domingo, 9 de agosto de 2009

A MAGIA CIGANA.

A integração dos ciganos com a natureza é permanente, obrigatória sob um ponto de vista imprescindível sob outro. Dizemos que é obrigatória, pois com sua vida andarilha, suas caravanas muitas vezes viajando sem rumo absolutamente determinado, sua ânsia constante de viver de modo livre e aventureiro, onde mais montar suas barracas, arranjar seus acampamentos, arrumar suas bagagens pelo menos durante um certo período de tempo, senão a céu aberto, “dentro” da natureza, tudo muito próximo a rios, cachoeiras ou outros remansos de água – doce , de que eles necessitam para cozinhar, lavar as roupas, se banharem? Por esses fatos e pelos conseqüentes de uma maneira de viver nômade, é bastante fácil compreender a obrigatoriedade do convívio entre os ciganos e a natureza.
A natureza é a generosa doadora da própria sobrevivência cigana. Nela o povo cigano busca os mais variados tipos de alimentos e água, líquido precioso de sustentação da vida. É verdade, que quando passam pelas cidades, compram gêneros alimentícios, tecidos, ferramentas e outros bens necessários, mas a natureza que referenciam o principal apoio de vida. Todavia, o povo cigano não entende a natureza somente como a doadora dos elementos fundamentais como alimentos e água, mas como fonte inesgotável de energia. Aí começa o lado mágico da natureza cigana por assim dizer, o fundamento etéreo da vida, o lado abstrato muitas vezes não compreendido racionalmente pelos próprios ciganos.
Eles entendem em vários aspectos, que a natureza é que fornece a vitalidade, o frescor da vida renovada a cada dia do ponto de vista da troca energética. Do céu, dos astros do firmamento, do Sol, da Lua em suas diferentes fases, desce a energia positiva de Deus, a força divina mantém o homem em pé, apto ao trabalho, às caminhadas, a geração de filhos e a todos os tipos de alegrias, sensações, emoções e sentimentos. A terra, o solo onde pisam propositalmente sem sapatos é a Mãe-Terra, que recebe sem recusas e sempre aberta a todas as energias negativas, os temores, as angústias de um povo tantas vezes perseguido, as tristezas e os desconsolos que maltratam a alma e o coração. A terra abençoada, que recebe sem reclamos os despojos daqueles que dormem nos braços da morte, transformando-os em formas de vida.
Os ciganos não são politeístas. Adoram e veneram um só Deus, mas tal como vários povos que viveram e vivem em estreito contato com a natureza, vêem as naturais manifestações desta como divindades. Assimilam dos astros do céu, abençoam e pedem bênçãos à chuva, as águas dos rios, das cascatas, riachos, cachoeiras, às árvores das matas, respeitando os trovões, a força devastadora dos raios e o fogo, que aquece, protege e purifica.
Os ciganos admiram os pássaros, as flores, os animais, toda a forma de vida que brota da natureza, pois entendem que a todos são maneiras de Deus se revelar aos homens, sendo tratados portanto com carinho e respeito. Eles compreendem que o ar é energia vital, o elemento vivificante da vida e oram para que as ventanias, tufões e vendavais não destruam seus acampamentos e seus lares-tenda.
Existe idéia enganosa de que os ciganos temem as águas do mar, o que é uma perfeita bobagem. Eles singraram os mares nos tempos das colonizações, inclusive a brasileira, em caravelas e muitos deles viviam nestas embarcações como prisioneiros condenados colocando a força de seus braços nos remos, que moviam estes barcos (para um cigano a prisão é a pior coisa em sua vida que possa existir, preferem morrer do que ficar sem a liberdade que é o que mais prezam).
A verdade é que as águas salgadas não tinham serventia para beber, cozinhar, lavar as roupas etc., então eles procuravam ficar sempre próximos a locais de água – doce . Segundo seu conceito mágico da natureza os ciganos reverenciam as águas do mar e as deidades que nelas habitam, pois muitos trabalhos de magia são feitos nas areias do mar, para os ciganos as águas salgadas têm a função de fazer a limpeza energética de todos os seres do planeta que nele habitam.
Os ciganos respeitam e reverenciam os quatro elementos, terra, água, ar e fogo, cultuando os elementais ligados a estes elementos. Eles podem não chamar os elementais pelos nomes tão em voga atualmente (gnomos, duendes, fadas, sílfides, salamandras, ondinas, nereidas, sereias), mas admitem sua existência e importância. Sendo místicos do jeito que são, não deixariam de reconhecer nos elementos e nos elementais, uma força extraordinária, real e auxiliadora, tanto que nos seus trabalhos mágicos não deixam de pedir permissão a eles, para a manipulação das energias da natureza.
O povo cigano também acredita em presságios e avisos provenientes da natureza e de seus elementos. Na verdade, eles são muito inteligentes a ponto de identificarem as mensagens oriundas das forças naturais e tomarem seus cuidados e prevenções, Eles são meteorologistas natos não necessitando de instrumentos ou outras sofisticações para saber quando vai chegar uma tempestade, uma nevasca, ou um sol de rachar. Sabem reconhecer quando há água por perto, ou a viagem prosseguirá em terreno árido e seco. Pressentem os perigos das selvas, das matas pelos movimentos dos animais, pela revoada dos pássaros e outros sons peculiares da natureza.
É sábio o povo que sabe ouvir a natureza, convivendo com ela pacífica e respeitosamente, e nisto o povo cigano é mestre. O convívio harmonioso, que de certa forma podemos dizer que um cigano é mais uma das manifestações da Mãe Natureza ou Natureza travestida na forma humana, sinônimos, mãe e filho, ou ainda, uma expressão mais abrangente, uma autêntica família. Por isso a Vida Cigana é mágica

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