sexta-feira, 17 de julho de 2015
Presságio.
O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Fernando Pessoa
Quando Eu não te Tinha.
Quando eu não te tinha
Amava a Natureza como um monge calmo a Cristo.
Agora amo a Natureza
Como um monge calmo à Virgem Maria,
Religiosamente, a meu modo, como dantes,
Mas de outra maneira mais comovida e próxima ...
Vejo melhor os rios quando vou contigo
Pelos campos até à beira dos rios;
Sentado a teu lado reparando nas nuvens
Reparo nelas melhor —
Tu não me tiraste a Natureza ...
Tu mudaste a Natureza ...
Trouxeste-me a Natureza para o pé de mim,
Por tu existires vejo-a melhor, mas a mesma,
Por tu me amares, amo-a do mesmo modo, mas mais,
Por tu me escolheres para te ter e te amar,
Os meus olhos fitaram-na mais demoradamente
Sobre todas as cousas.
Não me arrependo do que fui outrora
Porque ainda o sou.
Só me arrependo de outrora te não ter amado.
Alberto Caeiro
quinta-feira, 9 de julho de 2015
Música, o Medicamento Divino.
“No principio era o Verbo”. Assim o Cosmos emergiu do Caos; assim começou nosso Universo. As estrelas são dirigidas pelo Verbo; por Ele é ordenado o majestoso deslocamento dos estelares em torno do Sol.
Há muito tempo Pitágoras falou da “música das esferas”, dizendo ser isso um fato real, pois cada estelar emite sua nota particular. A cada estelar Pitágoras atribui uma nota da escala e comparando a distancia entre eles, tons e semitons, formou as sete notas da escala musical. Todo esquema evolutivo do nosso sistema solar pode ser relacionado às sete oitavas e um terço do teclado do piano, sendo até esse 1/3 de vital significação.
O arquétipo de cada ser humano é construído por esses maravilhosos sons celestiais. O Ego, ao iniciar um novo ciclo de vida, desce do Terceiro Céu à Região do Pensamento Concreto, onde a música das esferas põe em vibração os átomos-semente dos seus futuros veículos. Os sons dessa música formam linhas de força vibratórias que mais tarde atrairão e arrumarão as partículas físicas de maneira idêntica às quais grãos de areia tomam formas geométricas definidas quando se passa um arco de violino pela borda de um prato que os contenha.
Todos os estelares ajudam nossa obra de construção do arquétipo, mas somente aquele que vibra em harmonia particular com o átomo-semente físico é que se torna o regente da vida e os sons de todos os outros estelares são modificados por esse Astro Pai. Durante a construção do arquétipo, nem todos os sons emitidos pelos estelares em seus vários aspectos podem ser usados pelo átomo-semente. Somente aqueles aos quais o Ego aprendeu a responder são utilizados. Por isso, a nota chave de cada pessoa é individual.
Vemos daí porque a música, a mais elevada das artes, tem tanto poder curativo.
(Revista Serviço Rosacruz – 06/60)
Inspirados pelo Amor.
Uma atitude corajosa e otimista é essencial para manter a nossa saúde, bem como para ajudarmos outros que estejam doentes. Há uma razão científica para isso, mas só será revelada plenamente pela filosofia oculta.
A energia do Sol flui constantemente em nosso corpo por meio do baço, um órgão especialmente adaptado para a atração e assimilação desse éter universal. No plexo solar esse éter é convertido em um fluido rosado que banha o sistema nervoso. Por meio desse fluido vital os músculos se movem e os órgãos desempenham suas funções vitais. Quanto melhor for a saúde, maior será a quantidade deste fluido solar que poderemos absorver, mas dele só utilizamos uma parte; o excesso é irradiado do corpo em linhas retas. Os germens das doenças não poderão entrar do exterior devido a essas invisíveis torrentes de força e os microrganismos que entram no corpo com o alimento são rapidamente expelidos. Não obstante, toda a vez que tivermos pensamentos de medo ou de ódio, o baço funcionará mal e deixará de especializar o fluido vital em quantidade suficiente. Tais pensamentos levam as linhas de força se curvar permitindo assim o acesso fácil aos organismos deletérios que pode então se alimentar nos nossos tecidos, sem nenhuma oposição, causando as doenças.
Além disso, os pensamentos de medo e de ódio tomam forma e, com o decorrer do tempo, se cristalizam naquilo que nós conhecemos como micróbios das doenças infecciosas são, particularmente, a incorporação do medo e do ódio e por isso, só poderão ser vencidos pela força contrária – coragem e amor. Se estivermos perto de uma pessoa infectada por doença contagiosa, temendo o contágio, é quase certo atrairmos para nós os micróbios venenosos, mas se pelo contrário, nos aproximarmos de tal pessoa em atitude mental não temerosa, escaparemos à infecção, particularmente se o fizermos inspirados pelo amor.
(Revista: Serviço Rosacruz – Dez\58)
domingo, 5 de julho de 2015
O Místico.
Uma Viagem Fora do Corpo
Seguindo a via iniciática rosacruciana, Francisco Marques Rodrigues alcançou o apuro das faculdades mentais e físicas em grau que lhe permitiu o despojamento, a imaculação das deficiências que subjugam o Eu às eventualidades do espaço e do tempo pelas limitações que decorrem do uso do corpo físico. Realizando os seus exercícios espirituais, que têm como premissa última o desenvolvimento das energias e capacidades na plenitude do que genuinamente somos, mobilizou capacidades que lhe permitiram contrariar essa limitação, atingindo um estádio de consciência que permitia transpor os condicionamentos corporais: podia delivrar à vontade o corpo físico e, nessa serena e inteira desvinculação do veículo denso, manter mobilizadas as suas faculdades psíquicas, capaz de adquirir uma consciência holoística abstida das aparências enganadoras impostas pela limitação do espaço.
Na vida de Marques Rodrigues aconteceram pelo menos duas destas viagens do espírito, que ocorreram em tempos muito diferentes.
Eis um dos relatos, notável pela distância geográfica entre as localidades, Lisboa e Maputo, ex-Lourenço Marques, em Moçambique.
Aurora da Liberdade Figueiredo residia, desde Setembro de 1976, em Maputo. Vivia no Bairro do Alto Maé. Espírito metódico, muito pragmático, anotava tudo pormenorizadamente no seu diário. Aurora de Figueiredo sofria atrozmente de um problema circulatório de um membro inferior que lhe provocava dores lancinantes.
Depois da independência daquela colónia as dificuldades agravaram-se. Tudo escasseava e, naturalmente, a assistência médica digna desse nome estava reduzida ao mínimo. Para agravar a situação Aurora de Figueiredo residia num andar de um prédio em que há muito os elevadores tinham deixado de funcionar, obrigando-a a um retiro tão indesejado quando doloroso e prolongado.
Em 1987, no auge de uma das suas habituais crises, quase em desespero, Aurora de Figueiredo lembrou-se insistentemente de Francisco Marques Rodrigues. Pensou telefonar-lhe. A sua ajuda seria inestimável. Se ao menos estivesse em Lisboa, onde os recursos eram diferentes... Algum tempo depois, ocupada em resolver assuntos relacionados com a sua vida profissional, arrastava-se com dores no seu flat, de uma assoalhada para outra. Exausta, e quase em desespero, senta-se na esperança de a crise diminuir. Momentos depois Cocky, o cão de raça Cocker, agita-se. Reage, inquieto, como se ali estivesse alguém estranho. O seu nervosismo incomoda Aurora de Figueiredo que olha em redor, intrigada com a inquietação do animal e vê, claramente, Francisco Marques Rodrigues. Reconhece-lhe os traços fisionómicos e até pormenores do vestuário. Levanta-se na ânsia de cumprimentar o visitante. Ouviu um familiar "Viva". Surpresa, tenta acalmar Cocky, que permanece inquieto perante aquela presença estranha ao ambiente familiar. O sentimento inicial de Aurora de Figueiredo, de satisfação, deu lugar a um certo embaraço quando se lembrou de estar longe de Lisboa. E nem sequer havia aberto a porta. Perplexa, recostou-se novamente e fechou os olhos em recolhimento. Teve uma estranha, intensa e agradável sensação de frescura na sua perna e, pouco depois, desapareceram todas as dores.
Retomou logo a sua actividade normal. No dia seguinte, a 17 de Agosto, expede uma carta para Lisboa pormenorizando o sucedido. No dia imediato Francisco Marques Rodrigues tem idêntica iniciativa. Envia-lhe algumas palavras de conforto e aconselha o seu regresso urgente a Lisboa.
Aurora de Figueiredo regressaria, efectivamente, em 22 de Junho 1988. Ficou acamada desde fins de Abril de 1991, vindo a falecer em 4 de Novembro desse ano.
Aurora de Figueiredo vivia nesse tempo com a filha, Maria Laura Sampaio que leccionava no Liceu Salazar. Acumulava as funções lectivas com as de Directora Administrativa, mas conseguia arranjar tempo para acompanhar a mãe nos momentos mais difíceis. Esclareceu-nos alguns pormenores interessantes: o cão, o local da residência, etc. As fotografias da época pertencem ao seu arquivo pessoal.Francisco Marques Rodrigues.[ Revista rosacrus. nº 368 - Jun / 2003 ]
Moisés.
Na história da Humanidade, Moisés apresenta um dos mais notáveis e sugestivos exemplos do poder da fé indomável, coragem e força de vontade. Ele foi, incontestavelmente, um eleito de Deus, destinado a cumprir uma nobre missão no período mais grave da transição para um novo ciclo.
As condições especiais que lhe rodearam a existência, após o seu nascimento, são prova daquela afirmativa.
Devido a preconceitos raciais, os hebreus sofriam vexames sem conta, que iam desde a escravidão à morte dos seus próprios filhos, logo que as suas mães os davam à luz. Era este o fim reservado a Moisés, se sua mãe, Jacobed, não recebesse do Céu a inspiração destinada a salvá-lo.
