terça-feira, 18 de agosto de 2015
O BOTÃO DE ROSA.
O campo abrira o seio às expansões frementes
das árvores senis, dos galhos viridentes.
Caía a tarde fresca
Loira, gentil, vivaz como a canção tudesca.
A iluminada esfera
Calma, profunda, azul como um sonhar de virgem,
Dava um brilho-cetim às verdes folhas d'hera.
No ar uma harmonia avigorada e casta,
No crânio uma vertigem
Duma idéia viril, duma eloqüência vasta.
Tardes formosíssimas,
Ó grande livro aberto aos geniais artistas,
Como tanto alargais as crenças panteístas,
Como tanto esplendeis e como sois riquíssimas.
Quanta vitalidade indefinida, quanta,
Na pequenina planta,
No doce verde-mar dos trêmulos arbustos,
Que misticismo, justos,
Bebia a alma inteira ao devassar o arcano
Das árvores titãs, das árvores fecundas
Que tinham, como o oceano,
Febris palpitações intérminas, profundas.
Esplêndidas paisagens,
Opunha o largo campo às vistas deslumbradas.
As múrmuras ramagens,
À luz serena e terna, à luz do sol - que espadas
De fogo arremessava, em frêmitos nervosos,
Pelo côncavo azul dos céus esplendorosos,
Tinham falas de amor, segredos vacilantes
Finos como os brilhantes.
A música das aves
Cortava o éter calmo, em notas multiformes,
Límpidas e graves
Que estouravam no ar em convulsões enormes.
Aqui e além um rio
Serpejava na sombra, em meio de um rochedo
Áspero e sombrio.
O olhar perscrutador, o grande olhar, sem medo
E o espírito mudo,
Como um herói gigante avassalavam tudo...
Nuns madrigais risonhos
Abria-se o país fantástico dos sonhos.
Alavam-se os aromas
Leais, inexauríveis
Das largas e invisíveis Selváticas redomas.
A seiva rebentava
Em ondas - irrompia
Na doce e maviosa e plácida alegria
De uma ave que cantava,
Dos belos roseirais
Que ostentavam a flux as rosas virginais.
E as jubilosas franças
Dos arvoredos altos,
Rígidos, atléticos,
Derramavam no campo uns fluidos magnéticos
Dumas vontades mansas.
A doce alacridade ia explosindo aos saltos.
E toda a natureza
Robusta de saúde e estrênua de grandeza
Libérrima e vital,
Erguia-se pujante, audaz e redentora,
No gérmen material da força criadora,
Dentre a vida selvagem, mística, animal...
Dos roseirais preciosos
Nos renques primorosos,
Numa linda roseira abria castamente,
Como um sonho de luz numa cabeça ardente,
O mais belo, o mais puro entre os botões de rosa.
Tinha essa cor formosa,
Tinha essa cor da aurora,
Quando ensangüenta em rubro a vastidão sonora.
Era um botão feliz
Sorrindo para o Azul, zombando da matéria.
Tinha o leve quebranto e a maciez etérea
Que uma estrofe não diz.
Das pétalas macias,
Das pétalas sanguíneas,
Doces como harmonias
Brandas e velutíneas
Uns perfumes sutis se espiralavam, raros,
Pela mansão do Bem, pelos espaços claros.
Perfumes excelentes,
Perfumes dos melhores
Perfumes bons de incógnitos Orientes.
Matéria, não deplores
O viver natural dos vegetais alegres;
Eles são mais ditosos
Que os nababos e reis nos seus coxins pomposos;
E por mais que tu regres
O matéria fatal, a tua vida inteira,
No rigor da higiene;
E por mais que a maneira
Do teu grande existir, desse existir - perene
De ironias e pasmos,
Explosões de sarcasmos
Tu completes, matéria - ó humanidade ousada
Com a ciência altanada;
E por mais que no século,
Tu mergulhes a idéia, o prodigioso espéculo,
Será sempre maior e exuberante e forte,
Ó matéria fatal,
Essa vida tão rica
Que se corporifica
Na valente coorte
Do poder vegetal.
