quarta-feira, 30 de setembro de 2015
HERMES TRISMEGISTO.
O MITO E A REALIDADE
Filho de Zeus e de Maia, a mais jovem das Plêiades da mitologia grega, Hermes nasceu num dia quatro (número que lhe era consagrado), numa caverna do monte Cilene, ao sul da Arcádia.
Divindade complexa, com múltiplos atributos e funções, Hermes foi no início um deus agrário, protetor dos pastores e dos rebanhos. Um escrito de Pausânias deixa bem claro esta atribuição do filho de Maia: “Não existe outro deus que demonstre tanta solicitude para com os rebanhos e para com o seu crescimento”. Mais tarde, os escritores e os poetas ampliaram o mito, como por exemplo, Homero, nos seus poemas épicos Ilíada e Odisséia. Na Odisséia, por exemplo, o deus intervém como mago e como condutor de almas (nas Rapsódias X e XXIV).
Protetor dos viajantes, Hermes é também o deus das estradas. Nas encruzilhadas, para servir de orientação, os transeuntes amontoavam pedras e colocavam no topo do monte a imagem da cabeça do deus. A pedra lançada sobre um monte de outras pedras, simbolizava a união do crente com o deus ao qual elas estavam consagradas. Considerava-se que nas pedras do monte estavam a força e a presença do divino.
Para os gregos, Hermes regia as estradas porque andava com incrível velocidade, por usar as sandálias providas de asas. Deste modo, tornou-se o mensageiro dos deuses, principalmente de seu pai, Zeus. Conhecedor dos caminhos, não se perdendo nas trevas e podendo circular livremente nos três níveis (Hades ou infernos, Terra ou telúrico e Paraíso ou Olimpo), Hermes tornou-se um deus condutor de almas.
A astúcia, a inventividade, o poder de tornar-se invisível e de viajar por toda a parte, aliados ao caduceu com o qual conduzia as almas na luz e nas trevas, são os atributos que exaltam a sabedoria de Hermes, principalmente no domínio das ciências ocultas, que se tornarão, na época helenística, as principais qualidades do deus.
A partir deste ponto, Hermes se converteu no patrono das ciências ocultas e esotéricas. É ele quem sabe e quem transmite toda a ciência secreta. O feiticeiro Lúcio Apuléio declara em seu livro de bruxaria (De Magia) que invocava Mercúrio – o Hermes dos romanos – como sendo aquele que possuía os segredos da magia e do ocultismo.
Hermes Trismegistos é o nome grego dado ao deus egípcio Thoth, considerado o inventor da escrita e de todas as ciências a ela ligadas, inclusive a medicina, a astronomia e a magia. Segundo o historiador Heródoto, já no séc. V a.C. Thoth era identificado e assimilado a Hermes Trismegisto, i.e., ao Três Vezes Poderoso Hermes.
A pedra de Roseta, gravada no ano 196 a.C também identifica Hermes como Thoth. A tradução dos hieróglifos das câmaras mortuárias do Vale dos Reis permitiu dividir os escritos atribuídos a Hermes-Thoth em dois tipos principais: o Hermetismo “popular” que trata da astrologia e das ciências ocultas, e o Hermetismo para os “cultos”, que trata de Teologia e de Filosofia.
Do renascimento até ao final do século XIX pouca atenção foi dispensada aos Escritos Herméticos populares. Estudos recentes mostraram, no entanto, que a literatura popular hermética é anterior ao Hermetismo dito culto, e reflete as idéias e convicções dominantes no império romano.
Os Escritos Herméticos sobre Teologia e Esoterismo constam de dezessete tratados, que compõem o Corpus Hermeticum. Este conjunto de Escritos reúne as compilações feitas por Stobaeus e por Apuleius. A compilação de Apuleius for traduzida para o Latim por Asclepius. Estes escritos são datados dos três primeiros séculos da era cristã e foram escritos em língua grega, embora os conceitos neles contidos sejam de origem egípcia.
O Corpus Hermeticum reúne a Hermética e a Tábua de Esmeralda. Estas duas obras são trabalhos estritamente herméticos sobre os quais se fundam a ciência e a filosofia alquímicas. A Hermética consta de uma série de livros, dos quais o mais importante é Livro I, Pimandro, que é um diálogo de Hermes consigo mesmo.
O Hermetismo foi estudado durante séculos pelos árabes, e por seu intermédio chegou ao Ocidente, onde influenciou homens como Albertus Magnus. Em toda a literatura Medieval e do Renascimento são freqüentes as referências a Hermes Trismegistos e aos Escritos Herméticos, estudados e aprofundados, principalmente, pelos Alquimistas e pelos Rosacruzes. Para os Rozacruzes, Hermes Trismegistos foi um sábio. O Dr. H. Spencer Lewis, escritor e Grande Mestre da Ordem Rosacruz, se referia a Hermes como uma pessoa real.
