contos sol e lua

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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

UMA CRISE DE AMOR.


Quando um grupo de duendes, à medida que surgiam da floresta, contemplou essa visão sem precedentes e se deparou com Jimmie carregando seu pequenino amigo duende em seus braços, demonstraram todos uma grande excitação.
Tão natural e exatamente como agiriam os seres humanos, eles chegaram à conclusão de que, pelo menos, um duende tomara-se um traidor de sua gente e de seus familiares. Rodearam Jimmie, permanecendo em uma certa distância e começaram a chamar por seu pequeno companheiro em sua própria língua, que Jimmie reconheceu ser uma espécie de língua universal, mas, mesmo assim, não podia inteirar-se do que eles diziam.
Porém, seu pequeno amigo compreendeu e demonstrou inconfundível indício de tristeza. Finalmente, quando as acusações se tornaram ásperas demais para suportá-las, ele pulou dos braços de Jimmie e correu diretamente para o duende que parecia ser o chefe do grupo. Então, começou a explicar o ocorrido. Jimmie pôde segui-lo perfeitamente, embora ele falasse mais rápido do que qualquer francês que já ouvira falar. Os poderes de gesticulação da criaturinha eram maravilhosos.
Representada diante dele e acompanhada pela apresentação verbal mais rápida que jamais ouvira, Jimmie se deu conta de toda aquela aventura. O pequenino duende daria um incomparável ator se pudesse ser atraído para um palco e possuísse um corpo material. A surpresa com os horríveis elementais; a busca desesperada por onde escapar; a grande luta e o terrível desgaste que rapidamente abria caminho para a certeza da morte; as contorções e os gestos agressivos do círculo hostil ao seu redor; o desespero que se apoderou dele quando cada tentativa para escapar era impedida; depois o grande alívio quando, repentinamente, este grande gigante humano, com essa incrível força de vontade humana colocou-se ao seu lado e tomou sua defesa nessa luta desigual “Vejam”, gritou o duende finalmente, “está tudo bem. Ele é meu amigo. Vejam.”
Neste momento, seu entusiasmo apoderou-se dele e, com um salto enorme, pulou exatamente no ombro de Jimmie e começou a saltar de um ombro para o outro dando, de vez em quando, um tapinha amoroso na cabeça de Jimmie cada vez que saltava por cima dela. Por ele ser uma entidade etérica, isso não provocou nenhum incômodo a Jimmie e era evidente que o grupo de duendes divertia-se imensamente com isso.
Aproximaram-se um pouco mais e Jimmie estava consciente da mudança de atitude de todos eles pelos olhares amistosos que lhe dirigiam, pelo sorriso constante com o qual o cumprimentavam e pelo bom humor com que falavam com seu ativo amiguinho.
Geralmente as vibrações da raça humana são ofensivas para esses pequenos seres pelo fato que a maior parte dos humanos, devido à sua linha habitual de pensar e agir, acumula em seus corpos etéricos grande quantidade de matéria etérica totalmente indesejável.
Em grande parte, isto também é aplicável a seus corpos de desejos e como os duendes estão no limite entre os dois reinos, são muito afetados adversamente por essa razão.
Jimmie não sabia exatamente como proceder e, por isso, fez o que lhe pareceu ser o mais natural possível, sentou-se em um tronco e esticou suas pernas. Um dos duendes mais corajosos, após várias simulações, correu e pulou sobre seus pés tocando um deles levemente com seu próprio pé. Descobrindo que mesmo assim, ele não se machucava, pulou novamente, desta vez aterrisando no pé de Jimmie e imediatamente pulando de volta.
Entretanto, muitos deles haviam subido ao alcance de seus braços e estavam falando sobre ele nas suas vozinhas estranhas e agudas, enquanto ele sentia muitos toques em suas costas e pequenos beliscões em seu cinto e camisa. Isso era perfeitamente possível mesmo que esses pequeninos seres não estivessem no plano físico. Esta incongruência aparente só ocorreu a Jimmie algum tempo depois, pois quando vemos que uma coisa realmente existe, aceitamos o fato sem questionar, jamais parando para considerar que, de acordo com todas as teorias e razões, o fato deveria ser apenas uma fantasia.
Diga-me, Buster - Jimmie disse para o pequeno duende que ele havia salvo dos ele mentais - Qual é o problema com seus amigos? Parece que estão com medo de mim. Diga-lhes que não os machucarei.
Oh, eles são bobos! Estão com medo. Você não vai machucá-los. Você é um amigo.
Começou uma arenga apaixonada em sua própria linguagem e o resultado foi que três duendes vieram e sentaram-se nas botas de couro de Jimmie, enquanto alguns outros aproximaram-se até onde seus braços podiam alcançar, mas percebia-se que estavam prontos para saltar a qualquer momento.
