os turcos. Em Chipre, Iago que odiava a Otelo e a Cássio, começou a semear a sementes do mal, ou seja, concebeu um terrível plano de vingança que tinha como objetivo arruinar seus inimigos. Hábil e profundo conhecedor da natureza humana, Iago sabia que, de todos os tormentos que afligem a alma, o ciúme é o mais intolerável. Ele sabia que Cássio, entre os amigos de Otelo, era o que mais possuía a sua confiança. Sabia também que devido a sua beleza e eloqüência, qualidades que agradam às mulheres, ele era exatamente o tipo de homem capaz de despertar o ciúme de um homem de idade avançada, como era Otelo, casado com uma jovem e bela mulher. Por isso, começou a realizar seu plano. Sob pretexto de lealdade e estima ao general, Iago induziu Cássio,responsável por manter a ordem e a paz, a se embriagar e envolver-se em uma briga com Rodrigo, durante uma festa em que os habitantes da ilha ofereceram a Otelo. Quando o mouro soube do acontecido, destituiu Cássio de seu posto. Nessa mesma noite, Iago começou a jogar Cássio contra Otelo. Ele falava, dissimulando um certo repudio a atitude do general, que a sua decisão tinha sido muito dura e que Cássio deveria pedir a Desdêmona que convencesse Otelo a devolver-lhe o posto de tenente. Cássio, abalado emocionalmente, não se deu conta do plano traçado por Iago e aceitou a sugestão.Dando continuidade a seu plano, Iago insinuou a Otelo que Cássio e sua esposa poderiam estar tendo um caso. Esse plano foi tão bem traçado que Otelo começou a desconfiar de Desdêmona. Iago sabia que o mouro havia presenteado sua mulher com um velho lenço de linho, o qual tinha herdado de sua mãe. Otelo acreditava que o lenço era encantado e, enquanto Desdêmona o possuísse, a felicidade do casal estaria garantida. Sabendo disso e após ter encontrado o lenço que Desdêmona perdera, Iago disse a Otelo que sua mulher havia presenteado o seu amante com ele. Otelo, já enciumado, pergunta a sua esposa sobre o lenço e ela, ignorando que o lenço estava com Iago, não soube explicar o que aconteceu com ele. Nesse meio tempo, Iago colocou o lenço dentro do quarto de Cássio para que ele o encontrasse. Depois, Iago fez com que Otelo se escondesse e ouvisse uma conversa sua com Cássio. Eles falaram sobre Bianca, amante de Cássio, mas como Otelo que só ouviu partes da conversa, ficou com a impressão de que eles estavam falando a respeito de Desdêmona. Um pouco depois Bianca chegou e Cássio deu a ela o lenço que encontrara em seu quarto para que ela providenciasse uma cópia. As conseqüências disso foram terríveis: primeiro Iago, jurando lealdade a seu general, disse que, para vinga-lo, mataria Cássio, mas sua real intenção era matar Rodrigo e Cássio simultaneamente porque eles poderiam estragar seus planos. No entanto, isso não ocorreu conforme suas intenções, Rodrigo morreu e Cássio ficou apenas ferido. Depois Otelo, totalmente descontrolado, foi a procura de sua esposa acreditando que ela o havia traído e matou-a em seu quarto. Após isso, Emília, esposa de Iago, sabendo que sua senhora fora assassinada revelou a Otelo, Ludovico (parente de Brabâncio) e Montano (governador de Chipre antes de Otelo) que tudo isso foi tramado por seu marido e que Desdêmona jamais fora infiel. Iago matou Emília e fugiu, mas logo foi capturada. Otelo, desesperado por saber que matara sua amada esposa injustamente, apunhalou-se, caindo sobre o corpo de sua mulher e morreu beijando a quem tanto amara. Ao finalizar a tragédia Cássio passou a ocupar o lugar de Otelo, Iago foi entregue as autoridades para ser julgado e Graciano, uma vez que seu irmão Brabâncio morrera, ficou com os bens do mouro. willian shakespeare.

sábado, 6 de julho de 2013

Solidariedade e Cooperação.

