segunda-feira, 30 de julho de 2012
LÓTUS, A FLOR SAGRADA.
Ela cobre as planícies alagadas do Oriente, do Egito à China. E é venerada em todo o mundo por milhões de pessoas, que a consideram o símbolo máximo da pureza espiritual.
A fumaça do incenso envolve como nuvens os monges budistas do templo DoiSuthep, construído no século XIV nos arredores da cidade de Chiang Mai, no norte da Tailândia. Ao amanhecer, como de costume, eles levam nas mãos os botões rosados da flor de lótus, espalhando um perfume suave no ar. Com voz grave, murmuram um dos principais mantras, os cânticos sagrados do Budismo:
"OM MANI PADME HUM".
Originária do antigo idioma sânscrito, a frase significa: "Ó jóia preciosa de lótus". Terminada a oração, eles depositam uma quantidade tão grande de lótus sob os pés de Buda que quase soterram a imagem sagrada.
Milhões de pessoas de vários países asiáticos acreditam que o mantra do lótus tem a capacidade de transformar as pessoas em seres puros e iluminados como o próprio Buda.
Na Índia, está relacionada à criação do mundo. De acordo com as escrituras indianas, foi do umbigo do deus Vishnu que teria nascido uma brilhante flor de lótus, e dela surgido outra divindade, Brahma, o criador do cosmo. Nas gravuras indianas, deuses costumam aparecer em pé ou sentados sobre a flor.
São assim, por exemplo, as representações do deus-elefante Ganesha, de Lakshmi, a deusa da prosperidade, e de Shiva, o criador e destruidor.
No interior das pirâmides e nos antigos palácios do Egito, o lótus também é representado como planta sagrada, pertencente ao mundo dos deuses. Como na Índia, essa flor testemunha a criação do universo. Um dos mais interessantes relatos da mitologia egípcia sobre a origem de nosso planeta conta que, num tempo muito distante, um cálice de lótus, com as pétalas fechadas, flutuava nas trevas. Entediada com o vazio, a flor pediu ao deus Sol Ra que criasse o universo. Agradecida pelo desejo realizado, a flor passou a abrigar o deus Sol em suas pétalas durante a noite, de onde ele saía ao amanhecer para iluminar sua criação.
Já os chineses tinham outra interpretação, que ia além da mitologia: eles associavam a flor ao órgão genital feminino. Na China antiga não havia elogio melhor para uma cortesã do que ser chamada de Lótus de Ouro, segundo informam os pesquisadores franceses Jean Chevalier e Alain Gheerbrant no livro Dicionário de Símbolos. Explica-se assim porque entre os chineses a planta é tão associada ao nascimento e à criação.
Mesmo assim, o lótus não deixa de fazer parte das tradições religiosas daquele país. A deusa do amor e da compaixão Kuan Yin, a mais venerada entre as divindades femininas na China, é representada com flores de lótus ainda fechadas nas mãos e nos pés. Como o botão da flor tem o formato do coração, os fiéis acreditam que a planta teria o dom dos sentimentos amorosos.
Os chineses acrescentam ainda outras qualidades preciosas ao lótus. Segundo eles, a haste dura simboliza a firmeza, a opulência de sementes estaria relacionada à fertilidade, as folhas - como nascem juntas - indicariam felicidade conjugal e a opulência da planta, prosperidade. O passado, presente e o futuro também seriam simbolizados, respectivamente, pela flor seca, pela aberta e pelas sementes que irão germinar.
Nas pinturas dos artistas tibetanos, linhagens de budas e homens santos aparecem flutuando sobre flores de lótus - uma representação dos tronos da suprema espiritualidade. Nas escrituras budistas do Tibet, conta-se que o pequeno Buda já podia andar ao nascer e que, a cada passo, brotavam flores de lótus de suas pegadas - um sinal de sua origem divina. Hoje, muitos monges e fiéis dessa religião visualizam essa mesma cena enquanto caminham, imaginando que flores de lótus surgem debaixo de seus pés. Com essa prática meditativa, acreditam eles, estariam espalhando o amor e a compaixão de Buda simbolizados pela flor.
Om Mani Padme Hum.
Este Mantra expressa a energia pura da compaixão que existe em todos os seres. Pronunciá-lo na meditação, ou enquanto executamos nossas tarefas diárias, não apenas desperta a nossa compaixão, mas o fato de nos unirmos com os outros milhões de indivíduos que também o pronunciam, contribu i para o crescimento da energia de paz e de amor no mundo.
"OM" Encerra as dimensões do Corpo, Fala e Espirito. Às vezes, em nossa vida , experimentamos distúrbios e emoções negativas que nos tiram de nossa verdadeira natureza. "OM" nos dá a possibilidade de transformá-las, de purificá-las. Pode ser traduzido também como a essência de toda forma de esclarecimento.
"MANI" Significa uma pedra preciosa para o amor e a compaixão.
"PADME" É a flor de lótus, a flor que cresce na água e que se mostra exatamente como é. Uma visão da realidade, a flor da sabedoria e do entendimento.
"HUM" Representa o espírito do esclarecimento. Produz o efeito de estabilização e de purificação espiritual.
Grupo Mahavidya.
Durga - Dakini.
Quando Mahishashura, o búfalo demônio, ameaçava destruir o mundo, os Devas que tinham os poderes de detê-lo juntaram seus poderes (Shakti), e criaram Devi Durga, que com sucesso destruiu o demônio. Durga é a protetora de lei e da ordem (Dharma), e a destruidora do mal. Durga está identificada próximo com Shakti, e, como tal, é a contra-forma feminina de Siva. Ela é a guardiã protetora sempre atenta, tanto feroz como no amor. Ela possui dez braços, três olhos, e monta um leão ou um tigre. O Durga Puja é celebrado em toda a Índia como um dos mais importantes festivais.A deusa Durga representa a força do ser supremo que preserva a ordem moral e a correção da criação. A palavra sânscrita durga significa a força ou o lugar protegido, difícil de ser alcançado. Durga, também chamada de divina mãe, protege da ação dos demônios e da miséria. Ela destrói as forças do mal como inveja, ira e orgulho. Sua adoração é muito popular entre os hindus. Ela é chamada de muitos outros nomes, como Parvati, Ambika e Kali. Na forma de Parvati, ela é conhecida como a divina esposa do deus Shiva e a mãe de seus filhos, Ganesha e Karttikeya.
Simbolismos associados à figura e Durga:
Durga veste roupas vermelhas. A cor vermelha simboliza ação. Sua aplicação na vestimenta indica que Durga está sempre ocupada destruindo o mal e protegendo da dor e sofrimento.
O tigre simboliza a força ilimitada. Durga montando um tigre indica sua força ilimitada, seu poder de proteção da virtude e destruição do mal.
Os dezoito braços de Durga significam a força combinada das nove encarnações do deus Vishnu (que apareceu na terra em diferentes tempos no passado). A décima encarnação, a Kalkin (um homem em um cavalo branco), ainda está por vir.
O som que emana da concha é o som sagrado da sílaba AUM, que é o som da criação. Uma concha em uma das mãos de Durga significa a última vitória da virtude sobre o mal e do certo sobre o errado.
As armas nas mãos de Durga passam a idéia de que apenas um tipo de arma não é suficiente para a destruição de todos os tipos de inimigos. Por exemplo, orgulho precisa ser destruído pela humildade, o egoísmo pelo desapego e o prejuízo pelo auto-conhecimento.Wikepédia.
A DANÇA CÓSMICA.
Sim, o universo é uma dança. E nós somos os dançarinos que participam deste evento mágico. A dança e os dançarinos existem juntos. Como haverá dança sem o dançarino? E como haverá dançarino sem dança? Deus e a criação existem juntos, sempre existiram, e sempre existirão. Universos aparecem, universos desaparecem. Mas Aquilo que deu origem, a fonte de energia principal que deu início ao aparecimento simplesmente não desaparece, porque é Eterna, está fora do tempo, está fora do espaço. Apenas Isto existe independentemente de qualquer coisa. Deus Pai existe além de tudo. Deus Filho é a criação. A criação é passageira. Deus Pai é Eterno.
O que é Eterno sempre foi chamado de simplesmente luz. A escuridão vem a vai. Ela é uma ausência temporária da luz. Mas a luz permanece. Escuridão é apenas ausência de luz.
Muitos de nós ainda estamos fora do foco principal da espiritualidade. Sofremos e alimentamos nossos problemas, porque simplesmente não sabemos viver sem eles. Mantemos o foco no mundo relativo do sofrimento, no mundo passageiro, e não olhamos com atenção e carinho para Aquilo que sempre permanece, todo o instante, e é a fonte de tudo que há.
Se escuridão é falta de luz, o que você precisa? Simplesmente aprender uma coisa muito bela e muito simples: aprender a focar o Eterno, exatamente no momento presente, exatamente aqui.
Aprender a focar a fonte da luz é o que mestres e professores espirituais tem chamado de meditação. E esta luz está disponível onde Deus está. Onde Deus estaria senão aqui-agora o tempo inteiro? Mas, então, porque nos sentimos tão separados de Deus e da vida? Porque todos os conceitos de Deus que nós aprendemos na sociedade nos fizeram separar-se Dele, e não aproximar-se Dele.
Nós aprendemos que Deus está distante, em algum lugar, depois da morte, julgando nossos atos bons e maus. Que infantilidade! Nós simplesmente criamos um Deus humano com apegos e aversões, e então vivemos com medo de nós mesmos. Criamos um Deus a partir de nossas neuroses. É por isso que Niesztche disse: “Deus está morto”. É claro que ele estava se referindo ao Deus criado pelo homem, fabricado pela mente humana e sua sede de poder e controle. Sim, temos de enterrar aquele Deus castigador, aquele Deus vingativo ao qual temos de temer. Este Deus não pode ser o Deus real, porque o Deus real não pode ser entendido pelo pensamento. O Deus real é Amor. Pelo pensamento apenas coisas mundanas e culturais podem ser entendidas. Deus não precisa ser entendido, apenas vivido. Você não precisa entender o amor, não precisa escrever tratados sobre o amor. Você tem de viver o amor. Deus é o mistério da sua natureza. Ele não está distante de você, porque em última instância, ele é a única coisa que existe. Os universos vêm e vão, os corpos vêm e vão, a mente vêm e vai, mas aquilo que deu origem a tudo isso permanece. Meu corpo, pensamentos e sentimentos estão sempre mudando. Mas há algo que posso verificar agora que não está mudando e nunca mudará: esse algo é Consciência Pura, ou o Eterno em mim. Reconhecer isto é estar em paz.
Naseeb é terapeuta, professor de meditação, e palestrante.
Terra.
Aceita a minha homenagem, Terra, enquanto faço a minha última vénia ao dia.
Ajoelhado aos pés do altar do poente
Tu és poderosa, e apenas reconhecível pelos poderosos;
Tu equilibras o encanto e a severidade,
Misturando o masculino com o feminino,
Trazendo à vida humana o insuportável conflito.
A taça que a tua mão direita enche com nétar
É esmagada pela tua mão esquerda;
O teu pátio ressoa com o teu riso trocista.
Tornas o heroísmo difícil de alcançar;
Toda a excelência custosa
Não tens misericórdia com aqueles que merecem misericórdia.
Um incessante combate oculta-se a teus pés:
As tuas colheitas e frutos são coroas de vitória ganhas na batalha.
Terra e mar são os teus cruéis campos de batalha –
A vida proclama o seu triunfo no rosto da morte.
A civilização finda os seus alicerces na tua crueldade:
A ruína é a condenação exata para qualquer falta.
No primeiro capitulo da tua história os Demónios eram supremos –
Rudes, bárbaros, brutais
Aos seus dedos toscos e grossos faltava arte;
Com clavas e malhos nas mãos armaram motins do mar e nas montanhas.
O seu fogo e o seu fumo agitaram violentamente o céu até ao pesadelo;
Eles controlaram o mundo inerte;
Eles cegaram o ódio da Vida.