No mundo greco-latino, sobretudo em Roma, com os gnósticos e neoplatônicos, Hermes Trismegisto se converteu num deus cujo poder varou os séculos. Na realidade, Hermes Trismegisto resultou de um sincretismo com o Mercúrio latino e com o deus egípcio Thoth, o escrivão no julgamento dos mortos no Paraíso de Osíris, e patrono de todas as ciências na Grécia Antiga.
Em Roma, a partir dos primeiros séculos da era cristã, surgiram muitos tratados e documentos de caráter religioso e esotérico que se diziam inspirar-se na religião egípcia, no neoplatonismo e no neopitagorismo. Esse vasto conjunto de escritos que se acham reunidos sob o nome de Corpus Hermeticum, coleção relativa a Hermes Trismegisto, é uma fusão de filosofia, religião, alquimia, magia e astrologia, e tem muito pouco de egípcio.
Desse Corpus Hermeticum muito se aproveitou a Gnose (conhecimento esotérico da divindade, transmitido através dos ritos de iniciação). Os gnósticos, com seu sincretismo religioso greco-egípcio-judaico-cristão surgido também nos primeiros séculos da nossa era, procuraram conciliar todas as tendências religiosas e explicar-lhes os seus fundamentos através da Gnose.
As sandálias de Hermes eram dotadas de asas, separavam a terra do corpo pesado e vivente, e daí vem a importância simbólica das sandálias depostas, rito maçônico que evoca a atitude de Moisés no monte Sinai, pisando descalço a terra santa. Descalçar a sandália e entregá-la ao parceiro era, entre os judeus, a garantia de cumprimento de um contrato.
Para os antigos taoístas, as sandálias eram o substituto do corpo dos imortais, e seu meio de deslocamento no espaço. Em Hermes e Perseu, as sandálias aladas são o símbolo da elevação mística.
O caduceu significa em grego bastão de arauto. Símbolo dos mais antigos, sua imagem já se acha gravada, desde o ano 2.600 a.C., na taça do rei Gudea de Lagash. São várias as formas e múltiplas as interpretações do caduceu. Insígnia principal de Hermes, é um bastão em torno do qual se enrolam, em sentidos inversos, duas serpentes. Enrolando-se em torno do caduceu, elas
simbolizam o equilíbrio das tendências contrárias em torno do eixo do mundo, o que leva a interpretar o bastão do deus de Cilene como um símbolo de paz. A serpente é um símbolo encontrado na Mitologia de todos os povos. Todas as grandes idéias surgidas no início da Civilização foram representadas pela serpente: o Sol, o Universo, Deus, a Eternidade. Enroscada no Tau, a serpente é o símbolo do Grau 25 do REAA.
Também se pode interpretar o caduceu como sendo o símbolo do falo ereto, com duas serpentes acopladas. Esta interpretação do caduceu é uma das mais antigas representações indo-européias, sendo encontrado na Índia antiga e moderna, associado a numerosos ritos, bem como na Grécia, onde se tornou a insígnia de Hermes. Espiritualizado, esse falo de Hermes penetra no mundo desconhecido em busca de uma mensagem espiritual de libertação e de cura. Hoje em dia o caduceu é o símbolo universal da Medicina.
O esoterismo maçônico, com a sua tradução em rituais, símbolos e ensinamentos, é criação de grandes pesquisadores, colecionadores de livros e de manuscritos raros, e grandes estudiosos das culturas da antiguidade. Elias Ashmole, Desaguilliers e Francis Bacon foram alguns destes homens, Rosacruzes e grandes conhecedores do hermetismo e da transmutação alquímica dos metais, através da Pedra Filosofal. Eles introduziram na Maçonaria os mesmos conceitos filosóficos, utilizando agora os instrumentos da arte de construir, como símbolos da regeneração e do aperfeiçoamento moral e espiritual do Homem.
Hermes Trismegisto foi, na Mitologia Grega, o deus que reuniu os atributos que todos os grandes pensadores e iniciados desejaram transmitir às futuras gerações. Ele foi um deus tão importante que na cidade de Listra, a multidão, ao ver o milagre realizado pelo apóstolo Paulo, tomou-o por Hermes e gritou entusiasmada, pensando estar diante de um deus sob forma humana.
Obra consultada.
Hermes Trismegisto - Ensinamentos Herméticos AMORC Grande Loja do Brasil
terça-feira, 15 de setembro de 2015
O que representavam as 10 pragas do Egito e quais são os deuses que estão relacionados com elas?
