sexta-feira, 20 de novembro de 2009
Crianças da Noite.Capítulo 1.Do Livro.
Atrás da cortina.
“Sente-se. Relaxe. Fique calmo. Agora ouça!”
O mundo mudou! Você percebe isso? Veja, olhe ao seu redor. Observe que parece que tudo é feito automaticamente, em um ciclo vicioso que tem início no dia em que chegamos ao mundo. Deixe-me ser mais claro. Nascemos, vamos à escola, trabalhamos, formamos uma família e, no final, morremos.
Sei o que você está pensando, mas afirmo que essa é a regra do mundo em que a maioria das pessoas vive. ACORDE!
O mundo é muito mais do que essa cor cinza que vemos todos os dias.
Existe um verdadeiro universo por trás dessa cortina esfumaçada que ofusca nossos olhos. Existe magia.
Magia existe, e também há aqueles seres que conhecem e sabem utiliza-la: vampiros, lobisomens, magos e aparições.
Deve estar achando que fiquei louco, eu já passei por isso.
Aparições nada mais são do que fantasmas, espíritos errantes que por algum motivo permaneceram neste plano.
Magos são humanos. Homens, mulheres e até crianças que podem enxergar além e, dessa forma, adquiriram a iluminação.
Lobisomens são seres escolhidos para proteger a Mãe-Natureza. Eles são parecidos com as lendas que ouvimos, porém um lobisomem, ou lupino como nós os chamamos, já nasce assim, e não se torna um quando é mordido.
Ah, se eu fosse você me manteria longe dessas criaturas, e tenha certeza de que nada lhes importa, se é lua-cheia ou não.
Vampiros... os vampiros. Seres noturnos tão inteligentes e tão vaidosos.
Acredite. Eles estão por todos os lados, infiltrados nos mais poderosos governos, empresas, hospitais, departamentos de polícia, e tanto outros órgãos públicos ou privados.
Tome cuidado com eles! São traiçoeiros. Eles vivem em joguinhos de poder que interferem nos caminhos da humanidade. Existem vários tipos de vampiro. São vários clãs que dão características e poderes especiais para cada vampiro.
Como eu disse, o mundo é muito maior do que pensamos.
Sei que isto está sendo um choque para você. Mas tente se acalmar e manter a mente lúcida. Quando você se levantar, tenho certeza de que vai olhar o mundo com outros olhos.
Agora que você sabe a verdade, tenha cuidado. Tenha muito cuidado! O mundo se torna muito mais belo, porém muito mais perigoso.
Espero sinceramente que você sobreviva...
Caçada de sangue.
Geisel corria incansavelmente pelas ruas; aquela noite havia se transformado em uma louca caçada de sangue.
Latas de lixo tombadas em cada esquina atraíam alguns animais, como urubus, ratos, cachorros, um ou outro gato, mas também convidavam muitos mendigos.
Quando o homem com aparência de 26 anos passou por um beco, pôde ouvir o barulho de tapas e socos, seguidos por gritos agudos de uma mulher; provavelmente o marido da coitada estava bêbado e a espancava. Mas isso nada tinha a ver com ele – pelo menos não naquele momento em que sua própria existência estava em perigo.
Incrível como as coisas tinham mudado: há apenas algumas horas ele poderia ser proclamado o príncipe da região, e, assim, cumprir a missão que lhe fora concedida. Mas agora, graças ao maldito Belmont, seus planos haviam sido todos destruídos. Porém, aquilo não ia ficar barato; se sobrevivesse por aquela noite, sua vingança contra aquele delator seria tenebrosa – as chamas do sol seriam pouco para o que ele pretendia fazer. Mas agora precisava correr, precisava se esconder... sobreviver.
Cerca de oito quadras atrás, duas figuras totalmente opostas corriam lado a lado. Vin, um gigante musculoso, que tinha mais de dois metros de altura e devia pesar quase 200 quilos somente de músculos, vestia uma jaqueta de couro preta sobre uma camiseta cinza, na qual estava bordado o símbolo anarquista, uma calça suja e uma bota escura.
