domingo, 20 de setembro de 2009
Subcultura Gótica e Vampírica.
Literatura Vampírica
São cada vez mais numerosos os livros e os filmes em que o vampiro é tratado como um ser dotado de características bastante humanas. Ainda que encontremos principalmente filmes em que ele tem por objetivo apenas matar o maior námero possível de pessoas, uma característica notável no modo como o mito do vampiro foi transformado ao longo do século XX foi justamente a sua “humanização”. Isso é visível mesmo em filmes que interessam mais pelas cenas de lutas e de ação, como, por exemplo, Underworld e Blade. Interessante notar que essa visão particular do vampiro é bastante recente e parece estar vinculada principalmente ás obras de Anne Rice e Chelsea Quinn Yarbro. … certo que elas tiveram grande responsabilidade na construção da imagem do vampiro não só como um ser bastante sedutor, o que já acontecia em alguns dos primeiros romances góticos em que essa figura aparecia, mas também, e principalmente, dotado de conflitos bastante humanos. Isso não quer dizer, evidentemente, que as duas autoras não adotem alguns dos clichís mais conhecidos das histórias de vampirismo, como por exemplo a vulnerabilidade á luz do sol.
Ocorre, porém, que ambas incorporam elementos novos bastante significativos que determinarão, em grande parte, a imagem do que depois será considerado o vampiro “padrão”. Um exemplo bastante perceptível é a maneira como, ainda que de maneiras diferentes, ambas tratam de desvincular o vampiro de certas características provenientes de uma visão cristã do mundo. No caso dos vampiros de Rice, isso pode ser notado em algumas passagens em que personagens centrais pronunciam-se céticos sobre a possibilidade da existíncia de Deus, além de não sofrerem qualquer dano quando expostos a crucifixos e a outros artefatos do gínero. Além disso, é interessante notar que a autora atribui aos vampiros uma origem pré-cristã.
Yarbro, por sua vez, vai ainda mais longe, ao fazer do sexo um aspecto bastante importante para seu St. Germain, que é acometido por enorme prazer ao tomar o sangue das várias mulheres com que se relaciona. … interessante notar que as mulheres em questão também se deleitam ao terem seu sangue drenado pelo vampiro. … importante notar que a associação entre o sexo, representado nas histórias de Yarbro pela drenagem do sangue, e a vida é algo recorrente em várias tradições pagãs, mas que o cristianismo por muito tempo buscou sufocar. Talvez não seja incorreto, então, ver aí um bom motivo para se considerar que a criadora de St. Germain seja bastante radical em sua concepção descristianizada do vampiro, já que ví aquilo que o define sob uma ótica essencialmente pagã.
Se pensarmos que o vampiro, tal como visto na Europa medieval, tinha praticamente o aspecto de um cadáver em decomposição e era, em boa parte das vezes, apenas um mecanismo de bode expiatório para a morte do gado e outros fatos do tipo, não exige esforço notar que a maneira de concebermos o vampiro foi bastante alterada desde então. Mesmo os primeiros contos góticos, aos quais autores como Rice e Yarbro certamente devem muito de sua inspiração, viam nas figuras vampíricas representações de fatores bastante diferentes daqueles que elas representam na literatura contempor‚nea. Dois exemplos que podem ser ditos paradigmáticos, Drácula e Carmilla, podem servir para ilustrar esse fato.
Para entender melhor o que está em jogo nesses dois romances, pode ser oportuno lembrar, ainda que de maneira breve, algumas características gerais que vemos nos primeiros contos góticos. De maneira geral, podemos dizer que eles procuram causar no leitor a mistura de trís elementos: o terror, ou a ameaça de dor física, o horror, ou confrontação direta com uma força repulsiva, e o misterioso, entendido aqui como a percepção intuitiva de que o mundo é muito maior do que poderíamos compreender por nossos poderes ou nossa compreensão. Talvez fosse por isso que, de maneira geral, a ambientação dessas histórias fosse tipicamente incomum. … o que vemos, por exemplo, em O Castelo de Otranto, de Walpole, considerado a primeira publicação gótica, bem como em vários outros do gínero. A atribuição do nome “gótico” a esse gínero remete ao uso de ambientações medievais e foi extraída justamente do fato de o primeiro expoente do gínero ambientar a ação em um velho castelo.
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