Os deuses vieram a seguir; com os seus feitiços e subjugaram os Demónios –
Despedaçada foi a insolência da matéria
A Terra-Mãe estendeu no seu manto verde:
Nos picos do Este estava a Aurora;
Nas costas Oeste caiu A Noite
Derramando a Paz no seu cálice
Os Demónios foram humilhados
Mas a barbárie primordial manteve as suas garras na tua história.
De repente podia invadir a ordem com a anarquia –
Dos negros esconderijos do teu ser
Pode surgir como uma serpente.
A sua loucura está no seu sangue
Os feitiços dos deuses ressoam no céu e no ar e na floresta,
Cantando solenemente dia e noite; alto e baixo;
Mas das regiões sob a tua superfície
Às vezes os Demónios semidomesticados levantam os seus capelos –
Eles ferem-te profundamente e às tuas criaturas
Arruinando a tua própria criação.
No teu assento sobre o bem e o mal,
À tua vasta e terrível beleza,
Ofereço hoje a minha homenagem de vida ferida.
Toco o teu enorme e sepultado depósito da vida e da morte,
Sinto-o através do meu corpo e do meu pensamento.
Os cadáveres de inúmeras gerações de homens jazem amontoados no teu pó:
Eu também acrescentarei alguns punhados, a medida à medida da final das minhas dores e alegrias,
Acrescentando a esse enorme absorvente, a essa forma absorvente, a essa fama absorvente,
A esse silencioso monte de pó.
Terra, presa à pedra ou voando entre as nuvens;
Absorta na medição silenciosa da cordilheira
Ou ruidosamente como o bramido de insones ondas do mar;
És a beleza e a fertilidade, o terror e a fome.
Por um lado acres de searas, inclinando-se com a maturação,
Limpas do orvalho de cada manhã por delicados raios de sol –
Ao poente também, oferecendo na sua ondulante verdura a Alegria, a Alegria;
Por outro lado, nos desertos insalubres, secos, estéreis,
A dança de espetros entre ossos de animais espalhados.
Contemplai as tuas tempestades Baisakh desceras velozmente como falcões negros
Rasgando o horizonte com bicos de luz relampejante
Com chicotada da cauda nas arvores
Até estas caírem desesperadas no chão;
Telhados de colmo soltam-se
Fugindo do vento como condenados das suas correntes.
Mas em Phalgun vi a quente brisa do Sul,
Propagar todas as rapsódias e solilóquios do amor
No seu perfume de flor e manga;
Vi o vinho espumante do Céu transbordar da taça da lua;
Ouvi sebes submeterem-se bruscamente à agitação do vento
E estalarem em ofegantes murmúrios.
Tu és gentil e feroz, antiga e renovada;
Emergiste do fogo sacrificial da criação original há muito, muito tempo.
A tua peregrinação cíclica está preparada com vestígios sem sentido da história;
Abandonando as tuas criações sem remorsos, juntas umas sobre as outras,
Esquecidas.
Guardião da Vida, tu alimentas-nos
Em pequenas gaiolas de tempo fragmentado,
Fronteiras de todos os nosso jogos, limites reconhecidos.
Hoje, estou à tua frente sem ilusões:
Não te peço a imortalidade à tua porta
Para os muitos dias e noites que passei a tecer as tuas grinaldas.
Mas se eu tivesse dado real valor
Ao teu pequeno assento um minúsculo segmento de uma das Eras
Que se abrem e fecham como clarões nos milhões de anos
Da tua órbita solar ;
Se eu tivesse ganho nos tribunais da vida algum sucesso,
Então marcaria a minha fronte com um sinal feito da tua argila –
Para ser apagado a tempo pela noite
Na qual todos os sinais desaparecem no desconhecido final.
Ó longínqua, impiedosa Terra,
Antes de eu ser completamente esquecido
Deixa-me colocar a minha homenagem aos teus pés.
Rabindranath Tagore.
segunda-feira, 23 de julho de 2012
O Caminho de Santiago - A Lenda.
A Lenda
Muito se tem contado nos últimos anos acerca do Caminho de Santiago. Depois de ter sido um caminho percorrido por peregrinos na Idade Média, eis que ganhou novo fôlego mercê, principalmente, do livro de Paulo Coelho, “O Diário de um Mago”. Este livro teve a virtude de despertar em muita gente a imaginação e a busca do fantástico, como se fazer o Caminho, percorrer os seus mais de mil quilómetros a pé, operasse uma transformação profunda na personalidade de cada um. É facto que esta transformação por vezes acontece, mas limita-se a casos muito raros de pessoas realmente empenhadas na busca do seu verdadeiro Eu.
De um caminho iniciático nas suas origens remotas, transformou-se numa rota turística, levando as pessoas a fazerem-no sem saberem bem porquê, por curiosidade e porque virou moda. Para Fulcanelli, o misterioso autor do livro “O Mistério das Catedrais”, O Caminho é uma viagem simbólica que todos os filósofos e alquimistas devem fazer. Nas suas palavras, “A concha (vieira) de Compostela (…) serve na simbólica secreta paras designar o princípio Mercúrio (a água benta dos filósofos), também chamado Viajante ou Peregrino. É usada misticamente por todos os que empreendem o trabalho e procuram obter a estrela (compos stella)”.
O termo peregrino apareceu na Idade Média para designar os cristãos que viajavam até Roma ou Jerusalém para visitar os lugares sagrados ou, como auto punições para pagarem promessas ou cumprirem punições canónicas. A partir mais ou menos do século IX, Compostela passou a estar incluída nos lugares de peregrinação do cristianismo. No entanto, como veremos em próximas crónicas, o Caminho de Santiago não é de origem cristã, é muito mais antigo que o próprio cristianismo. Nesta iremos falar da lenda, ou das lendas, que há várias.
A lenda principal diz-nos que Tiago, o Maior, para o distinguir do outro Tiago, era um dos apóstolos preferidos de Jesus, juntamente com João, de quem era irmão, ambos filhos de Zebedeu e Maria Salomé. Depois da crucificação de Jesus, Tiago terá ficado em Jerusalém para continuar a obra do Mestre, tendo a sua acção provocado a ira de Herodes Agripa que terá dado ordem para o decapitarem. Não se sabe bem se morreu por decapitação ou apedrejamento, prática muito comum entre os judeus. O que é facto é que morreu em Jerusalém, e a lenda começa, justamente, após a sua morte.
Alguns dos seus discípulos meteram o corpo num barco e deixaram-no à deriva no Mediterrâneo, entregando à Divina Providência o destino dessa tumba flutuante. Foi assim que, à deriva, o barco atravessou todo o Mediterrâneo, passou o Estreito de Gibraltar e subiu pelo Atlântico, para ir encalhar na Galiza, num local chamado Iria Flávia, que depois se veio a chamar Padron, no rio Ulla.
Parece que alguns dos discípulos embarcaram no mesmo barco à deriva. Chegados à Galiza, ao reino que na altura se chamava Louve e que era governado por uma rainha que também se chamava Louve, desembarcaram o corpo e colocaram-no sobre uma pedra enorme, que se derreteu sob o corpo moldando um belo sarcófago.
Os discípulos foram pedir à rainha um local apropriado para sepultar o corpo, contando-lhe os muitos milagres que Tiago realizara, como o milagre da viagem e de terem aportado àquela costa, e o milagre da pedra se moldando para formar a tumba.
A rainha mandou-os falar com o rei de Espanha e este, ao fim de longo diálogo, acabou por autorizar que o corpo fosse sepultado naquelas terras.
Louve ficou extremamente irritada quando os discípulos lhe transmitiram a autorização do rei de Espanha. Deu-lhes então um carro puxado por dois bois para transportar o corpo e disse-lhes que escolhessem o lugar que mais lhes agradasse. Mas os bois eram dois touros bravos. Os discípulos, que não desconfiavam de nada, levaram o corpo montanha acima e deram de caras com um dragão que cuspia fogo e ameaçava matá-los. Fizeram o sinal da cruz e, imediatamente, o dragão se partiu pelo meio. Quando viram que os bois eram touros selvagens, fizeram novo sinal da cruz e os touros se tornaram mansos como cordeiros.
Então os bois, sem que ninguém os guiasse, levaram o corpo para o palácio da Louve que, ao ver os prodígios que tinham acontecido, dedicou o seu palácio a Santiago.
Esta é talvez a lenda principal, que deve muito à imaginação e fantasia. O reino de Louve, assim como a rainha do mesmo nome, provavelmente nunca existiu. Como veremos mais tarde, “Louve” tem um significado especial na tradição galaica. Não é possível, mesmo entregue à Divina Providência, que um barco saindo da Palestina à deriva possa ter atingido a costa da Galiza. O melhor que poderia ter acontecido era encalhar na praia de uma das muitas ilhas gregas, na costa norte de África, ou na costa do sul da Europa. Também não é possível que os discípulos tenham obtido autorização do rei de Espanha, pois esta não existia na altura.
Uma variante da lenda diz que, após o barco ter aportado na ria, o corpo foi transportado para uma colina que hoje se chama Pico Sacro, e aí teria sido sepultado. Depois terá sido de novo transladado para outro local chamado Arca Marmorica, perto da localidade de Amorea, e ficou esquecido durante vários séculos.
Somente no ano de 813 ou 830, no reinado de Afonso-o-Casto, o corpo foi reencontrado por um eremita chamado Pelágio, cujo nome significa “homem do mar”. Assim, por milagre, Pelágio foi informado do local onde se encontrava a sepultura de Tiago por umas luzes sobrenaturais que dançavam sobre o túmulo. Outra versão diz que se tratava de uma estrela a qual, como a estrela de Belém, teria ficado pairando sobre o local do túmulo do apóstolo. Daqui o nome de Compostela (campo da estrela).
Santiago transformou-se no padroeiro das Espanhas quando apareceu na batalha de Clavijo, em 844, travada contra os mouros, brandindo uma espada flamejante, espalhando o morticínio entre os infiéis e levando as forças do rei Ramiro à vitória, salvando para o cristianismo todo o norte da Península Ibérica.
Apesar da lenda poder contribuir para a solidificação das estruturas da Igreja na região e em todo o mundo cristão, não deixou, no entanto, de provocar algumas reticências nos meios tradicionais cristãos. Por este motivo, foi proposta uma outra variante em que os discípulos teriam transportado o corpo dos arredores de Granada, no sul da Península, tentando assim tornar mais plausível a viagem do barco á deriva, pois era mais lógico ter encalhado no sul, na costa mediterrânica, do que na costa atlântica da Galiza.
Há quem afirme também que Tiago andou pregando pela Península, acompanhado de poucos discípulos, dado o seu carácter irascível, e por um cão. Veremos mais tarde o significado do cão. É claro que esta ideia não tem qualquer base de suporte, uma vez que historicamente está estabelecido que Tiago nunca deixou a Palestina.
Uma lenda não é um documento histórico, nem é História, é apenas um conjunto de elementos retirados da tradição que vai sendo construído ao longo do tempo por via das crenças e do imaginário popular. Uma lenda não é criada por ninguém, cria-se a si própria recebendo os contributos da ansiedade, dos sonhos, da fantasia do ser humano que, espera sempre um milagre ou algo de fantástico para compensar as dificuldades da sua vida. Depois as lendas podem ser moldadas ou utilizadas para servirem a determinados objectivos. Evidentemente que o bispo de Iria Flávia, que oficializou a descoberta do túmulo de Tiago, não queria saber se a chegada do barco milagroso era verdadeira. Para ele, a lenda servia perfeitamente aos seus desígnios de transformar o local no campo sagrado onde repousavam os restos do apóstolo Tiago. É deste modo que se estabeleceu também a concha (vieira) como símbolo do peregrino a Santiago de Compostela.
Segundo algumas versões, o barco, quando encalhou na margem do rio Ulla, estava coberto dessas conchas. Segundo outras, o barco não conseguia atracar e assim, dois cavaleiros meteram-se à água para ajudar a tripulação e, quando saíram da água viram-se inteiramente cobertos de conchas.
Não importa saber que essas conchas não se fixam, não se colam a coisa nenhuma, vivem móveis na lama marinha. Mas é interessante saber que essas conchas, vieiras para os peregrinos, se chamam “mérelles”, do nome de uma aldeia marítima perto de Noya. É interessante também saber que “mérelles” significa “mãe da luz”.
