sábado, 30 de julho de 2011

Religiao do Egito A Religião do Egito de 4400 a.C. e semelhanças com o Cristianismo. O Livro dos Mortos.


Ressurreição e vida futura, a grande idéia central da imortalidade, o viver no além túmulo, a natureza divina e o julgamento moral dos mortos, tudo isso está na coleção de textos religiosos que é o Livro dos Mortos, cujo verdadeiro nome é "Saída para a Luz do Dia" e é o 1o livro da humanidade.
O medo do desconhecido foi a causa que impulsionou o homem, apavorado com os trovões e raios, terremotos e vulcões, para um ser superior a ele, que assim se manifestava sobre as coisas do seu entorno.
Com o tempo, há uma evolução e o homem começa a temer as ações desse ser superior sobre sua vida e, depois, em suas manifestações sobre sua morte, nesse ponto o homem supera o animal e desponta como ser humano, e começa a enterrar os seus mortos e a lhes oferecer meios de sobreviver na vida eterna em suas tumbas, numa prática de oferendas mortuárias que perdura até hoje, através das ofertas de flores e outras dádivas nas sepulturas.
No Egito, desde 4400 a.C., no reinado de Mena o 1o rei histórico do país, I Dinastia, o egípcio esperava comer, beber, e levar uma vida regalada na região em que supunha estar o céu e ali partilharia para sempre, em companhia dos deuses, de todos os gozos celestiais. Já na IV dinastia, (3800 a.C.), todos os textos religiosos supõem que se imune o corpo por inteiro, mumificado/embalsamado cujo procedimento era o seguinte:
o cérebro do cadáver era extraído pelas narinas, as entranhas pelo anus, ou por uma incisão na barriga; por fim o coração era retirado e substituído por um escaravelho de pedra. Seguia-se uma lavagem e salgação onde o cadáver ficava por um mês. Era secado novamente por outro mês ou dois. Para evitar a deformação, o corpo era recheado de argila, areia, rolos de pano de linho, inclusive os seios, e embebidos em drogas aromáticas, ungüentos e betume. Geralmente o amortalhamento era feito em vários ataúdes de madeira, uns dentro dos outros e, finalmente, colocado em um sarcófago de pedra.

O homem egípcio e sua conceituação.

A religião egípcia elabora um conceito complexo, e sofisticadíssimo, para entender/explicar a natureza do homem que, por ela, é composto de 8 partes:
"O corpo físico era o CAT. Ligado a esse CAT estava o duplo do homem o CA, cuja existência é independente do CAT podendo ir para lugares à sua vontade, as oferendas são para alimentar o CA que come, bebe e aprecia o cheiro do incenso. À alma chamava-se BA que é algo sublime, nobre, poderoso. O Ba morava no CA e tinha forma e substância e aparece como um falcão com cabeça humana nos papiros. O coração, AB, era a sede da vida humana. A inteligência espiritual, ou o espírito do homem era CU que era a parte brilhante e etérea do corpo e vivia com os deuses no céu. Outra parte do homem que também ia para o céu era o SEQUEM que era a sua força vital. Outra parte do homem era o CAIBIT, ou sombra, sempre considerada próxima à alma, o BA. Por fim, temos o REN que é o nome do homem e que é uma de suas partes mais importantes, pois se o nome for eliminado poder-se-á se destruir o homem, ou seja, o homem se constituía de corpo, duplo, alma, coração, inteligência espiritual, poder vital, sombra e nome, e essas 8 partes podem se reduzir a 3 partes corpo, alma e espírito, deixando-se de lado as 5 outras". Na V dinastia (3400 a.C.) afirmava-se de modo preciso:
"A alma para o céu e o corpo para a terra".

O julgamento da alma e a vida eterna.

A religião egípcia, como todas as outras religiões antigas, com execeção do Budismo, apresenta os deuses como seres com os vícios e virtudes dos homens, porém muito mais sábios e com a magia que os torna muito mais poderosos.
Graças ao Livro dos Mortos, o defunto pode vencer todos os obstáculos e ser convertido em Espírito Santificado, após cruzar os 21 pilares, passar pelas 15 entradas, e cruzar 7 salas até chegar frente a Osíris e aos 42 juizes que irão julgá-lo. E graças ao Livro, ele sabe o que pode salvá-lo e conduzi-lo à morada dos deuses após transpor as Portas da Morte, onde, no Campo de Paz, gozará os prazeres da Vida Eterna entre os deuses.
O Livro ajuda a alma a se refazer do susto da morte quando tenta voltar ao corpo, porém os deuses encarregados de guiá-la, arrastam-na para longe do ataúde. Sempre guiada, a alma atravessa uma região de trevas, o Aukert, o Mundo Subterrâneo, sem ar e água, difícil e muitas vezes obstruída. Depois ela chega ao Amenti, onde mora Osíris que, imóvel e enigmático, contempla a alma tendo atrás de si suas irmãs, e esposas, Ísis e Néftis; a alma é conduzida por Horo, e Anúbis verifica o fiel da balança, e pesa o coração do defunto na balança, junto a uma pena, na presença da deusa da Justiça/Verdade, Maât, que não toma parte no julgamento, e mais os 42 deuses (cada um representa um nome do Egito) e, ante cada um, o falecido o interpela pelo nome e declara não ter cometido determinado pecado é a "Confissão Negativa" do papiro de NU (O Juízo Final e os 10 Mandamentos):
"Nada surja para opor-se a mim no julgamento, não haja oposição a mim em presença dos príncipes soberanos, não haja separação entre mim e ti na presença do que guarda a Balança. Não deixe os funcionários da corte de Osíris (cujo nome é: "O Senhor da Ordem do Universo" e cujos 2 Olhos são as 2 deusas irmãs, Ísis e Néftis) que estipulam as condições da vida do homens, que meu nome cheire mal!. Seja o Julgamento satisfatório para mim, seja a audiência satisfatória para mim, e tenha eu alegria de coração na pesagem das palavras. Não se permita que o falso se profira contra mim perante o Grande Deus, Senhor de Amenti". É de um texto da época de Mencau-Ra (Miquerino dos gregos) 3800 anos a.C., IV Dinastia. E Tot anota o resultado e faz o seguinte discurso aos deuses:
"Ouvi esse julgamento, ............ verificou-se que ele é puro, ............ e ser-lhe-ão concedidas oferendas de comida e a entrada à presença do deus Osíris, juntamente com uma herdade perpétua no Sekht-Ianru, o Campo de Paz (Paraíso), como as que se consideram para os seguidores de Horo".
O papiro de NU permite observar que o código moral egípcio era muito abrangente, pois o falecido afirma que não lançou maldições contra deus, nem desprezou o deus da cidade, nem maldisse o Faraó, nem praticou roubo de espécie alguma, nem matou, nem praticou adultério, nem sodomia, nem crime contra o deus da geração, não foi imperioso ou soberbo, nem violento, nem colérico, nem precipitado, nem hipócrita, nem subserviente, nem blasfemador, nem astuto, nem ávaro, nem fraudulento, nem surdo a palavras piedosas, nem praticou más ações, nem foi orgulhoso, não aterrorizou homem algum, não enganou ninguém na praça do mercado, não poluiu a água corrente pública, não assolou a terra cultivada da comunidade (10 Mandamentos).
Desde os tempos mais remotos, (II Dinastia), a religião egípcia tendeu para o monoteísmo que aflorou na XVIII Dinastia, (1500 a.C.), com Amenófis IV e sua rainha Nefertiti, a Bela, e seu deus Aton para quem constrói uma cidade fora de Tebas, Tel El Amarna, esse culto durou apenas no seu reinado e, depois, foi proscrito de todo Egito. Lembremos que os seguidores de cada grande religião do mundo nunca se livraram das superstições que sabiam ser produto de seus antepassados selvagens e que, em todas as gerações, as herdam de seus avós e, o que é verdadeiro em relação aos povos do passado é verdadeiro, até certo ponto, em relação aos povos de hoje. No Oriente, quanto mais velhas forem as idéias, crenças e tradições, mais elas serão sagradas. No Egito foi desenvolvido um códice de elevadas concepções morais e espirituais, extremamente sérias e maduras, entre elas, a do DEUS UNO, auto gerado e auto existente, que os egípcios adoravam (O Deus cristão).

A criação do Mundo conforme os egípcios.

Houve um tempo em que não existia nem céu, nem terra, e nada era senão a água primeva, sem limites, amortalhada, contudo em densa escuridão (e Deus fez a Luz), nessas condições, permaneceu água primeva por tempo considerável, muito embora contivesse dentro de si os germes de todas as coisas que, mais tarde, vieram a existir neste mundo, e o próprio mundo. Por fim, NU, o espirito da água primeva, o pai dos deuses, sentiu o desejo da atividade criadora e, tendo pronunciado a palavra, o mundo existiu imediatamente na forma já traçada na mente do espírito e antes de se pronunciar a palavra, (o Verbo Divino) que resultou na criação do mundo. O ato da criação, seguinte à palavra, foi a formação de um germe, ou ovo, do qual saltou Ra, o deus sol, dentro de cuja forma brilhante estava incluído o poder absoluto do espirito divino, o criador do mundo, Ra o deus sol, adorado desde os tempos pré históricos sendo, em 3800 a.C., considerado o rei de todos os deuses, na IV Dinastia suas oferendas são apresentadas por Osíris que, mais tarde, suplanta Rá.
Papiro de Hunefer (1370 a.C.): homenagem a ti que é Rá quando te levantas e Temu quando te pões, .................... És o senhor do céu, és o senhor da terra; o criador dos que habitam nas alturas e dos que moram nas profundezas. És o Deus Uno que nasceu no principio dos tempos, criaste a Terra, modelaste o Homem, fizeste o grande aqüífero do céu, formaste Hapi, (o Nilo), criaste o grande mar e dás vida a quantos existem dentro dele. Juntaste as montanhas umas às outras, produziste o gênero humano e os animais do campo, fizeste os céus e a terra, ............Salve, oh tu, que pariste a si mesmo. Salve Único Ser poderoso de miríades de formas e aspectos, rei do mundo. Homenagem a ti Amon-Rá que descansas sobre Maât, ............És desconhecido e nenhuma língua será capaz de descrever seu aspecto; só mesmo tu, ....... És Uno, ......... Os homens te exaltam e juram por ti, pois é senhor deles. .......Milhões de anos passaram pelo mundo, .......... seu nome "Viajor".
Papiro de Nesi Amsu (300 a.C.): Rá o deus solar, evolveu do abismo aqüífero primevo por obra do deus Quépera, que produziu esse resultado pelo simples pronunciar do próprio nome e que seu nome é Osíris, a matéria primeva da matéria primeva, sendo Osíris como resultado disso, idêntico a Quépera no que respeita suas evoluções.

Osíris, deus da ressurreição e da vida eterna nos Campos de Paz.