Era um botão feliz,
Cuia roseira, impávida,
Ébria de aromas bons, ébria de orgulhos - ávida
De completa fragrância,
Palpitava com ânsia
Desde a própria raiz.
E entanto o sol tombara e triunfantemente
Como um supremo Rubens,
Jorrando à curvidade etérea do poente,
O ouro e o escarlate, aprimorando as nuvens,
Numa distribuição simpática de cores,
De tintas e de luzes
De galas e fulgores
Rubros como o estourar dos férvidos obuses.
O cérebro em nevrose,
No pasmo que precede a augusta apoteose
De uma excelsa visão perfeitamente bela,
De uma excelsa visão em límpidos docéis,
Exaltava o acabado artístico da Tela
E o gosto dos pincéis.
Caíam da amplidão em névoas singulares
Os pálidos crepúsculos.
Os fúlgidos altares
Do homem primitivo - a relva, o prado, o campo
Onde ele ia buscar a força de uma crença
Que então lhe iluminasse a alma escura e densa,
Morriam de clarões - os poderosos músculos
Da fértil mãe de tudo - a natureza ingente -
Deixavam de bater. - O olhar do pirilampo
Oscilava, tremia - azul, fosforescente.
As sombras vinham, vinham,
Lembrando um batalhão d'espectros que caminham
E a casta nitidez sintética das cousas
Tomava a proporção das funerárias lousas.
Completara-se então o mais extraordinário,
O mais extravagante,
Dos fenômenos todos:
A noite. - Enfim descera a treva do Calvário,
A treva que envolveu o Cristo agonizante.
Coaxavam negras rãs nos charcos e nos lodos.
A abóbada espaçosa, a física amplitude,
Mostrava a profundez da angústia de ataúde
De um operário pobre,
Quando se escuta o dobre
Amplíssimo e funéreo,
Sinistro e compassado,
Rolar pela mansão gloriosa do mistério,
Assim com um soluço aflito, estrangulado.
Devia ser, devia
Por uma noite assim,
Como esta noite igual,
Que derramou Maria
A lágrima da dor, - que o célebre Caim
Sentiu dentro do crânio as convulsões do Mal.
Mas o botão de rosa,
Traído pelo estranho zéfiro da sorte,
Rolou como uma cisma
Intensa e luminosa
Ardente e jovial em que a razão se abisma
E foi cair, cair no pélago da morte,
Em um dos mais raivosos,
Em um dos mais atrozes
Rios impetuosos,
Cheios de surdas vozes,
Sozinho, em desamparo, assim como um proscrito,
Em meio à placidez
Dos astros no infinito
E à mesma irracional e fúnebre mudez.
Depois e além de tudo,
Além do grave aspecto inteiramente mudo,
Ao tempo que morria
O cândido botão - em um dos tantos galhos
Virentes da roseira - alegre no ar se abria
Um outro que ostentava as pétalas sedosas,
As pétalas gracis de cores deliciosas,
De cores ideais.
As auras musicais
Passavam-lhe de leve,
Nos tímidos rumores,
De um ósculo mais breve.
E dentre a exposição das delicadas flores,
Das rosas - o botão
Aberto ultimamente às cúpulas austeras,
Às plagas da esperança, a irmã das primaveras,
Pendido um quase nada, esbelto na roseira,
Mostrava aquela unção,
A ínclita maneira
De quem se glorifica
Subindo ao céu azul da majestade pura,
Da eterna exuberância,
Da fonte sempre rica,
Da esplêndida fartura
Da luz imaculada - a egrégia substância
Que faz das almas claras
Pela fecundidade olímpica do amor, Magníficas searas,
De onde se difunde à vida sempiterna,
À vida essencial, à lei que nos governa,
À idéia varonil do poeta sonhador.
A arte especialmente, esse prodígio, atriz,
Como o botão de rosa
Tão meigo e tão feliz,
Pode ser arrojada e brutalmente, ao pego,
Na treva silenciosa,
Onde o espírito vai, atordoado e cego,
Cair, entre soluços,
Como um colosso ideal tombado ao chão de bruços,
Ou pode equilibrar-se em admirável base
Estética e profunda,
Assim, bem como o outro, à mais radiosa altura.
Deves sondá-la bem nesta segunda fase.
Precisas para isso uma alma mais fecunda.
Precisas de sentir a artística loucura...
Cruz e sousa.
A Verdade. Osho.
“A verdade é. Não é preciso esforço algum de sua parte para inventá-la. A verdade tem que ser descoberta, não inventada. E o que está nos impedindo de descobri-la? Nos ensinaram muitas mentiras, montanhas de mentiras. Estas são as barreiras que continuam falsificando a verdade, que não permitem que nossos corações sejam um reflexo daquilo que ela é.
A verdade não é uma conclusão lógica. A verdade é a existência, a realidade. Ela já está aqui – ela sempre esteve aqui. Somente a verdade existe. Então, por que não conseguimos encontrá-la? Porque desde o início da infância, nos ensinaram falsidades, pré-julgamentos, ideologias, religiões, filosofias... Tudo isto fez com que ficássemos perdidos. Como fazer para encontrá-la?
A verdade não é uma idéia. Você não precisa ser um hindu para conhecê-la, ou um muçulmano, ou um cristão. Se você for um hindu, nunca irá conhecê-la; exatamente por ser um hindu, isto irá mantê-lo cego. O que queremos dizer quando dizemos, ‘eu sou um hindu, ou um muçulmano, ou um judeu’? Nos queremos dizer, ‘ eu já tenho idéias a respeito do que é a verdade – idéias da Bíblia, do Corão, ou do Gita, mas eu já tenho as idéias. Eu não conheço a verdade, mas já sei muito a respeito dela.’ E este ‘já sei muito a respeito’ é o único problema que tem que ser resolvido.
Uma vez que você abandone suas idéias a respeito da verdade, você se verá face a face diante dela interna e externamente. Você se verá diante dela porque nada mais existe.
Mas, os pais, a sociedade, o estado, a igreja e o sistema educacional, todos eles dependem de mentiras. Assim que a crianca nasce, eles começam a montar as armadilhas para lhe incutir mentiras. A criança é indefesa. Ela não consegue escapar de seus pais, ela é completamente dependente. Você pode explorar a sua dependência... E isto tem sido explorado ao longo dos séculos.
Ninguém foi tão explorado quanto as crianças – nem o proletariado, nem as mulheres. Ninguém foi explorado tanto, tão profundamente e tão destrutivamente quando as inocentes crianças. E porque são indefesas e dependentes, elas aprendem qualquer coisa que vocês lhes ensinem. Elas têm que engolir todas as mentiras que vocês continuam empurrando para dentro delas. É uma questão de sobrevivência, pois elas não conseguem sobreviver sem vocês. É uma questão de vida ou morte! Elas têm que ser hindus, ou muçulmanas, ou jainas, ou budistas, ou comunistas. Tudo que vocês estiverem interessados em colocar em suas mentes, vocês colocarão.
Ao invés de torná-las mais alertas, mais conscientes, mais vivas e mais reflexivas como um espelho, ao invés de torná-las mais puras, vocês as tornam cheias de idéias... Camadas e camadas de poeiras. E assim, fica impossível para elas ver aquilo que é. Elas começam a ver aquilo que não é e param de ver aquilo que é.
Então, ser verdadeiramente religioso significa um renascimento: tornar-se novamente como uma criança e abandonar tudo o que a sociedade lhe deu.
A religião é uma rebelião contra tudo o que lhe foi imposto, uma rebelião contra ser reduzido a um computador. Simplesmente olhe para dentro! Tudo o que você sabe, foi-lhe ensinado, não é um conhecimento seu, não é autenticamente seu. Como pode ser autêntico, se não é seu? Você não é uma testemunha dele, você é apenas uma vítima – vítima das circunstâncias.
É apenas um acidente nascer na Índia ou na Inglaterra. É apenas um acidente nascer numa família hindu ou numa família cristã. Por causas desses acidentes, a sua natureza essencial foi perdida. Você foi forçado a perdê-la. Se você quiser resgatá-la, você terá que renascer.
E é isto exatamente o que Jesus quer dizer quando diz a Nicodemos: ‘A não ser que nasça novamente, você não entrará no reino de Deus.’ Na verdade, ele não quer dizer que você tem que morrer, tem que cometer suicídio e depois nascer de novo. Isto não irá ajudar, pois você irá nascer novamente com alguns pais, numa certa sociedade, dentro de uma certa igreja, e de novo a mesma estupidez será feita com você.
Por ‘renascimento’, Jesus quer dizer que agora, deliberadamente e conscientemente, você é capaz de abandonar tudo o que lhe foi ensinado. Abandone o seu conhecimento e torne-se inocente. E esta é a única maneira de se tornar inocente. O conhecimento é a contaminação. Ser inocente é estar num estado de não-conhecimento e, funcionar a partir deste estado, é a única maneira de conhecer a verdade.
Medite sobre estes sutras tremendamente significantes de Goutama Buda.
Ele diz:
Tomando erradamente o falso como sendo verdadeiro
E o verdadeiro como sendo falso,
Você faz vista grossa para o coração
E se enche de desejos.
A mente nada mais é que desejos. O coração não conhece desejos. Você ficará surpreso ao saber que todos os desejos pertencem à cabeca. O coração vive no presente, ele pulsa e bate no aqui e agora. Ele nada conhece a respeito do passado e do futuro. Ele sempre está aqui e agora.
E eu não estou falando a respeito de uma filosofia. Eu estou simplesmente declarando um fato tão simples que você pode observá-lo dentro de si mesmo: o seu coração está batendo agora. Ele não consegue bater no passado nem no futuro. O coração conhece apenas o presente, por isto ele é completamente puro. Ele não está poluído pelas memórias do passado, pelos conhecimentos, pelas experiências passadas, por tudo que lhe foi dito e ensinado, pelas escrituras e pelas tradições. Ele nada sabe a respeito de todas estas tolices! Ele nada sabe a respeito do futuro, do amanhã. Para ele o passado não existe mais e o futuro ainda não existe. Ele está completamente aqui. Ele é imediato.
Mas a mente é exatamente o oposto do coração. Ela nunca está aqui e agora. Ou ela está pensando nas belas experiências do passado ou está desejando as mesmas belas experiências no futuro. Assim ela segue pulando entre o passado e o futuro. Ela nunca pára no presente. Ela ignora completamente o presente. Para a mente, o presente não existe. Veja o ponto: o presente é a unica coisa que existe, mas para a mente o presente é a unica coisa que não existe. O passado é não-existencial, o futuro é não-existencial, mas para a mente essas são as únicas coisas existenciais.
A cabeça é o problema... E o coração é a solução.
A criança funciona a partir do coração. Na medida em que você começa a crescer, começa a se mover do coração para a cabeça. Quando alcança a graduação na universidade, o coração já foi esquecido completamente. Você está pendurado na cabeça. Toda a sua energia moveu-se para a cabeça.
Agora você nada sabe a respeito da realidade. Você está cheio de lixo erudito e tolices acadêmicas. Você pode ser um Ph.D. um D.Litt. Você conhece muito, mas nada conhece! Porque o verdadeiro conhecer acontece no coração, não na cabeça. E as universidades existem para desviar a sua energia do coração para a cabeça.
Todas as universidades no mundo, até agora, têm sido inimigas da humanidade. Toda a função delas é servir ao estado e à igreja. Elas são agentes do status quo, elas são agentes de interesses ocultos. Elas não servem a você. Elas servem aos poderosos, aos patrões, aos opressores e aos exploradores. As universidades servem a tudo o que está ao redor do poder. Elas ainda não estão a serviço da humanidade.
Se elas estivessem verdadeiramente a serviço da humanidade, então as universidades seriam os locais para se aprender a rebelião, elas criariam revolucionários. A univerdade não criaria pessoas convencionais, conformistas. Ela criaria rebeldes, aventureiros, prontos para arriscarem suas vidas pela verdade. Isto não aconteceu ainda.
É um fato triste que em nome da educação seja dada continuidade a alguma coisa muito feia. Por trás da fachada, algo muito criminoso continua. E o crime é este: eles desviam sua energia do coração para a cabeça, destroem sua capacidade de amar e forçam-no a aprender lógica. Para eles a lógica é mais importante que o amor, pensar é mais importante que ser sensível. Isto é colocar o carro na frente dos bois. Isto está totalmente às avessas.
É por isto que a humanidade está em tal confusão. O que não é verdadeiro parece ser verdadeiro e o que é verdadeiro parece ser não-verdadeiro. Eles tem tido êxito em distorcer a sua visão. Os Budas têm lutado contra todos estes interesses ocultos.
Buda diz:
Tomando erradamente o falso como sendo verdadeiro
E o verdadeiro como sendo falso,
Você faz vista grossa para o coração
E se enche de desejos.
A mente é desejo e vocês continuam se enchendo de mais e mais desejos, mais e mais ambições, buscando poder, prestígio e riqueza. E se esqueceram completamente que existe um coração batendo dentro, o qual já vive em Deus, o qual já é parte da lei maior – ais dhammo sanantano – aquilo que já é parte da inesgotável e eterna lei. Vocês já estão ligados a Deus a partir de seus corações. Seus corações são raízes no solo de Deus. Seus corações ainda são alimentados por Deus, pela verdade.
Mas vocês não estão ali. Vocês deixaram o local vazio. Vocês vivem na cabeça. Vocês passam todos os dias em suas cabeças; nunca descem de lá. Mesmo durante a noite, enquanto dormem, vocês continuam com o barulho na cabeca... Sonhos, sonhos e mais sonhos. Durante o dia, pensamentos, e durante a noite, sonhos. Eles não são diferentes.
O sonho é apenas a tradução do pensamento para a linguagem do sono, e vice-versa: pensar nada mais é que a tradução do sonho para a linguagem do dia. Você continua se movendo entre estas duas coisas: sonhar e pensar. Ambos são desejos. O que você pensa a não ser desejos? O que você sonha a não ser desejos?
Buda diz que o falso parece ser verdadeiro porque você se tornou falso para a sua própria verdade, para o seu próprio coração. Volte para o seu coração e então você será capaz de reconhecer a verdade como verdade e o falso como falso. Isto é iluminação, isto é voltar para casa.
Veja o falso como falso.
Mas, por onde começar? Comece por ver o falso como falso. É por isto que todos os Budas parecem ser negativos, todos os Budas parecem ser destrutivos. Eles negam. Jesus nega. Ele diz repetidas vezes: ‘No passado lhes foi dito isto, mas eu digo a vocês...’ E ele muda todo o ponto de vista.
Por exemplo, ele diz: ‘No passado foi dito que a lei era: pague com a mesma moeda. Se alguém lhe atirar um tijolo, reaja atirando-lhe uma pedra. Mas eu lhes digo, se alguém bater-lhe em uma face, ofereça a outra também. E se alguém levar-lhe o casaco, dê-lhe a camisa também. E se alguém forçá-lo a andar uma milha, ande duas.’
Maomé é contra todas as imagens de Deus porque seu povo esteve adorando imagens por séculos. Eles tinham trezentos e sessenta e cinco deuses, um deus para cada dia do ano. A Caaba, na época de Maomé, era um dos maiores templos do mundo, dedicado a trezentos e sessenta e cinco deuses. Maomé destruiu todos aqueles ídolos. Isto parece negativo!
Buda diz: ‘Não existe verdade nos Vedas nem nos Upanishads. Cuidado com palavras bonitas! Cuidado com especulações filosóficas! Não desperdice seu tempo com lógica. Fique em silêncio! Jogue fora os Vedas de sua cabeça; somente assim você consegue ficar em silêncio.’ Ele parece negativo, ele parece nihilista, perigoso – mas esta é a única maneira que você pode ser ajudado.
O falso tem que ser mostrado a você como falso. Você tem que começar com isto: neti neti – nem isto nem aquilo. O Mestre tem que dizer a você: ‘Isto é falso e aquilo é falso.’ Ele tem que continuar apontando para você tudo o que for falso, porque quando você souber tudo o que for falso, de repente uma transformação acontece em sua consciência. Quando você se tornar consciente do que é falso, começará então a ficar consciente do que é verdadeiro.
Não se consegue ensinar o que é a verdade, mas certamente se consegue ensinar o que não é a verdade. Você foi condicionado; você pode ser descondicionado. Você foi hipnotizado – como hindu, muçulmano, cristão, jaina... A função do Mestre é desipnotizá-lo. Uma vez que você seja desipnotizado, de repente será capaz de ver a verdade. A verdade não precisa ser ensinada.”
A escuridão não existe.
"Eu não vejo escuridão em lugar algum. Você é que está mantendo os olhos fechados. A escuridão não existe. É criação sua. O sol está em todo lugar, a luz está em todo lugar, estamos em pleno meio-dia. Mas você continua apertando os seus olhos, mantendo-os fechados. Daí a escuridão. Agora, ninguém pode forçar os seus olhos a se abrirem. Existem algumas coisas que você tem que fazer por si mesmo.
Se você quiser espirrar, você terá que espirrar, eu não posso fazer isso por você. Se você quiser assoar o nariz, você que terá que fazer isso, eu não posso fazer por você. Existem algumas coisas que você tem que fazer por si mesmo. Esta é uma das coisas mais fundamentais da vida. Se não fosse assim, mesmo em sua liberdade, você seria um escravo. Se eu tirá-lo da sua escuridão, ou qualquer outra pessoa, aquela luz não será muito luminosa. Você estará aprisionado naquela luz, você não veio de livre e espontânea vontade, você não floresceu espontaneamente.
Alguma vez você já observou uma criança tentando abrir à força um botão de flor? O botão pode ser aberto, mas não será uma flor, alguma coisa ficará faltando, algo de grande significado. A alma estará faltando. A flor tem alma quando ela floresce espontaneamente, daí ela tem vida. Quando você a força, você a destrói. Tudo que é belo na vida pode apenas acontecer; não pode ser feito.
Existe uma bela história sobre um mestre Zen, Joshu:
Um dia, Joshu caiu na neve e gritou 'Ajude-me! Ajude-me!'
Um discípulo de Joshu aproximou-se e deitou ao seu lado.
Joshu riu, levantou-se e disse ao discípulo: 'Certo! Perfeitamente certo! Isso é o que eu estou fazendo com você também.'
Joshu tinha caído na neve e gritado, 'Ajude-me! Ajude-me!' Mas não havia necessidade alguma. Se você caiu, você pode se levantar. A mesma energia que fez você cair, consegue fazer você se levantar. A pessoa que não consegue se levantar, não consegue nem mesmo cair. A mesma energia que o leva a se perder, pode trazê-lo para casa. A pessoa que não consegue voltar para casa, não consegue também se perder, porque é necessário energia.
A mesma energia que faz de você um pecador, pode fazê-lo um santo. Na verdade, ser um pecador é mais complexo, mais difícil, mais trabalhoso. Ser um santo não é complexo nem trabalhoso. E ser religioso definitivamente não é trabalhoso. É a mesma energia! Você está mantendo os seus olhos fechados, e despendendo muita energia para mantê-los fechados. A mesma energia que os está mantendo fechados, se relaxados, irá ajudá-los a se abrirem.
O discípulo é um discípulo de verdade. Ele entendeu Joshu perfeitamente bem. Ele sabe que ele criou uma situação, ele deitou-se conscientemente. Talvez o discípulo estivesse passando e Joshu caiu - criou uma situação - e gritou, 'Ajude-me! Ajude-me!' E o discípulo veio e deitou-se ao seu lado. Ele não o ajudou, em absoluto. O que ele estava fazendo?
