contos sol e lua

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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A DOR MORA AO LADO.


Mas eu não me importo. A maioria das pessoas também bebe dessa indiferença. Eu não sei se ficamos alheios às dores de tantas almas porque não buscamos saber ou não sabemos porque a correria da vida, a estafante busca pelo amanhã leva o homem a achar que sempre a sua dor é maior que a do seu semelhante, de um amigo, de um desconhecido perdido entre a poeira da vida.
Os sonhos de glória nas grandes cidades, os traumas da alma, as emboscadas da vida, estão tornando o ser humano cada vez mais impessoal, cativo dos seus próprios interesses, de seus reservados e impertubáveis momentos.
Escravo da necessidade de voar atrás do mágico bálsamo que vai aliviar seus infortúnios, seus medos, suas angústias, virou refém da ânsia de procurar as estradas que possam dar no nascedouro da sua própria felicidade, sem se preocupar com as dores alheias, sem sentir o aroma da solidariedade.
Será que a emboscada das saudades que me assaltam no meio da noite são sempre maiores que do vizinho que mora ao lado? Não sei. E como vou saber se não pergunto, se não me interesso em saber? Será que as incertezas do meu futuro são tão mais continuas que as de tanto que trabalham ao meu lado. Como vou sentir? Se, inconseqüente, penso somente em mim, no meu destino.
Será que a primeira luz da manhã que vem enxugar as minhas lágrimas, vai também enxugar as de quem está tão perto de mim? Como vou descobrir? Se só olho para frente. Se o lado esquerdo do meu coração é um depósito de dor e o direito é um templo fechado, cujos batimentos ficam a cadenciar o amor que sinto somente por aqueles que me são mais caros, pela mulher que amo, pelos amigos do peito.
Será, se o que falo para poucas pessoas, que nem mesmo sei se escutam, alguém também não tem vontade de soltar o grito para que meus insensíveis ouvidos virem os almoxarifados das suas dores. Como saber? Se só escuto os sussurros dos maus ventos que nas suas idas e vindas ficam a repetir o alarido das minhas próprias palavras.
Será que fui só eu que tracei planos para um futuro, que não via vazios, que não sabia que ia ser sabotado pela caravana do destino? E o parceiro do lado? É tão desprendido da vida que pouco ou quase nada lhe perturba o amanhã? Como perceber que seus desejos também não foram podados, se não me preocupo com seus pesadelos, com seus insípidos amanheceres.
Será que só a minha vida conheceu perdas irreparáveis. Será que só eu tenho uma janela aberta para a vida e uma porta sempre escancarada para a eternidade? Como sofrer pelo meu semelhante? Se não rebusquei seu passado, se não bisbilhotei suas perdas, se não tentei espiar pela sua porta entreaberta.
Será que só eu percebo que tenho caminhado porque Deus tem segurado nas minhas mãos, ensinando-me a rescrever minha vida, apagar minhas desesperanças? Como navegarei no mar da sensibilidade de quem anda ao meu lado se não vejo seus lábios clamarem por conforto espiritual, suplicando com fervor as orações que sobem aos céus, se não estanco o passo para, juntos, realizarmos um pacto de fé, de partilha, de solidariedade?
Como, afinal, posso escrever sobre amizade, se ao meu lado alguém sofre com a sua alma em retalhos e eu não me preocupo em saber a extensão da sua dor?Wikepédia.

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