quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Meu Anjo da Morte.


Eu o vejo de cócoras,

ouvindo com atenção suprema os meus soluços e passos,

pressentindo a minha presença com o seu poderoso olfato de serpente.

O cabelo longo, escorrido nos ombros, delineia-lhe o rosto caboclo,

deixando exposta suas sobrancelhas grandes e lisas.

Seus olhos, no entanto nada vêem, de nada lhes serve.

Apenas, com um negror melancólico,

adorna uma face enrijecida pela insensibilidade.

Vez por outra o seu odor de flores murchas, invade minhas narinas,

denunciando a sua vigilância que se oniscientiza à minha volta,

pelo farfalhar de suas hábeis asas.

Não o temo, apesar de saber que carrega no silêncio de seus lábios

o segredo da minha hora.

No entanto em certos momentos me revolto com a sua presença constante

refletida nos quadros presos da parede sem vida,

parecendo querer insinuar a perpetuação dos meus ideais.

Meu anjo é assim.

Às vezes cansa-me com as suas mudas mensagens,

e em momentos de profunda angústia, sabendo-se querido,

escapa-me com espetacular desenvoltura,

indo postar-se à minha frente com um sorriso irônico,

como a zombar da minha impaciência.
Isa Cavalcante.

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