Ele não estava tentando ajudá-lo, de modo algum. Ele estava simplesmente sendo compreensivo. Ele estava dizendo, 'O que pode ser feito? Ok, eu sou seu discípulo, eu vou deitar ao seu lado. O que mais eu posso fazer?'
Um mestre é compassivo com você, ele tem compaixão. O que mais ele pode fazer? Um mestre verdadeiro não pode segurar suas mãos, porque isso o manterá sempre dependente. Trazer você para fora à força, é o mesmo que mantê-lo ainda dentro. Na hora em que o mestre soltar suas mãos, você voltará para o seu velho mundo, para a sua velha mente. Aquilo ainda não estava encerrado, ainda estava agarrado dentro de você.
Um mestre verdadeiro ajuda sem ajudar. Tente entender: um mestre verdadeiro ajuda sem ajudar. A sua ajuda é muito indireta, ele nunca vem imediatamente ajudá-lo. Ele vem de maneira muito sutil. Ele se aproxima de você como uma brisa muito frágil, não como uma ventania selvagem. Ele se aproxima de você como uma aura, invisível. Ele o ajuda certamente, mas nunca força você. Ele o ajuda apenas até onde você está pronto para ir, nunca um passo a mais. Ele nunca empurra você violentamente, porque qualquer coisa feita violentamente será perdida, mais cedo ou mais tarde.
Aquilo que você não desenvolveu de livre e espontânea vontade, você perderá. Você não pode desfrutar aquilo que não cresceu em seu ser espontaneamente. Você desfruta o seu próprio crescimento. Eu posso até mesmo dar-lhe a verdade, e você irá jogá-la fora, porque você não irá reconhecê-la. Eu posso forçá-lo a acordar, mas você irá cair no sono no momento em que eu me for, e você vai me xingar e ficar com raiva de mim, pois você ainda estava curtindo os seus sonhos. Você estava curtinho sonhos doces e aí chegou um homem e o acordou.
Algumas vezes observe a si mesmo. Você tem que pegar um trem bem cedo, quatro ou cinco horas da manhã, e você pede alguém para acordá-lo às quatro horas. Assim ele faz. E você fica com raiva. Você não gosta da idéia, mas essa idéia foi sua. Você sente como se ele fosse seu inimigo.
Ouvi contar a respeito de Emanuel Kant, um filósofo alemão, que ele era muito preso a horários. Ele quase se movia como um ponteiro de relógio, exatamente na hora, tudo, nem um minuto a mais, nem um minuto a menos. Por toda a sua vida ele costumava acordar cedo, às cinco horas da manhã. Ele tinha um criado. O criado tinha que arrastá-lo para fora da cama e às vezes até mesmo bater nele. Ele tinha dado tal poder ao criado. Ele lhe disse: 'Ainda que você tenha que me bater, bata. Vai ser uma boa luta para você, mas você tem que me acordar. Não escute o que eu lhe disser de manhã cedo. Eu irei repreendê-lo, gritarei com você e o ameaçarei dizendo que irei colocar fogo em você, mas não se preocupe. Qualquer coisa que eu disser, vai ouvindo, mas me arraste para fora da cama.'
Ele tornou-se muito dependente desse criado, de tal modo que o criado quase se tornou o patrão e o patrão tornou-se o criado. Algumas vezes o criado o deixava. Daí, ele tentava encontrar outros criados, mas ninguém se adaptava, pois como bater no seu patrão às cinco horas da manhã? Mesmo ele dizendo, 'Bata-me!', o criado ficava com medo. E o velho criado tinha que ser trazido de volta novamente.
Mas, como isso acontece? Você pode estar curtinho um sonho bom e aconchegante. Está fazendo frio, mas debaixo do cobertor está quente e aconchegante. Sim, você havia decidido antes que iria se levantar cedo, mas e agora... ? Você quer virar para o lado e cair no sono de novo.