Jimmie sentou-se imóvel, não mexia um só músculo, exceto para falar com Buster, cujo verdadeiro nome ele perguntou em vão, pois a pequena criatura parecia estar orgulhosa do nome que carinhosamente Jimmie lhe dera e a todas as perguntas contestava que Buster era seu nome e que não tinha outro.
Aos poucos a conversa e as garantias de Buster surtiram efeito e o resto dos duendes começou a perder o medo desse ser humano que salvara seu companheiro de um destino tão horrível. Aproximaram-se e demonstraram mais interesse na conversa e Jimmie aproveitou para perguntar a Buster o que teria acontecido a ele se os elementais tivessem ganho a luta. Não tinha a certeza se a morte era possível para um ser que não possuísse corpo físico. Mas o grande alívio e gratidão que Buster havia demonstrado, tomou claro que um resultado adverso do combate teria sido, pelo menos, altamente desagradável para o duende.
Mas Buster não queria pensar no que poderia ter acontecido. Aparentemente não gostava de usar sua imaginação. Como uma criança que só deseja brincar, tomava-se impaciente com qualquer tentativa de fazê-lo pensar seriamente e só se interessava pela diversão na qual estivesse engajado no momento. A irrespon­sabilidade parecia ser a nota-chave de seu caráter e a concentração sobre qualquer coisa, a não ser que estivesse interessado, era-lhe aborrecida. Jimmie finalmente desistiu de tentar e decidiu tornar-se amigo do resto do grupo.
Nisto foi muito bem sucedido, pois os duendes, de imediato, perderam o medo dele e colocaram-se ao alcance de seus braços sem observá-lo, pois não receavam mais qualquer movimento hostil.
Buster - disse Jimmie ao final - diga-me por que seu povo tinha medo de mim. Que mal poderia fazer-lhes?
Olhe - respondeu Buster - sua força de vontade é muito vigorosa. Essa é a razão. Eles não o conheciam como eu o conheço.
Só depois de muitas perguntas foi possível entender a razão da timidez dos duendes, e Buster, com a ajuda de outros que tomaram parte na conversa, finalmente esclareceu Jimmie sobre a causa da má vontade de seu povo em relação à associação com mortais.
Parece que não só as vibrações humanas são geralmente muito desagradáveis aos duendes, mas também a força de vontade humana é tão vigorosa que quando é inteligentemente direcionada, freqüentemente são incapazes de resistir a ela. Isso os torna temerosos da proximidade dos homens, pois alguns seres humanos são dotados de uma ligeira clarividência e, algumas vezes, os clarividentes não são os membros mais avançados da raça. Assim, um mortal de grau inferior, com um pouco de poder clarividente, pode tornar-se muito desagradável para os duendes.
Também foi informado que o contato com um ser humano lhes dá, de certa forma misteriosa, um acréscimo de poder de se tornarem desagradáveis, se esse mortal assim o desejar. Por essas explicações, Jimmie pôde compreender por que os duendes ficaram tão horrorizados ao verem Buster em seus braços e a amizade que reinava entre os dois.
Desde então, toda a reserva foi posta de lado e o grupo imenso de duendes divertia-se pelo conhecimento adquirido sobre o homem. Subiam nele, sentavam-se em sua cabeça, pulavam em seus pés e foi com considerável dificuldade que Jimmie conseguiu parar um e fazer-lhe algumas perguntas. Era como se sua inteli­gência os fizesse semelhantes às crianças - eram capazes de falar e de compreender uma linguagem simples, mas totalmente incapazes de qualquer esforço mental como acontece com uma criança de seis ou sete anos. Mas também como as crianças, seu amor e confiança, uma vez dados, eram sem reservas.
Jimmie passou uma tarde muito agradável com seus amiguinhos até que a aproximação de alguns colhedores de frutos da floresta alarmou-os e eles fugiram depois de fazerem-no prometer outra visita. Havia chegado à conclusão de que para obter maiores e reais informações sobre os duendes, deveria buscar outra fonte além deles. Era a primeira vez que entrava em contato com os Espíritos da Natureza ou elementais. Resolveu averiguar mais sobre eles, uma vez que era evidente que ao encontrá-los vislumbrou outras das mansões da Casa de nosso Pai, que está tão plena de maravilhas.
