quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Caridade.


Caridade é dar sem que pareça que se dá; mostrar-se como vencido ante quem pode menos.

Calar a própria dor e sentir a alheia.

Dar ou negar antes que se peça.

Não impedir o pranto a quem dele necessita; nem o riso ao que sente a necessidade de rir.

Não convencer o parvo de que o é.

Dizer em dez palavras o que outros diriam em cem.

Dirigir-se aos homens como se fossem meninos, ainda que não o pareçam.

Não falar mal do próximo, nem bem de si mesmo.

Deixar passar primeiro o mais pequeno, o mais insignificante, ou o mais ansioso. Deixar a cada um a ilusão que o sustém e o anima.

Difundir a certeza de que o real do ser é o invisível; de que a morte do Homem é ilusória; de que a redenção consiste no desenvolvimento da inteligência.

Não se queixar durante a caminhada e aguardar pacientemente que a noite nos cure.

Não limitar a caridade ao ambiente doméstico: é egoísmo. O espírito de sacrifício exige horizontes mais largos. O serviço prestado de modo altruísta é a pedra filosofal procurada pelos alquimistas.

Olhar a multidão sem desdém nem indiferença; não explorar a sua candidez nem a sua ignorância; prestar-lhe nobre ajuda para que possa melhorar a sua condição.

Conviver com os seres humanos e viver para eles, sabendo que até as pedras se desgastam com o atrito, e que há atrito também nos olhares e pensamentos.

Ater-se na Terra ao amor daqueles a quem não escutaremos, nem veremos, e que muito depressa nos esquecerão.

Constâncio C. Vigil.

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