Ninguém pode ser acordado antes da sua hora, nem deve ser.
E não há qualquer problema. Simplesmente tente compreender porque você mantém seus olhos fechados. Mais do que pedir-me para forçá-los a se abrirem, tente compreender porque você os mantém fechados. Tente compreender quais sonhos você ainda tem que sonhar. Você já não sonhou o bastante? Você, na verdade, já não sonhou mais do que o suficiente? Por milhões de vidas você tem sonhado. E você não alcançou nada com todos esses sonhos. Você permanece vazio, oco. Ainda assim, você continua se enchendo com novos sonhos, com novos desejos, com novas ambições. É bem possível que agora você esteja sonhando com iluminação, por isso você fez essa pergunta.
Você sonhou muitos sonhos. Agora um novo sonho surgiu em sua mente: tornar-se um buda, alcançar a iluminação. Isto é novamente um sonho. Se você tivesse realmente terminado com todos os seus sonhos, então quem estaria mantendo você dormindo? Abra seus olhos! Na verdade, nem mesmo haverá necessidade de abrir os seus olhos. Uma vez que você tenha compreendido que você já sonhou todos os sonhos possíveis, os olhos se abrirão. Não haverá nem mesmo a necessidade de abri-los porque ninguém estará lá para fechá-los.
Olhe para meu punho: se eu tiver que mantê-lo como um punho, eu terei que mantê-lo fechado, cerrado. No momento em que eu parar de fechá-lo, ele começará a se abrir espontaneamente. Estar aberto é natural, estar fechado é antinatural. Para mantê-lo fechado você tem que colocar muita energia nele. Para abrir, nenhuma energia é necessária.
Isso é uma coisa muito estranha: para permanecer miserável, você precisa colocar muita energia nisso. Para permanecer alegre, você não precisa de qualquer energia, de jeito algum. A felicidade é grátis, ela nada custa. A miséria você precisa fazer por merecer. Se você quiser ser miserável, muito esforço será necessário para permanecer miserável. É um estado muito antinatural. Um punho cerrado é antinatural; uma mão aberta é natural. A mão aberta não necessita energia, caso contrário você se sentiria cansado; ao final do dia você estaria morto de cansado por ter ficado todo o dia com a mão aberta. Daí, você dirá, 'Por todo o dia eu mantive minhas mãos abertas e agora eu estou me sentindo muito cansado.' Qualquer dia, mantenha o seu punho fechado por todo o tempo e ao final da tarde você se sentirá realmente cansado. O natural é a mão aberta.
Um coração aberto é um fenômeno natural; um ser aberto é simplesmente natural. Um ser fechado é muito antinatural, muito artificial; você tem que colocar toda a sua energia nisso. Essa é a minha observação em milhares de pessoas: elas dão toda a sua energia para se manterem miseráveis. Permanecer no inferno é um grande investimento. Não é fácil, é muito difícil. Você precisa ser muito forte para estar no inferno, muito teimoso, decidido. (...) Você tem que ser duro como um diamante, somente então você pode permanecer no inferno. Se não for assim... ninguém está impedindo o seu caminho. Basta relaxar e você entra no céu, o relaxamento é a porta.
Você diz: Eu estou tateando no escuro. Relaxe. No momento em que você relaxar, os seus olhos começarão a se abrir, assim como um botão abre e se torna uma flor, assim como um punho que não mais se mantém cerrado começa a se abrir e se torna uma mão aberta.
Eu não estou aqui para forçar isto. Eu estou aqui para esclarecê-lo como isto acontece. Eu posso falar a respeito desse processo, eu não posso fazê-lo para você. Compreendido, ele acontece. Eu não lhe prometo coisa alguma. Eu só lhe prometo uma coisa: o que aconteceu comigo eu farei com que fique óbvio para você. Daí, cabe a você seguir.
Buda disse: os budas só indicam o caminho, mas é você que tem que ir, cabe a você seguir o caminho."osho.
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