Tudo isto, a viagem milagrosa, a vieira, a estrela, foi sendo acumulado para transformar o local no mais importante centro de peregrinação da cristandade, sobrepondo-se a Jerusalém pelas dificuldades e pelos perigos em demandar esta cidade.
Esta lenda tem o mesmo valor que muitas outras, como a lenda do rei Artur e dos Cavaleiros da Távola Redonda, ou como a lenda da busca do Graal. Não corresponde a factos concretos mas, pode conter alguns elementos de verdade, distorcidos pelo tempo, pelas crenças e pelo imaginário. De notar que o barco com o corpo de Tiago surge do mar e entra numa ria da Galiza; o túmulo foi descoberto por um homem do mar, Pelágio; o símbolo do peregrino é uma concha marítima. O mar, como veremos em futuras crónicas, tem particular importância na cultura e tradição da Galiza.
Mas, há sempre um mas nestas coisas em que uma pesquisa mais profunda revela, talvez tenha sido, efectivamente, descoberto um túmulo contendo um corpo, ou os restos dele. Só que esse corpo, com toda a probabilidade, não era o do apóstolo Tiago.
Nos seus primórdios a Igreja viu-se a braços com uma infinidade de desvios à sua ortodoxia, que foram aparecendo por todo o mundo cristão da altura. Esses desvios foram chamados de heresias e, para combatê-los, foram realizados inúmeros concílios e sínodos. Os elementos considerados heréticos não sofriam outra pena além da expulsão e excomunhão. Só mais tarde a Sagrada Inquisição passou a assá-los em fogueiras.
É muito provável que o corpo descoberto por Pelágio fosse o do bispo Prisciliano, que viveu, mais ou menos, entre 340 e 385. Prisciliano criou uma doutrina completamente diferenciada e adversa da doutrina ortodoxa. O seu movimento, que durou ainda alguns séculos depois da sua morte, foi chamado de “priscilianismo”. Era um movimento que poderíamos chamar de gnosticismo primitivo e teve forte influência na Igreja da Galiza e do norte de Portugal.
Prisciliano era acusado de artes mágicas, de admitir mulheres em igualdade de condições com os homens, nos seus rituais e nas leituras da Sagrada Escritura. Era acusado do uso de ervas para fins medicinais e praticas abortivas. Era acusado também de ser um estudioso da astrologia cabalística.
Ao fim de vários concílios e sínodos, em que se procurou trazer Prisciliano de volta para o seio da doutrina oficial da Igreja, acabou por ser condenado à morte e decapitado, no ano 385, juntamente com seis dos seus discípulos, tornando-se assim o primeiro herege justiçado pela Igreja Católica.
Existe uma clara correspondência entre a lenda de Santiago e a história de Prisciliano. Não é credível que o corpo de Tiago tenha ficado oculto por oito séculos e só tenha sido descoberto em 813 ou 830. Tratando-se de quem era, um dos discípulos preferidos de Jesus, é lícito pensar-se que as primeiras comunidades cristãs da Galiza não esquecessem o local do seu sepultamento, mas que o transformassem rapidamente num lugar sagrado de veneração. Tratando-se do corpo de Prisciliano, dada a pressão da Igreja combatendo a heresia e a perseguição aos seus seguidores, é natural que a sua sepultura tivesse sido ocultada.
O priscilianismo ficou de tal modo enraizado na consciência colectiva da Galiza e na sua tradição, que há quem chame ao Caminho de Santiago o Caminho Prisciliano de Compostela. Há até um filme realizado por Luís Bunuel com esse nome, embora o seu verdadeiro título seja “A Via Láctea – O Estranho Caminho de Santiago”.
Manuel O. Pina.
quinta-feira, 19 de julho de 2012
Grande silêncio e a paz interior.
O Grande Silêncio é o nome de um documentário de 160 minutos, lançado em 2005, que retrata a vida da comunidade dos monges cartuxos em Isère, França, produzido por Phillipe Gröning. É uma meditação silenciosa sobre a vida monástica. Sem música à exceção dos cânticos do mosteiro, sem entrevistas ou quaisquer comentários. Evoca a passagem do tempo, das estações, o dia dos monges e as orações. É um filme sobre a presença do absoluto na vida de homens que dedicam a sua existência a Deus, no grande silêncio. O próprio cineasta diz que saiu mudado depois dos seis meses vividos no mosteiro. Que acontece quando mergulhamos no silêncio? O que muda em nós?
O silêncio como experiência e lugar de encontro é algo de revolucionário, e nunca reacionário. É preciso silenciar para ouvir. É preciso silenciar para recuperar a saúde física e mental. O mundo anda doente, pois vive um exagero de decibéis que ensurdecem e atordoam. Apatia ou resignação são os sinais da alienação de onde estamos e de quem somos. Isso tudo é fruto do barulho e da dispersão. A pessoa silenciosa ou taciturna é alguém que está além ou aquém das palavras. Tem um fio de prumo sobre sua cabeça. É alguém que vive em paz e transmite paz em palavras e atitudes. Dizem os árabes em um famoso ditado: "não abra a boca se o que tens a dizer não for mais belo que o silêncio". Essa é a mesma percepção de São Bento ao afirmar em sua Regra aos monges que: "... raras vezes se deve conceder, até aos discípulos mais perfeitos, licença para entreterem conversações, embora sobre assuntos bons, santos e edificantes, tão importante é o silêncio; porquanto está escrito: Falando muito não evitarás o pecado (Pr 10,19). E em outro lugar: A morte e a vida estão em poder da língua (Pr 18,21) (Regra de São Bento, capítulo VI, O espírito de Silêncio)".
Se lembrarmos das vidas de quatro personagens das religiões, vemos que se apresentaram como homens de Deus vivenciando largos momentos de fecundo silêncio e se puseram a falar o que lhes fora revelado no silêncio. Do judaísmo, Moisés e profetas como Oséias ou Elias fizeram a experiência do silêncio. No mundo islâmico, o profeta Muhammad nas grutas da Arábia Saudita ouve a fala do arcanjo Gabriel. No budismo os mestres espirituais, das escolas da China e do zen-budismo japonês encontraram o caminho da sabedoria. O próprio Jesus Cristo, filho de Deus Altíssimo é um primoroso exemplo de quem soube viver o silêncio em frequentes, longas e profundas experiências de oração, como descritas pelos evangelistas (Lc 6,12; Mt 14,23; Mc 1,35; Jo 17).
O silêncio está vinculado à proximidade do mistério e da intimidade com Deus. As coisas mais íntimas são sempre pronunciadas aos sussurros e murmúrios. Talvez seja por essa razão que o salmista diga na versão hebraica: "O louvor, para Vós, ó Deus, é silêncio (Salmo 65,2)". A louvação mais alta e mais verdadeira acontece quando suprimimos ou esgotamos as palavras. Penetramos o vasto universo do recolhimento interior e da contemplação de tudo o que existe. Nesse lugar e espaço de silêncio é que o Espírito pode fazer ressoar a Palavra Eterna e nos despertar de um sono que nos dispersava ou escondia nossa essência interior e a conexão com Deus.
Um caminho promissor que se abre, depois de um grande silêncio, é o caminho da oração. O monge João Cassiano (360-435) afirma de maneira sucinta: "é perfeita oração aquela onde o que está orando não se lembra de que orando está" ou ainda que a boa oração seja breve e silenciosa e manifeste-se por uma tensão ardente da alma, por um transbordar inefável do coração e por um entusiasmo insaciável do espírito (João Cassiano, Da oração, Vozes, 2008, p. 97). A prece cristã é um movimento interior que se realiza em etapas sucessivas e complementares: em um primeiro momento é sempre uma inspiração advinda do coração e da vida. Depois se torna respiração e conexão com a transcendência feita em um exercício leve e ao mesmo tempo vigoroso. Depois vem a transpiração e a expiração em que nos apresentamos para Deus com nossos anseios, dificuldades, necessidades e palavras para enfim atingirmos o ápice do caminho que é a surpresa que emudece e extasia. Nesse momento ouvimos as melodias celestes e os sons inefáveis que plenificam e reverberam em nosso coração e em nossa vida.
A oração cristã parte e nos leva ao silêncio. Santo Agostinho dizia que a oração é puro silêncio (Santo Agostinho, O Mestre XII, 39). Não é posse de Deus, mas um estar em Cristo para viver no seu Espírito e segundo as suas palavras. A oração cristã é a fé que fala. Não é um estar em si somente, embora necessite de um momento introspectivo. Não é um estilo meditativo, ainda que não se realize sem um caráter reflexivo e atento aos sinais que nos chegam pelos sentidos e pelo corpo. Não é só intelectual e cerebral, ainda que não possamos dizer que se reduza ao irracional ou inconsciente. Passa por momentos de duvidas e de incertezas, vividos como aridez e ausência de iluminação. É necessário que aconteça a abertura para a fidelidade que confia na esperança. E esse portal pessoal poderá abrir-nos ao Outro, aos outros e à natureza.
O silêncio é um estado de espírito bem como uma profunda atividade de amor. Caminhar de forma progressiva na escola do silêncio pede que estejamos sintonizados com Deus e sua revelação. Esse percurso é difícil, mas realizável. Foi chamado pelos místicos como o ascetismo do silêncio. Existem obstáculos no caminho que devem ser identificados. Estão fora e dentro de cada um de nós. Os obstáculos externos são aqueles superficiais que nos desviam do reto caminho. São como ruídos que prejudicam o foco e a comunicação verdadeira. Distraem e enervam, levando-nos ao estresse ou à repressão de medos e fantasmas. Exigem um olhar arguto e persistência mesmo depois de quedas. Os internos são aqueles obscuros e muitas vezes desconhecidos. É preciso contar com a graça de Deus para enfrentá-los e resistir. Exigem conversão e misericórdia, pois o silêncio interior favorece a comunicação e sua identidade veraz. Vencidos os obstáculos podemos penetrar em um estado agudo de felicidade, tal como o silêncio foi definido por Clarice Lispector. Dizia a poetisa: "Há um silêncio dentro de mim. E esse silêncio tem sido a fonte de minhas palavras".
A Igreja cristã sempre cultivou o silêncio e faz recomendações constantes para que cuidemos dele em nossas celebrações e na vida cotidiana de nossos fieis. Assim a introdução geral da Liturgia das Horas proposta pelo Papa Paulo VI, em 01/11/1970 orienta que: "Nas ações litúrgicas deve-se procurar em geral que se guarde também, há seu tempo, um silêncio sagrado (SC 30); por isso, haja ocasião de silêncio também na celebração da Liturgia das Horas. Por conseguinte, se parecer oportuno e prudente, para facilitar a plena ressonância da voz do Espírito Santo nos corações e unir mais estreitamente a oração pessoal com a Palavra de Deus e com a voz pública da Igreja, pode-se intercalar uma pausa de silêncio, após cada salmo, depois de repetida sua antífona, de acordo com antiga tradição, sobretudo se depois do silêncio se acrescentar a coleta do salmo; ou também após as leituras tanto breves como longas, antes ou depois do responsório (Liturgia das Horas, CNBB, 1984, n. 201 e 202, p.56)".
O silêncio sempre foi muito apreciado pelos monges cenobitas ou pelos anacoretas (eremitas), não porque tivesse valor em si mesmo, mas porque permite uma abertura para a plenitude que se esconde por detrás das palavras. O silêncio amado e buscado pelos monges e pelos místicos é feito de preparação e de expectativa. É um reconhecimento explícito de que somos incapazes de falar sobre o que é fundamental ou dramático. O povo simples sempre diz quando está diante de uma grande felicidade ou diante de uma grande perda ou fraqueza: não tenho palavras para explicar ou dizer. Quando alguém fala de algo que mudou sua vida fala das espumas, mas nunca das correntes submarinas. Fala do que sentiu, mas pouco pode dizer do que de fato viveu. O não dito é muito mais poderoso que a palavra. Assim quando precisamos estar com alguém que tem uma grande dor, as palavras desvanecem e se atrofiam. O melhor é calar para compreender. O silêncio, nestes momentos, exprime melhor a adoração, o abandono e o fascinante que cada ser humano busca ardentemente. E nesta "noite do Espírito", que é hora de amor, decisiva e irrevogável, perceberemos que não fomos nem seremos abandonados. Descobriremos que "depois da hora do meu amor, envolta no Vosso silêncio, chegará o dia do Vosso amor, a visão beatífica. Por consequência, agora que não sei quando chegará a minha hora, nem sequer se ela já começou, preciso esperar no limiar do Vosso santuário e do meu; preciso libertar este lugar dos ruídos do mundo (Karl Rahner, Apelos ao Deus do silêncio, Lisboa: Ed. Paulistas, 1968, p. 40)".
