sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"Dominações, virtudes, principados."


1049 "Fere-lhes com tais modos os ouvidos:
- "Dominações, virtudes, principados,
Tronos, poderes, se são vossos inda
Estes imensos títulos pomposos,
Se acaso inda não são nomes inúteis:
Há quem, por um tirânico decreto,
Todo o poder a si vem arrogar-se
Fazendo dele horrível monopólio,
E, sob o nome de monarca ungido,
Eclipsa nossa glória e privilégios.
Toda esta marcha rápida, noturna,
Esta convocação acelerada,
Promove-as ele, a fim de vermos como,
Com que pompas nos cumpra recebê-lo
Quando vier extorquir de nós - escravos !-
Tributo genuflexo agora imposto,
Vil prostração, que feita ante um já cansa,
Que feita a dois se torna insuportável !
E não pode outro arbítrio mais sisudo
Dar-nos mais elevados pensamentos,
Que a sacudir tal jugo nos ensinem ?
Curvareis vosso colo majestoso ?
Súplice joelho dobrareis humildes ?
Decerto o não fareis, se não me engano,
Que vosso jus por vós é conhecido:
Bem sabeis que no Céu nascidos fostes,
No Céu antes de vós nunca habitado;
E, se ente vós não sois iguais de todo,
Iguais contudo sois na liberdade:
As várias gradações, as jerarquias
Da liberdade os forros não estragam,
Antes maior firmeza lhes transmitem.
Quer dentre iguais na liberdade pode
Por direito ou razão alçar um cetro
Sobre consórcios seus, posto mostraram
Menor poder em si, menos fulgores ?
Não temos leis e nem por isso erramos;
E quem tais leis impor-nos pode ou deve ?
Ninguém pois pode ser monarca nosso,
Nem de nós exigir tão vil tributo
Em desprezo dos títulos excelsos,
Que atestam destinada nossa essência
Para ser dominante e não escrava." 1091
(M. John. O paraíso perdido. Trad. de A. J. de
L. Leitão.

Nenhum comentário: