contos sol e lua

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Os Versos de Ouro de Pitágoras.



Os Versos de Ouro, tradicionalmente atribuídos a Pitágoras (c. 580 a.C - 500 a.C), constituem um documento de valor inestimável e que, apesar de escritos há cerca de 2.500 anos, mantêm total actualidade.
Não se sabe, ao certo, quem foi o seu autor, mas é Lísis[1] quem parece reunir maior consenso entre os estudiosos. A cópia mais antiga que chegou até nós é de Hierocles de Alexandria[2], da qual foram feitas diversas traduções para línguas modernas, as quais, no entanto, apresentam algumas diferenças.
Preparação.

1. Primeiro, adora os Deuses Imortais, como eles estabeleceram e ordenaram na Lei.
2. Reverencia o Juramento, e a seguir os Heróis, plenos de bondade e luz.
3. Honra igualmente os Demónios Terrestres prestando-lhes o culto que lhes é legalmente devido.
Purificação.

4. Honra igualmente os teus pais, e aqueles que te são mais próximos.
5. De todo o resto da humanidade, faz teu amigo aquele que se distinguir pela sua virtude.
6. Ouve sempre as suas pacíficas exortações, e toma como exemplo as suas virtuosas e úteis acções.
7. Evita tanto quanto possível odiar os teus amigos por faltas insignificantes.
8. E compreende que poder é um vizinho próximo da necessidade.
9. Sabe que todas estas coisas são como as disse a ti; e habitua-te a superar e a vencer estas paixões:
10. Primeiro a gula, preguiça, luxúria e ira.
11. Não faças nada de mal, nem na presença de outros, nem em privado,
12. Mas acima de tudo, respeita-te a ti mesmo.
13. A seguir, observa a justiça nos teus actos e nas tuas palavras,
14. E não te habitues a comportares-te em todas as coisas sem regra e sem razão,
15. Mas considera, sempre, que é ordenado pelo destino que todos os homens morram,
16. E que os bens da sorte são incertos; e que como podem ser adquiridos, assim podem ser igualmente perdidos.
17. No que concerne a todas as calamidades que os homens sofrem pela divina fortuna,
18. Suporta, com paciência, o teu fado, seja ele qual for, e nunca te lastimes,
19. Mas esforça-te no que puderes corrigir.
20. E leva em consideração que o destino não envia a maior porção destas desgraças aos homens bons.
21. Há entre os homens muitas formas de raciocinar, boas e más;
22. Não os admires nem os rejeites com muita facilidade.
23. Mas se forem ditas falsidades, ouve-os com suavidade, e arma-te com paciência.
24. Observa bem, em todas as ocasiões, o que te vou dizer:
25. Não deixes que nenhum homem, seja por palavras, seja por actos, te seduza,
26. Nem te seduzas tu ao dizeres ou fazeres o que não for proveitoso para ti mesmo.
27. Informa-te e delibera antes de actuares, para que não cometas acções disparatadas,
28. Porque isso é próprio de um homem miserável: o falar e actuar sem reflectir.
29. Mas faz o que mais tarde te não afligir nem te causar arrependimento.
30. Nunca faças nada que não compreendas.
31. Mas aprende tudo o que tens obrigação de conhecer, e assim levarás uma vida feliz.
32. De nenhum modo neglicencies a saúde do teu corpo;
33. Mas dá-lhe bebida e comida na justa medida, e exercita, também, o que de tal tiver necessidade.
34. Por medida quero dizer o que te não incomoda.
35. Habitua-te a um estilo de vida simples e decente, sem ostentações.
36. Evita tudo o que suscitar inveja,
37. E não sejas perdulário sem motivo, como alguém que não sabe o que é decente e honroso.
38. Nunca sejas cobiçoso nem avarento; a justa medida é excelente nestas coisas.
39. Faz apenas aquilo que não pode ferir-te e pondera cuidadosamente antes de o fazeres.

Perfeição.

40. Nunca permitas que o sono feche os teus olhos, depois de teres ido para a cama,
41. Até teres examinado, com a tua razão, todas as tuas acções do dia:
42. Em que é que eu errei? O que é que eu fiz? O que é que eu não fiz e que devia ter feito?
43. Se neste exame achares que fizeste mal, repreende-te severamente;
44. E se fizeste algo bom, regozija-te.
45. Pratica minuciosamente todas estas coisas; medita bem nelas; deves amá-las com todo o teu coração;
46. Elas irão pôr-te no caminho da virtude divina.
47. Eu o juro por aquele que passou para as nossas almas a Tetraktis Sagrada, a fonte da natureza, cuja causa é eterna.
48. Mas nunca deites mão a nenhuma obra antes de teres, em primeiro lugar, rogado aos deuses que aperfeiçoem o que vais começar.
49. Quando fizerdes disto um hábito familiar,
50. Conhecerá a constituição dos Deuses Imortais e dos homens.
51. Verás quão extensa é a diversidade dos seres e aquilo que os contém e os mantém presos;
52. Igualmente saberás que, de acordo com a Lei, a natureza deste universo é semelhante em todas as coisas;
53. Deste modo não terás de esperar o que não deves esperar; e nada neste mundo te será oculto.
54. Igualmente saberás que os homens lançam sobre si mesmos as suas próprias desgraças, voluntariamente, e por sua própria e livre opção.
55. Infelizes que eles são! Nem vêem nem compreendem que o seu bem está junto deles.
56. Poucos sabem como se livrar das suas desgraças.
57. Tal é o fado que prende a humanidade, e lhe rouba a consciência.
58. Como grandes ondas, rolam de um lado para o outro e oprimem-se com males inumeráveis.
59. Pois uma luta fatal, inata, persegue-os por toda a parte, sacudindo-os para cima e para baixo; nem eles percebem isso.
60. Em vez de provocarem e excitarem isso, deviam evitar isso tornando-se úteis.
61. Oh! Zeus, nosso Pai! Se não libertares os homens de todos os males que os oprimem,
62. Mostra-lhes de que demónios se devem servir.
63. Mas toma coragem; a raça do homem é divina;
64. A natureza sagrada revelar-lhes-á os mais recônditos mistérios;
65. Se ela te revelar os seus segredos, facilmente realizarás todas as coisas que te recomendei
66. E pela cura da tua alma, libertá-la-ás de todos os males, de todas as aflições.
67. Mas abstém-te de carnes que nós proibimos nas purificações e na libertação da alma;
68. Faz uma distinção justa das mesmas e examina bem todas as coisas.
69. Deixando-te, sempre, guiar e ser dirigido pela compreensão que vem do alto e que deve segurar as rédeas,
70. Quando, tendo-te despojado do teu corpo mortal, chegares ao mais puro Éter,
71. Serás um Deus imortal, incorruptível e a Morte não mais terá domínio sobre ti.
António Monteiro.

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