Os egípcios, de todos os períodos dinásticos, acreditavam em Osíris que, sendo de origem divina, padeceu a morte e a mutilação sob as potências do mal, após grande combate com essas potências e voltou a levantar-se tornando-se, dali para adiante, rei do mundo inferior e juiz dos mortos e acreditavam que, por ele ter vencido a morte, os virtuosos também poderiam vencê-la. Osíris é a união do Sol e da Lua e foi morto e esquartejado em 14 pedaços por seu irmão Set, filho de Seb e Nut e marido de Néftis, que espalhou seus membros por todo o Egito, isto é, todo o Universo pois, ao separar a dupla original, o Sol e a Lua, Set dá origem aos planetas, às estrelas fixas, a todos os seres da Natureza, tudo isso nascido dos membros de Osíris, que foram arrancados e disseminados por todo o Universo, o Egito. Entretanto Osíris, ligado à morte, é o mundo atado, petrificado, privado da liberdade e submetido às leis da Natureza e aos ritmos implacáveis do Destino. Sua irmã, e esposa, Ísis, o trouxe de volta à vida depois de muito trabalho e esforço utilizando as fórmulas mágicas que lhe dera Tot, e teve um filho dele, Horo, que cresceu e combateu Set venceu-o e assim vingou o pai. Osíris passou a ser igual, ou maior, que Rá. Ele representa para os homens a idéia de um ser que era, ao mesmo tempo, deus e homem, e tipificou para os egípcios, de todas as épocas, a entidade capaz, em razão de seus padecimentos e de sua morte como homem, de compreender-lhes as próprias enfermidades e a morte. Originalmente, encaravam Osíris como um homem que vivera na terra como eles, comera e bebera, sofrera morte cruel e, com a ajuda de Ísis e Horo (seu filho), triunfara da morte e alcançara a vida eterna ao subir aos céus (Jesus Cristo). Por mais que se recue no tempo das crenças religiosas egípcias sempre há a crença na ressurreição e a morte física pouco importava, pois o morto atingia o Além que é a representação da terra ideal no céu e, porisso, era importante a conservação do corpo, pois o morto renascia no além. O centro do culto de Osíris, durante as 1as dinastias, foi Abidos capital do Antigo Egito e que recebe as tumbas dos 1os Faraós e lá onde estaria enterrada a cabeça do deus quando fora esquartejado pelas potências do mal e aonde, a partir o Reino Médio, se fazem peregrinações anuais com milhares de peregrinos, inclusive com a participação do próprio Faraó, para celebrar a ressurreição de Osíris. Os vários episódios da vida do morto se constituíram em representações no templo de Abidos (Via Sacra). Há outros templos, Ahmose, Senusret III, Seti I, Ramses II, cujas construções se sucedem desde as 1as Dinastias, continuam pelo Reino Médio (1975-1640 a.C.) atravessam o Reino Novo (1539-1075 a.C.) até o Último Período (715-332 a.C.). Com o tempo, Osíris passa de exemplo de ressurreição para a causa da ressurreição dos mortos e Osíris se torna um deus nacional igual e, em alguns casos, maior que Rá. Nas XVIII e XIX dinastias (1600 a.C.), ele parece ter disputado a soberania das 3 companhias de deuses, o que quer dizer, a trindade das trindades das trindades. Durante 5.000 anos no Egito, mumificaram-se os homens à imitação da forma mumificada de Osíris e eles foram para os seus túmulos crentes que seus corpos venceriam o poder da morte, o túmulo e a decomposição, porque Osíris os vencera.
A principal razão da persistência do culto de Osíris no Egito foi, provavelmente, ele prometer a ressurreição e a vida eterna aos fiéis. Mesmo depois de haver abraçado o cristianismo, os egípcios, continuaram a mumificar os seus mortos e a misturar os atributos de Osíris aos de Cristo e as estátuas de Ísis, amamentando seu filho Horo, são o protótipo da Virgem Maria e seu Filho.

Outros Deuses do Egito.

Além dos deuses da família e da aldeia havia os deuses nacionais, deuses dos rios das montanhas, da terra, do céu formando um número formidável de seres divinos. Os egípcios tentaram estabelecer um sistema de deuses incluindo-os em tríades , ou grupos de 9 deuses e, nos últimos anos, se aprendeu que houve diversas escolas teológicas no Egito; Heliópolis, Mênfis, Abido, Tebas e, de todas essas, a que mais perdurou foi a de Heliópolis (V e VI dinastias) com sua grande companhia dos deuses, tendo Temu como deus maior mas que se funde em um único deus com Rá e Nu. Havia uma grande quantidade de deuses, mas apenas os que lidavam com o destino do homem, obtinham o culto e a reverencia do povo e, pode-se dizer que, eram os deuses que se constituíam na grande companhia de Heliópolis, ou seja, nos deuses pertencentes ao ciclo de Osíris.

São esses os 9 deuses, da grande companhia de Heliópolis.
Seb é a terra, era filho de Xu e é o pai dos deuses: Osíris, Ísis, Set e Néftis, passou, mais tarde, a ser o deus dos mortos.
Nut é o céu, é esposa de Seb e mãe de: Osíris, Ísis, Set e Néftis é considerada mãe dos deuses e de todas as coisas vivas.
Seb e Nut existiam no aqüífero primevo ao lado de Xu e Tefnut.
Osíris, filho de Seb, e de Nut, marido de Ísis, e pai de Horo, é o Deus da Ressurreição e sua história já foi retro citada.
Ísis esposa e irmã de Osíris e mãe de Horo, é a deusa da natureza, a divina mãe, nessa qualidade tem milhares de estátuas onde está sentada amamentando o filho Horo, (Virgem Maria e Jesus Cristo) suas peregrinações em busca do corpo de Osíris, a tristeza ao dar a luz e educar o filho, Horo, no pântano de papiro do Delta do Nilo, a perseguição que sofreu dos inimigos do marido são citados em textos de todas as dinastias.
Set, filho de Seb e Nut, é marido de Néftis sua irmã, e é irmão de Osíris e Ísis, representa a noite, e estava sempre em guerra com Horo, o dia e é a personificação de todo o mal.
Néftis, mulher, e irmã, de Set, irmã de Osíris e Ísis, e é mãe de Anúbis filho dela e de Osíris; ela ajudava os mortos a superar os poderes da morte e do túmulo.

A seguir, os principais deuses das outras companhias:

Nu, pai dos deuses, e progenitor da grande companhia dos deuses, era a massa aqüífera primeva.
Ptá, é uma forma de Rá e é tipificado como o abridor do dia.
Ptá-Sequer, é o deus duplo da encarnação do Boi Ápis de Mênfis com Ptá.
Ptá-Sequer-Ausar, três deuses em um, simbolizava: a vida, a morte e a ressurreição.
Cnemu, foi quem modelou o homem numa roda de oleiro, ajudava Ptá a cumprir as ordens de Tot (o homem moldado no barro por Deus).
Quépera, é o tipo da matéria que contem em si o germe da vida em vias de aflorar numa nova existência, significava o corpo morto que estava preste a fazer surgir o corpo espiritual.
Amon, era um deus local de Tebas com seu santuário fundado na XII dinastia (2500 a.C.), significa oculto, e passou a ser um deus de primeiríssima importância nas XVIII, XIX e XX dinastias e, a partir de 1700 a.C. foi declarado representante do poder oculto e misterioso que criou e sustenta o universo e o fundiram com os deuses mais antigos e ele usurpou os poderes de Nu, Cnemu, Ptá e vira um deus sagrado senhor de todos os deuses, Amon Rá, como está no papiro da princesa Nesi-Quensu de 1000 a.C.. A partir de 800 a.C. declina o poder de Amon.
Maât, grande deusa, tipifica a Verdade/Justiça. Presente no julgamento dos mortos, dela dependia a salvação.
Horo, simbolizado pelo falcão, que parece ser a 1a coisa viva que os egípcios adoraram, era o deus sol como Rá que em épocas mais recentes foi confundido com Horo filho de Osíris e Ísis. Ele estava associado aos deuses que sustentam o céu nos 4 pontos cardeais, os 4 espíritos de Horo, que são: Hapi, Tuamutef, Amset e Quebsenuf. É, também, tipificado como o dia sempre em luta contra Set.
Anúbis, filho de Osíris com Néftis que presidia a morada dos mortos, era o condutor dos mortos e protetor dos cemitérios.
Tot, deus da Palavra criadora e mágica, divindade lunar, encarnação da sabedoria, toda a cultura humana era obra de suas inspirações.
Ápis, touro que recebia culto, pois acreditavam que a alma de Osíris tivesse habitado o seu corpo, tinha uma mancha branca, em forma de crescente, na testa.
Rá, o deus Sol, é, provavelmente, o mais antigo dos deuses adorados no Egito, ele velejava pelo céu em 2 barcos o Atet, desde o nascer do sol até o meio dia, e o Sectet, do meio dia até o por do sol. Visto ser Rá o pai dos deuses nada mais natural que cada deus representasse uma fase dele e que ele representasse cada um dos milhares de deuses egípcios, numa explícita alegoria do fundamento moneteista da religião egípcia.
A trindade Egípcia:
Temu ou Atmu, isto é, o que fecha o dia, seu culto vem da V Dinastia e é o fazedor dos deuses, criador de homens.
Xu, é o primogênito de Temu e tipifica a luz. Ele colocava um pilar em cada ponto cardeal para sustentar o céu, os suportes de Xu são os esteios do céu.
Tefnut, era irmã gêmea de Xu e tipificava a umidade, seu irmão Xu é o olho direito, e ela é o olho esquerdo de Temu.
Os deuses Temu, Xu e Tefnut formavam uma trindade e Temu na história da criação diz:
"Assim, sendo um deus, tornei-me 3" (a Santíssima Trindade católica).

O Barco do Sol representa a lua, seu quarto crescente, tendo o disco do Sol sobre ele e, essas 2 luminárias, formam essa imagem que é o núcleo central da religião egípcia, a Lua é fria e úmida, sempre em eterna mutação, governa a afeição, os amores, é feminina. O Sol é quente e seco e governa a razão de modo impessoal e objetivo, é masculino. Essas duas forças são equipotentes, com naturezas opostas, é o Yin e Yang da religião chinesa, o Enxofre e o Mercúrio da Alquimia, o Positivo e o Negativo da Eletricidade, a eterna oposição do bem e do mal,do amor e do ódio, do dia e da noite, a sublime dualidade de todas as coisas, desde sua Criação do aqüífero primevo, na gênese do mundo contada pelos egípcios, há 6.000 anos atrás, através dessa religião e sistema moral complexo e maduro, que nada fica a dever às concepções desenvolvidas pela Grécia que dizia que: a matéria era uma carga muito pesada para o espírito, nascido no Céu e, consequentemente, a vida consistia em viver morrendo, enquanto a morte era, para a alma, a porta da Liberdade.
Bibliografia:
O Livro dos Mortos, Hemus, Editora LTDA SP.
A Religião Egípcia, E. A Wallis Budge, Cultrix, SP.
Egypt's First Pharaohs, National Geographic, April 2005, pgs 106 a 121.