Um trecho que, sem dúvida, chama muito a atenção dos cristãos ou mesmo não cristãos, é a passagem sobre as 10 Pragas que o Senhor lançou sobre o Egito.
Estas terríveis pragas tiveram por fim levar Faraó (Faraó, era o título dado ao monarca do Egito ) a reconhecer e a confessar que o Deus dos hebreus era supremo, estando o seu poder acima da nação mais poderosa que era então o Egito (Ex 9.16; 1Sm 4.8) cujos habitantes deveriam ser julgados por sua crueldade e grosseira idolatria.
Porém, poucos conhecem um importante aspecto dos planos de Deus para aquele povo e para os nossos dias. Além da principal finalidade, relatada na Bíblia, que é libertação do povo de Israel, cativo do Faraó, as 10 pragas tiveram grande importância sobre os habitantes do Egito. Deus estava desafiando os deuses egípcios.
E como se deu isso? A resposta é simples. Imagine: Por que Rãs, Gafanhotos, Águas em Sangue, Chuva de Pedras…? O certo é que Deus queria falar algo mais. O Deus de Israel estava se revelando ao Seu povo e ao Império Egípcio. Cada praga era direcionada a divindades, conforme a credibilidade do povo em confiar nesses “falsos senhores”. Abaixo você pode ver mais detalhadamente esse processo.
1) Água em sangue (Êx. 7:14-24)
A primeira praga, a transformação do Nilo e de todas as águas do Egito em sangue, causou desonra ao deus-Nilo, Hápi. A morte dos peixes no Nilo foi também um golpe contra a religião do Egito, pois certas espécies de peixes eram realmente veneradas e até mesmo mumificadas. (Êx 7:19-21)
2) Rãs (Êx. 8:1-15)
A rã, tida como símbolo da fertilidade e do conceito egípcio da ressurreição, era considerada sagrada para a deusa-rã, Heqt. Assim, a praga das rãs trouxe desonra a esta deusa. (Êx 8:5-14)
3) Piolhos – (Êx. 8:16-19)
A terceira praga resultou em os sacerdotes-magos reconhecerem a derrota, quando se viram incapazes de transformar o pó em borrachudos, por meio de suas artes secretas. (Êx 8:16-19) Atribuía-se ao deus Tot a invenção da magia ou das artes secretas, mas nem mesmo este deus pôde ajudar os sacerdotes-magos a imitar a terceira praga.
4) Moscas (Êx. 8:20-32)
A linha de demarcação entre os egípcios e os adoradores do verdadeiro Deus veio a ficar nitidamente traçada da quarta praga em diante. Enquanto enxames de moscões invadiam os lares dos egípcios, os israelitas na terra de Gósen não foram atingidos pela praga (Êx 8:23,24). Deus algum pôde impedí-la,nem mesmo Ptah, “criador do universo”, ou Tot, senhor da magia.
5) Peste sobre bois e vacas (Êx. 9:1-7) – A praga seguinte, a pestilência no gado, humilhou deidades tais como: Seráfis (Ápis) – deus sagrado de Mênfis do gado, a deusa-vaca, Hator e a deusa-céu, Nut, imaginada como uma vaca, com as estrelas afixadas na sua barriga. Todo gado do Egito morreu, mas nenhum morreu de Israel. (Êx. 9:4 e 7).Fonte:Parte desse conteúdo foi elabora pelo Pr. Valdeci Júnior e parte dele pode ser encontrado na enciclopédia “Estudo Perspicaz das Escrituras”
6) Feridas sobre os egípcios (Êx. 9:8-12)
Deus nesta praga zombou a deusa e rainha do céu do Egito, Neite. Moisés jogou o pó para o céu que deu um tumor ulceroso na pele do povo que doeu demais. Os magos também pegaram a doença e não puderam adorar a sua deusa e rainha religiosa. Israel novamente foi poupado dessa praga. (Êx. 9:11)
7) Chuva de pedras (Êx. 9:13-35)
A forte saraivada envergonhou os deuses considerados como tendo controle sobre os elementos naturais; por exemplo, Íris – deus da água e Osiris – deus de fogo.
8) Gafanhotos (Êx. 10:1-20)
A praga dos gafanhotos significava uma derrota dos deuses que, segundo se pensava, garantiam abundante colheita. Deus encheu o ar de gafanhotos. Os deuses egípcios (Xu – deus do ar e Sebeque – deus-inseto) não puderam fazer nada para não deixar acontecer. (Êx 10:12-15)
9) Escuridão total (Êx. 10:21-23)
Com esta praga Deus derrubou o deus principal do Egito, Rá, o deus-sol. A palavra Faraó significa sol, ele era um deus. Egito ficou nas trevas (sem ver nadinha) durante 3 dias, mas Israel ficou na luz. (Êx. 10:23).