Em todos os povos e culturas o tema do silêncio como porta para Deus, se fez presente. O poeta, músico e filosofo indiano Rabindranath Tagore (1861-1941), ganhador do prêmio Nobel da literatura em 1913, tornou-se mundialmente famoso por seu livro Oferenda Lírica. Nele temos um belo poema sobre o silêncio que preenche o coração: "Se não falas, como vou encher o meu coração com o teu silêncio, e aguentá-lo. Ficarei quieto, esperando, como a noite em sua vigília estrelada, com a cabeça pacientemente inclinada. A manhã certamente virá, a escuridão se dissipará, e a tua voz se derramará em torrentes douradas por todo o céu. Então as tuas palavras voarão em canções de cada ninho dos meus pássaros e as tuas melodias brotarão em flores por todos os recantos da minha floresta (Gitanjali, Paulus, 1991, p. 19)".
Os monges do Oriente propuseram um caminho de oração fascinante chamado de hesicasmo, que é um estado de silêncio orante. O hesicasta é alguém que vive um estado de silêncio interior acompanhado pela memória constante de Deus. Isso exigirá uma qualidade fundamental que é a pureza de coração (Como água na fonte, Monges beneditinos camaldolenses, Loyola, 2009, p.187). Um dos maiores místicos da Igreja grega, São Simeão, o novo teólogo (949-1022) do mosteiro de Mamas, recomendava: "Sente-se sozinho e em silêncio. Incline a cabeça, feche os olhos, respire suavemente e imagine que está olhando para dentro do seu coração. Faça sua mente, ou seja, seus pensamentos, passar da sua cabeça ao seu coração. Respire e diga: Senhor Jesus Cristo, tende piedade de mim! Pronuncie essas palavras em voz baixa, movendo suavemente os lábios, ou pronuncie-as, simplesmente, em espírito. Tente afastar todos os outros pensamentos. Esteja tranquilo, seja paciente e repita essa frase tanto quanto puder (Relatos de um peregrino russo, Vozes, 2008, p. 42)".
Uma religiosa carmelita de Paris, irmã Maria-Amada de Jesus (1839-1874), compreendeu claramente o papel central que o silêncio interior deve exercer em nossas vidas para a vida feliz e íntegra. Ela dizia que a vida interior pode ser resumida em uma só palavra: silêncio! E ainda falar pouco às criaturas e muito a Deus, pois o silêncio com Ele é um silêncio da eternidade, da plena união da alma com Deus. Ela divide os degraus dessa subida espiritual em doze, que podem ser comparados aos dozes graus de humildade da regra de São Bento. Aqui estão esses passos pedagógicos de uma vida silenciosa: 1. Silêncio das palavras; 2. Silêncio de movimentos ou ações; 3. Silêncio da imaginação; 4. Silêncio da memória; 5. Silêncio diante das criaturas; 6. Silêncio do coração e dos sentimentos; 7. Silêncio da humildade ou do amor-próprio; 8. Silêncio da inteligência; 9. Silêncio do julgamento; 10. Silêncio da vontade; 11. Silêncio consigo mesmo; 12. Silêncio com Deus!
Cultivando o grande silêncio ouviremos o vento tocando rochedos, o mar atingindo a praia, pássaros cantando maviosas melodias, crianças balbuciando, amigos celebrando, pobres pedindo amor, doentes sofrendo, florestas crescendo e, sobretudo seremos capazes de auscultar a voz interior proclamando que o amor de Deus existe em nós, suave e inefável. Na voz da monja Maria-Amada de Jesus, poderemos então dizer: "Eu sou semelhante a um pequeno grão de areia, que espera na praia a onda que o fará mergulhar no oceano".
Prof. Fernando Altemeyer Junior
publicado na revista O Mensageiro de Santo Antonio - jan/fev. 2012, dos frades franciscanos conventuais de Santo André.
Devaneios 1.
Morro para tudo que não fui e tudo aquilo que não escolhi.
Quantas vidas não conhecerei? Quantos “eus” não saberei.
Cada minuto é um enterro, em cada piscar um morto.
Morro de mim incessantemente a cada idéia nova e a cada memória perdida.
fica um pouco de mim por onde passo, como fotografias soltas no chão. São corpos na estrada.
Não sou nem os cadáveres que ficaram, nem este que aqui está.
Sou uma escolha que escolhe mesmo nada fazendo.
Sou todos os caminhos que deixei de optar na estrada.
Sou a soma todas as vidas que morri. Infinitas mortes. Em infinitos mundos agora tão distantes.
Se escolher é viver não ter escolhido é morrer.
Só podemos fazer uma escolha por vez, mas “não escolhemos” infinitas escolhas de uma vez.
Por que são infinitos os caminhos, mas é única a escolha.
Mais morro que vivo. Sou um morto de possibilidades.
Morrem minhas crenças para que outras surjam
morre minhas células para que outras vivam.
Morre todos os amores de todas as mulheres que não amei para que uma floresça.
A cada letra que escolho deste texto morto, milhares de palavras não escolhidas são enterradas nos silêncio das frases não ditas.
Infinitas são as letras que não optei a cada instante que você lê estas palavras.
Eu morri para todas estas poesias.
Morri para os livros e para as bibliotecas.
Morri para a grama no parque, chapinhas em poças d’água.
Morri para o beijo que não te dei ontem e para as cerejas nos copos não bebidos.
Morri para os gritos e as declarações de amor.
Morri para tua mão sobre a minha e para o teu rosto no meu peito.
Morri para o cheiro podre e para o perfume que não usou.
Morri para o vestido branco que nunca teve e para o susto no espelho.
Morri para a falta de tempo de estar contigo e para todo o tempo que eu estive comigo.
Morri quando eu dormia, morri quando tu acordavas.
Morri para todos os teus sorrisos e lagrimas em todos os teus anos até aqui.
Morri para o teu passado morri para o meu futuro.
Morri de livre arbítrio.
Mas hoje, agora, neste momento, que já passou em dias, eu escolhi morrer para tudo apenas para estar com você.
Minhas mortes me levaram até aqui.
Assim como um herói que sacrifica inúmeras vezes sua vida para colher um breve momento eu morri para viver estes instantes com você ao teu lado.
Por que são destes momentos que nasce a vida,
e são destes instantes que se faz uma existência.Poema de Mauro.
terça-feira, 17 de julho de 2012
A Deusa e o Cosmos.
A Grande Deusa-Mãe tem sido venerada por todos os povos em todos os tempos. Apesar de seus diversos atributos, títulos e poderes, todas as divindades femininas emanam de uma única fonte: do princípio de Vida do Universo. Essa realidade suprema é chamada “A Deusa” e sua qualidade essencial é conter tudo, estar em tudo.
Nos relatos a respeito da origem do mundo, fala-se da Criação emergindo de um caos preexistente, ou de um espaço sombrio, sem limites nem forma, designado às vezes pelo nome de “águas primordiais” e que se supõe conter a totalidade das potencialidades. Dessa totalidade caótica nascem entidades distintas que o espírito humano classifica como boas ou más. Assim, a mitologia criou a imagem de boas mães, como Sofia e a Virgem Maria, mas também criou as que são consideradas más, como as Górgonas com cabelos de serpentes cujo olhar petrifica, como Sekmet (Egito), sedenta de sangue, e outras figuras ambivalentes como Hera e Afrodite (Grécia), Kâlî (Índia), Hine-nui-te-po (Oceania) e muitas outras. Essa tendência da Deusa de representar os complementares contrários – o mundo ctoniano e o celeste – caos e ordem, obscuridade e luz, esterilidade e fecundidade, destruição e criação, etc. – é habitualmente simbolizada por imagens circulares que lembram o Oroboros, a serpente que engole a própria cauda. A imagem da lua que, durante o mês lunar, passa de uma fina claridade crescente à plenitude, da obscuridade à claridade e vice-versa, é também um símbolo universal da Deusa.
O espírito humano tende a fragmentar e a categorizar. Ao contrário, o mito da Deusa nos faz conceber um único princípio de vida, pois Seu corpo – o Cosmos – engloba os diversos estados da Vida, os diferentes estados da existência. Assim, nascimento e morte são fases distintas de um mesmo processo contínuo, em que nada morre, mas tudo se transforma.
A vida, a morte e o processo de regeneração.
A maior parte das mitologias divide o Universo em céu – onde habitam os deuses, Terra – onde estão os humanos, e as profundezas da Terra e do mar – onde fica o reino dos mortos. Os antigos mitos da humanidade, ou seja, os da Suméria e do Egito, falam de muitas deusas, como Ereskigal e Neith, que foram exiladas no inferno.
O mito sumério de Ereskigal e Inanna mostra bem a ambivalência do princípio feminino do universo em seus aspectos de vida e morte e a constante possibilidade de regeneração. Inanna desce aos infernos para fazer voluntariamente a experiência de sua própria morte e de sua regeneração. Antes, porém, de descer ao reino de Ereskigal, seu lado sombrio, ela deve atravessar sucessivamente sete portas e despojar-se, a cada vez, de uma peça de seu vestuário, abandonando, pouco a pouco, os sinais de seu poder. Nos infernos, Ereskigal fixa-a com seu olhar de morte, mata-a e suspende seu cadáver em um gancho. Só quando propõe que Dumuzi, seu muito amado filho e esposo, tome seu lugar, é que Inanna consegue deixar os infernos. Ereskigal é a rainha do “Grande Mundo de Baixo” enquanto Inanna é a “Rainha do Mundo de Cima”. Ereskigal divide os mesmos atributos com Inanna, simbolizando ambas, portanto os dois aspectos de um mesmo princípio.
Os mitos agrários falam do mesmo processo de vida, morte e regeneração. Em todos eles, a criança simboliza a semente que é colocada na terra para que germine durante o inverno e renasça sob a forma de uma nova planta que cresce e amadurece, para ser finalmente colhida. Dessa forma, o ciclo agrário anual tornou-se uma alegoria da vida humana. Em Elêusis, os mistérios de Deméter compreendiam ritos secretos durante os quais os iniciados morriam para a vida passada antes de nascer para uma nova vida. Nesse meio tempo, sua alma deveria retornar à origem. Reviviam assim, de maneira simbólica, a descida aos Infernos e o retorno à terra da divindade. Esse processo é personificado pela Deusa, em que o grão é o símbolo da alma, é a semente que se transforma em árvore. Aqui a morte é vista como anunciadora da regeneração.
A Deusa das águas primordiais.
Muitas mitologias concebem o caos primordial como uma obscura extensão de águas sem limites. Muitas vezes o mundo é criado pela própria água, outras vezes, por uma divindade criadora que coexiste com a água desde toda a eternidade.
Esse símbolo da água como fonte de vida aparece em várias
tradições. No cristianismo, é exteriorizado na prática do batismo, na medida em que o novo adepto renasce para uma nova vida. As fontes batismais foram, muitas vezes, comparadas ao útero da Virgem Maria.
No Egito do período pré-dinástico, Neith, a deusa do Oceano, personificava as águas celestes e terrestres. Deusa primordial, continha o mundo e todas as criaturas vivas.