Solidariedade e Cooperação A vida do homem é um contínuo anseio: ou procura bens materiais ou busca ilusões. Se levado a certos limites, estimula o estudo e o trabalho fecundo. Para além de determinada meta, leva à prática da violência, à selecção brutal dos indivíduos ou dos grupos e à desumanização da vida social e internacional. Nos círculos cultos e esclarecidos, este espírito de conquista evolui pacificamente. Desenvolve-se no sentido de obtenção da virtude, do saber, do carácter, da perfeição. O sábio, o erudito e o investigador, que se consagram ao estudo dos problemas que os preocupam, levam a cabo um esforço benéfico voltado para a conquista positiva, procurando adquirir conhecimentos, alcançar ideias, verdades, certezas ou conceber técnicas. Porém, uma educação orientada no sentido da competição do egoísmo e da violência, associada ao refinamento dos mecanismos de embrutecimento, levam a que a espécie humana organizada em “sociedades” se comporte no planeta Terra como espécie predadora, aniquilando recursos, alterando equilíbrios e até invertendo evoluções. Apoiadas em valores quantitativistas, estas sociedades modificam a qualidade de vida e a própria mentalidade social. Passam a ser dominadas por uma febre incontrolável de conquista desaustinada de bens materiais ou de riquezas. E é assim que, apesar de se falar muito em solidariedade e cooperação, todos se lançam, consoante os temperamentos, à conquista de certos objectivos tidos como valiosos e sinais de êxito pela mentalidade social contemporânea: a celebridade, a glória, a luxúria, o luxo, a ociosidade. O mais vulgar e mediático é a celebridade. Geralmente, nem se toma sequer a consciência de que a celebridade desprovida de conteúdo é um êxito vazio. O dinheiro e as propriedades, encarados com um fim em si mesmo, é outra expressão do referido êxito. Mas a expressão mais elevada do dito êxito é o Poder, considerado este como a capacidade, real ou virtual, de tomar e fazer cumprir decisões que afectam a vida própria e as alheias. É aqui que se identifica muitas vezes a distância desproporcionada que separa o demérito de algumas pessoas do estatuto social em que vivem. Uma inevitável preocupação surge à luz quanto se pensa em tudo o que ficou dito e perguntamos a nós próprios: que pecados originais contaminam o homem e as variadíssimas formas sociais, atraindo-os para esses falsos êxitos, o orgulho e a malevolência? Aqui, as opiniões dividem-se. Todas as grandes religiões preconizam o domínio da “carne”. E aconselham a vencer, pelo espírito, a exteriorização dos seus apetites. A condição animal do homem seria então o obstáculo impeditivo da integração na harmonia cósmica, a conseguir através do espírito universal, dos valores da renúncia, da purificação e da ascese. Mas admitem outros que, pelo contrário, a adulteração da humanidade se fica a dever aos elementos corruptos da vida social. É a explicação dos mitos bíblicos. Adão e Eva foram corrompidos pela serpente – o símbolo do conhecimento. E até alguns filósofos – como Rousseau – defendem a existência do “bom selvagem”. É certo que a vida social pressupõe a realização de esforços próprios por parte de cada um. São legítimos e enobrecedores. Mas tais esforços devem ser convergentes e não antagónicos. O que se passa é que o mundo, embora nos pareça grande, é suficientemente pequeno para inter-relacionar todos os nossos interesses. Convém, pois, harmonizá-los, em vez de pô-los em conflito. Os produtores precisam dos consumidores; os trabalhadores manuais precisam dos trabalhadores intelectuais. Os homens grosseiros beneficiam com a delicadeza das almas sensíveis. Os ociosos lucram com o esforço e o exemplo dos homens activos, e por aí adiante. Sendo hoje altamente gregária, a humanidade vê a sua equação de sobrevivência posta também em termos da compreensão de que a vida social só pode existir com base na cooperação e na solidariedade. A partir de certos limites, a luta tem como consequência a impossibilidade de se desenvolver um trabalho fecundo e contínuo, atiçando ódios e suprimindo garantias necessárias a qualquer actividade eficaz e