O amor de almas gêmeas existe ou é conto de fadas?


Homens são criados para serem heróis e as mulheres para viverem um grande amor. Nietzsche escreveu: o sexo masculino ama com o corpo e o feminino ama de corpo e alma. A mulher sabe que o amor de almas gêmeas existe, mas é bom lembrar que seu parceiro não vai cair do céu diante dos seus olhos, pronto para libertá-la de todos os problemas.

Para encontrar a cara metade é importante encontrarmos primeiramente a nós mesmos. Em termos de comportamento humano, quanto mais alguém se sente seguro dentro do mundo, tanto menos ele tentará se refugiar em algo ilusório, mas sim, real, porque o amor é real.

Muitas pessoas acreditam que o amor de almas gêmeas existe; porém os casais têm a consciência de que é difícil durar até o fim da vida.

A chave para entender o amor consiste em quatro fatores:
- Ninguém entra na nossa vida por acaso
- Esta situação tinha que realmente acontecer
- Não devemos ter medo de tomar decisões (pois está escolhendo a opção correta)
- Se a relação terminou, era para ter concluído

Para outros, o amor de almas gêmeas não passa de uma bobagem, típico de estórias de contos de fadas. Porém devemos lembrar que muito do que somos se formou quando éramos crianças e o amadurecimento é um caminho natural.

Na infância, a mente (especialmente a feminina) é povoada por expectativas quanto ao encontro do príncipe e tudo pode se tornar real à medida que se amadurece.

A mensagem é: não desista e acredite no amor; os contos nos ensinam a descoberta da identidade de comunicação e as experiências que são necessárias para o desenvolvimento do nosso caráter e personalidade.

Claro que sabemos que não existem relacionamentos divinos e harmoniosos porque não existem pessoas divinas e maravilhosas o tempo inteiro, mas dentro de cada um existe uma espécie de promessa de encontrar alguém parecido conosco, um tipo de espelhamento de alma para alma no sentido de caráter, moralidade etc.

O amor existe e está pronto para ser vivido; só não o racionalize demasiadamente, apenas deixe acontecer.Monica Buonfiglio.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Poemas de Rumi.


Oh meu Amado!Leve-meLiberte minha almaMe preencha com seu amore liberte-me dos dois mundos.Se eu colocar meu coraçãoEm algo mais que não vocêOh fogo, me queime por dentro!Oh meu amadoLeve tudo o que eu queroLeve tudo o que eu façoLeve tudoe leve-me para você.Eu nada sei sobre os dois mundos -Tudo o que eu sei é sobre o Uno -Eu busco apenas o Uno,Eu conheço apenas o Uno,Eu encontro apenas o Uno,E eu canto apenas o Uno.Estou tão embriagadono vinho do Amadoque os dois mundosescorregaram para fora do meu alcance.Agora não tenho mais negócios aquiApenas alcançar o copo do meu Amado.

O Amante está embriagado de amor;Ele é livre, ele é louco,Ele dança em êxtase e delícia.Preso por nossos próprios pensamentosnos preocupamos com cada pequena coisa.Mas quando nos embriagamos neste amor,Aquilo que tiver de ser será, será.Meus olhos vêem apenas a face do Amado.Que gloriosa visão,pois esta visão é amada.Por que falar em dois? -O Amado está na visão,e a visão está no Amado.Uma baleia vive para o oceano,Uma pantera vive para a floresta,O avarento vive para a riqueza,O amante vive por uma visão de seu Amado.Sua doce água limpou minha almae removeu toda a tristezaAgora estamos unidos em perfeita união.Eles dizem que o amor abre a portade um coração para o outro;Mas se não existem paredescomo poderá haver uma porta?Quando você dançatodo o universo dança.Que maravilha eu vie agora não posso virar minha face!Leve-me ou nãoas duas coisas são a mesma -Pois enquanto houver vida neste corpo,eu sou seu escravo.Como o Amado preenche meu coração -Como um milhão de almas em um corpoUm milhão de colheitas em um feixe de trigo,Um milhão de céus girandono buraco de uma agulha.Sem Vocêeu plantei algumas flores;elas se tornaram espinhos.Eu vi um pica-pau, ele se transformou numa serpente.Eu toquei o rubah - nada, além de barulho.Eu fui para o mais alto dos céus;ele era um inferno queimando.Em um doce momentoVocê explodiu de meu coração.Ali, nos sentamos no chão,e bebemos um vinho vermelho como rubi.Encantado com sua beleza.eu vi e toquei -Toda a minha face se transformou em olhos,todos os meus olhos se transformaram em mãos.Meu coração é o rubah, seu amor é o arcoMinha alma geme quietamenteenquanto você me toca seu som.Toque, meu Amado!Não me deixe perdeu uma única nota de sua melodiae nem uma só batida de seu coração.Descrente é aquele que não se rejubila junto com você.O cadáver é aquele que não dança quando você dança.O maior sábio do mundo é um tolose ele não abre seu coração junto de você.Se eu rezoisso é apenas meu coração virando em sua direção.Seu eu olho para a Kaabaisso é apenas meus olhos virando-se em sua direção.De outra forma,eu me livraria do mundo da oração,eu lançaria fora a Kaaba.Eles dizem que é noite,mas eu nada sei sobre dia e noite.Eu apenas sei da face daqueleque preenche os céus de luz.Oh noite, você é escuraporque você não O conhece.Oh dia, vá e aprenda com eleo que significa brilhar.Seu amor me preencheucom uma loucuraque ninguém jamais pode conhecer.Contemplá-lo preencheu meu coraçãocom um poemaque ninguém jamais poderá escrever.Eu estive com Ele na última noite;com aquele que eleva minha alma ao céu.Tudo o que fiz foi rezar e me curvar.Tudo o que ele fez foi virar sua cabeça e sorrir.A noite terminou antes de nossa históriaMas não foi um erro da noite -foi o jogo que durou muito tempo.O amante veio, cheio de desespero -Não posso dizer nada mais além disso.Sua maneira era audaciosa e inflamada -Não posso dizer nada mais além disso.O Amado disse, "não faça"O amante disse, "não farei"Então, ambos se olharam e sorriram -Não posso dizer nada mais além disso.Rumi.

Lua.


Rasgando o negro véu da noite surge a lua
Eterna musa inspiradora do poeta
Que o acompanha pelas noites solitárias
Com seus intentos rapidamente se entrosa
Somente para ser cantada em verso e prosa.

Lua discreta que desponta sorrateira
E a face oculta da noite vai descobrindo
Com as estrelas tem grande cumplicidade
Flagram juntas o que é feito às escondidas
Enquanto o sol a sono solto está dormindo.

Lua silente, testemunha dos amantes
Ouvidora de suas juras e sussurros
Conhecedora de seus velados segredos
E de seus tantos devaneios incessantes.

Lua que brinca de se esconder do sol
E ao redor da terra gosta de viajar
Lua atraente que o homem busca alcançar
Para um por um de seus mistérios desvendar.

Lua que é tema de inesquecíveis canções
Violeiros por ela são inspirados
Há quem diga que ela acalenta sonhos...
Há que afirme que ela é dos namorados.

Irresistível tomar um banho de lua
Apreciar o belo luar do sertão
Dedilhar a viola enluarada
Deixar a lua se transformar em canção.

Lua que rege, que governa, que domina...
Que embriaga, que inspira e que seduz,
Seja crescente, cheia, nova ou minguante
Seja do ébrio, do poeta ou dos amantes.
Lurdes N.Cúrcio.

Poema.


Escuto o sonar doce de um vento frio,
Observo encantada a dama lua,
Que com sua doce luz, ilumina meu vivido olhar frio.
Sinto intensa a lama negra e úmida que me cerca,
E escuto o vivido pingar das rendas do vestido;

E tão intenso e estrondoso para meus ouvidos; que posso conta-los.
Veja que ironia; um bosque escuro frio e profundo, húmido e sujo;
Veja onde minha alma foi se esconder por culpa deles;
Sim deles, os fantasmas que me rondam, os mesmos que assombram minhas doces lembranças.
Por que a dor agora parece tão intensa, ela nunca foi tão profunda e desesperadora.

As gotas não se sessam;
Eu abraço meus joelhos... Mas eles não podem abraçar.
A solidão se torna o caos e a sua falta a ruina.
Sentes essa brisa, ela e inquietante, mas acalentadora.
O cheiro, o abraço, a voz sondando meus ouvidos, incrivelmente familiar.

Agora não a mais resistência, não a razão para isso;
Não a nem sequer forças.
Á apenas o som do seu sorriso, e dois olhos tolos que se fecham.
Agora me acalento e me escondo por entre seus braços;
Mas antes que meus pulmões se sessem; ainda sinto pela ultima vez a umidade da lama negra a minha volta;

Negra de desilusão, não só as que meu sangue insiste em deixar, mas as de folhas outonais;
Assim como morrem pelas mãos de quem lhes deu a vida, e vivem pelo simples motivo de esses existirem.
Talvez amar você por algum motivo, fosse fácil, fácil como respirar...
Mas agora já não faz sentido, não e preciso mais ser forte...
Você esta aqui, e vai ficar, para o meu abraço eterno...
Agora tudo se cessa, e a vida e apenas um farfalhar de folhas velhas...

Que por algum motivo tonto se torna o palco de mais, e mais vidas
impressionantemente apaixonadas.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O destino do coração.


Os olhos foram feitos para ver coisas insólitas,
fez-se a alma para gozar da alegria e do prazer.
O coração foi destinado a embriagar-se
na beleza do amigo ou na aflição da ausência.
A meta do amor é voar até o firmamento,

a do intelecto, desvendar as leis e o mundo.
Para além das causas estão os mistérios, as maravilhas.
Os olhos ficarão cegos
quando virem que todas as coisas
são apenas meios para o saber.

O amante, difamado neste mundo
por uma centena de acusações,
receberá, no momento da união,
cem títulos e nomes.

Peregrinar nas areias do deserto
nos exige suportar
beber leite de camelo,
ser pilhados por beduínos.

Apaixonado, o peregrino beija a Pedra Negra
ansioso por sentir mais uma vez
o toque dos lábios do amigo
e degustar como antes o seu beijo.

Ó alma, não cunhes moedas com o ouro das palavras:
o buscador é aquele que vai
à própria mina de ouro.
-- Rumi --

NO MEU FUNERAL.


No dia em que levarem meu corpo morto
não penses que meu coração ficará neste mundo.
Não chores por mim, nada de gritos e lamentações
- lembra que a tristeza é mais uma cilada do demônio.

Ao ver o cortejo passar, não grites: "ele se foi!"
Para mim, será esse o momento do reencontro.
E quando me descerem ao túmulo, não digas adeus!
A sepultura é o véu diante da reunião no paraíso.

Ante a visão do corpo que desce
pensa em minha ascensão.
Que há de errado com o declínio do sol e da lua?
O que te parece declínio, é tão somente alvorada.

E ainda que o túmulo te pareça uma prisão,
e é ele que liberta a alma:
toda semente que penetra na terra germina.
Assim também há de crescer a semente do homem.

O balde só se enche de água
se desce ao fundo do poço.
Por que deveria o José do espírito
reclamar do poço em que foi atirado?

Fecha a tua boca deste lado
e abre-a mais além.
Tua canção triunfará
no alento do não-lugar.
-- Rumi –-
(Texto extraído do inspirado livro "Poemas Místico

HISTÓRIA II .


O AZEITEIRO E SEU PAPAGAIO.
Um azeiteiro tinha um papagaio que costumava diverti-lo com sua
tagarelice e que vigiava a loja quando ele saía. Certo dia, quando o
papagaio estava sozinho na loja, um gato derrubou uma das talhas de azeite. Quando o azeiteiro voltou, pensou que o papagaio é que tivesse feito o estrago e, em sua fúria, desferiu tal golpe na cabeça do papagaio que todas as suas penas caíram, deixando-o tão atordoado que perdeu a fala por vários dias.

Um dia, porém, o papagaio viu passar pela loja um homem careca e, recobrando a fala, gritou: "Por favor, de quem era a talha de azeite que derrubaste?" Os passantes riram do engano do papagaio, que confundira a calvície provocada pela idade com a perda de suas próprias penas devido a um safanão.
CONFUSÃO DE SANTOS COM HIPÓCRITAS
Os sentidos mundanos são a escada da terra,
Os sentidos espirituais são a escada do céu.A saúde daqueles busca-se junto ao médico,
A saúde destes, junto ao Amigo.
A saúde daqueles se obtém cuidando do corpo,
A destes, mortificando a carne.
A alma nobre arruina o corpo
E, depois de sua destruição, o constrói de novo.
Feliz a alma que por amor a Deus
Abandonou família, riqueza e bens!
Destruiu sua casa para encontrar o tesouro escondido,
E com esse tesouro reconstruiu-a mais bela;
Represou as águas e limpou o canal,
Depois desviou novas águas para dentro do canal;
Cortou sua carne para extrair a ponta de uma lança,
Fazendo uma nova pele crescer sobre a ferida;
Arrasou a fortaleza para expulsar o infiel que a guardava,
E depois reconstruiu-a com cem torres e baluartes.
Quem pode descrever o trabalho singular da Graça?
Fui forçado a ilustrá-lo por estas metáforas
Ora sob uma aparência, ora sob outra.
Sim, as coisas da religião são só perplexidade;
Não como ocorre quando se dá as costas a Deus,
E sim como afogar-se e ser absorvido n'Ele.
O que assim o faz tem o rosto sempre voltado a Deus,
Enquanto o do outro mostra sua indisciplinada obstinação.
Observa o rosto de cada um, olha-os bem.
Pode ser que, como servo, reconheças o rosto da Verdade.
Já que existem muitos demônios com rosto de homens,
É um erro dar a mão a todo mundo.
Quando o passarinheiro faz soar seu pio traiçoeiro,
Para com esse ardil seduzir os pássaros,
Eles ouvem esse chamado, que seu próprio canto simula
E, baixando à terra, encontram rede e punhal.
Assim os vis hipócritas roubam a linguagem dos dervixes.
Para enganar a gente simples com seus truques.
As obras dos justos são luz e calor,
As obras dos maus, traição e impudor.
Fazem leões empalhados para assustar os simples,
Dão título de Mohammed ao falso Musailima.
Mas Musailima guardou o nome de "Mentiroso",
E Mohammed o de "Mais sublime dos seres".
O vinho de Deus exala perfume de almíscar,
Outro vinho está reservado para punição e penas.Rumi.

sábado, 9 de julho de 2011

O PRÍNCIPE E A CRIADA.

Um príncipe estava em uma caçada, quando avistou ao longe uma linda moça e, com promessas de ouro, induziu-a a acompanhá-lo. Passado um tempo, a moça adoeceu e o príncipe convocou vários médicos para tratá-la. Como, porém, todos deixaram de dizer "se Deus quiser, iremos curá-la", o tratamento não teve efeito. Então o príncipe fez uma prece e,em resposta, o céu enviou-lhe um médico. Logo este condenou a opinião de seus colegas acerca do caso e, por meio de um diagnóstico muito hábil, descobriu que a verdadeira causa da doença da moça era seu amor por um certo ourives de Samarcanda. Seguindo o conselho de médico, o príncipe mandou buscar o ourives em Samarcanda e casou-o com a moça doente de amor; por seis meses o par viveu em grande harmonia e felicidade. No fim desse período, o médico, por ordem divina, deu ao ourives uma bebida venenosa, que fez decair sua força e beleza, e ele perdeu o favor da moça que, então, reconciliou-se com o príncipe.
Essa ordem divina foi exatamente igual ao comando de Deus a
Abraão para matar seu filho Ismael, e ao ato do anjo ao matar o servo de

Moisés,5 e está, portanto, acima da crítica dos homens.
DESCRIÇÃO DO AMOR
O amante se prova verdadeiro pela dor em seu coração;
Não há mal como o mal do coração.
A dor do amante é diferente de todas as dores;
O amor é o astrolábio dos mistérios de Deus.
Pode o amante suspirar por este ou aquele amor,
Mas no fim é atraído ao Rei do amor.
Por mais que se descreva ou se explique o amor,
Quando nos apaixonamos envergonhamo-nos de nossas palavras.
A explicação pela língua esclarece a maioria das coisas,
Mas o amor não explicado é mais claro.
Quando a pena se apressou em escrever,
Ao chegar no tema do amor, partiu-se em duas.
Quando o discurso tocou na questão do amor,
A pena partiu-se e o papel rasgou-se.
Ao explicá-lo, a razão logo empaca, como um asno no atoleiro;
Nada senão o próprio Amor pode explicar o amor e os amantes!m príncipe estava em uma caçada, quando avistou ao longe uma linda moça e, com promessas de ouro, induziu-a a acompanhá-lo. Passado um tempo, a moça adoeceu e o príncipe convocou vários médicos para tratá-la. Como, porém, todos deixaram de dizer "se Deus quiser, iremos curá-la", o tratamento não teve efeito. Então o príncipe fez uma prece e, Ninguém senão o Sol pode revelar o sol,
Se o vires revelado, não lhe dês as costasSombras, de fato, podem indicar a presença do sol,
Mas só o Sol revela a luz da vida.
Sombras trazem sonolência, como as conversas ao anoitecer,
Mas quando o sol se levanta, "a lua está fendida".6
No mundo, nada é tão prodigioso como o sol,
Mas o Sol da alma não se põe e não possui ontem.
Embora o sol material seja único e singular,
Podemos conceber sóis semelhantes a ele.
Mas ao Sol da alma, além deste firmamento,
Nada se iguala, seja concreto ou abstrato.
Onde haverá lugar na concepção para Sua essência,
Para que algo similar a Ele seja concebível.
SHAMSUDDIN7 DE TABRIZ ASSEDIA JALALUDDIN PARA QUE
COMPONHA O MASNAVI

O sol (Shams) de Tabriz é uma luz perfeita,
Sol, sim, um dos raios de Deus!
Quando se ouviu o louvor do "Sol de Tabriz",
O sol do quarto céu baixou a cabeça.
Agora que mencionei seu nome, é justo expor
Alguns sinais de sua beneficência.
Essa Alma preciosa segurou na borda de meu manto,
Exalando o perfume da roupa de Yussuf (José);

E disse: "Por amor a nossa antiga amizade, Fala um pouco daqueles doces estados de êxtase Para que a terra e o céu possam alegrar-se, E também a Razão e o Espírito, cem vezes".
Eu disse: "Ó tu que estás distante do Amigo,
Como um homem doente que se afastou de seu médico.SHAMSUDDIN: Mestre espiritual e companheiro de Rumi.Não me importunes, pois estou fora de mim;
Meu entendimento se foi, não posso cantar louvores.
O que quer que diga aquele cuja razão assim se perdeu,
Que não se vanglorie — seus esforços são inúteis.
O que quer que diga é inoportuno,
Seguramente inadequado e distante da verdade.
Que posso dizer quando já nenhum de meus nervos tem
sensibilidade? Posso eu explicar o Amigo a alguém de quem Ele não é

Amigo?
Ma verdade, cantar Seu louvor deslouvor seria,
Pois me provaria existente, e existência é erro.
Posso eu descrever minha separação e meu coração que sangra?
Não, adia esse assunto até outra estação do ano".
Ele disse: "Alimenta-me, pois estou faminto,
E depressa, pois "o tempo é uma espada afiada".
Ó companheiro, o sufi é "o filho do momento".8
Não é regra de seu cânone dizer "amanhã".
Será possível que não sejas um verdadeiro sufi?
Dinheiro vivo se perde ao se dar crédito".
Eu disse: "O melhor é velar os segredos do Amigo.
Por isso sê atento ao significado destas histórias,
É melhor que ter os segredos do Amigo
Divulgados na fala de estranhos".
Ele disse: "Sem véu nem coberta nem engano,
Fala e não me atormentes, ó homem de muitas palavras!
Arranca o véu e fala, pois não estou eu sob a mesma colcha que o Amado?O sufi é o "filho do presente", porque é um "possuído" ou um instrumento passivo movido pelo impulso divino do momento. "O presente é uma espada afiada; se não a cortas ela te corta". Isto porque o impulso divino do momento domina o "possuído", que executa seus decretos rigorosamente. Eu disse: "Se o Amado fosse exposto à visão exterior,
Não suportarias nem o abraço nem a forma.
Insiste em teu pedido, mas com moderação;
Uma folha de relva não pode perfurar uma montanha.
Se o sol que ilumina o mundo chegasse mais perto,
o mundo seria consumido.
Fecha tua boca e cerra os olhos a estas coisas,
Para que a vida do mundo não se torne um coração a sangrar.
Não busques mais este perigo, este derramamento de sangue;
Daqui em diante, impõe silêncio ao "Sol de Tabriz"".
Ele disse: "Tuas palavras não têm fim.
Agora conta toda a tua história desde o princípio".RUMI.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

LIVRO I.


