sábado, 22 de agosto de 2009
O CAMINHO DA BELEZA.
O mito da irmã mais nova, que deu origem ao Caminho da Beleza, é uma versão mais completa e integrada da viagem da heroína navajo em busca de poder, e só difere da jornada típica do herói em termos de ênfase.
Depois de afastar-se de sua irmã mais velha, Glíshpah continuo-o fugindo em meio aos trovões e à chuva. Suas roupas de baixo tinham sido rasgadas e arrancadas e ela levava na virilha um maço de arroz da montanha. Quando se ajoelho para beber água, ouviu uma voz de um belo jovem aconselhando-a a não ficar ali, pois não era lugar para gente da terra. Ela contou-lhe sua história, e ele a levou para um lugar embaixo da terra onde havia jardins de hogans muito bonitos. Era, enfim, o lar do povo de seu marido, o Povo Serpente.
Como no Caminho da Pluma, a viagem é para baixo, e diz respeito a serpentes, intimamente vinculadas à fertilidade e ao poder de cura. Exceto pela sedução do Homem Serpente de que tinha sido vítima, a heroína tem de passar por provações que lhe são impostas, mas não por culpa sua. Agora, porém, como heróis, ela começa a ignorar as instruções.
Quando ela foi dormir na primeira noite, seus anfitriões aconselharam-na a não reavivar o fogo porque era feio na forma e as chamas não queriam ser vistas. Ela fez justamente o contrário e percebeu que estava rodeada por serpentes grandes aterrorizantes. Procurou escapar, mas não conseguiu encontrar uma saída. Teve de ficar onde estava até o dia clarear. Na manhã seguinte, os anfitriões reclamaram que ela havia pisado em suas costas, durante a noite, causando-lhes dor.
Eis aqui um forte elemento: a besta/a fera. No começo, a heroína esperava unir-se a um belo jovem, mas em vez disso encontra-se cercada e aprisionada por serpentes assustadoras e feias. Ela tem de suportar essa situação (e a suporta) e, por meio dela, adquire seus benefícios e poderes.
UM dia, a heroína preparou um prato com feijões e milho, mas as porções que usou aumentaram magicamente até preencherem todo o hogan. Seus anfitriões chamaram sua atenção: ela devia saber que só dois grãos de milho e dois de feijão eram suficientes. Em outra ocasião, ela abriu duas jarras de água, as quais tinha sido expressamente proibida de tocar. Tempestades de poeira, granizo e chuva foram assim desencadeadas. Foi com grande dificuldade que o Povo Serpente conseguiu voltar para seu hogan e corrigir a situação. Praticamente toleraram sua atitude.
Isso descreve o aprendizado de uma deusa. Mulher Serpente tem poderes de fertilidade imensos e latentes, que ainda não sabe como empregar e controlar. Ela pode aumentar a quantidade de comida e controlar a chuva mas, como aprendiz de feiticeiro, ainda não sabe como deter o processo.
A heroína foi proibida pelo anfitriões de ir para o leste, para o sul e para o norte, mas claro que foi assim mesmo. No primeiro dia, foi andando para o leste e ficou enrolada numa bola de abóbora. Teve de ser arrancada de lá com uso de faca sílex. No segundo dia, perambulou rumo ao sul e deu de cara com Homem Sapo perto de um espelho d’água. Era um bruxo e atirava bolas de lama em cima dela, fazendo com que todas as suas articulações ficassem comprometidas. Felizmente, Homem Grande Serpente tinha poder maior e removeu os projéteis, arremessando-os de volta em Homem Sapo que ficou então manco e torto. No terceiro dia, ela saiu para o norte, e aconteceu o pior. Foi completamente esmagada por uma avalanche de pedras provocada por um bando de corruíras. Foi recuperado depois de imensos esforços despedidos para reunir suas partes. No final, Vento soprou vida em seu corpo.
A morte-renascimento simbólica significa deixar a esfera da vida terrena ordinária e entrar em domínios sobrenaturais para, tendo sucesso, regressar com poder. Como em outros mitos, aqui ocorre umesquartejamento literal, a aniquilação concreta, da qual o herói ou a heroína deve ser salva pelos esforços conjuntos de muitos poderes sobrenaturais, Na última e mais severa de suas catástrofes, Mulher Serpente chamou para si dizendo que antes tinha sempre voltado a salvo, e que dessa vez não seria exceção demonstrando que começa a conhecer e confiar em seus poderes.
A heroína passou quatro anos aprendendo o Caminho da Beleza com seu marido serpente, a quem antes odiara e temera. Foi ele também que realizou a primeira cerimônia para ela. Por causa disso, não podiam viver como marido e mulher. Então ela voltou para casa para transmitir seu precioso conhecimento para seu povo. Encontrou sua irmã no caminho, e esta agora era a instrutora do Caminho até o Topo da Montanha. Abraçaram-se com afeto e choraram de alegria. No início tiveram medo de entrar em sua antiga casa, mas reuniram sua coragem e para lá seguiram. Não foram imediatamente reconhecidas mas depois receberam-nas bem. As duas irmãs ensinaram suas cerimônias para o irmão mais novo, e quando o ensinamento estava completo, sem que nada houvesse sido ocultado, elas partiram. A mais velha foi para o Povo Urso e a mais nova, para o Povo Serpente, onde estava encarregada das nuvens, da chuva, da névoa e da vegetação, para o bem do povo da terra.
A heroína está agora bastante à vontade com seu marido e a feiura e o horror parecem ter desaparecido. Numa Segunda versão deste mito, eles vivem juntos, felizes, e ela tem consentimento de voltar para casa, mas só depois de ter prometido que regressaria para ficar com ele. No final de seu aprendizado, ela está plenamente investida de todo seu poder e é realmente a deusa da fertilidade e da cura. As pinturas em areia de sua cerimônia estão associadas com muito tipos de serpentes, e sua cura serve para infecção causada por mordida de cobra, que se manifesta em articulações doloridas, dor de garganta, problemas de estômago, rins e bexiga, doenças de pele ou ferimentos epidérmicos, e confusão mental ou perda de consciência.
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