10) Morte de todos os primogênitos (Êx. 11-12)
Inclusive entre os animais dos egípcios – A morte dos primogênitos resultou na maior humilhação para os deuses e as deusas egípcios. (Êx 12:12) Os governantes do Egito realmente chamavam a si mesmos de deuses, filhos de Rá ou Amom-Rá.
Depois disto todos souberam que Deus era o Senhor e Seu nome ficou anunciado em toda a terra. Deus destruiu todo deus falso do Egito. Na morte do primogênito Deus mostrou que Ele tem na Sua mão o poder de morte e de vida. O Faraó tinha pretensão de ser adorado, de ser uma divindade. O primogênito era, em potencial um faraó, pois era o herdeiro do trono. Deus demonstrou a falsa deidade de Faraó e seu filho.Fonte:Parte desse conteúdo foi elabora pelo Pr. Valdeci Júnior e parte dele pode ser encontrado na enciclopédia “Estudo Perspicaz das Escrituras”
domingo, 6 de setembro de 2015
FORÇA INTERNA AUXILIAR DA CURA.
FORÇA INTERNA AUXILIAR DA CURA
Pelo poder da VONTADE nós projetamos uma idéia através da mente, tomando ela forma concreta como pensamento-forma ao atrair da Região do Pensamento Concreto a matéria mental com que então se reveste”. (Conceito Rosacruz do Cosmos”). A mente humana, portanto, quando dirigida positivamente pelo Espírito, pode alcançar grandes coisas continuamente em todas as fases da vida. Assim, uma atitude mental construtiva, criativa, é a chave de nossos poderes internos de fortaleza, saúde, coragem e equilíbrio. O pensamento é considerado como força e energia, poderosa para o bem ou para o mal, como também o é a intangível força conhecida como eletricidade. Daí precisarmos ter muito cuidado ao lidar com os nossos processos mentais quando desejamos determinados resultados.
Pensamentos são coisas, e todo pensamento que formamos torna-se parte de nossa aura mental e de nossa vida. Pensamentos criadores, individuais e coletivos, produzem tudo o que do esforço humano é útil, belo e de valor duradouro na vida para a saúde e para o progresso das pessoas.
Por conseguinte, pensar e viver retamente produz saúde, felicidade e prosperidade, e encoraja a transmutação de qualquer mal que nos aflija. Por outro lado, hábitos destrutivos de pensar reagem desfavoravelmente sobre o organismo físico, criando condições doentias e infelizes nas vidas e nos negócios das pessoas. Indivíduos que se permitem pensamentos negativos têm todas as probabilidades de serem vencidos pelo mal. Aquele que se encontra enfermo, fraco e aflito, independentemente dos sintomas que apresente, deve formar uma imagem mental da perfeição e saúde físicas que deseje para viver mais abundantemente. Deve condicionar sua mente para visualizar saúde enquanto, obviamente, esteja sofrendo por alguma doença. Isso é razoável e lógico porque a doença se deve principalmente a conceitos mentais errôneos e a reações emocionais indevidas.
Como toda a humanidade começa a ter uma mais ampla compreensão, apreciação e utilização das potencialidades ocultas e poderes da mente humana, em virtude dos atuais e crescentes meios de comunicação e informação, a vida de um também crescente percentual de pessoas em todo o mundo deve mudar para melhor
“A Vida não espera de nós sacrifícios inatingíveis, ela apenas pede que façamos nossa jornada com alegria em nosso Coração e para ser uma benção para todos aqueles que nos rodeiam. Se nós fazemos o mundo melhor com a nossa visita, então nós cumprimos a nossa missão.”
Dr. Edward Bach
OS MISTÉRIOS, DE GOETHE.
Trad. Raul Guerreiro
I
Uma magnífica balada vos está reservada;
Com agrado a escutai, e a todos conclamai!
Por vales e montanhas a vereda avança;
Aqui a visão se limita, ali outra vez se liberta,
E se a senda de manso se embrenha na mata,
Não imaginai que se trata de engano;
O que queremos, após o bastante subirmos,
É em boa hora nos acercarmos da meta.
II
Mas não creia alguém que à custa de reflectir
Poderá um dia decifrar por inteiro esta balada:
Muita gente deverá aqui imenso ganhar,
Pois variegados frutos tem a terra-mãe a oferecer;
Uns há que, de olhar sombrio, se afastam daqui,
Enquanto outros, de ânimo alegre, se deixam ficar:
Goze assim cada um segundo o seu prazer,
Para alguns peregrinos a fonte deverá brotar.