PRÓLOGO
Escuta a flauta de bambu, como se queixa,
Lamentando seu desterro:
"Desde que me separaram de minha raiz,
Minhas notas queixosas arrancam lágrimas de homens e
mulheres.
Meu peito se rompe, lutando para libertar meus
suspiros,
E expressar os acessos de saudade de meu lugar.
Aquele que mora longe de sua casa
Está sempre ansiando pelo dia em que há de voltar.
Ouve-se meu lamento por toda a gente,
Em harmonia com os que se alegram e os que choram.
Cada um interpreta minhas notas de acordo com seus
[sentimentos, Mas ninguém penetra os segredos de meu coração.
Meus segredos não destoam de minhas notas queixosas,
E, no entanto não se manifestam ao olho e ao ouvido sensual.
Nenhum véu esconde o corpo da alma, nem a alma do corpo,
E, no entanto homem algum jamais viu uma alma”
O lamento da flauta é fogo, e não puro ar.
Que aquele que carece desse fogo seja tido como morto!
É o fogo do amor que inspira a flauta,1
E o amor que fermenta o vinho.
A flauta é confidente dos amantes infelizes;
Sim, sua melodia desnuda meus segredos mais íntimos.
Quem viu veneno e antídoto como a flauta?
Quem viu consolador gentil como a flauta?
A flauta conta a história do caminho, manchado de sangue, do amor
Conta a história das penas de amor de Majnun.2
Ninguém sabe desses sentimentos senão aquele que está louco,
Como um ouvido que se inclina aos sussurros da língua.
De pena, meus dias são trabalho e dor,
Meus dias passam de mãos dadas com a angústia.
E, no entanto, se meus dias se esvaem assim, não importa,
Faz tua vontade, ó Puro Incomparável!
Mas quem não é peixe logo se cansa da água;
E àqueles a quem falta o pão de cada dia, o dia parece muito longo;
.Assim o "Verde" não compreende o estado do "Maduro";3
Portanto cabe a mim abreviar meu discurso.
Levanta-te, ó filho! Rompe tuas cadeias e se livre!
Quanto tempo serás cativo da prata e do ouro?
Embora despejes o oceano em teu cântaro,
Este não pode conter mais que a provisão de um dia.
O cântaro do desejo do ávido nunca se enche,
A ostra não se enche de pérolas até a saciedade;
Somente aquele cuja veste foi rasgada pela violência do amor
Está inteiramente puro, livre de avidez e de pecado.
A ti entoamos louvores, ó Amor, doce loucura!
Tu que curas todas as nossas enfermidades!
Que és médico de nosso orgulho e presunção!
Tu que és nosso Platão e nosso Galeno!
2 MAJNUN: o célebre "louco" de amor da literatura persa e árabe.
Impedido de ver sua amada Laila, ele abandona as riquezas e o mundo
para vagar sozinho no deserto, entre as feras.
MAJNUN: o célebre "louco" de amor da literatura persa e árabe.
Impedido de ver sua amada Laila, ele abandona as riquezas e o mundo
para vagar sozinho no deserto, entre as feras.
3 "Verde" e "Maduro" são termos para "Homens de externalidades" e
'"Homens de Coração” ou Místicos.
4 GALENO: um dos pilares da mediana, cuja doutrina foi difundida
pelos árabes na Idade Média.
O amor eleva aos céus nossos corpos terrenos,
E faz até os montes dançarem de alegria!
Ó amante, foi o amor que deu vida ao Monte Sinai,
Quando "o monte estremeceu e Moisés perdeu os sentidos".
Se meu Amado apenas me tocasse com seus lábios,
Também eu, como a flauta, romperia em melodias.
Mas aquele que se aparta dos que falam sua língua,
Ainda que tenha cem vozes, é forçosamente mudo.
Depois que a rosa perde a cor e o jardim fenece,
Não se ouve mais a canção do rouxinol.
O Amado é tudo em tudo, o amante, apenas seu véu;
Só o Amado é que vive, o amante é coisa morta.
Quando o amante não sente mais as esporas do Amor,
Ele é como um pássaro que perdeu as asas.
Ai! Como posso manter os sentidos,
Quando o Amado não mostra a luz de Seu semblante?
O Amor quer ver seu segredo revelado,
Pois se o espelho não reflete, de que servirá?
Sabes por que teu espelho não reflete?
Porque a ferrugem não foi retirada de sua face.
Fosse ele purificado de toda ferrugem e mácula,
Refletiria o brilho do Sol de Deus.
Ó amigos, ouvi agora esta narrativa,
Que expõe a própria essência de minha situação.Rumi.

Masnavi de Maulana Jalaluddin.


Rumi nasceu em Khulm e, logo após seu nascimento, sua família mudou-se para Balkh, a 10 km de distância. Seu pai era Naqshband e encadernador por profissão. Rumi foi educado em ambas as coisas desde sua infância.
Quando completou quinze anos, seu pai o enviou a Gazorgah, província do Afeganistão Ocidental, acompanhado de um tio, que também era encadernador. Gazorgah ocupa um lugar importante dentro da Tradição, pois lá se encontra a tumba do Hodja Abdullah Ansari. Ansar era o nome dado àqueles que deixaram Meca para acompanhar o Profeta (Mohammed) a Medina. Hoje em dia, este nome é amplamente utilizado em outros países, porém o verdadeiro significado de Ansar é "Aquele que abandonou tudo".
A razão de sua viagem a Gazorgah era que ali havia uma imensa biblioteca e seu tio fora contratado para reencadernar os livros. Rumi ali viveu por nove anos. Depois foi a Qandahar para estudar Tafsil, isto é, a "compreensão do Alcorão", na mesquita onde está o manto do Profeta.
Naquele tempo, esta região ainda pertencia ao Khorassan, que se estendia por Herat, Hazarayat, Mashad, até o mar Cáspio. O Sheik Naqshband de toda essa região era o Sayed Zahir Shah, de quem Rumi tornou-se discípulo.
Zahir Shah ordenou que Rumi fizesse uma viagem de sete anos sem lhe dizer aonde deveria ir. O dia de seu regresso coincidiu com o funeral de seu Sheik. Pediram-lhe que fosse à casa de Zahir, dizendo-lhe que este lhe havia deixado algumas coisas. Estas eram um tasbih (rosário) e um manto - o manto de um Sheik Naqshband. Assim, Rumi tornou-se o sucessor de
Zahir Shah, e permaneceu em Gazorgah, Herat e Mazar-i-Sharif pelos sete
anos seguintes.
Ao final do Ramadan, Rumi regressou a Qandahar, onde, na Grande Mesquita, se encontra o manto do Profeta, guardado em uma caixa na parede, que não pode ser aberta senão na presença de quatro Sayeds. Naquele ano, quatro Sayeds estavam em Qandahar e decidiram abrir a caixa e tirar o Manto, e todas as pessoas reuniram-se na Mesquita para vê- lo. Rumi, que estava na Mesquita com as demais pessoas, dirigiu-se a alguém a seu lado, a quem não conhecia, e disse: "Amigo, podes levar-me a casa onde estou hospedado, pois fiquei cego?" — "Não," disse o homem que se vestia todo de verde, "mas vem comigo e iremos a Konya."
Dessa maneira, eles partiram, e, quando chegaram a Konya, o Homem Verde lhe disse: "Agora podes ver, e te proporcionei ainda a habilidade de ver qual é tua missão aqui", e desapareceu. Rumi então conseguiu uma pequena cabana, onde hoje é a cidade nova de Konya, e começou a falar às pessoas e a trabalhar e a dar conferências. Um ano depois, em vinte e um do Ramadan, Rumi dormia, quando foi despertado por alguém que o sacudia. Percebeu que o Homem Verde estava a seu lado, dizendo-lhe: "Jalaluddin, por que não estás escrevendo?" Rumi respondeu: "Khidr Elias, eu não sei escrever". Ao que o Homem Verde disse: "Não tenho tempo para ensinar-te; assim, escreve!" Rumi então se levantou e viu que diante dele havia papel, pena e tinta, e começou a escrever. E escreveu o Masnavi.
Algum tempo depois, porque as coisas que Rumi estava dizendo e fazendo se tornaram "muito fortes", apareceu em Konya um homem chamado Shams. Ele veio para que aquelas palavras e ações de Rumi que fossem demasiado poderosas pudessem ser absorvidas e diluídas através dele, tornando-se assim compreensíveis para as pessoas. Depois de alguns anos, Shams regressou a Bagdá, onde morreu e está sepultado. Sua tumba está à esquerda da de Al-Ghazzali, no mausoléu de Al-Ghazzali, e, embora a inscrição esteja ilegível, ainda pode ser identificada pelo número 613. De acordo com o sistema abjad, (ABJAD: Sistema alfanumérico da língua árabe, equivalente à Cabala hebraica.) 613 equivale alfabeticamente
A Shams. Por ser conhecido como Shams-i-Tabriz, acredita-se que ele seja proveniente de Tabriz, uma cidade da Pérsia. Porém, seu verdadeiro nome era Sayed Shamsuddin Shah, e era filho do Sayed Zahir Shah.
Rumi está sepultado exatamente no lugar que ele mesmo indicou, em Konya. Ali existem quatro criptas, e sua tumba está alguns metros abaixo da superfície.
Certos detalhes da vida de Rumi eram irrelevantes, mas certos pontos eram muito importantes. Tais pontos eram aqueles para onde fora enviado por seu Sheik. Sua vida se divide em períodos de diferentes durações, e cada movimento significava que se havia cumprido uma certa etapa e ele passava à seguinte. O próprio Rumi pode não ter sabido aonde ia e por quanto tempo, mas seu Sheik sim o sabia, pois fora ele que planejara a configuração total desde o princípio. O único fator desconhecido era a duração exata de cada etapa.
Pode acontecer que, em um momento do caminho, um Sheik diga a seu discípulo: "Agora volta para tua casa". Isto será muito difícil para esse homem, porém esta ordem é definitiva e não há possibilidade mediante a qual esse homem possa continuar.
O caminho, em sua totalidade, é muito difícil. Attar dizia que por vezes parecia-lhe que todos e cada um de seus nervos se crispavam e afloravam à superfície de seu corpo, de maneira que uma brisa, por mais suave que fosse, sobre sua pele, causava-lhe um enorme sofrimento. No entanto, apesar das dificuldades e dos sofrimentos, estima-se que apenas 4% são descartados, e este cálculo é feito através dos séculos, não somente dos anos. Esta cifra tão baixa deve-se ao fato de que as pessoas não são tomadas ao acaso, e sim escolhidas, e o Sheik conhece a quem está escolhendo.
Rumi criou a dança Mevlevi, que ele próprio designava uma criação estratégica. Entre Europa e Turquia havia uma necessidade de ajustamento, alinhamento e controle. A dança Mevlevi, o sarna, era este controle.
(Extrato de uma transcrição de duas falas de Omar Ali Shah, em
Konya, 1982.

MASNAVI.
LIVRO I
LIVRO II
LIVRO III
LIVRO IV
LIVRO V
LIVRO VI
APÓCRIFOS DO MASNAVI

terça-feira, 5 de julho de 2011

Um Amigo Cão.


