contos sol e lua

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terça-feira, 18 de agosto de 2009

O DESENCANTAMENTO

O desencantamento se processa de dois modos, segundo a crença geral: naturalmente e por ferimento em luta com o homem. A primeira informação que a esse respeito colhemos foi em Nova Trento, em Santa Catarina, quando nos disseram que, ao final da fase lunar o lobisomem se tornava, novamente, um ente humano normal. Ou, então, "só se desencanta quando o galo desperta no terreiro", veiculam no litoral paraibano e o catarinense.
Colçhida em Pernambuco foi a versão que se segue:
"Ao ouvir o galo cantar, percorre o Lobisomem sete cidades e chegando, de volta já ao lugar de seu encantamento, espoja-se de novo, retorna a sua forma humana".
Quase identicamente, é a versão corrente no brejo paraibano, onde "antes que chegue o dia, o lobisomem regressa ao local do encantamento e novamente se rebola na cama do animal, readquirindo a personalidade humana, regressando calmamente para casa, com a aparência de uma pessoa normal".
Com referência ao Rio Grande do Norte, além de nos dizer como se "desencanta" o lobisomem, nos diz, também como proceder para que o lobisomem não se "desencante" jamais.
EIS A F[ORMULA ORIGINAL:
"Se esconderem a roupa que o lobisomem deixou na encruzilhada ou desfizerem os sete nós, ficará ele todo o resto de sua existência um bicho fantástico. Não há notícia de transformação depois da morte."
O seu destino entretanto, pode ser alterado, se alguém se atrever a fazer-lhe um ferimento com um espinho que o faça sangrar, ou queimando suas roupas abandonadas durante a metamorfose. Para desencantar um lobisomem, também pode-se feri-lo usando uma bala untada com cera de vela acesa durante três missas de domingo ou na Missa do Galo, rezada na meia-noite de Natal. A faca, a foice, uma simples furadela de canivete, desencanta o fado.
Há também uma forma de transmitir este fado: quando um lobisomem já velho, pressente que vai morrer e tem necessidade de passar seu cargo à outrem. Se alguém lhe fizer a simples pergunta: "Tu Queres?", desconfie, pois pode ser um lobisomem tentando lhe passar sua herança.
Existem também os lobisomens-assombrações, que são aqueles que morreram antes do cumprimento de seu fadário. Muito agressivos, apresentam-se na forma de um grande e feroz cão branco. Não se consegue matá-lo, só exorcizá-lo.
O mito lobisomem está muito vivo no Rio Grande do Sul e tem gerado muitas lendas locais, entre elas encontramos a história dos fios vermelhos na boca de um homem que, quando Lobisomem, atacou uma mulher que usava um "viso" de seda.
Em Porto Alegre, os moradores do bairro Cristal, afirmam que lá reside um homem que é Lobisomem. Em Alegrete vive outro. Em Gravataí, um senhor velho garante que teve uma briga feia com um, mas conseguiu feri-lo. Desconfiado de seu vizinho, fez uma visita de surpresa e lá estava o homem, todo retalhado, desculpando-se que se machucara nos espinhos do mato.
O número sete aparece constantemente em suas histórias, o que leva a caracterizar este mito com que Jung chama de Selbest, o lado escuro do inconsciente coletivo. Este lado sombra representa o lado mais reprimido do caráter, a parte que a maioria das pessoas prefere não encarar, pois é o lado do inconsciente monstruoso.

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