quinta-feira, 10 de setembro de 2009
A MENTE HUMANA.
Se abre hoje para novas dimensões e as igrejas não têm condições para acompanhá-la nesse avanço. A luta sem tréguas que sustentaram e ainda sustentam contra o Espiritismo e em especial contra a mediunidade provou a sua incapacidade para enfrentar os novos tempos. A dinâmica da concepção espírita se opõe à mecânica ritual das igrejas como a Física moderna se opõe à Física do passado. Na proporção em que as camadas retrógradas da população terrena vão sendo afastadas do planeta, na sucessão inevitável das gerações, cresce o "esvaziamento das igrejas" e os seminários vão sendo fechados por falta de alunos.
Foi o que aconteceu com as religiões mitológicas do mundo greco-romano. Para poderem sobreviver, as igrejas têm de desigrejar-se, suprimindo o profissionalismo sacerdotal, as suas dogmáticas absurdas, as liturgias vazias de sentido. Antes que possam pagar esse preço demasiado elevado, as forças da evolução as varrerão da face da Terra. Isto não é uma profecia espírita, é uma profecia evangélica de Jesus, no episódio com a mulher samaritana. Que ninguém me acuse de responsável por essa previsão que elas mesmas, as igrejas, por dois mil anos fizeram ler no Evangelho em seus cultos sem a entenderem.
Também não entenderam a questão das muitas moradas da Casa do Pai, nem a do batismo espiritual, nem a do nascer de novo, nem a condenação das exigências rituais dos fariseus. O que podem esperar ou reclamar agora? Respeitáveis pensadores religiosos, reconhecidamente cultos, não conseguem ainda libertar-se da magia das selvas, cujos resíduos impregnam de misticismo as religiões em agonia. Esse apego os impede de socorrer as instituições religiosas no momento crucial. Desesperados, acusam o Espiritismo e os espíritas de incapazes de compreender as sutilezas da fé e exigirem provas materiais do que não é material.
Chegam mesmo a considerar como profanação a pesquisa espírita dos fenômenos mediúnicos. De outras vezes acusam o Espiritismo de práticas primitivas e o confundem com as formas do sincretismo-religioso afro-brasileiro. O materialismo, proclamam, leva os espíritas a quererem materializar espíritos. Perdem a perspectiva cultural do nosso tempo e mergulham no passado, acusando-nos de uma posição retrógada no campo do Espiritualismo.
Nossas ligações com a selva realmente existem e são as mesmas que constatamos nas religiões em agonia, mas há uma diferença fundamental entre a nossa posição e a delas: a reelaboração da experiência. Essa reelaboração não foi feita pelas religiões, que se limitaram a refinar as práticas selvagens e cobri-las com o verniz da civilização. Até mesmo a tentativa de submeter a Divindade ao poder misterioso dos pagés sobrevive em sacramentos das igrejas, dando aos sacerdotes o poder (que foi negado aos anjos) de obrigar o próprio Deus a materializar-se em substâncias materiais do culto, bem como o poder de obrigar o Espírito Santo a manifestar-se nos adeptos para o batismo do espírito.
No Espiritismo, o que sobrevive das selvas é o fenômeno, o fato natural da manifestação dos espíritos através da mediunidade, como todos os fenômenos físicos e químicos, botânicos e biológicos ou psíquicos sobrevivem obrigatoriamente nas ciências. Mas o Espiritismo não permanece apegado às superstições da experiência selvagem, reelabora essa experiência à luz da cultura e descobre as suas leis para poder usá-las em função do progresso. A capacidade humana de conhecer não tem limites e a divisão absoluta entre espírito e matéria já foi superada nas pesquisas físicas.
O materialismo morreu por falta de matéria, como afirmou Einstein, e as religiões agonizam, como podemos ver, por falta de espírito. Há mais apego à matéria nas práticas e nos conceitos das religiões em agonia do que nos ritos selvagens, pois nestes a crença ingênua e instintiva manifestava-se naturalmente, enquanto naquelas é puro artifício, tentativa de racionalização psicológica de heranças atávicas.
J.H. Pires
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