sexta-feira, 15 de novembro de 2013
MITOS E LENDAS DO BRASIL.
O mito de antigas raças, semeados pelos povos que tiveram longa vida e
paciente trabalho de constituição, deu margem à formação de incríveis lendas,
extensos poemas e formidáveis narrativas, por onde visualiza-se as velhas
civilizações que construíram.
Da Índia misteriosa, ficaram as florações do gênio védico e os milagres
guerreiros catalogados por mãos invisíveis no "Mahabarata" e no "Ramayana".
Da Grécia antiga, originou-se o manancial de outros prodígios amorosos e
heróicos que Homero cantava pelas ruas de Atenas a troco de ninharias e escassos
favores.
Das florestas centrais da Europa, o misticismo dos normandos, cruzando-se
com o valor guerreiro dos germanos, arrancou a epopéia dos "Niebelungen". Estes
ancestrais, colecionavam suas vitórias, praticando a religião dos mitos.
A história de nossa terra, entretanto, não possui um passado tão tumultuoso,
do qual se vangloriam estas velhas civilizações. O pano de fundo do quadro
brasileiro, é pintado por forças virgens e naturais, formando um mundo bárbaro e
sensível.
Nesta terra, existiu uma vida rústica, que exercia um feitiço marcante,
inspirada pela exaltação de divindades, símbolos e ídolos. Uma visão demorada
nos revelará um mundo alegórico do qual participavam todas as fantasias geradas
no mundo imaginário dos elementos que aqui se definiram. Esta original
mitologia, nasceu do encontro do homem com a terra, manifestando-se através de
lendas que cobriam extensa porção de nosso território.
O primeiro documento oficial escrito sobre a nossa terra, foi a crônica de
Pero Vaz de Caminha. Ele foi o que sentiu e transmitiu para seu país o encanto
da terra descoberta. Depois dele, Manuel da Nóbrega e Anchieta.
O indígena brasileiro, foi o elemento essencial na construção deste país,
não pelo que representou ou podia representar de romântico ou subjetivo, mas
pela força de uma necessidade econômica e guerreira para a qual era ele o mais
apto a colaborar.
TEOGONIA TUPI
Ao tempo do descobrimento os tupis já ocupavam uma grande extensão da costa,
do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte, mas separada por tribos de línguas
diferentes, como os tapuias. A expansão da raça tupi oferece-nos largo estudo
geográfico da região que dominou. Pelo que apontam os documentos históricos,
assim se distribuíram pelo país a raça tupi:
CARIJÓS
Do Rio Grande do Sul até a ribeirinha do Iguape;
TUPINIQUINS
De Iguape até próximo de Ubatuba;
TAMOIOS
De Ubatuba até Cabo Frio;
TEMIMINÓS
De Cabo Frio ao Itabapoana
TUPINIQUINS (de novo)
Do rio Santa Maria, Espírito Santo até o Camamú, na Bahia
TUPINAMBÁS
Do Camamú até o Iraporanga em Sergipe;
TUPINAÊS
Do Iraporanga ao São Francisco;
CAETÉS
Do São Francisco até o Iguassú em Pernambuco;
TABAJARAS
Do Itamaracá até o Paraíba;
POTIGUARAS
De Paraíba até o Jaguaribe;
TUPINAMBÁS (de novo)
Do Rio São João da Barra até o Gurupi;
TARAMAMBÉS
De Gurupi para cima no Pará
AMOIPIRAS
Na margem do rio São Francisco
Tupi tem a mesma raiz de "tap", desfigurada em "tup" e "top", o esplendor,
expressão sintética de "luz criadora". Por mais vaga que seja a teogonia
ameríndia, alguns fatos nos induzem à conclusão de que um ser misterioso se
desdobrou no pensamento indígena através da luz, do fogo e do sol e que este
pensamento deu lugar a reprodução de deuses que equivalem aos fenômenos da
natureza mais sensíveis. Isto explica a criação de ídolos e mitos através dos
quais é visível o fundo do panteísmo naturalístico. Inegavelmente a mitologia
indígena provém da dúvida e do mistério. O vento, o trovão, a tormenta, a chuva,
o sol, a vegetação, tudo que constitui matéria para espanto ou êxtase. Os
deuses bons, protegiam a vida, favoreciam as colheitas e a caça e se faziam
portadores da vitória sobre o inimigo. Já os maus, indiferentes ao destino do
homem, negava-lhe os desejos e habitavam o escuro das florestas e os cemitérios.
Por causa deles é que o sol era abrasador e a chuva não aparecia a tempo para
salvar a colheita.
Muito embora seu espírito belicoso, o tupi não fugiu às influências que
geraram as mais espantosas lendas e pitorescos episódios. Seus mitos foram
capazes de constituir um belo contingente que enriqueceu a imaginação dos povos
e das raças.
Esses mitos longínquos que atravessaram o tempo e o espaço, prolongando-se
em nossa sensibilidade de maneira sugestiva, são o próprio gênio das tabas
sobrevivendo a todas as vicissitudes para explicar o sentido obscuro de sua
história.
A história do pensamento humano, encontra-se hoje somente em duas formas: no
mito e no conto popular. Entre o conto e o mito existe uma simples diferença de
época e dignidade. O mito é resultado direto e primitivo da transformação dos
elementos míticos em fábulas. É a obra do espírito coletivo. O conto popular é o
último eco, com as gradações que a transmissão lhe impôs.
Na teogonia tupi existem três deuses superiores, o Sol (Guaraci), criador de
todos os viventes, a Lua (Jaci), criadora de todos os vegetais e Perudá ou Rudá,
deus do amor, encarregado da fertilidade e reprodução. Cada um deles era servido
por muitos outros, que por sua vez, servidos por tantos outros seres quantas as
espécies que reconheciam e assim por diante, até que cada lago ou rio ou espécie
animal ou vegetal tinha um deus protetor, uma mãe. O índio sempre teve
necessidade de exprimir filiação e empregavam para tanto, de preferência a
palavra mãe.
CLASSIFICAÇÃO DOS PRINCIPAIS DEUSES
GUARACI (SOL) - Mãe de todos os homens
Uirapurú
Jurupari
Uiará
JACI (LUA)- Tem duas formas: Iaci Omunhã (Lua Nova) e Iaci Icaua (Lua
Cheia)
Saci
Boitatá
Urutáu
Curupira
RUDÁ - Deus do amor e da reprodução
Cairé
Catiti
RUDÁ
Rudá apresenta-se como o deus do amor, na imagem de um guerreiro que reside
nas nuvens e se destina a criar o amor no coração dos homens, seguido de Cairé,
a Lua Cheia e Catiti, a Lua Nova, cuja missão era despertar saudades no amante
ausente.
Existem também uma classificação, admitida pela maioria dos indianistas:
MITOS DOMÉSTICOS
UIRAPURÚ
URUTAU
JURUPARI
UIARA
SACI
BOITATÁ
MITOS NACIONAIS
SUMÉ
TAMANDARÉ
Entre as diversas tribos da América, também estava disseminado o culto de
MARACÁ. Em tempos anteriores à conquista, existia uma espécie de tabernáculo.
Entretanto, na dominação tupi, já o Maracá perdera grande parte do seu caráter
sagrado, e, talvez, por influência da paixão militar, se confundiu com as
cerimônias heróicas.Rosane Volpatto.
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