Os mares e os oceanos têm sido comparados às águas primordiais. A maior parte das “deusas-mães”, como Ísis, no Egito, foi associada ao mar ou ao oceano, ou ainda considerada como nascida dele. Como a lua está intimamente ligada às marés, muitas culturas deram às deusas lunares um poder total sobre as extensões marítimas. A vaca divina com cornos em forma de lua crescente simboliza a lua em muitas mitologias indo-européias, e tem como parceiro o touro, que é seu amante e filho. O touro é um dos símbolos de Poséidon, deus grego do mar. Afrodite, deusa do amor entre os gregos, na versão de Hesíodo também nasce das águas do mar fecundadas pelo sêmen de Urano, sendo considerada, pelos gregos, a Grande Deusa das águas (Revista SER no 8, pág. 42 e seguintes).
A Terra-Mãe.
A Deusa também é um símbolo do planeta terra e, como tal, está encarnada nas montanhas, nos vulcões, no curso das águas, nos desertos e em todos os acidentes geográficos.
Como símbolo da Terra-Mãe, podemos citar a deusa tibetana Klu-rgyalmo, “a rainha que colocou em ordem o mundo visível”, criando a abóbada celeste com a calota de seu crânio. Com sua carne, fez a terra; com seus ossos, os oceanos e os mares; com seu sangue, os cursos de águas; com seus dois olhos, fez o sol e os planetas; com seus dentes de cima, criou a lua. O trovão, o raio e a chuva nasceram de sua voz, de sua língua e de suas lágrimas.
Muitas tradições trazem a figura da Deusa como representante do nosso planeta. Dentre elas, a mais conhecida é Gaia, a deusa grega, símbolo da natureza, com seus poderes de criação e destruição.
A Ísis universal.
Na tradição egípcia, o princípio feminino do universo é representado por Ísis – a Grande Deusa-Mãe. O hieróglifo de seu nome é um trono, e freqüentemente ela é representada com um trono sobre a cabeça. Desde a primeira dinastia, os faraós fizeram-se chamar de “Filhos de Ísis”. O trono real era considerado o seio da deusa, e o néctar que saía de seu peito lhes conferia o direito divino de reinar.
Os gregos, após conquistarem o Egito, propagaram o culto a Ísis pelo mundo ocidental. Ísis é a transcrição grega de Esi, que significa “aquela que está sobre o trono”, isto é, a rainha. Já no século II de nossa era, Plutarco a descrevia como “o princípio feminino da natureza , que tem uma quantidade enorme de nomes , pois ela pode tomar todo tipo de aspecto e formas.”
Assim, muitos de seus atributos receberam diversos nomes na mitologia grega e romana, e espalharam-se por todo o planeta, chegando até o cristianismo como a Virgem Maria.
A Grande Deusa na tradição hebraica.
Shekhina/Sabedoria é a incognoscível e incorpórea parceira de Iahvé. Nos mitos gnósticos judaicos, Shekhina criou o mundo e o primeiro homem, mas, devido ao pecado de cada geração, desde Adão até os Sodomitas, ela se afasta pouco a pouco da terra, até encontrar refúgio no sétimo céu. A personificação de Shekhina foi, em parte, atribuída à Bíblia em aramaico que troca a fórmula hebraica “Eu moro” por “a morada da minha Shekhina”. Na tradição hebraica a Deusa foi reverenciada sob o nome de Shekhina/Sabedoria; mas, sob o aspecto de Eva, foi aviltada e despojada de sua divindade. Eva (Hawwâh em hebraico) significa “mãe de todos os viventes”, mas foi rejeitada por ser considerada como a origem de todos os males do homem.
Virgem Maria - a Grande Deusa do mundo cristão.
O tema mítico que originou o relato do nascimento, vida e morte de Jesus Cristo teve origem no Oriente Próximo, muito antes da era cristã. Maria, como muitas deusas-mães que a precederam (como a Deméter dos gregos, a Ísis dos egípcios, a Ashtar/Astarté dos sumérios e muitas outras), deu nascimento a um deus encarnado que morreu para salvar a humanidade e ressuscitou pouco depois.
A Bíblia não faz muitas referências a Maria. Ela aparece pela primeira vez na Anunciação como “a mãe que traz o Salvador”. No entanto, desde o século V a Santa Virgem foi considerada co-redentora e intercessora privilegiada entre a humanidade e seu filho. A partir desse momento, torna-se milagrosa, inspira peregrinos em massa no mundo inteiro e é objeto de um culto que lhe é próprio.
No mundo cristão é venerada com vários nomes que lembram, sobretudo, sua capacidade de auxiliar os que sofrem. Assim, é muito solicitada sob os nomes de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Nossa Senhora Auxiliadora, Nossa Senhora da Consolação, Nossa Senhora dos Prazeres, entre outros. É como se os homens intuíssem, de alguma forma, o poder de auxílio e cura contido no princípio feminino do universo.
Maria Madalena ou, mais precisamente, Maria de Magdala, que também esteve muito presente na vida de Cristo, é uma figura central entre os gnósticos, para os quais o conhecimento é a única via em direção ao divino. Enquanto prostituta arrependida, Maria Madalena possuía um conhecimento perfeito das coisas deste mundo; enquanto confidente ou, segundo certas tradições, esposa de Cristo, era um reservatório de sabedoria espiritual. Buscou o conhecimento de Deus encarnado no concreto da vida. Na Pistis Sophia, um texto egípcio do século III, Jesus louva várias vezes o saber de sua Mãe e afirma: “Maria de Magdala e João devem ser colocados acima de todos os meus discípulos e de todos os homens que serão iniciados nos mistérios do Inefável”.
A Deusa guerreira.
As deusas guerreiras são freqüentemente associadas ao sol e às estrelas. Os milhões de corpos celestes poderiam facilmente ser comparados a um exército de soldados reluzentes, esforçando-se para combater a obscuridade, isto é, combater a ignorância. Na mitologia eslava, Zarya, a deusa da aurora, é uma grande guerreira, que nasceu armada para dissipar as forças da noite. Muitas deusas guerreiras são representadas vestindo uma armadura flamejante, ou cobertas de ouro, de prata e de jóias.
Os poemas sufis são, na aparência, poemas de amor, mas, na verdade, descrevem, em linguagem cifrada, a sede pelo divino experimentada pelo místico. Nesses poemas, a “Bem-Amada” simboliza a divindade, ou a alma, e o “amante” é o místico. Deus aqui é representado como sendo feminino. A “Bem-Amada” descrita pelos sufis tem um aspecto guerreiro. Ela é a quintessência de uma deusa virgem guerreira, alternadamente feroz e ameaçadora, doce e sedutora.
A Deusa oriental da compaixão.
A divindade preferida dos chineses chama-se Kouan-Yin, a deusa da Clemência. É conhecida como “Aquela que escuta as preces, as queixas e os prantos”. Conhecida no Japão com o nome de Kan-non (ou Kannon), foi importada da China por missionários budistas, sob a forma de um bodhisattva.
Segundo a teologia budista, um bodhisattva é um ser esclarecido que, durante muitas gerações de meditação e de contemplação, aprendeu a escapar ao ciclo de mortes e renascimentos que aflige o resto da humanidade, mas escolheu reencarnar-se para ajudar os outros seres humanos a buscarem a salvação.
Kouan-yin era, na origem, Avalokitesvara, um discípulo nascido de uma lágrima derramada por Buda diante dos sofrimentos da humanidade. Essa transformação em mulher pode, à primeira vista, parecer um enigma numa religião que considera as mulheres menos perfeitas do que os homens. Mas não podemos esquecer que o budismo, quando foi introduzido na China (no séc. III), sofreu influência do taoísmo e do confucionismo. É possível então concluir que Avalokitesvara foi fundido em um sincretismo com uma divindade feminina local. Se levarmos em conta que um bodhisattva reúne em si o saber e a compaixão, não é de se surpreender que Avalokitesvara tenha sido unificado à Deusa. Como a Virgem Maria do mundo cristão, Kouan-yin ajuda os que a procuram nas horas difíceis, acolhendo-os e dando provas de clemência e piedade.
A Deusa e a busca do herói.
A Deusa está estreitamente relacionada à busca do herói. Algumas vezes é ela que inspira a sua jornada; outras vezes, aparece para ajudá-lo e guiá-lo em sua tarefa, ou para colocar-lhe obstáculos no caminho. Pode ainda aparecer como o obstáculo final, como no caso de Medusa, a Górgona, que devia ser morta por Perseu. Mas ele não seria capaz de liquidá-la sem a ajuda de Atena, a deusa da guerra e da sabedoria (Revista SER no 7, pág. 33). Tudo acontece como se o herói fosse um simples peão no tabuleiro de xadrez celeste, em torno do qual se defrontam os múltiplos aspectos da Deusa.
A busca pode ser interpretada como uma viagem de descoberta, a viagem do herói que sai em busca do próprio aperfeiçoamento, tentando conciliar dentro de si os vários aspectos da Deusa.
A conquista é simbolizada por uma “recompensa”, geralmente apresentada na figura de uma bela jovem, símbolo de sua própria alma. Sua prova consiste em “se comportar” de maneira apropriada em cada um dos aspectos da Deusa a fim de atingir o equilíbrio interior.
A Deusa e o trabalho gurdjieffiano.
Fizemos acima uma síntese de algumas faces da Deusa em diversas tradições. Poderíamos relatar inúmeras outras, mas essa não é a proposta deste trabalho. O importante aqui é notar que, sob a forma de um mito, o mesmo aspecto é relatado em várias tradições. Simbolizam os vários estados da Energia Vital, que vão do mais grosseiro ao mais sutil.
Portanto, a energia que tudo permeia no universo é uma única energia, com diversos graus de materialidade, isto é, diferentes estados vibratórios.
Em seu Ensinamento, o Sr. Gurdjieff deixa claro que “o homem é uma imagem do mundo e é impossível estudar um sem estudar o outro”1. Diz que “o mundo é feito de movimentos ondulatórios ou de matéria em diferentes estados de vibração. A velocidade das vibrações está na razão inversa da densidade da matéria”2. Assim, “quanto mais elevada for a ‘densidade da matéria’, mais baixa será a ‘densidade de vibrações’ e vice-versa”.
Portanto, o mundo manifestado possui vários planos de diferentes graus de materialidade. Com o homem, acontece a mesma coisa. Ele é um Universo em miniatura. Diz o Sr. Gurdjieff: “É necessário compreender bem a idéia da completa materialidade de todos os processos interiores, os psíquicos, intelectuais, emocionais, voluntários e outros, inclusive as aspirações poéticas mais exaltadas, os êxtases religiosos e as revelações místicas.
Em nossa vida cotidiana, vivemos em estados vibratórios muito densos, se comparados com as vibrações mais finas existentes em outros planos do universo. Isso porque a energia que nos anima está atuando sem que tenhamos consciência dela. Não entramos em contato direto com ela. Vivemos apenas os estados mais grosseiros da Deusa.
Wikepedia.
quinta-feira, 12 de julho de 2012
Amor.
Pense em alguém que você goste muito.
Do passado, do presente ou do futuro.
Pode ser um bichinho, um brinquedo, uma pessoa, uma criança, uma situação agradável.
Pense e sinta.
Sinta esse amor, agora, aqui, em você.
Conecte-se com o amor que habita você.
Comece a incluir nessa amorosidade todas as pessoas que estão próximas a você.
Vá expandindo sua capacidade de amar.
Inclua todas as pessoas que você conhece.
Agora inclua as que você não conhece.
Inclua próximas e distantes.
Inclua pessoas que você jamais viu.
Os povos africanos, asiáticos, australianos.
Os povos e tribos de toda a Terra.
Inclua em seu amor todo o planeta, com árvores e insetos. Flores e pássaros. Mares, rios, oceanos.
Inclua a vegetação da Amazonia e da Pantagonia.
Inclua o Mar Morto e o Deserto do Saara.
Não deixe o Pequeno Príncipe de fora.
Inclua os Lusíadas, a Odisséia, Kojiki,
Inclua toda a literatura mundial, um pouco de Machado de Assis, Eça de Queiroz, Shakeaspeare, um tanto de Saragosa, uma gota de Jorge Amado, banhado por Herman Hesse e Amon Oz.
Inclua todas as religiões.
Como se não houvesse dentro nem fora.
Imagine, como John Lennon, que o mundo é um só.
O mundo é uno. O mundo, o universo, o pluriverso é um só.
Nós somos unas e unos com o uno.
Perceba.
Isto que digo é a verdade.
E só há esse caminho.
Inúmeras analogias, linguagens étnicas, expressões regionais e temporais para tentar atingir o atemporal, o fluir incessante, incadescente, brilhante, da vida em movimento transformador.
Somos a vida da Terra.
Somos a vida do Universo.
Somos a vida do Multiverso.
E quando nossos pequeninos corações humanos se tornam capazes a ir além deste saquinho de pele que chamamos o eu, nos contatamos com a essência da vida. Que é a anossa própria essência e de tudo que é, assim como é.
Algum nome? Nenhum nome?
Caminhemos.Tornamo-nos o caminho a cada passo.
Que cada passo seja um passo de paz.
Que o novo ano se abra com a abertura dos corações-mentes de todos nós seres humanos.
Abertura para o infinito.
Abertura para a imensidão.
Abertura para a ternura.
Abertura para a sabedoria.
Abertura para a compaixão.
Que todos os seres em todas as esferas e todos os tempos se beneficiem com esse amor imenso que aqui e agora juntas, juntos, nos tornamos. E ao nos tornarmos o amor tudo se torna vida e vida em abundância. Ame e manifeste esse amor agora.
Mãos em prece.
Monja Coen.
OSHO: CIÚMES.
Ciúme é comparação. E fomos ensinados a comparar, fomos condicionados a comparar, comparar sempre. Alguém possui uma casa melhor, alguém tem um corpo mais bonito, alguém tem mais dinheiro, alguém possui uma personalidade mais carismática. Compare, continue comparando a si mesmo com todo mundo que você encontrar, e o resultado será um grande ciúme; esse é o sub produto do condicionamento da comparação.
De outra maneira, se você deixa de comparar, o ciúme desaparece. Assim você simplesmente sabe que você é você e ninguém mais, e que não há nenhuma necessidade de ser outro alguém. É bom que você não se compare com as árvores, senão você começaria a se sentir muito ciumento: porque você não é verde? E porque Deus tem sido tão duro com você - e nenhuma flor? É melhor você não se comparar com os pássaros, com os rios, com as montanhas; do contrário você irá sofrer. Você só se compara com os seres humanos, porque você foi condicionado a só se comparar com os seres humanos; você não se compara com os pavões e com os papagaios. Senão seu ciúme seria bem maior; você estaria tão sobrecarregado de ciúmes que você não seria capaz de viver de maneira nenhuma.
A comparação é uma atitude muito tola, porque cada pessoa é única e incomparável. Uma vez que esse entendimento se estabelece em você, o ciúme desaparece. Cada um é único e incomparável. Você é apenas você mesmo: ninguém nunca foi como você e ninguém nunca será como você. E você também não precisa ser nenhum outro.
Deus cria somente originais; ele não acredita em cópias carbono.
Um grupo de galinhas estava no quintal quando uma bola de futebol passou por sobre a cerca e caiu no meio delas. Um galo chegou gingando, estudou-a, e então disse, "Não estou reclamando garotas, mas vejam o trabalho que eles estão fazendo no vizinho ao lado".
Na porta do vizinho grandes coisas estão acontecendo: a grama é mais verde, as rosas são mais rosadas. Todo mundo parece estar tão feliz – exceto você. Você está continuamente comparando. E a mesma coisa está acontecendo com os outros, eles também estão comparando. Talvez eles também achem que seu gramado é mais verde – sempre parece mais verde à distância – que você tem uma esposa mais bonita... Você está cansado, você não pode acreditar como você permitiu se envolver com essa mulher, você não sabe como se livrar dela – e o vizinho pode estar com ciúmes de você, que você tem uma mulher tão bonita! E você pode estar com ciúmes dele...
Todo mundo tem ciúmes de todo mundo. E com ciúmes criamos um tal inferno, e com ciúmes nos tornamos muito medíocres.
Um velho fazendeiro estava mal-humoradamente avaliando os estragos da inundação.
"Hiram!" Gritou o vizinho, "seus porcos foram todos levados pela correnteza".
"E quanto aos porcos do Thompsom?" Perguntou o fazendeiro.
"Eles também foram levados".
"E os de Larsen?"
"Também".
"Hum!" Exclamou o fazendeiro, comemorando. "Não foi tão ruim como eu pensava".
Se todos estão na miséria, isso parece bom; se todos estão perdendo, isso parece bom. Se todos estão felizes e bem sucedidos, isso tem um sabor muito amargo.
Mas por que antes de tudo a idéia do outro entra na sua cabeça? Deixe-me lembrá-lo novamente: porque você não permitiu sua própria seiva fluir; você não permitiu sua própria felicidade brotar, você não permitiu seu próprio ser florescer. Daí você se sentir vazio no íntimo, então você olha para o exterior de cada um e de todo mundo porque isso é só o que você pode ver.
Você conhece seu íntimo e você conhece o exterior dos outros:
isso gera ciúmes. Eles conhecem seu exterior e eles conhecem o interior deles: isso gera ciúmes. Ninguém mais conhece seu íntimo. Lá você sabe que você não é nada, não vale nada. E os outros parecem tão sorridentes exteriormente. O sorriso deles pode ser falso, mas como você pode saber que são falsos? Talvez seus corações sejam também sorridentes. Você sabe que seu sorriso é falso porque seu coração não está sorrindo de maneira alguma, ele pode estar lamentando e chorando.
Você conhece sua interioridade, e só você a conhece, ninguém mais. E você conhece o exterior de todos, e as pessoas fizeram o exterior delas parecer bonito. Exteriores são vitrines e são muito enganadoras.
Há uma antiga história Sufi:
Um homem estava muito oprimido pelo seu sofrimento. Ele costumava orar diariamente a Deus, "Porque eu? Todos parecem ser tão felizes, porque só eu estou sofrendo tanto?" Um dia, em grande desespero, ele orou a Deus, "Você pode me dar o sofrimento de qualquer um outro e estou pronto para aceitar isso. Mas leve o meu, não posso mais suportá-lo".
Aquela noite ele teve um belo sonho, belo e muito revelador. Ele sonhou naquela noite que Deus aparecia no céu e dizia para todos, "Tragam todos os seus sofrimentos para o templo". Todos estavam cansados de sofrer – na verdade todos tinham orado alguma vez ou outra, "Estou pronto para aceitar o sofrimento de qualquer um outro, porém leve o meu sofrimento, é demais, é insuportável".
Assim todo mundo colocou seu próprio sofrimento em sacolas e levaram para o templo e todos pareciam muito felizes; o dia havia chegado, suas preces foram ouvidas. E esse homem também correu para o templo.
E então Deus falou, "Coloquem suas sacolas na parede". Todos as sacolas foram colocadas na parede e então Deus declarou: "Agora vocês podem escolher. Podem pegar qualquer sacola".
E a coisa mais surpreendente foi: que esse homem que tinha estado sempre orando, correu em direção a sua sacola antes que alguém mais pudesse escolhê-la! Ele contudo, ficou surpreso porque todo mundo correu para sua própria sacola e todos estavam contentes com a escolha. O que aconteceu? Pela primeira vez, todos viram a miséria dos outros, o sofrimento dos outros – as sacolas deles eram tão grandes, ou até mesmo maiores!
E o segundo problema era, as pessoas tinham se acostumado com os seus próprios sofrimentos. E agora escolher o sofrimento de outra pessoa - quem sabe que tipo de sofrimento estará dentro da sacola? Pra que se incomodar? Pelo menos você está familiarizado com o seu próprio sofrimento e você já está acostumado com ele, e ele é suportável. Por tantos anos você o tolerou - porque escolher o desconhecido?
E todos foram para casa felizes. Nada havia mudado, eles estavam trazendo o mesmo sofrimento de volta, mas todos estavam felizes e sorridentes e alegres porque conseguiram suas próprias sacolas de volta.
Pela manhã ele orou para Deus e disse, "Grato pelo sonho; nunca mais pedirei novamente. Tudo que você me tem dado é bom para mim, tem que ser bom para mim; eis porque você me deu isso".
Devido ao ciúme você está em constante sofrimento; você torna-se medíocre para os outros. E por causa do ciúme você começa a ficar falso, porque você começa a fingir. Você começa a fingir coisas que você não possui, você começa a fingir coisas as quais você não pode ter, que não são naturais a você. Você se torna cada vez mais artificial. Imitando os outros, competindo com os outros, que mais você pode fazer? Se alguém tem alguma coisa e você não tem, e você não tem a possibilidade natural de ter isso, o único jeito é arranjar algum substituto barato para isso.
Eu soube que Jim e Nancy Smith divertiram-se muito na Europa nesse verão. É tão legal quando um casal finalmente tem a oportunidade de realmente viver bem. Eles estiveram por toda parte e fizeram de tudo. Paris, Roma... Você diz o nome, eles estiveram lá e viram tudo.
Porém foi tão embaraçante voltar para casa e passar pela alfândega. Vocês sabem como a os oficiais da alfândega espionam todos os seus pertences. Eles abriram uma sacola e tiraram três perucas, cuecas de seda, perfume, tintura para os cabelos... Realmente embaraçante. E era apenas a sacola de Jim!
Basta olhar para dentro de sua mala e você irá encontrar tantas coisas artificiais, falsas, coisas fictícias – pra que? Porque você não pode ser natural e espontâneo? – devido aos ciúmes.
O homem ciumento vive no inferno. Pare de comparar e os ciúmes desaparecem, a mediocridade desaparece, a falsidade desaparece. Mas você só pode deixá-los se seus tesouros íntimos começarem a crescer; não existe outra maneira.
Cresça, torne-se um individuo mais e mais autêntico. Ame e respeite a si mesmo do jeito que Deus lhe fez e então, imediatamente, as portas do paraíso se abrem para você. Elas sempre estiveram abertas, você simplesmente nunca deu atenção a elas.
terça-feira, 10 de julho de 2012
HINO.
Santa Maria! Volve o teu olhar tão belo,
de lá dos altos céus, do teu trono sagrado,
para a prece fervente e para o amor singelo
que te oferta, da terra, o filho do pecado.
Se é manhã, meio-dia, ou sombrio poente,
meu hino em teu louvor tens ouvido, Maria!
Sê, pois, comigo, ó Mãe de Deus, eternamente,
quer no bem ou no mal, na dor ou na alegria!
No tempo que passou veloz, brilhante, quando
nunca nuvem qualquer meu céu escureceu,
temeste que me fosse a inconstância empolgando
e guiaste minha alma a ti, para o que é teu.
Hoje, que o temporal do Destino ao Passado
e sobre o meu Presente espessas sombras lança,
fulgure ao menos meu Futuro, iluminado
por ti, pelo que é teu, na mais doce esperança.
Edgar Allan Poe.
O JARDINEIRO – Robindronath TAGORE.
És como a nuvem da tarde
flutuando no céu do meu sonho.
Posso criar-te e modelar-te segundo
os caprichos do meu amor.
E és minha, ó habitante dos meus
sonhos infinitos.
Os teus pés estão orvalhados pela gloria
do meu desejo, ó respingadora dos meus cânticos
da tarde.
Os teus lábios tornaram-se amargos e doces
pelo vinho da minha dor.
E és minha, ó habitante dos meus
sonhos solitários.
É a sombra das minhas paixões que torna
sombrios os teus olhos. És a alucinação do
meu olhar.
Eis que te prendi e envolvi nas malhas dos
meus cânticos, ó meu amor.
E és minha, ó habitante dos meus
sonhos imortais.
flutuando no céu do meu sonho.
Posso criar-te e modelar-te segundo
os caprichos do meu amor.
E és minha, ó habitante dos meus
sonhos infinitos.
Os teus pés estão orvalhados pela gloria
do meu desejo, ó respingadora dos meus cânticos
da tarde.
Os teus lábios tornaram-se amargos e doces
pelo vinho da minha dor.
E és minha, ó habitante dos meus
sonhos solitários.