As horas passam e eu não esqueço e sempre o vejo vivo e forte em seu andar e quando lembro você feliz por mim fecho os olhos e não entendo este fim.
Um amigo irmão vivendo a dor e o amor, entrelaçados e eternizados ao louvor. Um amigo cão, o mais sincero. Choro sua partida, mas sua paz é o que espero.
Nas fotos vejo e choro até cair, sozinho, sem ter aonde ir. É você eu sei, está com Deus agora, Ele o olhará e eu aguardo minha hora, com seu sofrer não o vi chorar, agüentou quieto, nós tentamos o salvar. Mas quando Deus escolhe ninguém pode impedir, pois Ele é o Pai e sabe onde seguir. Quando Deus escolhe ninguém pode impedir, pois Ele é o Pai, mas também sabe nos remir.
Onde nasceu foi enterrado, onde brincou a vida toda ao nosso lado. Atrás de pedras corria ao campo, são as lembranças que me derrubam e me balançam. Mas sua paz é o que quero.Diego Parma

O AMIGO CÃO.


“Existem pessoas que não gostam de cães… Estas com certeza, nunca
tiveram em sua vida Um Amigo de quatro patas, ou se tiveram, nunca
olharam dentro daqueles olhos para perceber quem estava ali.
Um cão é um anjo, que vem ao mundo ensinar Amor! Quem mais pode
dar Amor incondicional? Amizade sem pedir nada em troca? Afeição sem
esperar retorno? Proteção sem ganhar nada? Fidelidade vinte e quatro horas por dia?
Ah! não me venham com essa de que os Pais fazem isso, porque os Pais
são humanos e quando os agredimos ficam irritados e se afastam…
Um cão não se afasta, mesmo quando você o agride; ele retorna cabisbaixo,
pedindo desculpas por algo que não fez. Lambe suas mãos, a suplicar perdão.
Alguns anjos não possuem asas, possuem quatro patas, um corpo peludo,
nariz de bolinha, orelhas de atenção, olhar de aflição e carência.
Apesar dessa aparência, são tão anjos quanto os outros (aqueles com asas!)
e se dedicam aos humanos tanto quanto qualquer anjo costuma dedicar-se.
As vezes, um humano veste a capa de anjo e sai pelas ruas a resgatar
anjos abandonados à própria sorte e lhes cura as feridas alimenta,
abriga, só para ter a sensação de haver ajudado um anjo…
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DEUS quando nos fez humanos, sabia que precisaríamos de guardiões
materiais que nos tirasse do corpo, as aflições dos sentidos e nos permitissem
sobreviver, a cada dia com quase nada, além do olhar e da lambida de um cão!
Que bom seria, se todos os humanos pudessem ver a
humanidade perfeita de Um Cão!!!”

Animais Amigos - Os Pequenos Grandes Amigos.


Atualmente, devido a etologia (estudo do comportamento animal), é possível entender um pouco mais sobre estes seres realmente interessantes. Há estudos que provam que as pessoas solitárias têm mais propensão de sofrer de males do coração e cérebro do que aquelas que possuem um animal para conversar, trocar afeto ou simplesmente tê-lo como responsabilidade de alimentação e higiene.
Podemos considerar como animais de estimação não somente o cão, o gato, o peixe, o hamster, como também aqueles denominados "animais de produção", e que tornam-se importantes elos de amizade e apoio àqueles que são sozinhos.
Para o homem que mora no campo, as galinhas, vacas e porcos possuem "nomes" e quando saudados, ao amanhecer, respondem alegremente com grunhidos, mugidos e cacarejos. Chegam a ser tão importantes que, muitas vezes, seus proprietários evitam viajar para não deixá-los sem os devidos cuidados.
No entanto, para muitos, estas pessoas são confundidas e consideradas muitas vezes como "anti-sociais", que não possuem respeito nem laços de carinho por ninguém. Mas isso não é verdade. Na realidade, a pessoa que abdica de algumas de suas atividades sociais devido a "seus amigos", é um grande poço de sentimentos por aqueles que mais precisam de sua companhia, pois ela sabe que, apesar de seus animais terem à disposição um campo, onde encontram um riacho para beber e um pasto para comer, nunca é igual a comida que é posta em seus cochos. Nota-se, muitas vezes, que estes proprietários tratam seus animais como se fossem seus filhos pequenos, pois os grandes foram estudar e trabalhar na cidade.
Grandes companheirosGrande parte dos animais de companhia vive dentro de nossos lares, tornando-se, dessa maneira, peças importantes em nosso relacionamento afetivo, tanto com eles, como também entre nós, os seres humanos. Psicólogos recomendam que crianças hiperativas possuam um bichinho de estimação para acompanhar o processo de crescimento nas diversas fases da maturidade do animal, diminuindo, assim, seu ritmo de vida.
Em nossa rotina clínica, constatamos que algumas pessoas tratam melhor seu animalzinho do que seus familiares e amigos; conhecemos outros que, antes de possuir o animal, afirmavam que não os queriam dentro de suas casas, devido à sujeira que eles poderiam fazer. Entretanto, a partir da entrada do companheiro em suas vidas, assumiram a responsabilidade de todas as atividades referentes ao novo membro da família, tornando-se, inclusive, mais amáveis no relacionamento com humanos.
Discordo quando ouço dizer que o animal dá muita atenção a seu dono, como ato de submissão. Acredito que há uma interação de amizade profunda e a necessidade de aproveitar ao máximo a presença daquele amigo.
Os animais possuem uma virtude raramente encontrada nos seres humanos, que é a "verdadeira amizade", sem ranços de interesse.
Na clínica vemos cães e gatos que passam por um período de profunda tristeza e saudade quando seu melhor amigo morre ou viaja, apresentando por longo tempo perda de apetite e sinais acentuados de desânimo. Lembro-me de vários casos que posso narrar aqui e que comprovam a sensibilidade e a sinceridade de sentimentos de nossos amigos – os animais.
Certa vez, em uma casa, havia um papagaio, uma gata e um cachorro. Este último sofreu um acidente e morreu. O papagaio e a gata não se alimentaram por quase uma semana e passaram dias "chamando" pelo cão.
Um Pastor Alemão, com onze anos de idade, vivia com seu dono, um senhor idoso e seu filho, que ficava muito pouco em casa. Este cão desenvolveu um problema de pele, com diminuição de apetite e aparecimento de pêlos brancos. Ao conversar com o filho, soubemos que o Pastor Alemão estava muito triste, passando longo tempo de baixo da janela do quarto de seu pai, que desenvolveu um tipo de câncer fulminante e como conseqüência, pouco saía para "conversar com seu amigo". Medicamos o cão para as lesões, receitamos um estimulante de apetite e recomendamos que lhe fosse dada maior atenção, mas mesmo assim, não sentimos uma grande melhora em seu estado de saúde.
Logo após, aquele senhor veio a falecer. Quando retornei para rever o cão, era visível a tristeza em seu olhar pela perda de seu dono, amigo e companheiro. Antes da doença, o cão só fazia suas refeições depois que seu senhor conversava com ele, afagando-o na cabeça. Agora sob nossa orientação, o filho está tentando fazê-lo comer da mesma maneira, ou seja, conversando e afagando-o, mas ainda persiste a diminuição do apetite.
Nossos amigos, os animais, possuem, além de tantas outras qualidades, a virtude da gratidão, com muito maior expressão que o homem, pois uma vez tendo-os ajudado, jamais esquecem.
Atendia a uma senhora, dona de cinco cães, sendo que um deles, um pequeno vira-lata, não era simpático com ninguém, incluindo eu. Conhecia-o há cinco anos e sempre quando ia a sua casa, latia muito, como se estivesse avisando que não tinha muito o que conversar comigo. Certo dia fui chamado para atendê-lo, pois um Boxer o tinha mordido no pescoço. Ao examiná-lo, apresentava dificuldade respiratória severa, com suspeita de ruptura da traquéia. As mucosas estavam cianóficas e o animal sofria muito. A proprietária me falou que se não houvesse solução, o melhor seria aplicar uma injeção para ele "dormir". Mas o olhar do animal suplicava ajuda. Trouxe-o para a clínica, fizemos a cirurgia e três dias depois o animal voltou para seu lar. Hoje, quando vou até sua casa, ele ouve o barulho do meu carro e já fica agitado, latindo alegremente. Quando entro, me saúda com muita festa, dando-me lambidas de carinho e saltitando ao meu redor, como uma espécie de agradecimento. Por essas e outras, é que me sinto cada vez mais gratificado em ser Médico Veterinário.
Todos nós sabemos que a vida moderna, nos dias atuais, em muito nos beneficia; entretanto ela também nos traz a falta de tempo para descansarmos e relaxarmos e, com isto, nosso grande e iminente companheiro passa a ser o stress. O dia desgastante, o trânsito caótico, chefe que nos perturba, a queda das bolsas de valores, tudo isso é amenizado quando, ao chegarmos em casa, nossos amigos nos agraciam com uma recepção calorosa de beijos (lambidas), abraços (com suas patas) e falas carinhosas (latidos e miados).
Literalmente sucumbimos perante esta demonstração tão sincera de afeto e amizade. Acredito que 90 porcento do stress poderá ser eliminado através desta interação, que resulta num relaxamento muito agradável ao corpo e à mente.
Por outro lado, faz-se necessário lembrar que a sociabilização dos animais de companhia acarretou um problema: os animais passaram a desenvolver distúrbios comportamentais idênticos aos nossos, tais como depressão e outros, mas que eventualmente poderão ser tratados pela homeopatia e psicologia. Nestes casos, além da observação minuciosa do animal, principalmente da maneira pela qual faz certas coisas, devemos interrogar o proprietário a fim de conhecermos certas particularidades, para que, de acordo com sua personalidade, possamos receitar-lhe o medicamento correto. Na área de comportamento animal e doenças crônicas, a homeopatia está sendo muito benéfica, obtendo excelentes resultados.
O julgamento de caráter dos animais é um ponto a ser particularmente observado. Se, Opor acaso, um animal que normalmente é dócil e brincalhão com todos, apresentar uma atitude comportamental de medo ou agressividade para com determinada pessoa, esta deverá ser observada, pois, em muitas vezes certifica-se que ela não possui bom caráter.
Como clínico de cães e gatos, a cada dia ouço novos relatos de amizade sincera e assim tenho a confirmação do quanto esses bichinhos melhoraram a qualidade de vida de meus clientes. São idosos que foram deixados de lado por seus familiares, mas que são felizes por ter a companhia do seu cão ou gato; jovens que os pais dizem ser rebeldes, mas quando seu animalzinho necessita de vacina ou consulta, não hesitam em deixar seus momentos de lazer para ir até a clínica.
Como já citei anteriormente, muitos psicólogos e psiquiatras recomendam que devemos dar a nossos filhos um animal de estimação para que aprendam a ter responsabilidades com um ser vivo, vendo-o crescer, necessitar de alimentação, água, higiene, passeios e outros cuidados. Isto, com certeza irá fazê-los adultos melhores.
Somente quem nunca teve um animal de estimação poderá dizer que este envolvente ser não nos traz benefício algum. No entanto, afirmo que, a partir do instante que tiver a sorte de receber este grande amigo em seu ambiente, mudará imediatamente de idéia.
Acredito que cada um de nós que possui ou já possuiu um bichinho de estimação, sempre lembrará dele com extremo carinho, seja de alguma façanha que tenha feito ou seja nos momentos tristes em que nos consolou com demonstrações de seu amor incondicional.FERDINANDO NIEDERHEITMANN.

saudades.


Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase : ' Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus !' Aí, então derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxuga-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. Você acredita nessas coisas ? Sim??? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Eu não vou estranhar o céu . . . Sabe porque ? Porque... Ser seu amigo já é um pedaço dele !
Vinícius de Moraes

domingo, 3 de julho de 2011

Ódio.Tradução.


Ódio≈
Durante muito tempo construí uma história em cima de
um castelo destruído
E pra fugir dessa realidade dura eu já encontrei mais
de mil motivos
Agora essas palavras de pessoas santas parecem música
nos meus ouvidos
Já que ficou quase insuportável ouvir a voz dos meus
olhos aflitos

De tanto chorar depois que a festa acabar
Se eu não me matar, talvez eu peça ajuda para voltar
Do lugar da onde despenquei feito um anjo que morreu
de raiva
Na queda eu me despedacei mas eu já me permito mudar

Olhei ao meu redor para reconstruir meu castelo
caído
Pra viver de bons momentos sem ter que ter os olhos
escondidos
Ja fiz até um testamento que não tem nada, nada, nada
escrito
Já que a minha maior herança é a que eu vou levar
comigo

Pra evoluir, depois que o terror passar
Se eu não suportar talvez eu peça ajuda pra voltar
Do lugar da onde despenquei feito um anjo que morreu
de raiva
Na queda eu me despedacei mas eu já me permito mudar

Esse meu ódio é...
Meu ódio é...
O veneno que eu tomo querendo que o outro morra...
Luxuria.

Rosas negras.Tradução.


Rosas negras (tradução):

Voltei para procurar-me entre as páginas de ontem
e já não quero vê-las, estão apagadas com o passar dos anos
cada vez que escuto essa canção ao amanhecer
Visito novamente essas paisagens cinzentas de cenários tão cheios da umidade

Que me recordam tempos de desigualdade
buscando algum caminho por onde fugir
milhões de momentos mortos que hoje não voltarão

Você sofrerá pelos seus erros
solicitará o fim das suas dores
Você beijará a maldade embora você não queira
isto é o que o destino lhe ensinou.

Pensas, sem se assustar
que a vida não é o que desejas
e há palavras pretas como rosas
que murchas, sangram de dor.

O silêncio fecha as feridas
mas ele deixa marcas que possivelmente nunca vamos apagar
E embora pareçamos sufocados do desejo
no fundo não sabemos quando estamos indo falhar.

Quando o rio transborda e lá frases que nos permanecem
Viverei no seu belo que é a minha eternidade inteira.
Luxúria.

Mensagem do Amigo cão.


Meu amado dono, Minha vida deve durar entre 10 e 15 anos, já estou com alguns anos. Qualquer separação é muito dolorosa para nós. Não fique zangado por muito tempo e não me prenda em nenhum,lugar como punição. Você tem seu trabalho, seus amigos e suas diversões.
EU SÓ TENHO VOCÊ!
Fale comigo de vez em quando.
Compreendo muito bem o seu tom de voz e sinto tudo o que você está
dizendo. Ficará gravado em mim para sempre, jamais esquecerei.
Antes de me bater por algum motivo, lembre-se que tenho dentes que
poderiam feri-lo seriamente, mas que jamais vou usá-los em você.Jamais!
Antes de me censurar por estar preguiçoso ou teimoso,
veja antes se há alguma coisa me incomodando. Talvez eu não esteja me
alimentando bem. Posso estar resfriado ou, ainda, meu coração pode estar
ficando mais fraco...
Cuide de mim quando eu ficar velho e cansado - Por favor NÃO ME ABANDONE!
Tudo é mais fácil para mim com você ao meu lado.
Me ame, pois independente de qualquer razão, eu lhe amarei para sempre
Se servimos para aplacar a tua solidão...
Se servimos para que te sintas importante quando voltas pra casa...

Se servimos para lamber tuas lágrimas quando estás triste...

Se servimos para que não passeies sozinho pelas ruas em final de tarde...

Se servimos para te dar segurança contra a violência de teus semelhantes...

Se servimos para proteger teus filhos quando não estás por perto...

Se servimos para que teu coração não seja o único a bater em tua casa...

Se servimos para que te divirtas brincando, achando que é por nossa causa....

Se servimos para com nossas vozes alegrar teu silêncio...

Se servimos para que tua mão afague um pêlo macio....

Se servimos para que carregues alimento
e trabalho em nossas costas...

Se servimos para que teus olhos se encham
com a beleza de nossos pelos...

Se servimos para chorar tua morte quando
não tens ninguém para chorar por ti...

Então não nos maltrates,
não descontes tuas tristezas em nosso corpo frágil,
não nos abandones à própria sorte, não te afastes tanto,
de forma que não consigamos mais te encontrar....

Respeites nossos sentimentos,
pois todos nós considerados 'irracionais' temos sentimentos...
basta olhares bem dentro de nossos olhos e verás que lá
está escrito tudo o que aqui foi dito....

Cuide de mim e de meus filhos como cuidas dos teus....

Cuido de ti e de teus filhos como cuido dos meus...

Sejas meu amigo e te serei eternamente grato,
e o dia que eu partir chores de saudades,
mas nunca de arrependimento pelo abandono...

Somos um cão, um gato,um cavalo ou um pássaro...
Enfim, somos todos os animais do mundo que aqui
estamos pelas mãos de Deus!!!!

¨A compaixão pelos animais está intimamente ligada à bondade de caráter
e pode ser seguramente afirmado, que quem é cruel com os animais
não pode ser um bom homem"
"Hoje ela se foi.

sábado, 2 de julho de 2011

Râbi'a al-'Adawiyya.



Oh, minha alegria, meu desejo e meu refúgio,
Meu companheiro, meu amparo no caminho,
Oh, meu objetivo!
És o espírito de meu coração.
Tu és minha esperança,
Meu confidente, meu Amigo.

Meu anelo de Ti é minha única riqueza,
Meu ardente desejo, todo meu sustento,
Se não fosse por Ti, oh, vida de minha vida,
Não haveria vagado de um lado para o outro
Pela imensidão do país.

Quantas graças me foram reveladas,
Quantos dons e favores Tu tens para mim!

Teu amor é meu único desejo, Teu amor é minha delícia,
A luz que sacia meu sedento coração.
Não me afastarei de Ti enquanto viver,
Não há lugar para mim, senão Tu,
Que fazes florescer o deserto.
Tu és o único dono do meu coração.

Se em mim encontrares contentamento,
Oh, anelo do meu coração,
Transbordarei de alegria!


Deus meu, me refugio em Ti para resguardar-me
de tudo o que me separa de Ti,
para resguardar-me de tudo o que me distrai de Ti
e se interpõe entre Tu e eu.


Oh amado de meu coração,
somente tenho a Ti.
Tem piedade do pecador que vai até Ti.

Oh minha esperança, meu repouso, oh minha alegria,
o coração não quer amar a outro senão a Ti.



Meu repouso, oh irmãos, está em minha solidão,
e meu Amado está sempre comigo.

Nada pode substituir o amor que sinto por Ele,
meu amor é meu suplício entre as criaturas.

Em todas as partes onde contemplei sua beleza,
Ele tem sido meu mihrab e minha qibla.

Se eu morrer deste amor ardente e Ele não estiver satisfeito,
essa dor seria minha desdita neste mundo!

Oh médico do coração, Tu, que és todo meu desejo,
une-me a Ti com um laço que cure minha alma.

Oh minha alegria, oh minha vida para sempre!
Em Ti, minha origem, em Ti, minha embriaguez.

Abandonei inteiramente todo o criado com a esperança
de que me unas a Ti. Este é meu único desejo.

Hafiz.[Poemas]


Em meu pensamento perdido,
a imagem de tua boca não desaparecerá jamais,
nem pela crueldade do Céu,
nem pela aflição dos séculos.
Na pré-eternidade meu coração já estava
ligado aos cachos dos teus cabelos;
até o final dos tempos ele será dócil
e manterá o pacto.
Tudo o que está neste pobre coração passará,
salvo o peso dessa dor por ti que
jamais deixará meu coração.
Teu amor invadiu a tal ponto
meu coração e minha alma que,
se minha cabeça tombasse, ele continuaria...

Vê o Um, escuta o Um, conhece o Um:
nessa fórmula estão o princípio
e os corolários da Fé.



GHAZAL

Para a Aliança que firmamos Contigo,
na plenitude da Crença,
possamos permanecer crentes até o dia do Julgamento,
como Moisés, que freqüentemente perguntava:
“Poderei eu Te ver, oh meu Deus?”

Possamos tocar a lira
e, com mãos estendidas para os céus,
murmurar orações
para que aqueles que são próximos de Ti
possam beber do vinho do amor.

Do mais alto dos céus
proclamaremos Teu nome ao som de tambores.
Na abóbada celeste
possamos desdobrar a qualidade de nosso amor.

No dia da Ressurreição
tomaremos um punhado daquela terra que é Tua
e humildemente cobriremos nossas cabeças
para Tua maior glória.

Oh Hafiz!
Nunca submeta seu orgulho a uma infame criatura,
pois encontrarás o que está procurando
unicamente na eterna Luz do Universo.



A CANÇÃO DE SAKI

I

Vem, Saki, vem, traz teu vinho extático,
Que aumenta a graça e aperfeiçoa a alma;
Enche minha taça, estou desesperado,
Tanto tempo separado de ambas.

Traz teu vinho, Saki, e a taça de Jamshid
Poderá resistir à visão do grande vazio;
Verte, que com a taça, fortalecido,
Possa ver cada segredo, como Jamshid.

Traz, Saki, traz teu divino e alquímico elixir
Que dá a idade de Noé e o tesouro de Korah.
Verte, e então se abrirão para ti
As portas da fama e da imortalidade.

Traz vinho, oh Saki, e sua imagem nele
Saudará a Kosroés e a Jamshid;
Verte, e ao som da flauta contarei
Que foi de Kaús em seu dia, e de Jamshid.

Canta deste velho mundo e com tuas cordas
Faz uma proclamação aos reis anciães.
O mesmo deserto distante ainda se estende
Onde Salm e Tur suas tropas perderam.
Ainda se ergue o mesão desmoronado
Que Afrasiyab acreditou ser seu palácio.
Onde estão os capitães que dirigiram suas hostes,
E onde o paladino que marchava à sua frente?
Alto era o palácio, a ruína foi sua sorte;
Sua própria tumba na memória se perde...

