domingo, 4 de abril de 2010

A Astrologia e os Imperadores Romanos.


Octávio (63 a.C.-14 d.C.), que mais tarde seria Augusto, o primeiro imperador romano, estava certa vez em sua vila Apolónia; sentia-se aborrecido porque não tinha inimigos a vencer e então resolveu consultar um astrólogo para se distrair bem como ao seu amigo Agripa.
Em obediência às ordens do grande imperador apresentou-se o celebre astrólogo Theagenes, o favorito das damas romanas. O astrólogo principiou por se referir a Agripa. Revelou-lhe um futuro cheio de maravilhas, felicidades, riquezas e triunfos.
"Então, nada sobra para mim – observou Octávio –, é inútil dar-vos a data do meu nascimento. Jamais poderei ser tão feliz como meu amigo".
o astrólogo insistiu com tal habilidade que o César, intrigado, resolveu dar-lhe a data do nascimento. Depois de alguma reflexão o astrólogo precipitou-se aos seus pés e adorou-o como o futuro senhor do universo e do Império. Octávio, cheio de alegria, espalhou por toda parte a boa nova do astrólogo e, quando a profecia se realizou e ele assumiu o poder supremo, ordenou que gravassem medalhas com os signos zodiacais e as figuras planetárias sob as quais ele havia nascido e que tanto o favoreceram para conquistar a glória.
Tibério foi a Rodes para aprender astrologia com um sábio famoso e nomeou astrólogo oficial o celebre Trasilo, de renome universal. Esse desconfiado imperador lançava mão da astúcia e dos conhecimentos da astrologia para conhecer o futuro alheio. Temendo os rivais e os traidores, mandava levantar o horóscopo dos personagens mais célebres, para ver o que neles havia de perigoso.
Assim, a astrologia era um dos seus meios de governar o Império e de conservar sua posição. Nero quis aprender a levantar horóscopos, mas desistiu por achar muito difícil; não conseguindo resultados pessoais, servia-se frequentemente do astrólogo Babilus. Sua mulher, a bela e encantadora Pompeia, vivia com o palácio cheio de astrólogos que consultava noite e dia.
Seguindo o seu exemplo as damas romanas consultavam os astrólogos a respeito dos seus amigos, suas doenças, suas frivolidades. Os satíricos da época ridicularizavam essa mania e consideravam perigosas as mulheres que consultavam a astrologia para desvendar os segredos alheios.
Certas patrícias, sob o aspecto dos astros, recusavam acompanhar seus maridos à guerra ou nas viagens; outras, doentes, não se alimentavam nem tornavam remédios senão nas horas governadas pela Lua. Outras ainda procuravam encontros amorosos, somente na hora em que Vénus se encontrasse em bom aspecto com o planeta que favorecesse o marido.
Os astrólogos da época, os mais reputados, vinham da Ásia e gozavam, junto das senhoras ricas romanas, da fama de Magos do Oriente. Eram chamados "Caldeus". As patrícias ricas tinham astrólogos particulares e consultavam-nos para tudo, mesmo nas circunstâncias mais fúteis da vida. Um romano daqueles tempos não faria uma viagem, mesmo para almoçar fora da cidade, sem saber, por intermédio do seu astrólogo, qual a hora favorável para a partida, se o almoço seria bom, se as lampreias estariam saborosas ou não, e se o vinho de Falerno seria abundante, delicioso e fresco. As damas romanas usavam e abusavam do astrólogo: era uma espécie de móvel favorito, o complemento do vestiário, o objecto de adorno, a avis rara, o porta-felicidade, enfim, um deus mais forte e venerado do que Júpiter Olímpico.
Os sucessores de Augusto também consultavam os astrólogos, mas estes não tiveram o mesmo espírito e habilidade que o famoso Theagenes soube demonstrar perante Octávio; limitaram-se a dizer toda a verdade, embora nua e crua, revelada pelos astros. Isto custou-lhes a liberdade e até a vida. Segundo Juvenal, há um meio de se fazer conhecido e aumentar o renome. Não há nada de novo sob o sol, "nil novi sub sole": é o que se dá ainda com os políticos e a maior parte dos astrólogos.
Para se atingir o brilhante sol da glória é necessário que se fique na sombra. O grande satírico latino dí-lo com inimitável malícia: "Um astrólogo, nos nossos tempos, não terá fama enquanto não for acorrentado e não tiver dormido nas palhas das prisões. Se tu não tiveres sofrido condenação, ó caldeu, ó adivinho, ó astrólogo, ó feiticeiro, não passarás de um homem vulgar; mas se já escapaste da pena de morte, ou se, por um favor insigne, o édito de César te condenou ao exílio nas ilhas Cíclades, as damas romanas e as patrícias ficarão loucas por ti; haverá brigas e, onde fores, oferecer-te-ão refeições e bebidas que te arredondarão a pança." (Juvenal – Sátira VI).
Examinemos os outros césares. O guloso Vitélio (15-69 d.C.) detestava os astrólogos; chegou a publicar um édito para os expulsar de Roma. Os astrólogos, então, predisseram que o César sairia deste mundo antes que eles saíssem da cidade; isto aconteceu, de facto, pois, antes do fim do ano, César foi assassinado.
Vespasiano também os perseguia; entretanto, não desprezava as predições do celebre Babilus e recorria sempre aos horóscopos.
O amor às ciências ocultas e, em particular, à astrologia, custou caro a Septímio Severo. Tinha perdido a esposa e, desejando casar-se novamente, mandou levantar os horóscopos das jovens mais dotadas de beleza e, sobretudo, das mais ricas. Os temas natais indicaram-lhe que nenhuma das raparigas em questão possuía a fortuna que desejava. Todavia, um astrólogo informou-o que havia, na Síria, uma linda jovem a quem os astros lhe reservavam um rei como esposo. Severo ainda era um simples general, mas apressou-se em pedir a mão da jovem, tão favorecida pela sorte. O pedido foi aceite. Mas, uma duvida surgiu no espírito do general. Se a jovem fosse um dia coroada, participaria ele, Severo, dessa coroação, teria ele sucesso? Cruel angústia! Somente um astrólogo poderia solucionar a dúvida e Septímio, sabendo que na Sicília havia um sábio de renome, para lá se dirigiu. Mas o império romano estava a ser governado pelo louco e feroz Cómodo (161-192 d.C.). Este, sabendo que o seu general seria um dia o seu sucessor, resolveu mandar cortar-lhe a cabeça. Felizmente, Cómodo foi estrangulado antes disso. Um astrólogo já havia prevenido Septímio Severo e dito que ele e Júlia, sua esposa, ocupariam o seu lugar no trono dos Césares.
Como se vê, a astrologia não é uma ciência vaga e exige muito cuidado, trabalho e intuição para que se possa ler e dizer exactamente o que se acha anunciado pelos astros. Rev.R.Cruz. nº 368.

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