III
Fatigado da longa e penosa jornada,
Que ele por elevado impulso encetara,
De bastão na mão, a modos de peregrino devoto,
Chegou o irmão Marcus, por rumos erradios
E carente de algo comer e beber,
Num fim-de-tarde ameno a um vale,
Desejoso de naqueles baixios arborizados
Encontrar um tecto acolhedor onde pernoitar.
IV
No monte escarpado que se depara à sua frente,
Crê entrever os vestígios de um caminho;
Segue então o sendeiro, que em curvas avança,
Tendo que contornar rochedos para poder subir;
Em breve se encontra elevado sobre o vale,
Enquanto o Sol de novo o alumia com afável luz,
E em breve ele avista, com íntima satisfação,
O cimo do monte ao alcance do seu olhar.
V
E ao seu lado o Sol, que no seu declínio
Reina ainda esplêndido entre nuvens obscuras;
Ele reúne forças para conseguir galgar ao topo,
Onde espera ver em breve a sua faina compensada.
"Ora bem", diz ele de si para si, "já devia se mostrar,
Se vive pelas cercanias qualquer coisa de humano!"
Após subir, põe-se à escuta e sente-se como renascido,
Conforme um repique de sinos alcança os seus ouvidos.
VI
E depois de atingir o pináculo máximo,
Ele avista um vale próximo, suavemente ondulado.
O seu olhar calmo reluz de satisfação;
Pois defronte à mata ele de súbito divisa
Um esbelto edifício erigido na campina verde.
Agora mesmo o último raio de Sol o veio beijar:
Rápido ele cruza os prados humedecidos de orvalho,
Rumo ao mosteiro, cuja luz vem ao seu encontro.
VII
Em breve ele se encontra junto desse lugar sereno,
Que inunda o seu espírito de paz e esperança,
E sobre a ogiva do portão cerrado
Vislumbra um misterioso ornato.
Ele pára e cisma, murmurando as palavras
De devoção que em seu coração arqueja,
E põe-se a reflectir: "O que quer isto significar?"
Baixa agora o Sol e extingue-se o som de sinos.
VIII
Ele avista aquele símbolo majestosamente erigido,
Aquele conforto e esperança para o mundo inteiro,
Em nome do qual espíritos aos milhares se prometeram
E corações aos milhares com ardor suplicaram,
O qual o poder da amargosa morte aniquilou,
E em tantos pendões triunfais vai ostentado:
Um novo alento revivesce os membros fatigados,
Enquanto os olhos baixa, após avistar a cruz.
IX
De novo ele sente a redenção que daí irrompeu,
E sente em si próprio a fé de meio mundo;
Mas eis que um novo sentido lhe invade a alma,
Perante a cena que aos seus olhos se oferece:
Rosas abraçam em profusão a cruz!
Quem terá à cruz rosas acrescentado?
A coroa parece vicejar de todos os lados
Como que a trazer brandura ao rude madeiro.
X
Nuvens ténues e argênteas pairam no céu,
Alteando-se com rosas e cruz nos ares,
E do centro irrompem, qual vida sagrada,
Três raios de luz, de um só ponto irradiados;
Não há palavra alguma a acompanhar esta cena,
Que possa trazer sentido e clareza ao mistério.
À luz do crepúsculo cada vez mais ensombrado
Ele põe-se de pé, medita e sente-se edificado.
XI
Ele bate por fim à porta, conforme as estrelas
Já elevadas lançam sobre ele o seu luzidio olhar.
Abre-se a porta e ele é recebido com alegria,
Com braços abertos, com mãos distendidas.
Ele diz então de onde vem, de que distante lugar
Os desígnios de entes superiores o enviaram.
Todos o escutam e pasmam. Honram então o enviado,
Tal como antes o visitante e estranho haviam honrado.
XII
Juntam-se depois os demais, ávidos também de ouvir,
E sentem-se comovidos por misteriosa energia.
Nenhum suspiro ousa o invulgar visitante disturbar,
Pois cada palavra faz eco nos corações.
O que ele tem a relatar age como profunda lição,
Proferida com sabedoria por lábios infantis:
Na franqueza e pureza com que se revela
Ele mais parece um habitante de outra terra.
XIII
«Bem-vindo", exclama então um velho, "bem-vindo,
Se consolo e esperança for o que a tua mensagem traz!
Bem vês, que angústia nos assola a todos,
Conquanto a nossa alma se deleite em te ver:
Mas, ah! o mais belo tesouro nos será arrebatado,
E assim vivemos mergulhados em receios e tormentos.