Quando os duendes sumiram, regressou à sua casa caminhando lentamente e repassou em sua mente as coisas que escreveria em sua próxima carta a Louise e pensando um pouco, também, como ficaria feliz quando ela voltasse novamente para casa por a guerra ter terminado e a paz finalmente declarada. Ele teria que trabalhar muito para compensar o tempo perdido e ganhar o dinheiro para adquirir a casinha que tanto queria. E também a grande obra não deveria ser esquecida, pois precisava planejar, de alguma maneira, a forma de alcançar o maior número possível de pessoas que estão tão ávidas por uma migalha de conhecimento espiritual, e que, freqüentemente, são alimentadas com pedregulhos em lugar de migalhas. Afinal, o mundo era um bom lugar para viver, sobretudo para quem quiser trabalhar, e começou a sentir a sensação de alegria, que é a recompensa de todo trabalhador zeloso, pela qual pode-se imaginar a bênção que há de ser a parte dos grandes Irmãos da Luz que empregam sua energia no serviço pela humanidade, renunciando ao descanso e à própria paz no céu para servir.
Enquanto retomava, recapitulou tudo como em uma espécie de sonho, tão fascinado estava pelas esperanças e planos que havia feito e pelos castelos no ar que havia construído. E, através de tudo isso, corria aquela perigosa veia de vaidade que, com tanta freqüência, se insinua juntamente com outras e mais grosseiras formas do mal e que deveríamos esforçar-nos por lançar fora. Ainda não tinha consciência que era vaidade, mas, se tivesse parado para analisar, perceberia que todos os seus sonhos estavam firmados naquilo que ele faria, no serviço que ele executaria, e que aí faltava aquela grande qualidade do trabalhador devotado, isto é, um agradecimento ao Mestre por ter-lhe dado a oportunidade de servir.
É a diferença sutil entre a alegria louvável do serviço e o orgulho injustificável do serviço que, com freqüência, faz nossos depósitos na tesouraria celestial serem de humilde prata ao invés de régio ouro.
Mas Jimmie não tinha consciência deste sinistro contexto que corria através da urdidura de seus sonhos. Apoiava-se na felicidade que esperava possuir e também na possibilidade de poder voltar para a França antes do “espetáculo” terminar, pois cobiçava uma das medalhas de mérito e estava decidido a obter urna ainda que tivesse de capturar, sozinho, todo um exército alemão. Neste momento, não podia deixar de sorrir para si mesmo, pois sua imaginação apresentava-lhe quadros onde conduzia à sua frente toda uma companhia de “Fritzies”, e com esse sorriso, voltou para a terra novamente.
Foi um Jimmie feliz e entusiasmado que regressou ao quartel naquela noite, cantando uma canção que havia sido uma das favoritas nas trincheiras e, literalmente, estava borbulhando de esperança e irresponsabilidade. E lá estava, sobre sua mesa, uma carta da França, de Louise.
Pegou-a rapidamente e sentiu uma pequena inquietação por ela ser tão leve, mas esta impressão foi semiconsciente quando rasgou o envelope em sua ânsia de saber o que a carta continha.
Seu rosto transformou-se ao ler as primeiras linhas e a carta pendeu de suas mãos. Não disse nada, mas apoiou-se na parede. Depois de alguns minutos apanhou a carta do chão e leu-a outra vez. Era cruelmente curta.
Prezado Sr. Westman”, dizia, “estou prestes a voltar para casa no próximo navio e escrevo-lhe para que não mais envie cartas para a França. Pensando melhor estou convencida que nosso compromisso não foi o resultado de um conhecimento suficientemente longo, assim, deixo-o livre e penso que seria melhor deixar o caso terminar aqui.
Espero não receber mais cartas suas e tenho a certeza que respeitará meus desejos e que irá esquecer que eu, algum dia, entrei em sua vida. Com os melhores votos por sua felicidade futura, .”
Jimmie sentiu-se atordoado. As outras cartas que recebera de Louise eram geralmente curtas, pois sabia que ela trabalhava muito e desculpava-se por isso, mas, naquelas cartas curtas, quase notas, ela jamais havia escrito uma palavra de arrependimento pelo compromisso que tinham assumido. Motivos de toda espécie passaram por sua mente, mas eram rejeitados por serem indignos dele ou de Louise.
Talvez houvesse encontrado alguém a quem amasse mais. Essa era uma possibilidade, admitiu para si mesmo, mas não explicava o tom lacônico e a rispidez da carta. Talvez tivesse - Oh!
Não podia acreditar que ela realmente tivesse escrito o que transmitiu. No entanto, se não escreveu o que realmente passava por sua mente, por que escreveu?
Não era obrigada a escrever. Não havia uma só lei que a forçasse a escrever. Com certeza não podia estar zangada com ele, pois sabia que ele tinha sido obrigado a obedecer ordens e que deixara a França contra sua vontade. Estavam em tempo de guerra, ordens eram ordens e Louise sabia disso tanto quanto ele, pois ela estivera próxima à frente de batalha onde homens morriam todos os dias devido a estas mesmas “ordens”.