II

Traz, Saki, tua virgem castamente velada,
Ao ébrio morador da taverna agasalha;
Enche a taça, estou ávido de má fama,
E busco no vinho minha vergonha máxima.

Traz, Saki, esse sumo embriagador
Que bebem os leões, e que cause estragos.
Verte, e abrirei a armadilha deste mundo
Como um leão, e me alçarei dominando o espaço.

Traz o vinho, oh Saki, que a hurís especiam
Com paradisíaca fragrância angélica;
Verte, e lançando incenso ao fogo,
Lograrei da mente o prazer eterno.

Traz, Saki, teu vinho que outorga tronos;
Meu coração de sua pureza é testemunha,
Verte, para que diluído em seu rio
Possa surgir triunfante deste poço.

Por que ainda deste corpo me encontro cativo
Quando me chama um espiritual jardim?
Dai-me de beber, cumula-me de vinho
E observa o saber e poder que há em mim.

Deixa que tua taça às minhas mãos passe
E contemplarei o mundo nesse cristal;
Ébrio entoarei sagrados cantares
E julgarei ser rei em minha mendicidade.
Quando embriagado Hafiz se ponha a cantar,
Em sua esfera Vênus, o aplaudirá.



O DESPERTAR DO AMOR

I

Eh, Saki, rápido, traz o vaso,
Preenche-o e passa-o ao redor;
Quão fácil parecia no principio o amor,
Mas que despertar mais árduo!

II

A brisa matutina há pouco levou
Em suas tranças tão doce fragrância,
Que desastre para o coração se achava
Nesses cachos tão almiscarados!

No caravançarai da vida,
Que escassa é a segurança que tenho,
Quando a campainha gritar num momento:
“Atai vossa carga; a hora é vinda!”.

III

Sobre o tapete de oração, deixa fluir o vinho
Se assim solicita o taberneiro;
Aquele que deseja seguir este caminho
Conhece bem suas formas e seus métodos.

IV

Fixai-vos em minha louca carreira,
Da insensatez à infâmia;
Mas como se poderia ocultar
O mistério que os homens festejam?

Um mar de montanhas, a lua escondida
E o terrível rugido do torvelinho próximo.
Como podem saber de nosso laborioso trabalho
Os que passeiam, ligeiros de carga, pela margem?

V

Hafiz, se queres conseguir sua graça,
Jamais te ausentes de teu lugar;
Quando contemplares seu rosto bem amado,
Esquece-te, ao final, do tempo e do espaço.



DOCE DONZELA

Doce donzela, se deleitasses minha vista
e pedisses que em teu pescoço rodeassem meus braços,
essa mão de lírio, essa rosada bochecha,
para teu poeta seriam mais apreciados
que todo o ouro de Bokhara
e as jóias de Samarcanda.

Rapaz, deixa fluir o líquido de rubi
e pede ao teu coração pensativo que se alegre,
não importa o que os carrancudos
fanáticos possam dizer:
Contesta-os que o seu Éden não pode ter
um arroio tão claro como Ruknabad
nem um roseiral tão belo como Mosalla.

Ah, quando estas pérfidas donzelas,
cujos olhos assaltam nossas moradas secretas
seus queridos e destrutivos encantos mostram,
cada mirada meu terno peito enche
e rouba ao meu ferido coração o descanso,
como capturam à sua presa os tártaros.

Nosso seio com amor resplandece em vão,
podem todos nossos suspiros e lágrimas
dar novo lustre àqueles encantos?
Por acaso nas bochechas onde nascem rosas vivas,
e a natureza verte suas tintas exuberantes,
requerem o brilho emprestado da arte?

Não fales do destino: ah, muda o tema
e de aromas e vinho conversa;
fala das flores que ao redor nosso brotam:
tudo é uma nuvem, tudo é um sonho,
pensa só no amor e na felicidade,
não esperes transpassar a melancolia sagrada.

Tão irresistível é o poder da beleza
que inclusive a casta dama egípcia
pelo belo hebreu languidescia:
fatal foi a hora para ela
em que apareceu nas margens do Nilo
um jovem tão galante e tão frívolo!

Mas atende, doce donzela, ao meu aviso
(a juventude deve escutar quando aconselham
aqueles aos quais fez sábios a experiência):
enquanto a música alegre os ouvidos,
e a vista goze das taças e sua luz,
desfruta e despreza os sinais da senilidade.

Que cruel resposta escutei!
E sem embargo, pelo céu, ainda te amo:
dito por ti, o que poderia ser cruel?
Mas a amarga palavra como foi (sair)
pelos rios de doçura de teus lábios
que somente hão bebido mel?

Com valor se lança meu cantar
e fluem seus acentos com torpeza
como pérolas orientais unidas ao azar:
tuas notas são doces, dizem as donzelas;
oh, mas é ainda muito mais grata
a Ninfa por quem estas notas cantam.



AMÁVEL ZÉFIRO

Vai, amável zéfiro, e saúda em tom silencioso
A essa gazela dos pés ligeiros;
Dize que buscando-a percorro
Os terríveis abismos, a selva do amor.

Mercador que vendes a doçura
(Que o céu te outorgue longa vida!),
Por que com aversão assim esqueces
A tua ave canora cheia de ternura?

É acaso, oh rosa, tua beleza
Que orgulhosa se afasta do amor,
Quem te impede de escutar a lenda
De teu companheiro, o rouxinol?

Não sei por que é tão difícil achar
A cor da sinceridade
Em ninfas de majestosa graça,
De olhos negros e rostos de prata.

Pois ainda que teu rosto seja angelical
Uma só falta mancha sua beleza;
Teu encanto, que não tem fé nem constância,
Faria com que a aurora sentisse vergonha.

Controlamos com gentis maneiras
A alma sábia pelo juízo iluminada:
Nem inútil armadilha, nem falácia brilhante
Capturam a ave experimentada.

Como assombrar-se, Hafiz, se teu labor,
Cuja sonoridade encanta a planície etérea,
Tenta as mais solenes estrelas
A dançar com a estrela do amor?



CANTO DE PRIMAVERA

O inverno abandona a planície com passo severo
E a primavera brinca alegre pelas pradarias,
O doce rouxinol entoa seus lamentos
E sua amada rosa esparrama suas belezas.

Oh Zéfiro, enquanto sopras tua brisa suave
Carregada de aromas dos bosques da Arábia,
Murmura minhas saudações pelo teu fértil vale
E diz à formosa Layla que seu poeta a ama.

Com uma mirada celestial da amada donzela
Saltaria de gozo meu coração arroubado;
A seus pés, humilde, inclinaria a cabeça,
E com as sobrancelhas varreria o solo sagrado.

Se os néscios que roubam da religião o viço
E criticam os doces deleites do amor
Vissem a Layla, não desejariam mais o Paraíso
E por seu sorriso dariam o celestial gozo.

Não te fies da fortuna, enganoso encanto,
Da qual os sábios fogem e adoram os estúpidos.
Enquanto sorri, soa o alarme o Destino,
Gira sua roda e ficas para sempre submergido.

Por que erigis, ricos e poderosos,
Cúpulas principescas e torres infinitas?
Enquanto tudo brota triunfante em vosso entorno
O Anjo da Morte conta vossos dias.

Doce tirano, nesse peito endurecido
Não guardes mais meu coração, meu seio em teu trono real;
Deixa que ali descanse seu palpitar
E goze de deleites que ignora a alma vulgar.

Esses olhos feros, o que significam?
E os cachos que emprestam ao ar seu odor?
Minha esperança voa despavorida,
Cai meu amor presa da desesperação.

Não armes essas sobrancelhas de arco celestial,
Oh doce donzela, com tanto desprezo;
Não faças que um desditoso, tão afogado já,
Abatido padeça sua dor eterna.

Não sejas mais escravo dos seres formosos:
Bebe, Hafiz! Desfruta, desafoga teu ânimo,
Com valor depreza ao hipócrita rufião
Que usa a religião em defesa do pecado.



RUBÁIYÁT de HAFIZ - seleções
(Tradução de Aurélio Buarque de Hollanda)

(Rubays relacionados à Sabedoria Sufi)



Quando os botões de rosa entreabrem os cálices,
Narciso ergue sua taça em honra do vinho.
Ah! Feliz o que sabe a canção báquica
e liberta a alma pelo culto ao grande deus.

* * * * *

Dá-me desse velho vinho, lembrança de algum sultão extinto,
para que eu possa com uma nova paleta pintar a vida.
Oh! torna-me indiferente a este mundo insensível,
para que eu possa cantar-te o desejo do mundo.

* * * * *

Vem, amemos e bebamos à margem do rio.
Afogaremos em nossas taças o nosso leve desassossego.
A vida tem a duração da rosa: dez dias preciosos.
Que o dourado laço do riso prenda, então, esses dez dias.

* * * * *

Ó namorados felizes, de mãos entrelaçadas,
esquecidos da Roda do Tempo que voa através dos espaços,
quando soar minha hora, saudai o ciclo infinito.
Que outros abris evoquem meu semblante.

* * * * *

Vem, oh vem, traze-me o vinho, fonte de toda a alegria;
despreza os artifícios próprios de inimigos vis.
Bem doces são as palavras que te querem reter,
e doces as que se escoam de lábios ainda mais doces.

* * * * *

Se, como nós, caísseis na armadilha preparada pelo Amor,
somente o Vinho, ele só, vos poderia livrar do desespero.
Discípulos de Baco, abrasamos a vida.
Não vos aproximeis de nós, para não ouvirdes palavras impuras.

* * * * *

Não afastes a Taça de teus lábios
De medo que a Fortuna e a Glória te fujam.
A taça humana contém doçura e amargor:
Doçura do lábio amoroso, amargor da taça.

* * * * *

Minha estrela, cuja grave beleza eclipsa a beleza do dia,
Cresceu, fez-se um astro mais belo que o de Kausar.
Aprisionou todos os corações na covinha de suas faces,
E ordena-lhes, agora, vencer ou morrer.

* * * * *

Caíram-lhe, um por um, todos os véus,
E apareceu um Astro sem igual.
Ó carne tão frágil que o vermelho de seu coração transparece,
Como um rubro rubi ensangüenta a onda radiosa!


* * * * *

Ó Tu, que viste curvar-se ante a poeira do Teu umbral
A fronte orgulhosa do Sol e da Lua,
Não me deixes morrer abrasado na chama da espera,
Nem sentar-me à sombra da nuvem!

* * * * *

Não ouses censurar a violência de um suspiro,
Pois o que ateia a chama pode imprudentemente chamuscar-se.
Ó! Não sejas indiferente às lágrimas noturnas,
Nem aos tristes suspiros da aurora que vem morrer à tua janela.

* * * * *

A dor fez morada em minha alma – meu tormento vem de Ti.
Este querido tormento curará minhas feridas.
Quanto mais depositares Tua vingança em meu coração,
Quanto mais torturado ele for, mais fiel se há de mostrar-Te.