quinta-feira, 3 de setembro de 2009

PERSÉFONE-A RAINHA DO INFERNO.


Veremos nesse mito uma comum e infeliz experiência que inibi a potencialidade da energia feminina. O mito da deusa Perséfone é um arquétipo através do qual todos lidam com ele, consciente ou inconscientemente.
Perséfone, a donzela da primavera, se alegrava nas campinas de Nisa brincando com as ninfas do Oceano; colhiam flores misturando violetas, íris, rosas, jacintos e lírios. Estava na companhia de Atená e de Ártemis, se afastando, foi atraída por um magnífico narciso (Nárkissos). Enquanto o contemplava e já embriagada pelo perfume estupefaciente (nárke) da flor, o solo se abriu a seus pés e Hades, o deus do mundo subterrâneo, apareceu em sua carruagem, puxada por imortais cavalos, tomou-a nos braços e a levou para ser sua noiva. De nada adiantou seus gritos, pois o próprio Zeus avia consentido nesse rapto.
Em sua inocência estava alegre a contemplar a vida quando foi raptada para habitar no Mundo Inferior. O deus Hades, simbolismo aqui do Animus hostil que consuma a flor virginal, o caráter natural do desenvolvimento infantil é obstruído por fenômenos que fogem ao domínio da jovem deusa. Um outro fator é o entorpecimento com o "Nárkissos", possuidor de um perfume venenoso (narcótico), representando a esterilização energética do indivíduo.
Ela estava acompanhada de Atena e Ártemis, são deusas de forte caráter de independência, de se fazer valer por si mesma. Podemos entender como referências de comportamento ( Personas ) de potencialidades a serem incorporada no ego, ou já existente, mas sem condições de manifestarem-se. Porém forças ctônicas lhe aprisionou - em termos da desempenho humano entende-se como experiências de caráter neurótica oriundas do meio. A Persona de Atená e Ártemis não podem ser desenvolvidas devido a forte masculinidade tirânica de Hades, a presença de forças de um meio hostil, tornando-a sujeita a potências do mundo inferior - o inconsciente. Neste caso, para o desenvolvimento da Individuação, há a necessidade do resgate do mundo infernal, transcender o sofrimento inevitável que se passou na inocência primária de estabelecimento da estrutura de personalidade.
Não podemos desconsiderar que Perséfone tornou-se a rainha do mundo infernal, afinal, ela é uma deusa – ciente de seu real valor - não é como uma simples mortal que necessita se auto-afirmar, se fazer valer no mundo. Ela é por si mesma, apenas, devido à violência de Hades, suas potencialidades foram desviadas, porém não foram perdidas. E quantas Perséfone inconscientes de suas potencialidades, não existem por aí; sendo excelentes mães e donas de casa que se desdobram para se fazer valer sob o pátrio poder de seu Hades? Quantas mulheres infernizadas no mundo patriarcal, desconhecem seu desejo? É pena que as que conseguem submergir desse mundo, ao invés de manifestarem seu esplendor, reproduzem a caótica referência de Hades.
A deusa Perséfone necessita ser descoberta não apenas pelas mulheres, os homens necessitam dela para serem mais criativos, sensatos e mesmo mais humanos; mas quando isso inicia-se, as forças da cultura de Hades surgem carregando-o involuntariamente.

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