Em grave hora os nossos muros te vêm acolher,
Ó estrangeiro, para connosco também lamentar.
XIV
Pois, ah! o homem que todos aqui uniu,
Esse que temos por pai, amigo e guia,
Que foi pela vida abrasado com luz e coragem,
Dentro em breve de nós se apartará,
Apenas há pouco ele próprio o anunciou;
Mas sobre o quando ou o como, nada nos revela:
E assim, a certeza da sua partida é para nós
Misteriosa e repleta de amargo sofrimento.
XV
Como vês, todos aqui já temos cabelos agrisalhados,
Pois a natureza a nós próprios já ordena a descansar:
Nunca aceitámos alguém que, no verdor dos anos,
Tenha renunciado cedo demais o seu coração ao mundo.
Após termos provado das alegrias e mágoas da vida,
E conforme o vento as nossas velas já não insuflava,
Permitido nos foi vir com honra aqui aportar,
Consolados de um porto seguro descobrir.
XVI
Divina paz habita no peito desse homem,
Esse nobre que aqui nos conduziu;
Ao longo do sendeiro da vida o acompanhei,
E bem vivos tenho na consciência os velhos tempos;
As horas em que ele agora solitário se prepara,
Anunciam-nos a perda que se aproxima.
O que é o Homem? Por que pode ele a sua vida
Assim deixar, e não doá-la a um melhor?
XVII
Esse seria portanto o meu único desejo!
Por que devo abdicar de semelhante anseio?
Quantos e quantos já partiram antes de mim!
Mas só ele devo com mais amargura chorar.
Oh, com que alegria ele outrora te receberia!
Mas os encargos da casa já nos cedeu;
Embora ninguém ainda tenha tomado a sucessão,
Em espírito ele já de nós se apartou.
XVIII
Uma só breve hora diariamente vem ter connosco,
Narrando coisas, e mais do que nunca se comovendo:
Podemos então ouvir da sua própria boca,
Quão maravilhosamente o guiou a Providência;
A tudo atentamos, para que dessa revelação segura
Nenhum pormenor se perca para a posteridade;
Cuidamos até para que um de nós zelosamente tudo anote,
E assim as suas memórias permaneçam puras e fiéis.
XIX
Com efeito, muita coisa preferiria eu próprio contar,
Em vez de agora apenas permanecer quieto a ouvir;
O menor detalhe não me deverá escapar,
Pois tudo guardo ainda vivo na lembrança;
Oiço atento, mas só a custo consigo dissimular,
Que nem sempre estou satisfeito com tudo isso:
Se alguma vez eu falar de todas essas cousas,
Bem mais esplêndidas elas deveriam ressoar da minha boca.
XX
Eu, como terceiro, mais e livremente posso contar,
Como um espírito mui cedo o anunciou à mãe,
E como uma estrela, durante a celebração do seu baptismo,
Resplendente se revelou no céu crepuscular;
E também como um gavião, de asas distendidas,
Veio pousar entre as pombas no pátio;
Mas não cruel e desalmado, como de habitual,
Mas sim como a convidá-las amenamente à concórdia.
XXI
Depois, ele ainda modestamente nos ocultou,
Como enquanto criança subjugou a cobra,
Que tinha encontrado enleada no braço da irmã,
Envolvendo a adormecida em forte aperto.
A ama havia fugido, abandonando o bebé;
Com mão decidida ele esmagou a serpente,
E chegando a mãe, admirou-se a tremer de alegria
Com a façanha do filho, e a filha que vivia.
XXII
E também nos ocultou, como de uma rocha seca,
Após tocada pela sua espada, uma fonte brotou,
Rolando forte como uma ribeira, em ondas agitadas,
Montanha abaixo até ao fundo do vale:
Ainda hoje ela jorra tão forte e tão cintilante
Como no instante em que irrompeu à sua frente,
E os acompanhantes, que ao milagre assistiram,
Nem ousaram matar a sede que os abrasava.
XXIII
Se a natureza um homem de tal modo elevou,
Não é milagre algum se tanto pode realizar;
Nele devemos louvar o poder do Criador,
Que a frágil argila de tal maneira honrou;
Mas se um homem, de todas as provas da vida,
A mais amarga vence, que é vencer-se a si próprio,
Podemos então jubilosos apontá-lo aos demais e dizer:
Eis alguém que é verdadeiro, que vale por si próprio!
XXIV
Pois qualquer força avança em frente pelo espaço,
Buscando viver e actuar aqui e acolá;
Em contrapartida, o caudal impetuoso do mundo
Prende e tolhe de todos os lados, arrastando-nos consigo:
Em meio a semelhante tormenta interior e luta externa
Ouve o espírito uma mensagem de difícil compreensão:
Da dominância que sobre todos os seres impera,
Liberta-se o homem que a si próprio se supera.