O cano de sua “12” brilhava com a luz da lua. Ao lado do gigante estava uma criança, Chuck, um garoto de 13 anos com estilo de marrento.
- Se acharmos Geisel primeiro, o príncipe Valorum ficará muito agradecido. – disse Chuck, ainda correndo ao lado de Vin.
O gigante sabia que seu companheiro tinha escutado, mas também o conhecia suficientemente para saber que nada iria tirar a sua concentração durante uma briga, muito menos durante uma caçada de sangue.
- Está escuro à beça aqui dentro. – disse Igor Moore, enquanto deslizava os dedos pela lapela de seu terno numa demonstração de puro nervosismo, verificando se ainda estava imaculadamente arrumado, mesmo naquele breu total. – Não consigo entender por que temos que esperar no escuro.
Ele sentiu um dedo áspero sobre seus lábios como resposta.
- Quieto. – veio a voz rouca de seu parceiro, em algum lugar à sua frente. – Você sabe exatamente porque estamos aqui. Se não ficarmos no escuro, então estaremos visíveis para seu pequeno inimigo Geisel. E se ele nos vir, nosso plano falhará.
Igor virou os olhos, esperando que ele não visse. “Como quiser, Mô”. Com isso, Igor Moore fechou os olhos e mais uma vez teve o pensamento de que a escuridão não era problema para a visão aguçada de seu companheiro Forasteiro.
Alguns minutos se passaram, fazendo os nervos de caçador de Mô-da-floresta ficarem a mil.
Igor sorriu e sentou-se sobre um parapeito que se projetava para fora. O concreto era incrivelmente liso e frio ao toque; ele torceu para que não houvesse muita poeira em seu caro terno quando eles saíssem daquele maldito lugar. Enquanto o tempo passava, ele ocupou-se mentalmente com projeções de algumas ações da Bolsa de Valores que estavam marcadas para o próximo mês. Assobiava enquanto pensava.
- Você precisa mesmo fazer isso? – disse Mô. – Ele vai ouvi-lo e se assustar, e então tudo isso terá ido por água abaixo. – suas palavras ecoaram de maneira oca no espaço do túnel em que eles se encontravam.
- Tem certeza de que não é porque estou ofendendo sua delicada sensibilidade?
- Não o provoque! Nosso inimigo é Geisel, não se esqueçam. – uma voz ecoou atrás de Igor. Era Richard Belmont.
Geisel continuava fugindo. Há pouco resolvera roubar uma moto, e, agora montado em uma fabulosa R1, acelerava o máximo possível.
Faróis vinham ao seu encontro ora sim, ora não, mas todos passavam reto. Ele passou por um cruzamento onde duas adolescentes de cerca de 18 anos acenavam, com uma das mãos, para ele, exibindo seus corpos, e massageando, com a outra mão, seus seios à mostra. Geisel ignorou-as e, na esquina seguinte, dobrou à esquerda, rumando para os campos.
Estava a cerca de 80 km/h, quando sua moto foi atingida por um cano, e acabou derrapando.
Geisel caiu da moto e rolou, parando a alguns metros de seu veículo. Ele se levantou rapidamente; seu sobretudo estava inteiramente rasgado. Em seu braço era possível ver os nervos; uma ferida horrível surgiu abaixo de seu olho esquerdo. Olhou rapidamente para a R1: a roda dianteira estava estourada, e o aro, todo torto. Quem ou o que lançara aquele cano o fizera com uma força sobre-humana.
Um segundo cano veio em direção a Geisel, mas dessa vez ele estava atento e desviou com facilidade.
- Eu deveria saber que se tratava de um verme como você, Rolan. – disse Geisel olhando na direção de onde viera o cano.
Uma figura alta e musculosa surgiu das sombras.
- Você está cercado.
A voz de Rolan era grossa e quase não se diferenciavam as palavras.
Geisel gargalhou.
- Você não é páreo para mim.
