domingo, 20 de setembro de 2009

Não por acaso, é exatamente essa a ambientação de Carmilla.


Pequeno conto escrito em 1872 por Sheridan LeFanu. O fato de a história se passar em um castelo no campo, aliás, contribui para o isolamento que, pode-se dizer, complica a situação de Laura, a protagonista que é atacada pelo vampiro, até a chegada de um amigo da família que alerta para a possibilidade de um ataque por parte de uma criatura sobrenatural. Destaquemos, agora, alguns aspectos importantes para se observar ao que exatamente o vampiro representa no conto de LeFanu.
Em primeiro lugar, deve-se perceber que o autor combina alguns aspectos bastante antigos do mito do vampiro com outros que parecem praticamente contempor‚neos. Por um lado, Carmilla, o vampiro em questão, só pode escolher nomes que sejam anagramas de seu nome verdadeiro (Mircalla), algo que aparecia em algumas lendas e acabou sendo deixado de lado pela maioria dos escritores. Além disso, como vemos em outros contos góticos da época (como por exemplo o próprio Drácula, cujo autor certamente leu o livro de Lí Fannu), o vampiro, apesar de ter existíncia notívaga, pode circular durante o dia, apesar de ter seus poderes bastante reduzidos nesse período. Por outro lado, como muitos observaram, o interesse de Carmilla por Laura tem conotação bastante sexual, “lembrando a paixão do amor”. Ora, a associação entre vampiro e sexo é precisamente uma das características que perdura até nossos dias. No caso de autores da época, entretanto, não devemos perder de vista que as histórias de horror permitem que se trate do sexo de um modo que não seria possível por outros meios.
Não se pode deixar de notar, também, outra característica de Carmilla que mais tarde influenciaria Bram Stoker quando ele escreveu seu Drácula: o vampiro aparece como um nobre antigo, representante de uma civilização que talvez tenha muito pouco com aquela para a qual o autor escreve. Além disso, mostra uma profunda aversão á religião instituída. Por fim, só pode ser destruído por meios que seriam considerados bastante supersticiosos pelos próprios personagens que se opõe a ele. Talvez esteja aí o ápice da tentativa de provocar aquelas sensações típicas do romance gótico, mostrando ao leitor uma situação em que seu mundo confortável com crenças bem estabelecidas, está desmoronando.
Façamos agora algumas considerações sobre o romance de Stoker. Podemos dizer de início que uma de suas maiores inovações é trazer a história para a época contempor‚nea do autor, em uma cidade bastante conhecida pelo páblico a que o livro foi destinado. Temos aí o que talvez seja uma subversão bem calculada do que normalmente vemos nos primórdios da literatura gótica, já que o autor pretende trazer para sua própria época os horrores de tempos então já idos. Drácula, além disso, é um vampiro que mescla certas características então tradicionais com outras que, bastante inovadoras, parecem ter contribuído para delimitar a imagem que hoje se faz do vampirismo. Como Carmilla, tem grande aversão por símbolos da religião instituída que, no fim das contas, mais camuflam sua vulnerabilidade a símbolos sagrados. … curioso notar a vulnerabilidade de Drácula ao alho. As propriedades medicinais da planta eram vistas de modo bastante exagerado á época, o que sugere que o vampirismo, ainda que não fosse tratado necessariamente como uma doença estava associado á morte, não á pretensão bastante humana á imortalidade que vemos nos vampiros de histórias contempor‚neas. Aliás, a associação do vampiro com o mal e com a morte é um tema que aparece de maneira recorrente ao longo do livro. Um bom exemplo de sua associação com o mal aparece na cena em que Drácula obriga Mina Harker a beber seu sangue. Diferentemente do que vemos no filme, essa cena, no livro, assemelha-se a um estupro, de modo que a ínfase é na violíncia, não no sexo (e, definitivamente, não no romance). Vale lembrar que o “estupro” em questão é apresentado simplesmente como uma força maléfica, não como um ato de uma alma torturada ou algo assim.

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