É a sombra das minhas paixões que torna
sombrios os teus olhos. És a alucinação do
meu olhar.
Eis que te prendi e envolvi nas malhas dos
meus cânticos, ó meu amor.
E és minha, ó habitante dos meus
sonhos imortais.
segunda-feira, 9 de julho de 2012
O ciclo dos sete anos.
"A vida tem círculos de sete anos, ela se move em círculos de sete anos exatamente como a terra faz uma rotação em seu eixo em vinte e quatro horas. Ninguém sabe porque não são nem vinte e cinco nem vinte e três horas. Não há nenhum jeito de se responder isso. É simplesmente um fato. Assim, não me pergunte porque a vida se move em círculos de sete anos. Eu não sei. O máximo que eu sei é que ela se move em círculos de sete anos. E se você compreender esses círculos de sete anos, você compreenderá uma grande coisa sobre o crescimento humano.
Os primeiros sete anos são os mais importantes porque os alicerces da vida estão sendo assentados. É por isso que todas as religiões estão muito preocupadas em agarrar as crianças o mais rápido possível. Os judeus circuncidam as crianças. Que bobagem! Mas eles estão carimbando a criança como uma judia. Essa é uma maneira primitiva de carimbar. Ainda se faz isso com o gado aqui nas redondezas.
Aqueles primeiros sete anos são os anos em que você é condicionado, é preenchido com todos os tipos de idéias que irão atormentá-lo ao longo de toda a sua vida, que irão distraí-lo de sua potencialidade, que irão corrompê-lo, que nunca irão lhe permitir ver claramente. Elas sempre virão como nuvens diante de seus olhos e irão fazer com que tudo fique confuso. As coisas são claras, muito claras. A existência é absolutamente clara. Mas os seus olhos têm camadas e mais camadas de poeira.
E toda essa poeira foi arranjada nos primeiros sete anos de sua vida, quando você era tão inocente, tão confiante, que qualquer coisa que lhe fosse dita você aceitava como sendo verdadeira. E mais tarde, será muito difícil você descobrir tudo aquilo que entrou em seus alicerces. Terá se tornado quase parte de seu sangue, ossos, de sua própria medula. Você perguntará mil outras questões, mas você nunca perguntará a respeito dos alicerces básicos de suas crenças.
A primeira expressão de amor para com a criança é deixá-la absolutamente inocente em seus primeiros sete anos, sem condicionamento, deixá-la por sete anos completamente selvagem, uma pagã. Ela não deveria ser convertida ao hinduismo, ao islamismo, ao cristianismo. Qualquer um que esteja tentando converter a criança, não tem compaixão, é cruel, está contaminando a própria alma de um viçoso recém-chegado. Antes mesmo que a criança tenha formulado perguntas, ela já terá recebido respostas com filosofias , dogmas e ideologias pré-fabricadas. Essa é uma situação muito estranha. A criança não perguntou a respeito de Deus e você já está lhe ensinando. Por que tanta impaciência? Espere!
Se algum dia a criança demonstrar interesse por Deus e começar a perguntar a respeito, então tente dizer a ela não apenas a sua idéia sobre Deus, porque ninguém tem qualquer monopólio. Coloque diante dela todas as idéias de Deus que estiveram presentes em diferentes povos, em épocas diferentes, por religiões, culturas e civilizações diferentes. E lhe diga: 'Você pode escolher dentre essas aquela que mais lhe atrai. Ou você pode inventar a sua própria, se nenhuma estiver adequada. Se todas lhe parecerem defeituosas, e você achar que pode ter uma idéia melhor, então invente a sua própria. Ou se você achar que não há jeito de inventar uma idéia sem falhas, então abandone toda essa história, ela não é necessária. Um homem pode viver sem Deus.'
Não há qualquer necessidade de que o filho tenha que concordar com o pai. Na verdade parece muito melhor que ele não tenha que concordar. É assim que a evolução acontece. Se toda criança concordar com o pai, então não haverá qualquer evolução, porque o pai terá concordado com seu próprio pai, e todo mundo estará no ponto em que Deus deixou Adão e Eva: nus e expulsos do jardim do Éden. Todo mundo estará lá. O homem tem evoluído porque os filhos têm discordado de seus pais, dos pais de seus pais e de todas as tradições. Toda essa evolução é uma tremenda divergência com o passado. Quanto mais inteligente você for, mais você irá discordar. Mas os pais valorizam as crianças que concordam e condenam as que discordam.
Até os sete anos, se a criança puder ser deixada inocente, não corrompida pelas idéias dos outros, assim tornar-se-á impossível distraí-la de seu crescimento potencial.Os primeiros sete anos da criança são os mais vulneráveis. E elas estão nas mãos dos pais, dos professores, dos padres....
Como defender as crianças dos pais, dos padres e dos professores é uma questão de tamanha proporção que parece quase impossível de se fazer. Não é uma questão de ajudar a criança. A questão é proteger a criança. Se você tiver uma criança, proteja-a de si mesmo. Proteja a criança dos outros que possam influenciá-la, pelo menos até os sete anos, proteja-a. A criança é como uma pequena plantinha, fraca e suave. Um simples vento forte pode destruí-la, qualquer animal pode comê-la. Você põe um fio protetor ao redor dela, mas não a aprisiona, você está simplesmente protegendo-a.Quando a planta estiver maior, o fio será removido.
Proteja a criança de todo tipo de influência de modo que ela possa permanecer ela mesma. E isso é só uma questão de sete anos, porque então o primeiro círculo estará completo. Aos sete anos ele estará bem enraizado, centrado, forte o suficiente. Você não sabe o quanto uma criança de sete anos pode ser forte porque você só tem visto crianças corrompidas. Elas carregam os medos e a covardia de seus pais, mães e familiares. Elas não são elas mesmas.
Se uma criança permanecer sem ser corrompida por sete anos... Você ficará surpreso ao encontrar tal criança. Ela será tão afiada como uma espada. Seus olhos serão claros, seus insights serão claros. E você verá nela uma tremenda força que você não poderá encontrar nem mesmo num adulto de setenta anos.
Se você é um pai (ou mãe), você precisará muito dessa coragem para não interferir. Abra portas para direções desconhecidas de modo que a criança possa explorá-las. Ela não conhece o que ela tem dentro dela, ninguém sabe. Ela terá que tatear no escuro. Não faça com que ela tenha medo do escuro, não faça com que ela tenha medo do fracasso, não faça com que ela tenha medo do desconhecido. Dê a ela suporte. Quando ela estiver indo para uma jornada desconhecida, ofereça a ela todo o seu suporte, com todo o seu amor, com todas as suas bênçãos.
Não deixe que ela seja afetada pelos seus medos. Você pode ter medos, mas mantenha-os consigo mesmo. Não descarregue esses medos em cima da criança, porque isso será interferência.
Depois dos sete anos, no próximo círculo de sete anos, dos sete aos quatorze, algo novo é acrescentado à vida: os primeiros alvoroços da energia sexual da criança. Mas elas são apenas uma espécie de ensaio.
Ser pai é uma tarefa difícil. Assim, a não ser que você esteja pronto para assumir tal tarefa difícil, não se torne um pai. As pessoas simplesmente seguem se tornando pais e mães sem saber o que estão fazendo. Você está trazendo uma vida à existência e todo o cuidado do mundo será necessário.
Agora, quando a criança começa a brincar com seus ensaios sexuais, é o tempo em que os pais mais interferem, porque foi assim que fizeram com eles. Tudo o que eles sabem é o que foi feito com eles, assim eles seguem fazendo o mesmo com as suas crianças. As sociedades não permitem ensaio sexual, pelo menos não permitiram até o século XX, exceto nas duas e três últimas décadas em alguns países muito avançados. Agora já existem escolas mistas para as crianças, mas em um país como a Índia, mesmo agora, a educação mista começa a surgir apenas no nível universitário.
O menino de sete anos e a menina de sete anos não podem estar no mesmo internato. E este é o momento para eles, sem qualquer risco, sem perigo de gravidez, sem que quaisquer problemas surjam para suas famílias; este é o momento em que lhes deveriam ser permitidas todas as brincadeiras.
Sim, isso terá uma conotação sexual, mas será só um ensaio, não se trata de um drama teatral verdadeiro. E se você não permitir a eles nem mesmo esse ensaio, de repente então, um dia a cortina se abrirá e o verdadeiro drama começará... E eles não saberão o que está acontecendo e não haverá nem mesmo aquela pessoa escondida no palco para lhes soprar o que devem fazer. Você terá bagunçado a vida deles completamente.
Esses sete anos, o segundo círculo da vida, são significantes como um ensaio. Eles se encontrarão, se misturarão, brincarão e se conhecerão. E isso ajudará à humanidade a se livrar de quase noventa por cento das perversões. Se às crianças dos sete aos quatorze for permitido estarem juntas, nadarem juntas, estarem nuas juntas, noventa por cento das perversões e noventa por cento das pornografias irão simplesmente desaparecer. Quem irá dar atenção a essas coisas?
Quando um garoto conheceu tantas garotas nuas, que interesse uma revista tipo Playboy poderá ter para ele? Quando uma garota tiver visto tantos garotos nus, eu não vejo qualquer possibilidade de existir curiosidade a respeito do outro. Isso simplesmente desaparecerá. Eles irão crescer juntos naturalmente, não como duas espécies diferentes de animais. É assim que eles crescem agora, como duas espécies diferentes de animais. Eles não pertencem à mesma espécie humana, eles são mantidos separados. Mil e uma barreiras são criadas entre eles, e não lhes permitem qualquer ensaio de sua vida sexual que está chegando...
Se você tiver feito o dever de casa direitinho, se você tiver brincado com sua energia sexual exatamente com o espírito de um desportista (e naquela idade este é o único espírito que você poderia ter), você não se tornará um pervertido, um homossexual. Todo tipo de coisas estranhas não virão à sua cabeça, porque você está se movendo naturalmente com o outro sexo e o outro sexo está se movendo com você. Não haverá qualquer bloqueio e você não estará fazendo nada errado com quem quer que seja. Sua consciência estará clara porque ninguém pôs nela idéias do que é certo e do que é errado. Você simplesmente está sendo o que você é.
Dos quatorze aos vinte e um o seu sexo amadurece. E isso é significante para se entender: se o ensaio tiver sido bom no período dos sete aos quatorze quando o sexo amadurece, acontece uma coisa muito estranha que você nem mesmo deve ter pensado a respeito, porque não lhe foi dada a oportunidade. Eu disse a você que o segundo círculo de sete anos, dos sete aos quatorze, deu a você um vislumbre de antes da peça teatral. O terceiro círculo de sete anos da a você um vislumbre do que vem depois.Você está ainda com garotas ou garotos, mas agora uma nova fase começa em seu ser: você começa a se apaixonar.
Não é ainda um interesse biológico. Você não está interessado em procriar, você não está interessado em se tornar marido ou esposa. Esses são os anos dos jogos românticos. Você está mais interessado na beleza, no amor, na poesia, na escultura, que são fases diferentes de romantismo.
Dos vinte e um aos vinte e oito é um tempo em que eles podem se acertar. Eles podem escolher um companheiro. E eles são capazes de escolher agora, através de toda a experiência dos dois círculos passados eles podem escolher o companheiro certo. Não há mais ninguém que possa fazer isso por você. Isso é algo como um pressentimento. Nenhuma aritmética, nenhuma astrologia, nenhuma quiromancia, nenhum I-Ching poderão fazer isso.
Isso é um pressentimento: entrando em contato com muitas, muitas pessoas, de repente alguma coisa dá um clique que nunca deu com qualquer outra pessoa. E isso clica com tanta certeza e tão absolutamente, que você não pode nem mesmo duvidar. Mesmo se você tentar duvidar, você não conseguirá. A certeza é tão tremenda. Com esse clique vocês se acertam.
Entre os vinte e um e os vinte e oito, em algum lugar, se tudo correr bem do jeito que eu estou dizendo, sem interferência de outros, então vocês se acertam. E o período mais agradável da vida vem dos vinte e oito aos trinta e cinco: o mais alegre, o mais pacífico e harmonioso, porque duas pessoas começam a se derreter e a se fundir uma com a outra.