Rolan não respondeu. Em vez disso, sacou sua arma, uma magnífica 454 Cassull, e disparou contra Geisel.
O tiro estourou sua barriga, mas, mesmo assim, Geisel permaneceu de pé.
- Oh, que desperdício de tempo. – zombou Geisel, olhando fundo nos olhos de Rolan. Este tremeu quando viu as feridas do tombo da moto e o buraco da bala no corpo do adversário cicatrizarem instantaneamente.
Quando Rolan deu por si, Geisel estava frente a frente com ele, e um poderoso soco o atingiu.
A figura musculosa tombou para trás e se recompôs no instante seguinte. Geisel estava a uns bons metros na sua frente. Rolan cuspiu um pouco de sangue e, com os olhos fervendo de ira, partiu contra o inimigo.
Geisel estava esperando o ataque, mas, para a sua sorte, um carro surgiu derrapando na esquina, tirando a atenção do atacante. Rolan só teve tempo de rolar do lado, e logo o cano que havia jogado contra Geisel perfurou-lhe a garganta.
Geisel usou sua força para fincar o cano no chão também. Seus olhos brilharam ao ver o sangue do inimigo. Compulsivamente, cravou seus dentes no que restou do pescoço de Rolan, e saboreou o doce licor.
O líquido sagrado descia deliciosamente por sua garganta. O sangue vampírico era muito mais saboroso que um simples sangue humano. Geisel não conseguia para de sugar aquele líquido vermelho, mas também não tinha intenção nenhuma de parar, desejava beber até a última gota, e assim o fez, e quando o sangue esgotou-se, ele não parou, sugou uma vez mais. A alma amaldiçoada de Rolan deixou o próprio corpo e foi para a boca de Geisel.
Quando Geisel levantou-se, seus olhos vermelhos observaram o corpo a seus pés reduzir-se a pó. Logo depois, seus olhos voltaram ao castanho natural.
“Maldição, maldição, MALDIÇÃO!”, resmungou Vin, pulando sobre latas de lixo e correndo como um louco para frente, onde pôde ver Geisel entrando em um carro cujo alarme não parava de soar. Depois observou a moto caída um pouco à frente.
Chuck apressava-se para acompanhar o amigo. Rapidamente sacou sua pistola, seu braço quase formando um borrão em virtude da pressa. Quando o primeiro tiro ecoou, o barulho do alarme deu lugar ao som da cantada de pneu na fuga de Geisel.
Rapidamente Vin pegou seu celular e ligou.
Belmont acabara de se encontrar com mais dois vampiros, Igor e Mô, quando seu celular tocou.
Mô olhou para Belmont com censura. Tivera o maior cuidado até então para não fazer barulho, e aquele babaca esquecera de deixar o celular no silencioso.
Belmont ignorou o olhar de Mô, enfiou a mão no bolso e puxou seu celular; deixou tocar mais uma vez, como que para provocar o companheiro, e depois atendeu.
À medida que ele ia conversando ao celular, sua expressão ia se tornando mais e mais séria.
- Isso não é bom, definitivamente não é bom. – Igor sussurrava para si mesmo enquanto observava Belmont. – Ah, algo saiu errado.
Quando Belmont desligou o celular, um ar de descrença inundou o lugar.
- Geisel acabou de passar pela avenida Vargas, e, ao que parece, derrotou facilmente Rolan.
Mô agachou-se furiosamente e pensou: “avenida Vargas...”.
- Ele está fugindo para os campos. – disse por fim.
- Mas nós estamos muito longe. – resmungou Igor.
Mô deu um sorriso.
- Eu acho que não. – então, deu um assobio agudo e, não depois de 20 segundos, um pássaro, precisamente um gavião, chegou e pousou em seu braço.
Belmont e Igor observavam, enquanto Mô-da-floresta olhava fixamente nos olhos do gavião e cochichava algumas palavras. Logo depois, a grande ave voou e desapareceu na escuridão.
- Vamos! – disse Mô saindo do túnel.Juliano Sasseron.
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