produtiva. A fraqueza e insuficiência de cada indivíduo devem ser fortalecidas pela fraqueza e insuficiência dos seus semelhantes. Todos precisamos uns dos outros. E com as nações dá-se o mesmo que com os indivíduos membros da sociedade. Alguma coisa deve ser cedida para garantir o todo. Neste ponto de vista, ganhamos pelo que damos. Procurar justificar logicamente toda a ordem de desgraças que os homens têm derramado sobre si próprios na ânsia de atingir os falsos êxitos tem sido uma constante no processo que antecede o acender dos conflitos e o posterior varrer das cinzas resultantes do fogo da violência. Poderá ir-se iludindo o assunto com a procura das causas em factos importantes e espectaculares, em vez de os identificar naqueles actos individuais “infinitamente pequenos”, que o simples exame retrospectivo, ou “exame de consciência”, ajuda a dominar e a disciplinar. Uma sociedade onde esta reflexão não esteja enraizada nos hábitos pessoais não pode ter condições de desenvolvimento. E, portanto, não elabora mundivisões originais e adequadas à experiência do dia-a-dia e do progresso sofrendo assim uma carência que nada pode colmatar. Essa sociedade fica entregue à confusão, correndo o risco de não identificar o essencial e de sacrificá-lo ao acidental. E quando o essencial e o acidental se encontrem confundidos, a anarquia de valores e ideias torna-se inevitável, depressa surgindo equívocos e fracassos que parasitariamente minam o edifício social. É no seio dos mecanismos de intervenção destas sociedades em que vivemos que a filosofia rosacruz desempenha o seu papel. A sua missão decisiva, neste campo, é a de ajudar a compreender que o ser humano é um universo em miniatura e que tem dentro de si as mais estranhas forças, às vezes difíceis de interpretar. E, também, ajudar a conhecê-las dentro do possível, e também dentro do possível dominá-las, para que o ser humano não se torne num motivo de crítica e numa fonte viva de desordem. F. M. C.

A Relíquia.

Eça de Queiroz viveu em Coimbra de 1861 a 1866, em tempos de "grande tumulto mental", com a chegada por caminho de ferro, trazendo da França e da Alemanha "torrentes de coisas novas, ideias, sistemas, estéticas, formas, sentimentos, interesse humanitários..." Lia-se de tudo, de Hegel a Hugo, tornado profeta e justiceiro de reis, a outros autores que abalavam mais fortemente a arca das crenças tradicionais: Feuerbach, Renan, etc. E descobre, com assombro, a Bíblia. Em 1869 Eça visita ao Egipto, na companhia do futuro cunhado, o conde de Resende. Aí lhe é dado assistir à inauguração do canal do Suez, que mais tarde descreverá com mestria. Esta viagem permite-lhe visitar ainda a Palestina, visita esta que veio a dar como frutos O Egipto (só publicado depois da sua morte) e A Relíquia. Para compreensão integral da obra e do pensamento do autor, convém lembrar que Eça fazia parte do grupo do Cénaculo, ao qual pertenciam Antero do Quental, Guerra Junqueiro e Oliveira Martins entre outros. O Cenáculo não discutia só literatura. Propunha-se também organizar um plano de acção formação ideológica, de que resultariam as conferências do Casino. Foi Antero do Quental quem pronunciou, em 22 de Maio de 1871, o discurso de abertura das Conferências do Casino. Falou sobre O Espírito das Conferências – O Realismo como Nova Expressão de Arte. As reacções não se fizeram esperar. Os conferencistas foram logo acusados de espalhar ideias causadoras de desgraças. A sexta conferência, de Salomão Sáraga, Historiadores Críticos de Jesus, já não pode realizar-se. No Casino de Lisboa, onde se realizavam as conferências, a polícia afixou uma portaria, assinada pelo Marquês de Ávila e de Bolama, com data de 26 de Junho de 1871, proibindo a sua realização. Porém, a sensibilidade de Eça não podia deixá-lo indiferente a todas estas limitações da sua época. E depois de uma fase inicial, em que mistura o romantismo com o realismo, descoberta a Bíblia da forma singular como descreve, a evolução do espírito de Eça levou-o a escrever A Relíquia, uma crítica certos comportamentos religiosos. Em Maio de 1887 A Relíquia estava pronta para venda. Causou