Sabendo que a princesa Themutis passava por determinado local junto ao rio Nilo, ela arranjou, por suas próprias mãos, no meio do maior segredo, uma cesta do feitio de um berço, que revestiu com pez e betume, de forma a poder manter-se sobre as águas.
Neste cesto meteu ela o menino, incumbindo sua filha Maria, nascida antes do abominável édito, e vigiar atentamente o irmão.
Não tardou que a princesa chegasse. Ouvindo o choro da criança, por ela se interessou, entregando-a a uma ama, que veio a ser a própria Jacobed.
Hosarsiph foi o primeiro nome dado ao pequeno, depois transformado em Moisés, que significa “salvo das águas”. Foi com este nome que ele se perpetuou de século em século, constituindo um símbolo.
Terminada a sua passagem pela Terra, ele aqui voltou – segundo nos instrui Max Heindel – incarnado na pessoa do profeta Elias, e depois na do apostolo S. João Baptista.
Tomando a seu cargo a defesa dos pobres e dos oprimidos, Moisés conduziu o seu povo com grande tacto administrativo e a mais sábia justiça, quer como general, quer como condutor das multidões, aliando a estas qualidades a de legislador e a de profeta.
A ele se deve o maior e mais elevado código moral conhecido até hoje. As suas Tábuas são outras tantas sentenças recebidas por ele de Deus. Para as obter, Moisés recolhia-se no Tabernáculo, e aí, sozinho, em adoração sincera e fervorosa ao Senhor, obtinha as inspirações necessárias para prosseguir na sua obra. Nada fazia de grande sem ouvir Aquele que o mandara à Terra.
– Esperai que eu consulte o Senhor – respondia ele a quem lhe exigia resposta a um assunto grave. Não podia proceder de outra maneira quem, como Moisés, era um iniciado e Sacerdote de Osíris, conhecedor, portanto, dos mais elevados mistérios, com um fim determinado a realizar, sob a vigilância divina.
O código proclamado por Moisés, permanece e permanecerá como Lei universal, e só por si constitui o resgate do Homem, quando ele souber ouvir, compreender e praticar esses maravilhosos ensinamentos.
Subindo o Monte Sinai, aí passava dias e noites no doce convívio com Aquele de quem tudo depende e de quem há sempre a esperar as mais preciosas dádivas espirituais, e quando regressava, trazia consigo, inscritos nas Tábuas, os preceitos pelos quais o seu povo se regularia. Abarcavam esses mandamentos os mais diversos aspectos morais e sociais. Compêndio da mais elevado filosofia, esse suplanta tudo quanto os homens possam inventar, porque estão impregnados da Sabedoria Suprema:
“Honra teu pai e tua mãe para teres uma dilatada vida sobre a Terra, que o Senhor Deus te há-de dar”.
“Não matarás; não adulterarás; não dirás falso testemunho contra o teu próximo”.
Por si só, estes conselhos, dados pelo Senhor a Moisés, seu filho dilecto, resumem uma enciclopédia moral. Mas eles valorizam-se ainda, com estes outros:
“Não cobices a casa do teu próximo, nem desejes a sua mulher, nem o seu servo, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem outra coisa que lhe pertença”
“Não faças mal algum à viúva ou ao órfão”.
“Não te desvies da justiça para condenar o pobre”.
“Não oprimas o pobre com usura”.
“Ama os inimigos como se fosses tu próprio”.
Os animais não são esquecidos.
“Se vires o jumento do teu inimigo caído por terra, debaixo da carga, não passes adiante sem o ajudar a levantar-se”.
“Se quando fores pelo caminho, encontrares uma árvore, ou por terra, o ninho duma ave, e a fêmea sobre os ovos, não os apanhes, e deixa-os em paz, a fim de que sejas bem sucedido e vivas muito tempo”.
É que ninguém pode jamais ser feliz, fazendo mal seja a quem for, ainda que se trate de uma avezinha.
Moisés foi, como se vê, um guia e um mestre da Humanidade, numa época em que a sua acção era bastante necessária.
Deus mando-o à Terra com esse encargo e nele o acompanhou com o amor que sempre dispensa aos seus filhos.
Afirmando a sua crença absoluta num Deus único, criador e Senhor de todas as coisas, o profeta foi, talvez, o primeiro monoteísta.
Ao exalar o último suspiro, rodeado de muitos dos que o seguiam e o tinham como mestre, ele proclamou a mais surpreendente das revelações:
– Voltai para Israel, quando os tempos forem chegados, o Eterno vos suscitará, de entre os vossos irmãos, um profeta como eu, e porá o Verbo na sua boca, e esse profeta vos dirá tudo o que o Eterno lhe tiver mandado. E acontecerá que aquele que não escutar as suas palavras, o eterno lhe pedirá contas.
Cumpriu-se, como não podia deixar de ser, a profecia do grande iniciado, de quem a Bíblia diz “ter sido o mais manso de todos os homens que havia na Terra”.
Jesus, o Cristo, surgiu na época própria, com a sua mensagem de paz e amor, dando aos homens a esperança dos seus pecados, e a certeza do regresso ao seio do Pai.
Revista rosacrus. nº 404 - Jun / 2012
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