Dos trinta e cinco aos quarenta e dois, um novo passo, uma nova porta se abre. Se até os trinta e cinco você sentiu profunda harmonia, uma sensação orgástica e tiver descoberto a meditação através disso, então, dos trinta e cinco aos quarenta e dois vocês ajudarão um ao outro a ir mais e mais fundo na meditação sem sexo, porque o sexo neste ponto começa a parecer infantil, juvenil. Quarenta e dois anos é o tempo certo quando a pessoa deveria ser capaz de saber exatamente quem ela é.
Dos quarenta e dois aos quarenta e nove ela vai mais fundo e mais fundo na meditação, mais e mais para dentro de si mesmo, e ajuda o companheiro no mesmo caminho. Eles se tornam amigos. Não mais existe marido e não mais existe esposa. Esse tempo já passou. Isso já deu a sua riqueza para a sua vida. Agora existe alguma coisa mais alta, mais alta que o amor. Isso é amizade, um relacionamento de compaixão para ajudar o outro a ir mais fundo dentro de si mesmo, a se tornar mais independente, a se tornar mais só, como duas árvores altas, separadas mas ainda próximas uma da outra, ou dois pilares num templo suportando o mesmo teto, estando tão próximos e tão separados, tão independentes e tão sós.
Dos quarenta e nove aos cinqüenta e seis essa solitude se torna o foco de seu ser. Tudo no mundo perde o significado. A única coisa significante que permanece é essa solitude.
Dos cinqüenta e seis aos sessenta e três você se torna totalmente o que você está para ser: o florescimento potencial.
Dos sessenta e três aos setenta você começa a ficar pronto para deixar o corpo. Agora você sabe que não é o corpo, você sabe que também não é a mente. O corpo era conhecido como separado de você em algum lugar quando você tinha trinta e cinco anos. Que a mente está separada de você foi conhecido em algum lugar quando você tinha quarenta e nove anos. Agora, tudo mais foi deixado de lado exceto a auto observação. Só a pura consciência, a chama da consciência permanece com você, e isso é a preparação para a morte.
Setenta é a duração de vida natural para o homem. E se as coisas se moverem em seu curso natural, então ele morre com tremenda alegria, em grande êxtase, sentindo-se imensamente abençoado porque a sua vida não foi sem significado e que, pelo menos, ele encontrou o seu lar. E por causa dessa riqueza, dessa realização, ele é capaz de abençoar toda a existência.
Só por estar perto de tal pessoa, quando ela está morrendo, é uma grande oportunidade. Você sentirá, na medida em que ele deixa o corpo, algumas flores invisíveis caindo sobre você. Embora você não possa vê-las, você poderá senti-las."
OSHO Darkness to Light.
castelo chamado orgulho.
O acesso é dificultado por acidentes abruptos e pelos galhos
espinhosos de plantas ressequidas que formam uma "floresta" cerrada
em que a passagem é fechada a quem não se anima a romper a horda
ameaçadora de espinhos. As muralhas do castelo são muito sólidas e os
blocos de pedra utilizados na sua formação são altamente maciços e
fortemente ligados, o que dificulta o arremetimento por qualquer
arma. O senhor do castelo mantém em regime severo de prisão um
valente exército sempre na espreita de disputar em confronto com os
tenazes e bem armados carcereiros suas forças intima e
extraordinariamente contidas, fazendo com que se mantenha na
obscuridade da relativa impotência.
O castelo de imponente silhueta ao abrigo de densa névoa tem um nome
tão aparatoso quanto sua própria figura: ORGULHO. Sua localização:
bem no coração de uma mata densa, muito pouco explorada. Nunca se viu
no mundo objetivo uma defesa tão impenetrável, as abordagens do mundo
exterior, na maior parte das vezes, param no forte espinheiro que
protege o castelo. As que logram passar pela defesa batem no maciço
inespugnável, não encontrando meio de invadir fortaleza tão hermética.
Como acessar as dependências desta fortificação e resgatar o valoroso
exército mantido sob inclemente e forçada subjugação? O castelo é
absolutamente impenetrável, o que nos leva a concluir que se
possibilidade houver, somente uma revolução interna pode realizar a
façanha. Isto é, um motim! Ou o exército prisioneiro descobrir um
ponto fraco na guarda inimiga ou aproveitar-se de uma distração -
causada por algum afrouxamento do castelão - e dominar uns, ganhar a
adesão de outros, e assim, estar em condições de estabelecer uma
guerra no interior do castelo. Esta terá a duração comparável com a
resistência de um e de outro exército, que acabará - sabe-se lá
depois de quanto tempo! - com a libertação dos prisioneiros e a queda
do castelo, se não com a derrota destes e uma nova oportunidade de
luta terá que ser aguardada, após restabelecimento das forças
trancafiadas concomitante com novo ensejo oferecido pela guarda do
castelo. E o ciclo continua, mas até que a resistência do exército do
castelão seja minada pela persistência irresistível do intrépido
colosso que procura manter sob seu poder tirânico. Essa resistência
do comando e do povo do castelo exige uma concentração de esforços
insustentável ao longo do tempo - podem ser anos, séculos... - mas um
dia o castelo, por esgotamento das forças reinantes, cai. E do
coração dessa floresta, agora bela e exuberantemente transformada,
partem em decidida disparada, os tropéis libertos que vão reinar
soberanos por toda a vastidão que a imaginação alcança.
domingo, 8 de julho de 2012
"Êxtase - A linguagem esquecida" - Osho.
Um brinde a nós, amigos!
Um brinde à vida, à alegria, ao êxtase que escondemos em nossas próprias cabeças! Um
brinde que nos arranque de nosso sono cheio de sonhos, de ambição e desses truques do mundo que
substituíram a vida real. Bebamos da taça de um louco que nos permite abandonar todo o nosso
controle, as nossas tensões, as nossas restrições, que durante tanto tempo nos impediram de abraçar
Deus, a alegria e o êxtase!
Um brinde ao calor daquilo que derreterá nossos corações congelados, e pela primeira vez
nos permitirá fluir e sentir com todo o nosso ser.
Encontrem Bhagwan Shree Rajneesh, um bêbado, um louco que está aqui, vivo,
oferecendo-lhes o sabor de um outro louco de uma outra época — Kabir — um louco que através de
sua inocência, através de sua ignorância, através de sua admiração, canta uma canção onde a poesia
floresce", uma poesia que pode ser entendida por qualquer um que seja suficientemente inocente!
Bhagwan facilita-nos um desaprendizado, uma mudança de foco, um relaxamento — um mover-se
da cabeça para o coração e sua inocência, um tornar-se extraordinário sendo comum exactamente
como aconteceu a Kabir. ..e cada momento torna-se tão absolutamente precioso, traz tanta alegria e
recompensa em si mesmo, que nada mais resta a não ser desfrutá-lo, perder-se nele, embriagar-se de
vida!
Através desses novos olhos tem-se a sensação de que a vida é Deus e que Deus é a vida;
não importa o quanto possamos correr ou quão esperta possa ser a mente nas suas tentativas de
adiar,' não há possibilidade de escapar — não há outra maneira de existir. Como diz Bhagwan:
"Vivemos no oceano de Deus. .. Ele o circunda, Ele circunda tudo."
As velhas escrituras da Índia dizem que a existência vem quando Deus expira — você
nasce e a não-existência, quando Ele inspira — você desaparece na morte... mas você nunca deixa
Deus! Pode-se dizer: «Procurado — vivo ou morto. ..por Deus... pela vida... pela existência!»
Temos apenas que nos sacudir e nos despertar para esta grande bênção da vida. ..despertar a
memória desta linguagem esquecida do êxtase que repousa como que hibernada em nossos corações
adormecidos.
No Ocidente, a nossa memória tem sido entorpecida pela nossa ambição, pela nossa
entrega aos prazeres, pela nossa pressa em .satisfazer certas condições que, uma vez satisfeitas, nos
recompensarão com a felicidade que nos espera no final de algum arco-íris mítico. No Oriente, o
mundo, os negócios, são coisas para serem renunciadas, algo contra o qual se deve criar um
antagonismo.
Kabir, entretanto, não pertence a nenhum dos dois. É um homem de real compreensão —
sabe que não se trata de entrega aos prazeres ou de renúncia, mas sim, de consciência. Ou como diz
Bhagwan: "Esteja no mundo, mas conscientemente. Não vá a nenhum lugar, não crie qualquer
atitude antagónica em relação à vida. Deus nada mais é do que um profundo 'sim' à existência". No
caso de Kabir, conta-se que ele nasceu como muçulmano e foi educado por um hindu, ficando então
aberto para as riquezas das duas tradições — não ficou limitado pela escolha de uma e rejeição da
outra. ..disse SIM a ambas.
Desta maneira Bhagwan também reivindica toda a herança da humanidade, dizendo um
'sim' eternamente amoroso a todos: aos cristãos, aos hindus, aos parses, aos sikhs, aos muçulmanos,
aos judeus, aos ateus, aos teístas, ad infinitum.
Este 'sim' é a chave do reaprendizado desta linguagem esquecida. Este 'sim' é o que nos dá
coragem para continuar. Este 'sim' é o ingrediente que está faltando, é o elo perdido para a
recuperação, a reivindicação desse êxtase. Não é da cabeça — é do coração... não é do pensamento,
mas do sentimento.
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E o coração é a nossa totalidade. Sempre que dizemos 'sim' a alguma coisa, sempre que
respondemos com nossos corações, estamos respondendo com nossa totalidade. Sempre que somos
totais em qualquer coisa, ficamos extasiados. Bhagwan diz: "Sim, alegria é loucura. E só os loucos
podem suportá-la. Abandone-se e seja um bêbado!. ..Deus é selvagem e a alegria é o primeiro passo
em direcção a Ele. O êxtase é selvagem. Você tem que se perder nele, no seu próprio abismo".
E como a alegria é loucura e abandono, então é preciso estar pronto para saltar, para
mover-se livre e perigosamente, sem os condicionamentos e limites da sociedade, da religião, do
país, da tradição ou dos rituais que acumulamos — esses limites do nosso passado que nos
impedem de viver Deus, de viver a vida, de viver. ..agora mesmo. ..de viver esta linguagem do
êxtase. .. neste exacto momento!
Bhagwan e Kabir concordam que se Deus não puder ser encontrado nesta vida, não será
encontrado em lugar algum... que sempre que você for total, Ele estará presente. ..ser total é a porta!
Então, será que você está pronto para beber comigo, para beber da taça destes loucos —
Bhagwan Shree Rajneesh e o poeta-místico Kabir — e abandonar os seus controles e misérias?... e
mais uma vez, através da sua natureza, através da felicidade... falar a linguagem do êxtase?
Se você não puder controlar a sua alegria, não poderá controlar o seu êxtase... você tem
que se embeber dele na vida: ". ..e a vida jamais grita, apenas sussurra. A menos que você esteja
muito atento, sintonizado e ligado a ela, não será capaz de entender a vozinha silenciosa de Deus".
Tenha, através dos olhos deste Mestre iluminado, Bhagwan Shree Rajneesh, uma nova
visão do divino, a jornada infinita para dentro do amor, e aceite o seu brinde à nossa divindade, ao
gosto pela vida e à coragem para explorar:
"Convido-o a vir comigo aos domínios mais profundos deste louco, Kabir. Sim, ele era
um louco — todas as pessoas religiosas o são. Loucas, porque não confiam na razão. Loucas,
porque amam a vida. Loucas, porque podem dançar e cantar. Loucas, porque para elas a vida não é
uma questão, um problema para ser resolvido, mas um mistério no qual temos que nos dissolver".
Tudo o que você precisa é alegrar-se, meu amigo, e divertir-se! Leia este livro como se
entrasse pela porta que leva à terra da linguagem esquecida... abra seus braços e permita que a
confiança na vida e no amor afaste a sua cabeça, e com um grande oooouuhhh encha-se da
excitação, do êxtase desta aventura, da exploração desta linguagem esquecida. ..do êxtase: a
linguagem esquecida.
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