logo uma estranha emoção no público conhecedor do autor. Lidas só algumas páginas percebe-se de imediato que Eça irá fazer uma análise do binómio realidade/aparência, vida/morte, "a nudez forte da verdade, oculta pelo manto diáfano da fantasia", que terá como fulcro a visão onírica de Teodorico, cuja existência foi marcada por factos relevantes e também opostos: nasce quando Cristo morre "...numa tarde de sexta-feira de Paixão", e a mãe morre quando Cristo ressuscita "...ao estalarem, na manhã alegre, os foguetes da Aleluia". O centro deste romance de peregrinação e descoberta é a visão de Teodorico Raposo, o Raposão nos meios académicos. No sonho, Teodorico, recua na História, entra no Pretório onde Pilatos julga o profeta da Galileia, acompanhado pelo sábio Dr. Topsius. Vai de Jericó ao Gólgota, entra em casa de Herodes e de Gamaliel. É uma viagem à descoberta da realidade de uma Jerusalém oculta ao Teodorico mundano e venal, a incarnação da religiosidade farisaica, adulterada, simplesmente observante, que só lhe permite trazer do trajecto palestiniano a sua relíquia sensual, a verdade dos sentidos, a "camisa imunda" da luveira. A jornada de Teodorico assume o aspecto simbólico de uma viagem iniciática, que se resume na busca da verdade, da paz, na procura e descoberta de um centro espiritual, ainda motivado por hábitos familiares onde o autor vê espelhada a superficialidade religiosa da sociedade lisboeta. Jerusalém, o centro espiritual da cristandade, revela-se uma desilusão – pior que Braga! – porque, na realidade, as iniciáticas capazes de promover o enriquecimento autêntico e o genuíno crescimento espiritual, são as que se realizam no interior do próprio ser. A viagem que é uma fuga de si mesmo nunca terá êxito. Mas as viagens são também formas de preparação para a iniciação, pela reflexão que proporcionam. Esta marcha para o centro de si mesmo, que se exprime na procura da terra prometida e pela peregrinação, é a que vemos, por exemplo, nas viagens de Eneias, de Ulisses, de Dante, etc. A literatura universal dá-nos outros exemplos diversos de viagens que, sem terem o alcance dos símbolos universais e tradicionais, são significativos em diferentes graus, mesmo que sejam apenas satíricos e moralizantes, como o Pantagruel, de Rabelais, ou As Viagens de Guliver, de Swift. N’A Relíquia, Eça faz a distinção entre verdades de razão e verdades de facto, sejam elas do ponto de vista da ciência ou da religião. Nela está implícita a pergunta "Que significa ser verdade"? É que é próprio das religiões tomarem como verdadeiro o objecto ou conteúdo das suas crenças, com base em juízos evidentes. E se há uma razão para acreditarmos nos juízos que apresentam as suas verdades, não haverá razão suficiente para aceitarmos a sua validade, nem um fundamento suficiente para a sua validade objectiva. A leveza da obra tem, pois, o condão de nos fazer reflectir sobre a ilusão e a realidade, lembrando que o "mundo real" é independente dos sentidos. A "aparência da realidade" é que depende deles. A leitura de A Relíquia permite desmistificar não só a Religião mas também a Ciência, ao abalar, por assim dizer, a estabilidade das convicções determinadas por decreto. Os romances de Eça foram instrumentos de actuação num vasto movimento de reforma da sociedade portuguesa da época, começando por renovar as consciências. Animado pelos desígnios anterianos de reforma e revolução, Eça de Queiroz encontra-se, na última fase da sua vida literária, com Tolstoi e Francisco de Assis, como se vê na Vida de S. Onofre, onde descreve as diversas fases de uma experiência mística, mostrando como aspira a uma revolução religiosa da humanidade, como solução para a totalidade dos problemas humanos. Eça de Queiroz foi um exemplo de probidade intelectual e honestidade de processos e de esforço de análise, na linha de criação de Geral Messadié, o conhecido autor de quem Eça foi, pode-se dizer, o precursor em Portugal. Possuidor de raros dotes de observação e ironia, de estilo original e colorido, conquistou um lugar na galeria dos grandes escritores da sua época (1845-1900). Casimiro Ferreira de Brito