XXV
Quão cedo já lhe ensinara o coração,
O que nele nem devo chamar de virtude:
Que respeitasse a severa palavra do pai,
Sendo diligente mesmo quando este, cru e rude,
As horas livres da juventude com tarefas onerava,
Às quais o filho de bom gosto se entregava,
Tal como um miúdo errante e sem lar o faria,
Por carência, em troco de uma parca esmola.
XXVI
Teve que acompanhar os combatentes às lutas,
Inicialmente como peão, fizesse chuva ou sol,
Cuidando dos cavalos e preparando as mesas,
Mostrando-se útil a cada velho guerreiro.
A qualquer hora do dia ou da noite, solícito,
Ele percorria os bosques como veloz estafeta,
E assim, acostumado a viver só para os demais,
As suas estafas pareciam só lhe dar prazer.
XXVII
Tal como em combate, de ânimo valoroso e vivaz,
Ele recolhia as flechas que no solo encontrava.
Corria depois a colher ele próprio ervas curativas,
Preparando com elas pensos para os feridos.
Tudo em que tocasse começava logo a sarar,
Sentindo a sua mão, os enfermos se animavam:
Não havia quem o não estimasse com alegria!
Só o pai parecia não reconhecer o seu valor.
XXVIII
Leve, como um veleiro que da carga
Não sente o peso e rápido vai de porto a porto,
Suportava com ligeireza o ensino paternal;
Ser obediente era o seu preceito basilar;
E tal como pelo prazer o menino, ou pela fama o jovem,
Ele só pela vontade alheia se afastou do lar.
Debalde tentou o pai novas provas conceber,
Mas quando ia a exigir, já tinha que louvar.
XXIX
Por último deu-se também este por vencido,
Reconhecendo activamente o valor do filho;
Desvanecera-se já a aspereza do velho,
E ofereceu-lhe de surpresa um cavalo de valor;
Dispensado foi o rapaz de serviços de menor,
Ostentava agora uma espada, em vez de curto punhal:
E assim adentrou ele, após tantas provas, uma Ordem,
À qual de nascimento o direito lhe assistia.
XXX
Assim poderia eu ainda dias a fio relatar,
Cousas capazes de assombrar qualquer ouvinte;
Certamente a sua vida será um dia comparada
Por descendentes às mais sublimes histórias;
Aquilo que para a alma em fábulas e poesias
Se afigura irreal, mas sobremaneira a fascina,
Aqui lhe é dado escutar e de bom grado gozar,
Duplamente feliz de o receber autenticamente.
XXXI
Perguntas-me tu como se chama esse eleito,
Esse pelos olhos da Providência escolhido?
Esse que amiúde eu louvo, mas jamais o suficiente,
E a quem tantas e incríveis cousas sucederam?
Humanus é o nome desse santo, desse sábio,
O melhor homem que os meus olhos já viram:
E a sua estirpe, tal como a chamam os fidalgos,
Deverás conhecer junto com os seus antepassados.»
XXXII
Assim o Ancião falou, e bem mais falaria,
Pois de tantas maravilhas ele era conhecedor,
E nós ainda semanas a fio nos deleitaríamos
Com tudo aquilo que nos tinha a contar;
Mas de súbito o seu falar se interrompe,
Conforme o coração bate mais forte pelo hóspede.
Retiram-se em breve os demais irmãos, voltando depois,
Até já lerem dos seus lábios o que ele quer dizer.
XXXIII
E desfrutada a refeição, sentindo-se agora Marcus
Afeiçoado ao senhor da casa e à sua comitiva,
Solicitou ainda um cálice límpido
Cheio d'água, o qual também lhe foi servido.
Em seguida conduziram-no ao grande salão,
Onde se lhe depara uma cena extraordinária.
O que ele aí viu, não deverá ficar oculto,
Conscienciosamente vos desejo narrar.
XXXIV
Nenhum adorno havia aí que ofuscasse os olhos,
Uma simples abóbada em arestas se erguia ao alto,
E ao longo das paredes treze cadeiras ele avistou,
Dispostas em círculo, qual piedoso coro,
Entalhadas com extrema arte por hábeis mãos;
À frente de cada uma estava uma pequena estante.
Sentia-se aqui a devoção como algo natural,
Bem como uma paz de vida e um convívio fraternal.
XXXV
Nas cabeceiras avistou treze escudos pendentes,
Pois a cada cadeira um deles pertencia.