Quanto mais pensava no assunto, mais percebia o quanto seu amor por Louise era um sentimento muito profundo e muito forte. Recordava-se bem, da maneira gentil e bondosa com que ela sempre o tratara; as pequenas coisas que fizera por ele quando se encontrava desamparado; como ela permanecera acordada, embora necessitasse tanto desse sono, para ler-lhe algo quando o nervoso pelo choque da convulsão o atormentava. Certa vez quando estava deitado, sem muita dor, mas quase gritando devido ao horror daquele nervosismo dilacerante, ela sentara-se ao seu lado colocando a mão em sua testa, acalmando-o com pequenos versos de poesia, trechos de hinos, tudo que pudesse recordar para aliviar seu estado de tensão, tirar seus pensamentos daquela situação estranha e peculiar que era o resultado da explosão que sofrera e cujos efeitos são sempre diferentes em cada caso.
Agora, depois de estar curado - tolice! com carta ou não, ele não acreditaria no que estava escrito naquele papel até que ela confirmasse com suas próprias palavras. Iria encontrá-la para ouvir a verdade de seus próprios lábios.
Era característica de Jimmie que em todas as desculpas, motivos e explicações que havia forjado em sua mente, jamais suspeitou que Louise o abandonara por razões financeiras. Era o melhor e mais nobre tributo que podia colocar aos pés de sua amada e analisando todos os motivos imagináveis que justificassem sua atitude começou a temer que, de alguma forma, involuntariamente, ele a houvesse ofendido. No entanto, nenhuma vez pensou em um motivo baixo, vil ou mercenário por parte dela. Se ela soubesse disso, seu coração ter-se-ia enternecido, mas Jimmie estava tão inconsciente do assunto quanto ela; acrescentar um motivo indigno à sua carta jamais lhe ocorreu.
Conhecia a cidadezinha onde ela morava. Calculou que, por causa da lentidão do serviço postal na França, ela provavelmente já teria regressado e estaria em casa antes da chegada da carta. O pensamento agitou-o, e decidiu pedir uma licença de uma semana e ir até ao fim para solucionar esse caso.
Mas não foi fácil conseguir uma licença em tempo de guerra. Sabia que necessitava pelo menos de um dia para chegar até a casa de Louise, outro dia pra voltar e mais um dia para lá permanecer. Se as conexões estivessem ruins, poderia até levar mais tempo, portanto, decidiu pedir uma semana.
Aquela noite, ao dormir, resolveu chamar Marjorie e, efetivamente, ao despertar nas agora já familiares condições do Mundo do Desejo, teve consciência plena de que Marjorie vinha ao seu encontro. Portanto, não ficou surpreso quando essa linda jovem, sorrindo e, evidentemente, com um excelente bom humor, apresentou-se a ele.
Jimmie começou logo a contar-lhe a história de sua aflição na esperança de Marjorie sensibilizar-se com ele e se prontificar a ajudá-lo. Mas calculou mal, pois tudo que sua anfitriã fez foi rir-se dele. Se as pessoas que julgam que o outro mundo seja um lugar de tristeza fúnebre, de desespero e desesperança, como ficariam surpresos ao presenciar aquela cena e como perderiam o temor da morte.
Marjorie estava morta. Esta jovem havia sido arrebatada de sua família por aquele implacável Rei dos Terrores e, de acordo com todas as crenças geralmente aceitas, ela podia ser tudo menos o que realmente era - feliz, alegre com a pura alegria de viver feliz devido às condições nas quais vivia, livre de todas as necessidades limitadoras da vida física, dor, exaustão, as dez mil pequenas coisas que jamais se elevam além do umbral da consciência, mas que agregadas equivalem a um desconforto contínuo. Mas, acima de tudo, feliz pois não estava separada de sua família, ainda que eles estivessem separados dela.
Esta condição, aparentemente anômala, derivava do fato de que todas as noites ela podia encontrá-los no plano do desejo, falar com eles e “visitá-los”, e embora eles não pudessem conservar a mem6ria desses encontros, para ela não existia essa limitação. Assim percebia-se verdadeiramente que toda separação estava do lado deles, não do dela. Por esse motivo, não há por que surpreender-se e reconhecer sua felicidade. Por que não haveria de sentir-se feliz?
Mas Jimmie pensou que ela estava feliz demais, pois ele sentia-se muito infeliz ou julgava-se estar assim, e precisava de consolo. Além disso, embora não admitisse, esperava que Marjorie dissesse alguma coisa sobre Louise e por que havia agido daquela maneira. Pressentia que Marjorie devia saber. Não seria correto perguntar, mas, talvez, ela proferisse, espontaneamente, algumas palavras de consolo. Esses pensamentos de Jimmie não passaram desapercebidos a Marjorie por nenhum momento, e era por isso que ela estava rindo. Jimmie havia chegado à conclusão que era muito importante e esta era uma lição que ele deveria aprender sobre o assunto.Prentiss Tucker.

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