Pareciam aqui não ostentar orgulho da sua casta,
Cada qual parecia imbuído de significado e intenção,
E o irmão Marcus ardia agora de anseio
Para saber o que tantas imagens ocultavam;
No centro de tudo avista então aquele símbolo
Pela segunda vez: uma cruz com ramos de rosas.
XXXVI
Coisas infindas pode a alma aqui imaginar,
Os objectos sucedem-se uns aos outros;
E elmos pendem sobre vários brasões,
Espadas e lanças também se avistam aqui e ali;
Armamentos, tais como de campos de batalha
Se pode recolher, ornamentam este local:
Aqui pendões e armas de terras estrangeiras,
E acolá, se bem vejo, até correntes e correias!
XXXVII
Cada qual se ajoelha diante da sua cadeira,
Batendo no peito, imerso em silenciosa prece;
Nos seus lábios soam curtas canções,
Das quais piedosa alegria se alimenta;
Abençoam-se agora os irmãos fielmente unidos
E retiram-se para um sono que a fantasia não perturba:
Enquanto os demais se vão, fica Marcus
Com uns poucos na sala, imerso em contemplação.
XXXVIII
Embora tão exausto, ele quer permanecer acordado,
Pois uma profusão de imagens fortemente o atrai:
De um lado, avista um dragão cor de fogo,
Saciando a sua sede em chamas selváticas;
Do outro lado, um braço enfiado na goela de um urso,
Da qual jorra sangue em borbotões ardentes;
Os dois escudos pendiam, igualmente distanciados,
À direita e à esquerda da cruz rosada.
XXXIX
Para onde quer que os seus olhos se dirijam,
Mais ele se espanta com tanta arte e grandeza,
A riqueza parece daqui premeditadamente banida,
Tudo parece ter-se simplesmente autocriado.
Deverá ele admirar-se que a obra esteja consumada?
Deverá ele admirar-se que ela fosse assim concebida?
Afigura-se-lhe como se só agora, em divino arrebatamento,
Ele tivesse começado a viver, nesse exacto momento.
XL
«Por sendeiros maravilhosos cá vieste ter",
Diz-lhe de novo com afecto o Ancião;
"Deixa que estas imagens te convidem a ficar,
Até chegares a saber o que tantos heróis praticaram;
O que aqui se oculta não pode ser decifrado,
A menos que te seja revelado em segredo;
Bem podes imaginar quanto aqui foi sofrido,
Vivido e perdido, e o quanto foi conquistado.
XLI
Mas não julgues que apenas de tempos antigos
O velho fala, pois muito aqui se passa agora mesmo;
O que tu vês, pretende muito mais exprimir;
Em breve uma cortina, e depois um véu, o ocultará.
Se te apraz, podes então te preparar:
Atravessaste, ó amigo, apenas a primeira porta;
Com amizade foste recebido no umbral,
Creio que mereces no mais íntimo adentrar.»
XLII
Após breve sono numa cela imersa em paz
Um surdo repique de sinos acorda o nosso amigo.
De pronto ele se ergue, infatigável e vivaz,
O filho do céu respondendo ao apelo à devoção.
Vestindo-se num ápice, ele corre para o umbral,
E já lhe vai adiante o coração a caminho da igreja,
Submisso e sereno, transportado nas asas da oração;
Tenta abrir o ferrolho, mas encontra-o fechado.
XLIII
E conforme escuta, repete-se a espaços iguais,
Três vezes, um golpe sobre um bronze cavo;
Mas não são horas a dar, nem sinos a soar,
E de quando em quando misturam-se sons de flauta;
O timbre, que é tão invulgar e difícil de interpretar,
Ressoa de tal modo, que o coração inunda de gozo,
Sério e convidativo, como se fossem cânticos
Entoados de passagem por felizes pares.
XLIV
Ele corre à janela, para talvez daí ver,
O que o confunde e maravilhosamente o comove;
No distante Oriente avista o dia a amanhecer,
O horizonte orlado com névoas diáfanas.
E em seguida – como acreditar nos próprios olhos? –
Uma estranha luminosidade a vaguear pelos jardins:
Três jovens ele vislumbra, com tochas nas mãos,
Percorrendo de abalada as alamedas.
XLV
Ele vê claramente o brilho dos trajes alveados,
Que graciosamente mal envolvem os seus corpos,
Avista também flores nas cabeças encaracoladas,
E rosas entrelaçadas a orlar os seus cintos;
Eles parecem estar a voltar de danças nocturnas,
Reanimados e esbeltos após jovial esforço.
Apressam depois o passo e apagam, como as estrelas,
As tochas, desaparecendo na distância.
eria oportuno esclarecer os seus enigmas.
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